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Entre as muitas formas e finalidades para que o Facebook pode ser usado está, como em várias outras redes so- ciais na internet, a de agrupar pessoas por meio de interesses particulares, usando o sistema/plataforma como um mediador para o “encontro” de sujeitos. Enquanto no Orkut, por exem- plo, havia uma estrutura chamada de “Comunidades”, em que as mensagens se organizavam em uma interface com um índice no qual os usuários podiam entrar e acompanhar as discussões de forma linear, no Facebook há as páginas nas quais os usuá- rios participantes recebem mensagens em sua própria linha do tempo. Porém, o comum em ambos os casos é o fato de que as pessoas voluntariamente “entram” ou “curtem” comunidades ou páginas sobre assuntos que de alguma forma lhes são importan- tes, assumindo também que a informação de sua agremiação po- derá ser pública em muitos casos.

Qualquer usuário do Facebook pode criar uma página, que nada mais é do que um espaço dentro da rede social que lhe dá, basicamente, um título, uma descrição, uma imagem re- presentativa, uma foto de capa, entre outros conteúdos, como álbuns de fotos, textos, vídeos, eventos, etc.

Assim que for criada a página, outros usuários pode-

rão curti-la22 e logo passarão a receber em suas linhas do tem-

22 O ato de “curtir” uma página ou postagem no Facebook pode ter muitos senti- dos. Aqui se assume, por enquanto, apenas a forma que a interface da ferramen- ta proporciona para que os usuários “façam parte” do grupo/página ou simples- mente passem a receber as mensagens que serão postadas pelos administrado- res da página. Funciona mais ou menos como um sistema de assinatura em que,

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po do Facebook as mensagens que o criador da página publicar. Porém, esta não é a única possibilidade de trocas mediadas por páginas: O criador pode também convidar outros usuários para serem administradores das páginas, pode permitir ou não que usuários comuns também postem conteúdos para todos os ou- tros participantes verem, e, da mesma forma, torna-se possível

ou não para os usuários comentarem, curtirem23 e compartilha-

rem as mensagens publicadas e contidas neste espaço.

5.1 O perfil do indivíduo nas redes sociais digitais

Outro fator importante a ser considerado em relação às páginas do Facebook é que qualquer pessoa, ao curtir, poderá permitir que esta informação esteja presente no perfil pessoal

do usuário24; ou seja, curtir uma página pode estar além de sim-

plesmente desejar receber mensagens sobre o assunto da mes- ma, mas também pode relacionar-se a uma questão de identida- de do usuário, da sua intenção de mostrar aos outros as coisas de que ele gosta, que consome, usa, de que se sente pertencente.

Um exemplo de como as pessoas podem entrar em al- gum tipo de agrupamento em redes sociais digitais apenas com a intenção de construir seu perfil é o caso da extinta comunidade do extinto Orkut “Odeio acordar cedo”, uma das maiores e mais famo- sas comunidades desta rede social. É possível que muitas das pes- soas que fizeram parte desta comunidade realmente estivessem interessadas em debater sobre seu desgosto em relação à falta de sono, porém, tornou-se fenômeno notório no Orkut, por causa de uma apropriação particular por parte dos usuários, a entrada em comunidades para que o nome e imagem de capa fizessem parte do perfil público, como um distintivo que supostamente ajudaria a falar um pouco sobre o usuário. Neste caso, a entrada na comu-

no momento em que uma pessoa declara gostar de algo, ela ao mesmo tempo está dizendo que tem interesse em receber mensagens sobre este assunto. 23 Neste caso, o ato de “curtir” poderá implicar, entre outros significados, a ideia

de aprovação ou concordância em relação à mensagem. Além de “curtir”, exis- tem outras formas de reagir a um conteúdo, mas não serão descritos neste texto. 24 Isso se dá de acordo com as configurações de privacidade de cada usuário. Pra- ticamente, todas as informações que podem ser mostradas em um perfil do Fa- cebook podem ser configuradas para serem ou não públicas ou então mostradas para apenas uma parte dos contatos de cada usuário.

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nidade “Odeio acordar cedo” poderia se dar apenas para que o distintivo da comunidade aparecesse no perfil.

Apesar de ter constantes mudanças, o Facebook é um pouco diferente do Orkut neste sentido também. Não há exata- mente o mesmo conceito de distintivo, mas, da mesma forma, os usuários possuem um tipo de “etiqueta” vinculada à sua re- presentação pessoal na rede social; ou seja, quando uma pessoa curte uma página, ela pode demonstrar publicamente esta infor- mação em seu perfil pessoal.

Os motivos que levam uma pessoa a filiar-se a um ou ou- tro grupo ou página do Facebook podem ser variados, e a constru- ção de uma identidade pode ser considerada uma destas razões, ainda mais assumindo as configurações e mutações da sociedade midiatizada, repletas de mudanças e pluralidades nas identidades dos indivíduos, ou “crises de identidade” (HALL, 2001).

Ainda dentro do que diz Stuart Hall (2001), diferente- mente das construções de identidade nas sociedades pré-mo- dernas, em que as estruturas sociais se compunham com base na família, na religião e por alguns tipos de regulação do estado, a ideia de pós-modernidade traria consigo uma abertura no que diz respeito à construção de identidade, permitindo que as pes- soas simplesmente “tornem-se” o que desejam ser, ou se apre- sentem como o que querem ser, ou se mostrem como desejam ser vistas. Passa a ser aceitável que uma identidade seja produ- zida socialmente, levando-se em consideração o contexto em que os indivíduos estão inseridos, o que vivenciam, o que alme- jam, o que lhes dá prazer ou os angustia. A tecnologia favorece o dinamismo nas formações e transformações de identidade, que acontecem de forma ainda mais ágil, com efeitos da globalização e trocas comunicacionais cada vez mais rápidas.