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Technocultural imaginary and mediatized resistances: The utopia of a digital democracy

Marcelo Salcedo Gomes1

Resumo: Este trabalho tem por objetivo desenvolver uma com-

preensão de como formas tentativas de organização política na era digital surgem da organização dos cidadãos através das tecnologias de comunicação e informação (TIC). A partir dos postulados de Flichy (2001), propomos que o imaginário tec- nocultural atual tem um papel preponderante na construção da inteligibilidade dos sentidos em uma sociedade midiatizada. Buscamos compreender, através da análise de materiais que cir- cularam nas mídias durante os protestos no Brasil em junho de 2013, como as três formas do agir político propostas por Proulx (2012) configuraram-se em experiência simbólica de resistên- cia dos atores sociais às formas políticas hegemônicas, tomando como base o quadro referencial do imaginário como dialética utopia/ideologia em Ricoeur (1997).

Palavras-chave: Imaginário. Tecnocultura. Midiatização.

1 Doutorando do PPG em Ciências da Comunicação da Unisinos, com estudos na linha de pesquisa Mídias e Processos Audiovisuais. Mestre pelo mesmo progra- ma, na linha de pesquisa Midiatização e Processos Sociais. Bacharel em Jornalis- mo e Fotografia Instrumental. E-mail para contato: salcedogomes@gmail.com. CV: http://lattes.cnpq.br/0758076748802398.

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Abstract: This paper aims to develop an understanding of how

tentative forms of political organization in the digital age arise from the organization of citizens through information and com- munication technologies (ICT). Based on the postulates of Flichy (2001), we propose that the current technocultural imaginary plays a preponderant role in the construction of the intelligi- bility of meanings in a mediatized society. We have attempted, through the analysis of materials that circulated in the media during the protests in Brazil in June 2013, to understand how the three forms of political action proposed by Proulx (2012) configured a symbolic experience of resistance of the social ac- tors to the hegemonic political forms, taking as a framework of reference the notion of imaginary as a dialectic utopia / ideology from Ricoeur (1997).

Keywords: Imaginary. Technoculture. Midiatization.

1 Introdução

Intenta-se, neste trabalho, compreender como novas formas tentativas de resistência contra-hegemônicas surgem da organização política de cidadãos na era digital. Para tal em- preendimento, propomos refletir sobre os argumentos de Flichy (2001) de que o imaginário contemporâneo tem um preponde- rante papel na construção de um mundo comum, no qual os ato- res dos múltiplos setores sociais articulam o processo de inova- ção tecnológica.

A partir da dialética entre utopia e ideologia construída por Ricoeur (1997), Flichy (2001) passa a compreender a força subversiva da utopia no ato criativo dos dispositivos tecnocul- turais, assim como encontra, no debate entre os diversos atores sociais, as definições sociotécnicas de um acordo coletivo sobre aquilo que é apresentado como utópico/experimental em um primeiro momento, mas que almeja tomar forma de ideologia nos usos e apropriações de grupos que legitimam o novo siste- ma tecnológico.

É no desenvolvimento da internet como sistema comu- nicativo aberto e global que Flichy (2001) encontra as marcas históricas de uma relação entre imaginação e ação técnica que

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muitas vezes colocou em debate os discursos de projetistas e usuários. Sabemos que as técnicas de comunicação digital não garantem, por si mesmas, as condições necessárias para o fun- cionamento de uma “sociedade em rede”, termo amplamente trabalhado por Castells (2007) e que prolifera no campo da co- municação. As dimensões econômicas, políticas e culturais con- figuram-se como extremamente importantes para a consolida- ção dos usos dos meios antes de se configurarem como práticas sociais. Há uma defasagem entre usos e práticas que deve ser levada em consideração.

O uso das chamadas tecnologias da informação e co- municação (TIC) como espaços colaborativos em blogs, chats, redes de relacionamento, etc., se estabelece como prática social a partir do momento em que há certa estabilidade ao longo do tempo, com um certo número de praticantes. A ação comuni- cativa individual ou de pequenos grupos não se constitui como novidade na medida em que uma “generalização das relações públicas” (MIÈGE, 2009) vem sendo tecida desde os anos 1970. O que as TIC proporcionaram foi uma amplificação desta indi- vidualização. Segundo Miège (2009), uma boa parte dos usuá- rios se apropriam dos aperfeiçoamentos técnicos para construir “comunidades virtuais” que, via de regra, não têm um fim social

stricto sensu, mas estão constituídas em torno de alguns interes-

ses de grupos específicos.

Neste sentido, parece-nos singular o que aconteceu du- rante os protestos no Brasil em junho de 2013. Através da aná- lise de alguns materiais que circularam pela internet durante aquele período, encontramos fragmentos de formas tentativas de organização política dos cidadãos nas quais as performan- ces simbólicas de protestos nas ruas, a construção de sentidos nas redes da web e as ações efetivas de ataques cibernéticos de hackers às instituições convergem para a ocupação tanto do espaço físico urbano, quanto de uma nova ambiência midiática (GOMES, 2010). Esta ambiência pode ser entendida como a are- na de inteligibilidade dos discursos (FAUSTO NETO, 2006) em uma sociedade em processo de midiatização. É perceptível, atra- vés dos fragmentos coletados, que houve um grande interesse dos atores no uso e na apropriação dos “dispositivos midiáticos” (FERREIRA, 2006) para tecer um debate público sobre as ques-

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tões políticas que assolam o país, pois já perceberam que tais dispositivos afetam substancialmente os processos sociais.