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O PAPEL DO DIREITO NA IMPLEMENTAÇÃO DOS PROJETOS DE PSE/REDD+: SUSTENTABILIDADE INSTITUCIONAL

4.5. Direito e PSE

No âmbito jurídico, como visto, a principal lacuna do PSE concentra-se no vínculo jurídico entre serviço ecossistêmico e seu provedor e, sobretudo, na justificativa de se pagar pelo cumprimento de um dever legal. Contudo, a própria modificação da concepção e a análise das funções do direito foram capazes, como visto, de nos dar um norte para uma fundamentação jurídica robusta, sem a necessidade de criação de novos institutos. Basta revisar alguns mecanismo sob uma nova ótica jurídica e atentar para as funcionalidades do direito.

A solução nasce, portanto, na amplificação da compreensão das funções do direito, que deve ser não apenas estrutural, mas, também, promocional, refletindo-se em todos os seus ramos. Uma análise promocional do direito é essencial na preservação ambiental, pois, na medida em que fica clara a ideia de sanção positiva, o pagamento por serviços ecossistêmicos revela-se uma verdadeira sanção premial.

Não obstante, uma certa tecnologia jurídica se mostra necessária, pois os mecanismos de pagamento por serviços ecossistêmicos devem ser planejados e implementados, levando-se em consideração não apenas seus aspectos econômicos, ambientais e sociais, mas sobretudo o institucional. Em outros termos, devem considerar o meio jurídico em que são implementados. Essa tecnologia, mais do que legitimar o mecanismo, deve garantir a participação dos envolvidos, favorecer a orquestração, facilitar a sinergia e, igualmente, permitir a flexibilidade do instrumento, possibilitando sua constante adequação às novas realidades que, certamente, surgirão.

É por isso que o direito assume não apenas o papel de legitimador, mas também de coordenador (orquestração), facilitador (sinergia) e mediador (flexibilização), que,

permitindo uma participação transparente e de qualidade dos interessados, possibilite a proteção ambiental e crie “engrenagens” flexíveis e adaptáveis que protegem e promovem os aspectos sociais e econômicos de maneira harmônica e sistêmica.

Vejamos, portanto, a relação do direito, ou mais precisamente, dessas funcionalidades com os programas de pagamento por serviços ecossistêmicos, cuja estratégia desafia aquele com dilemas a serem enfrentados, tanto na sua implementação, quanto na sua manutenção, sobretudo quando se pretende contribuir para o desenvolvimento sustentável e juridicamente sustentado.

A ideia de orquestração ou coordenação é de suma importância para estruturação dos programas de pagamento por serviços ecossistêmicos. Da mesma forma que se passou a ver os serviços ambientais sob um ponto de vista sistêmico, interligado e interdependente (ecossistema), inclusive com a evolução conceitual para serviços ecossistêmicos, a orquestração traz essas característica para o campo do direito, na medida em que favorece o que chamamos de “engrenagens”, ou seja, conexão entre as entidades e instrumentos, cada um cumprindo seu papel, e todos convergindo para um objetivo maior, que é o bem estar e a sadia qualidade de vida na terra.

A sinergia ou somatória de forças, em complemento à orquestração, se faz bastante necessária tanto na implementação de mecanismos de PSE/REDD+, quanto na manutenção desses programas. Essa funcionalidade, em grosseira comparação, representaria um turbo no motor que aciona as referidas engrenagens. A possibilidade de unir forças de vários órgão ou instrumentos podem significar uma diminuição de custos de implementação e até mesmo um incremento na qualidade do mecanismo. A utilização, por exemplo, da mão de obra especializada de um órgão público ou entidade privada na demarcação de uma determinada área florestada, representa uma redução no custo financeiro de preparação de pessoal e, ao mesmo tempo, utilizando-se da expertise desse pessoal, o ato de demarcação será mais barato e de melhor qualidade. Essa funcionalidade se mostra importante até mesmo para facilitar os métodos de verificação dos resultados alcançados com esses mecanismos, pois seguindo a mesma lógica, não exigem das políticas públicas maiores recursos financeiros para fiscalização.

Complementando essas funcionalidades, a flexibilização também se mostra essencial para a manutenção dos programas de PSE/REDD+, pois de nada adiantaria um arranjo institucional adequado, com mecanismos claros e transparentes de verificação, se a avaliação dos resultados não for capaz de ensejar ajustes na própria estrutura do programa.

Por ser um instrumento essencialmente econômico de compensação financeira às externalidades positivas, o PSE/REDD+ mostra-se suscetível às influências interna e externa da economia, ou seja, está em constante modificação. Daí a necessidade de um arranjo institucional flexível, porém, que não fragilize sua legitimidade e segurança jurídica.

Entretanto, como visto anteriormente, reformas institucionais, por diversos fatores, não são tão simples e rápidas como deveriam ser. Para Landell-Mills e Porras250, a mudança institucional depende da velocidade e qualidade da aprendizagem da organização. Consequentemente, a mudança institucional de melhoria do bem-estar depende de incentivos para a aprendizagem de alta qualidade. Essa funcionalidade do direito permite ao mecanismo essa aprendizagem por meio da experimentação, ou seja, permite colocar em prática algumas modificações para que sejam avaliadas suas contribuições no conjunto das engrenagens, mas essa avaliação só é legitima se prever o feedback dos principais interessados e diretamente afetados com o programa de PSE/REDD+.

Quanto à participação, fazendo um interessante paralelo com a importância do conceito de serviços ecossistêmicos, Chan et al. 251, afirmam que sua amplificação é para que o PSE entre nas arenas de discussões políticas e, portanto, não pode ser deixado apenas para cientistas e políticos, mas deve ser aberto para as vozes e as escolhas dos diferentes atores envolvidos, ou seja, deve ter uma abordagem de envolvimento participativo em diferentes etapas de definição e aplicação.

De fato, como visto, a participação dos agentes é importantíssima para o respeito às funcionalidades do direito, não apenas no que tange à legitimidade, mas, também, à sinergia e à flexibilidade, na medida em que representam uma das melhores fontes de informações, que serão essenciais no processo de gestão do PSE/REDD+.

Essa participação deve se dar em um ambiente de negociação cuidadosamente orquestrado pelo direito (arena de debates), onde se permita de maneira construtiva e eficiente discutir, avaliar e até propor, se for o caso, ajustes na coordenação e articulação dos arranjos jurídicos. O PSE/REDD+ não pode ser pensado como um instrumento com fim em si mesmo, ao revés, deve ser desenvolvido tomando como base não apenas as                                                                                                                          

250  LANDELL-MILLS, N e PORRAS, T. I. 2002. “Silver bullet or fools’ gold? A global review of markets

for forest environmental services and their impact on the poor. Instruments for sustainable private sector forestry series. International Institute for Environment and Development, London. p. 21.  

251  CHAN, K.M.A., PRINGLE, R.M., RANGANATHAN, J., BOGGS, C.L., CHAN, Y.L., EHRLICH, P.R.,

HAFF, P.K., HELLER, N.E., AL-KRAFAJI, K., MACMYNOWSKI, D.P., 2007. When agendas collide: human welfare and biological conservation. Conservation Biology 21, 59–68.

características físicas do local, onde será implementado, mas, também, suas características institucionais, ou seja, as normas e princípios que regem aquela sociedade.

O direito deve ser capaz de permitir uma absorção das regras de PSE/REDD+ e, ao mesmo tempo, favorecer seu desenvolvimento, em um verdadeiro desafio de coordenação e potencialização de interesses envolvidos, definindo de maneira transparente e democrática os direitos e deveres dos envolvidos, a serem fiscalizados por meio de sanções ou promoções.

Segundo Ana Maria Nusdeo252, o sucesso desses programas pode depender da complementariedade com outros instrumentos. Essa coordenação e articulação favorece, por conseguinte, a sinergia do PSE/REDD+, ou seja, a cooperação entre esses agentes direta ou indiretamente envolvidos na preservação dos serviços ecossistêmicos, de modo a, acumulando suas forças, tornar o mecanismo ainda mais poderoso no combate às mudanças climáticas.

Ademais, é válido ressaltar que as funcionalidade do direito, inclusive, propiciam e complementam os cinco critérios de definição de programas de PSE elencados no Capítulo 2 (normativo, técnico, econômico, político e ambiental), em especial o aspecto normativo e o de participação dos envolvidos.

O PSE/REDD+ sob uma ótica institucional, nos parecer bastante atraente e factível, podendo ser justificado de maneira juridicamente segura, garantindo-se assim a possibilidade de harmonização entre preservação ambiental e crescimento econômico, sem descuidar da equidade social, pois a eficiência e a proteção ambiental não podem ser independentes das questões de equidade pode dificultar a viabilidade de mecanismos de PSA no longo prazo.

                                                                                                                         

252  NUSDEO, Ana Maria. Pagamento por serviços ambientais. Do debate de política ambiental à implementação jurídica. In Pagamento por Serviços Ambientais, fundamentos e principais aspectos jurídicos.

Direito e mudanças climáticas 6 [recurso eletrônico]. Org. Paula Lavratti e Guillermo Tejeiro. São Paulo: Instituto O Direito por um Planeta Verde, 2013. 149p.

CAPÍTULO 5