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Estrutura jurídica e suas modificações

CAPÍTULO 5 ESTUDO DE CASOS

5.1. Costa Rica: uma experiência a nível nacional 1 Justificativa

5.2.2 Estrutura jurídica e suas modificações

O Programa de pagamento por serviços ambientais do Estado do Espirito Santo foi previsto na Lei Estadual no 5.818/98, que instituiu a Política Estadual de Recursos Hídricos – PERHES. Essa norma insere, no arranjo jurídico do Espirito Santo, o conceito de provedor-recebedor, na medida em que propõe, em seu art. 31, inciso II281, mecanismos compensatórios aos prestadores de serviços ambientais282 na área de melhoria de qualidade e incremento da disponibilidade das águas.

Essa Política é gerida pelo Sistema Integrado de Gerenciamento e Monitoramento dos Recursos Hídricos do Estado do Espirito Santo – SIGERHES, também instituído pela Lei n. 5.818/98. Trata-se de um Sistema de base colegiada e democrática, integrado por

                                                                                                                         

281  Art. 31. Serão estabelecidos Mecanismos Compensatórios na forma estabelecida em regulamento:

II – Aos proprietários rurais ou posseiros que comprovadamente destinem parte de áreas de sua propriedade à conservação dos recursos hídricos.

282   Aqui também não utilizaremos o termo “serviços ecossistêmicos”, em respeito a legislação que o

implementou, mas sobretudo, porque, como será analisado adiante, o programa preocupava-se exclusivamente com uma única função da floresta (proteção dos recursos hídricos) e não tinha uma visão integrada e sistêmica desses serviços.

órgãos e entidades estaduais e municipais, pela sociedade civil organizada e usuários, intervenientes no planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos.

Entre as atribuições do SIGERHES, o art. 36 da PERHES prevê a criação de mecanismos de proteção, conservação e recuperação das nascentes e matas ciliares, encostas e topos de morros, assim como minimizar, pela educação ambiental, as ações dos agentes da erosão e do assoreamento dos corpos de água. Caso seja necessário, o SIGERHES está autorizado pelo inciso VII do referido dispositivo a se articular com os Municípios, Estados vizinhos e até mesmo com a União, para o gerenciamento e controle dos recursos hídricos capixaba.

Um dos mecanismos criado foi o PSA-ES, implementado somente em 2008, pela Lei Estadual n. 8.995 de 23 de setembro daquele ano, e regulamentada pelo Decreto Estadual no 2.168-R/2008. O principal objetivo desse programa era, inicialmente, preservar e fomentar os serviços prestados pela cobertura florestal, exclusivamente no que se refere à sua contribuição para conservação e incremento da qualidade e da disponibilidade hídrica do estado.

Esse programa está intrinsecamente ligado à Política Nacional de Recursos Hídricos - PNRH, instituída pela Lei n. 9.433, de 08 de janeiro de 1997, em especial aos Comitês de Bacias Hidrográficas, na medida em que respeitam os limites geográficos das bacias consideradas prioritárias em razão da existência de reais ou potenciais produtores de serviços ambientais de conservação ou incremento da qualidade e da disponibilidade hídrica. Ademais, de acordo com a PNRH, compete aos Comitês de Bacia Hidrográficas a implantação de instrumentos de gestão, tais como, planos das bacias hidrográficas, enquadramento dos corpos de água em classes, a cobrança pelo uso de recursos hídricos, instituição de um sistema de informações, regularização dos usos significativos de água no Estado, dentre outros.

Concomitantemente, foi criado, pela Lei n. 8.960/2008, o Fundo Estadual de Recursos Hídricos do Espírito Santo – FUNDÁGUA, destinado à captação e à aplicação de recursos, como um dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos, de modo a dar suporte financeiro e auxiliar a implementação desta, vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – SEAMA.

O FUNDAGUA, inicialmente, era administrado por um Conselho Consultivo, cuja função é realizada pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos – CERH, coordenado pela SEMA e gerido por um conselho gestor de caráter deliberativo, composição tripartite e paritária, presidido pelo Instituto Estadual de Recursos Hídricos e Meio Ambiente e

composto por três membros, representantes do Poder Público Executivo, dos Usuários de Recursos Hídricos e da Sociedade Civil Organizada.283

Em setembro de 2010, foi publicada a Lei Estadual n. 9.531, que institui a Política Estadual de Mudanças Climáticas – PEMCES. Um dos objetivos dessa política é implementar ações de prevenção e adaptação às alterações produzidas pelos impactos das mudanças climáticas, com a participação e a colaboração dos agentes econômicos e sociais interessados ou beneficiários, em particular aqueles especialmente vulneráveis aos seus efeitos adversos. Cabe ainda à PEMCES o dever de promover a competitividade de bens e serviços ambientais capixabas nos mercados interno e externo, bem como fomentar projetos e metodologias de redução de emissões, sequestro ou sumidouros de gases de efeito estufa.

Apesar de não estar explicitamente elencado como instrumento da PEMCES, o PSA também pode ser enquadrado como mecanismo da estratégia de mitigação dos efeitos da mudança climática, na medida em que o art. 5o, inciso VII e 9o, inciso III, prevê a possibilidade de utilização dos instrumentos econômicos para estimular projetos que utilizem mecanismos financeiros e econômicos referentes à mitigação da mudança do clima e à adaptação aos efeitos da mudança do clima que existam no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, do Protocolo de Quioto e nos demais documentos relacionados às mudanças climáticas dos quais o Brasil seja signatário.

Com a efetiva implementação e consolidação da Lei no 8.995/2008, observou-se a necessidade de algumas modificações. A primeira, ocorrida em 2010, por intermédio da Lei n. 9.607 de 27 de dezembro, visou a ampliação dos destinatário e a melhoria na definição dos objetivos. O PSA passou a contribuir para a conservação e recuperação dos serviços ambientais de suporte, provisão e regulação, recompensando financeiramente o proprietário rural e/ou outros promotores de serviços ambientais, em função do valor econômico destes. A segunda, ocorrida em 2012, por intermédio da Lei n. 9.864, de 27 de junho, que revogou integralmente a Lei no 8.995/2008 e a Lei no 9.607/2010, reformulou o PSA-ES para adequá-lo ao Programa Reflorestar, cujo objetivo é o aumento da cobertura florestal do Estado do Espirito Santo, aperfeiçoando sua operacionalidade.

Este novo programa surge com a proposta de massificar o pagamento por serviços ambientais no Estado, sendo fruto do alinhamento da SEAMA e da Secretaria Estadual de                                                                                                                          

283  Os mecanismos de captação e distribuição de recursos financeiros serão analisados em tópico específico

Agricultura, Aquicultura e Pesca – SEAG e que tem como meta a ampliação da cobertura florestal do Estado do Espírito Santo em 2.300 Km2 até 2025, ou seja, passar dos referidos 8% para 16%.

Atualmente, na terceira fase do programa, são beneficiados, não apenas aqueles que mantêm, mas também aqueles que recuperam áreas florestadas, sendo indiferente para tanto se o imóvel é ou não cortado por algum corpo hídrico.

Com a reformulação do PSA, o FUNDAGUA também foi reformulado. De acordo com artigo 1o da Lei n. 9.866/2012, o Fundo passou a articular a Política Estadual de Recursos Hídricos também com ações, programas e projetos que tenham como objetivo o aumento da cobertura florestal no Estado. Nesse sentido, a sigla FUNDÁGUA passou a representar o Fundo Estadual de Recursos Hídricos e Florestais do Espírito Santo destinado à captação e à aplicação de recursos, como um dos instrumentos da Política Estadual de Recursos Hídricos, bem como à viabilização da manutenção e recuperação da cobertura florestal do Estado, de modo a dar suporte financeiro e auxiliar a implementação destes objetivos.

Os recursos do FUNDAGUA passaram a ser divididos em duas subcontas, quais sejam, (i) a de recursos hídricos, com o objetivo de promover a captação e a aplicação de recursos, de modo a dar suporte financeiro e auxiliar a implementação da Política Estadual de Recursos Hídricos e (ii) a de recursos florestais, por sua vez, destinada a apoiar e fomentar ações, projetos e programas que visem ao aumento da cobertura florestal do Estado.

Essa subdivisão afetou também a estrutura administrativa do Fundo que passou a ter um conselho consultivo e um conselho gestor para cada subconta. O conselho consultivo para recursos hídricos permaneceu com o Conselho Estadual do Recursos Hídricos. Para os recursos florestais, foi criado um conselho consultivo com composição tripartite e paritária, presidido pelo Presidente do Instituto Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos – IEMA e composto por outros três membros, representantes do Poder Público Executivo, Usuários dos Recursos Florestais, e Sociedade Civil Organizada.

Esse é o ambiente institucional em que se desenvolveu a ideia do PSA-ES e onde se adaptou e continua se adequando, em vistas de uma constante busca pela melhor estrutura jurídica capaz de promover a implementação de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.