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From utopia to the realization of projects: Crowdfunding as an ally of amateurs

Maria Devanir F. R. Heberlê1

Vivian Maria Corneti de Lima 2

Resumo: Este artigo analisa um modelo que permite às pessoas,

especialmente àquelas consideradas amadoras, o financiamento de seus projetos por meio de doações coletivas. Tal iniciativa re- cebe o nome de “crowdfunding”, conhecido como financiamento coletivo e que pode ser resumido como uma espécie de “vaqui- nha” que ocorre por meios digitais e tem à frente do processo o que Patrice Flichy chama de amadores. Trata-se de um mo- delo que Flichy situaria entre as novas práticas da cidadania,

1 Mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade Vale do Rio dos Sinos (Unisinos)- área de concentração Processos Midiáticos (2015). Especialização em Relações Internacionais pela Universidade Católica de Brasília (2008). Pos- sui graduação em Jornalismo pela Universidade Católica de Pelotas (1983). É jornalista na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desde 1997. CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/1129803819284712

2 Publicitária, doutoranda em Comunicação e Culturas Contemporâneas na Uni- versidade Federal da Bahia – UFBA, na linha Cibercultura. Mestre em Ciências da Comunicação na Universidade do Vale do Sinos – área de concentração: Cultura, Cidadania e Tecnologias da Comunicação (2014). CV Lattes: http://lattes.cnpq. br/2274560249614859

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nas quais é preciso mobilizar os colaboradores e, sobretudo, os financiadores, para tornar a utopia real. Nesse sentido, o artigo

apresentará o case do amador Paulo Machado, há mais de 40

anos internado no Hospital das Clínicas em São Paulo e que, em abril de 2013, lançou na internet uma campanha de financia- mento coletivo para produzir uma animação 3D.

Palavras-chave: Crowdfunding. Amador. Financiamento. Circu-

lação. Redes sociais.

Abstract: This article discusses a model that allows people,

particularly those considered amateurs, to fund their projects through collective donations. This initiative is called “crowd- funding”, a collective fund-raising model that uses digital media and is led by people whom Patrice Flichy calls amateurs. It is a model of new practices of citizenship, in which it is necessary to mobilize the collaborators, especially the funders. This can make utopia a reality. The article presents the case of the ama- teur Paulo Machado, who has been hospitalized for more than 40 years at the Hospital das Clínicas in São Paulo and in April 2013 launched a collective funding campaign to produce a 3D animation.

Keywords: Crowdfunding. Amateur. Funding. Circulation. Social

networks.

1 Introdução

O conceito de amador que trabalharemos neste ar- tigo diz respeito às proposições do sociólogo francês Patrice Flychy sobre “Os Amadores no Mundo Digital. Rumo a uma Nova

Democracia de Competências”3. A palavra amador deriva do la-

tim e está intimamente relacionada ao amor. Amador é aquele que ama, que gosta, que é apaixonado pelo que faz. O vocábulo, quando usado no cotidiano, muitas vezes é carregado de conota- ções pejorativas, que distanciam seu significado do profissiona- lismo que é esperado do especialista. Amador seria aquele que tem menos talento em comparação com um profissional.

3 III Seminário “Os Amadores no Mundo Digital. Rumo a uma Nova Democracia de Competências”, UNISINOS, 30/09/2013 a 04/10/2013.

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Efetivamente o amador é aquele que desenvolve algu- ma atividade pelo puro prazer, pela felicidade ou pela curiosida- de de realizá-la, entendendo apenas superficial ou experimen- talmente sua dinâmica de funcionamento. Porém, Flichy (2013) nos alerta que o conhecimento prático detido e a vivência com tal atividade muitas vezes fazem do amador um conhecedor muito mais profundo do que aquele que circula no imaginário popular, já que seu aprendizado vem de um percurso autônomo de aquisição de competência, que lhe permite novas possibilida- des de domínio e aprendizado do conteúdo.

Comumente pensamos no amador como sendo aquele que realiza sua atividade sem ter a pretensão de atuar profis- sionalmente, ou aquele que trabalha sem esperar receber pa- gamento financeiro por sua atividade, pois o amadorismo se- ria uma prática fora do mercado. Embora a grande maioria dos amadores não busque remuneração para seus trabalhos, alguns deles precisam de financiamento para concretizar suas ações. Assim, o amador encontra dificuldades para o desenvolvimento de projetos que precisem de um investimento inicial.

Nos últimos anos, os indivíduos interessados e apai- xonados por determinados temas e que não necessariamente reúnem conhecimento suficiente para avançar têm na internet oportunidades para tornar a utopia amadorística real. Se para alguns o espaço virtual é meramente de busca e de respostas a questionamentos do cotidiano, para outros pode significar um local muito interessante de aprendizado e de transformações.

A internet pode reconfigurar as lógicas de trabalho do amador por permitir novas possibilidades de aprendizado, de apresentação e oportunidades de negócios. “O digital transfor- ma quando dá continuidade e aumenta ao mesmo tempo a evo- lução anterior” (FLICHY, 2013).

Diante dos discursos complexos e dos argumentos prá- ticos que o amador detém sobre a atividade que desempenha, muitos sites e blogs de lojas ou outros tipos de atividades co- merciais passam a valorizar sua expertise, estimulando críticas de forma a enaltecer o conhecimento prático daqueles que co- nhecem seus produtos. Sites como o Foursquare ou Trip Advisor têm sua dinâmica de funcionamento em torno das críticas, co- mentários e elogios dos turistas ou consumidores amadores.

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Além disso, existem inúmeros blogs ou vídeos com tutoriais so- bre maquiagem, culinária, música, esportes, artes, entre outros temas, com comentários e explicações de amadores sobre as ati- vidades de suas áreas de competências. Em diversos segmentos e nas mais diversas atividades, os amadores podem encontrar na internet uma possibilidade para reconfigurar sua forma de atuação.

Temos amadores de origens diferentes. Podem ser profissionais do grafismo, que desejam desenhar por prazer. Sites de história em quadrinhos online são um espaço muito interessante de aprendizado. Podem-se encontrar outras pessoas interessadas e competentes em desenho e, a partir da observação destas pessoas, podes ter teu trabalho melhorado (FLICHY, 2013).

A busca por um espaço para a exposição de talento ou, ainda, para a realização pessoal pode muito bem estacionar no sonho ou se tornar real na criação de um blog – página particu- lar –, na produção de sites destinados a alojar trabalhos artís- ticos, entre outros. As janelas abertas aos chamados amadores têm amplos horizontes, desde que os mesmos tenham um com- putador e saibam operar programas que, inclusive, satisfazem profissionais. Este tipo de facilidade proporcionada pela imen- sidão de programas e ferramentas disponibilizadas pelo mundo digital tem sido motivo de discussão sobre o que ele pode repre- sentar quando se trata de mercado de trabalho.

Temos um computador com programas que po- dem ser usados por amadores e profissionais. Pela flexibilidade de suas ferramentas o digital pode colocar em xeque a prática da divisão do trabalho. Indivíduos comuns adquirem competências e, por fim, o amador vai colocar em xeque as convenções clássicas (FLICHY, 2013).

É contando com a flexibilidade de tais ferramentas di- gitais que, em várias áreas, pessoas comuns foram se aproprian- do de competências e abrindo caminho a empreendimentos

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criativos, realizando sonhos e construindo novas oportunida- des. Trata-se da utilização do crowdfunding, que funciona nos

mesmos moldes da tradicional vaquinha4 no que se refere ao ob-

jetivo de angariar recursos financeiros. Porém, na era dos meios digitais a captação de recursos é feita na internet, e, assim, os operadores do modelo, que podem ser indivíduos sem nenhu- ma competência profissional especializada, mobilizam pessoas para concretizar um projeto a partir de doações.