• Nenhum resultado encontrado

Ricardo de Jesus Machado1

Resumo: Este estudo faz uma análise sobre a maneira pela qual

se pode fazer a construção de si, isto é, a produção de um tipo de identidade audiovisual chamada “eu digital”, a partir das pos- sibilidades técnicas de criação de perfis no Facebook e Twitter. Nesse sentido, investiga a emergência deste ente chamado “eu digital” e discute como as audiovisualidades implicadas nesse processo agenciam novos imaginários sobre a ideia de identi- dade. Por fim, traça um panorama sobre as possibilidades de análises de imagens e debate a necessidade de criação de novos paradigmas de pesquisa em comunicação.

Palavras-chave: Internet. Técnica. Audiovisualidades. Mídias

sociais.

Abstract: This article makes an analysis about the building of

self, in other words, the production of a kind of audiovisual iden- tity called “digital me”, based on technical possibilities in the cre- ation of Facebook and Twitter profiles. In this way, it focuses on

1 Jornalista e Mestre em Comunicação pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos - Unisinos, onde finaliza a Especialização em Filosofia. As áreas de interesse são Jornalismo, Semiótica, Antropofagia, Filosofia, Tecnocultura e Literatura. Profis- sionalmente, atua como jornalista do Instituto Humanitas Unisinos-IHU, onde é coordenador de comunicação, colaborando com a revista IHU On-Line e o site institucional. E-mail: ricomachado@gmail.com. CV Lattes: http://lattes.cnpq. br/8403191368414581

98

Redes digitais: um mundo par

a os amador

es. No

vas r

elações entr

e mediador

es, mediações e midiatizações

the emergence of a being called “digital me” and discusses how the audiovisualities involved in this process produce new imagi- naries about the idea of identity. So, it offers an overview of the possibilities for the analysis of digital images and debates the importance of the creation of new paradigms of communication research.

Keywords: Internet. Technique. Audiovisualities. Social media.

1 Apresentação

Embora o fenômeno da Internet não seja novo, nem mesmo no Brasil, a efetiva ampliação do acesso à rede mun- dial de computadores é algo bastante recente. De acordo com o cruzamento de informações dos bancos de dados da União Internacional de Telecomunicações, do Banco Mundial e do Departamento de Populações da ONU, o Brasil alcançou em 2016 o número de 139,1 milhões de usuários na Internet, o que

representa 66% da população.2 Se levarmos em conta o cenário

da América Latina, nosso país é responsável por 36% do total de usuários web, com praticamente o dobro de internautas do segundo colocado no ranking continental, o México com 69 mi-

lhões.3 No mundo inteiro são cerca de 3,4 bilhões de usuários

da rede. Tornamo-nos o que McLuhan vislumbrou, uma aldeia global permeada por sistemas informáticos sofisticados capazes de produzir tanto a interconexão de pessoas em escala mundial – o que é algo relativamente novo na história da humanidade nas atuais proporções – quanto a profunda vigilância dos algoritmos sobre nossas existências, produzindo detalhados relatórios so- bre o comportamento individual e coletivo de cada um dos bi- lhões de internautas.

Neste sentido, interessa-nos discutir a produção de um

imaginário4 sobre o “eu digital” a partir das possibilidades téc-

2 Os dados podem ser consultados em <http://www.internetlivestats.com/inter net-users/brazil/>. Acesso em: 15 set. 2016.

3 Os dados podem ser consultados em <http://www.internetworldstats.com/ stats10.htm>. Acesso em: 17 set. 2016.

4 Um conceito bastante utilizado de imaginário é o de Gilbert Durand, que nos parece bastante esclarecedor para este estudo. Ele sustenta que imaginário é o “museu de todas as imagens passadas, possíveis, produzidas e a produzir, nas

Redes digitais: um mundo par a os amador es. No vas r elações entr e mediador

es, mediações e midiatizações

99

nicas de criação de perfis de usuários no Facebook e no Twitter. Ainda sobre os cenários quantitativos, que nos ajudam a com- preender a dimensão do debate que estamos propondo, vale ressaltar que a participação brasileira no Facebook, segundo dados de julho de 2016, contabiliza a cifra de 111 milhões de

contas,5 o que seria algo da ordem de 53,9% da população brasi-

leira. O termo “contas”, em vez de usuários, foi utilizado de modo a tornar mais claro aquilo de que estamos tratando quando ob- servamos redes sociais web, pois tal número não corresponde, necessariamente, ao número de usuários. Isso porque um mes-

mo internauta pode possuir mais de uma conta “pessoal”6 no

Facebook; basta que, para isso, utilize e-mails diferentes. Ainda que o impacto quantitativo seja menor no caso do Twitter, cujo

conteúdo tem um alcance de 40 milhões de pessoas,7 a quanti-

dade de contas ativas8 é de mais de 17 milhões,9 sendo que entre

2010 e 2016 o Twitter, em escala global, saltou de 30 milhões de contas ativas para 300 milhões.

Tais dados nos ajudam a compreender, minimamente, qual o alcance em termos populacionais da participação de bra- sileiros nas redes sociais Facebook e Twitter. O debate de fundo, no entanto, não é de ordem quantitativa, mas qualitativa, espe- cialmente no que se refere às construções identitárias do que estamos chamando “eu digital”, sobretudo a partir de suas pos- sibilidades técnicas, feita pelos usuários web – ou se se preferir, pelos “amadores”, termo utilizado pelo sociólogo e pesquisador

suas diferentes modalidades da sua produção, pelo homo sapiens sapiens” (DU- RAND, 1994, p. 3).

5 Os dados podem ser consultado em <http://www.internetworldstats.com/ south.htm>. Acesso em: 15 set. 2016.

6 O “pessoal” a que nos referimos diz respeito a contas de caráter individual, não levando em conta perfis de “Pessoas Públicas” ou mesmo de páginas corporativas.

7 A revista Brasileiros publicou uma reportagem especial sobre os 10 anos do Twitter e sua penetrabilidade no Brasil. Mais dados e informações sobre o mi- croblog podem ser acessados em <http://brasileiros.com.br/2016/03/twitter -completa-10-anos-com-missao-de-se-redefinir/>. Acesso em: 17 set. 2016. 8 “Contas ativas” se refere aos usuários que compartilham conteúdo e interagem

com outros usuários da rede.

9 Dados podem ser consultados em <http://www.cartacapital.com.br/blogs/ outras-palavras/twitter-crise-e-possibilidade-de-aquisicao-pelos-usuarios>. Acesso em: 2 nov. 2016.

100

Redes digitais: um mundo par

a os amador

es. No

vas r

elações entr

e mediador

es, mediações e midiatizações

francês Patrice Flichy. Aliás, uma das características das redes sociais é seu caráter simplificado de usabilidade, permitindo que o cadastro de poucas informações (inicialmente, porque, à medida que o usuário usa o serviço, ele é instado a cada vez mais fornecer informações pessoais), como conta de e-mail ou núme- ro de celular, possibilite que, a partir da criação de um nome de usuário e senha, qualquer pessoa faça parte de uma rede social como o Facebook ou o Twitter. Nas imagens a seguir, podemos ver a tela para a criação de contas no Facebook e no Twitter.

Redes digitais: um mundo par a os amador es. No vas r elações entr e mediador

es, mediações e midiatizações

101

Imagem 2 – Tela de criação de conta no Twitter

Como podemos verificar, não é necessário nenhum co- nhecimento avançado em informática, comunicação ou Internet para que possamos todos, da forma mais democrática e horizon- tal possível, fazer parte da rede mundial de computadores via redes sociais. Mas, afinal de contas, que implicações tais técnicas trazem às construções do “eu digital”, daquilo que imaginamos ser o nosso myself audiovisual? Que tipo de “eu digital” emerge na relação entre as interações humanas e maquínicas? É este de- bate que tentaremos estabelecer nas próximas seções.

Não fazemos aqui, por razões metodológicas e de foco de abordagem, uma longa digressão sobre o que seria o “eu di- gital” em um sentido antropológico profundo. O que nos inte- ressa, para a análise que nos propomos, é considerarmos o “eu digital” (espécie de identidade própria) como o ente que emerge da construção de si por parte dos amadores nas redes sociais Facebook e Twitter, a partir das possibilidades técnicas existen- tes. Evidentemente, uma análise das postagens de cada um dos usuários poderia revelar certos comportamentos coletivos, mas isto seria tarefa para um estudo de caso específico, de acordo com o interesse de cada pesquisador. Nossa discussão, no entan-

102

Redes digitais: um mundo par

a os amador

es. No

vas r

elações entr

e mediador

es, mediações e midiatizações

to, converge para outro caminho, mais relacionada às tecnicida- des e às práticas amadoras.