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Economia Ambiental: “sustentabilidade fraca” e primazia da economia

1.2. Desdobramento econômico da ideia de desenvolvimento sustentável

1.2.1. Economia Ambiental: “sustentabilidade fraca” e primazia da economia

A Economia Ambiental é considerada um ramo da economia neoclássica que cuida da relação entre atividade econômica e meio ambiente. Coloca sobre o meio ambiente uma visão de fonte de recursos para a economia, como uma espécie de almoxarifado da economia42. Os economistas ambientais, acreditando na capacidade inventiva do homem, defendem que o capital natural pode ser substituído pelo capital produzido de modo que não há necessidade urgente de sua conservação. Alguns caracterizam essa teoria como sendo uma sustentabilidade fraca43.

Para essa corrente, a natureza jamais constituirá sérios obstáculos à expansão da economia, pois, segundo Veiga44, acreditam no progresso científico e tecnológico de tal forma que defendem a possibilidade de substituição de qualquer elemento da biosfera, que se mostrar limitante do processo produtivo, com uma simples recombinação entre seus três ingredientes fundamentais: trabalho humano, capital produzido e recursos naturais. Isso porque, para esses economistas, o homem sempre conseguirá introduzir as necessárias alterações que substituam a eventual escassez, ou comprometimento, do terceiro fator, mediante inovações dos outros dois ou de um deles.

Um dos expoentes dessa corrente é o Prêmio Nobel de ciências econômicas, de 1987, o americano Robert Solow, cujos seguidores, segundo Veiga45, enxergam a sustentabilidade como capital total constante. Isto porque assume que o estoque de recursos naturais possa até ser exaurido, desde que esse declínio seja progressivamente

                                                                                                                         

42 CAVALCANTI, Clóvis. Concepções da economia ecológica: suas relações com a economia dominante e a

economia ambiental. Estud. av., São Paulo, v. 24, n. 68, 2010. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo .php?script=sci_arttext&pid=S010340142010000100007&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 03 de abril de 2012.

43  Para melhor aprofundar sobre a distinção entre sustentabilidade fraca e forte ver NEUMAYER, Eric. Weak versus strong sustainability: exploring the limits of two opposing paradigms. Edward Elgar, Cheltenham.

1999.

44  VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável. O desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond,

2010. p. 122.

contrabalanceado por acréscimos proporcionais dos outros dois fatores-chaves – trabalho e capital produzido.

Nesse sentido, para a Economia Ambiental, os bens ambientais são valorados de acordo com as preferências do homem. Para tanto, utilizam uma metodologia de questionários e observatórios para definir a disposição, frise-se, individual a pagar por determinado bem ou serviço ambiental.

Se é verdade que há possibilidade de plena substituição do capital natural pelo capital produzido, ou seja, substituição da natureza por engenhocas artificiais, o meio ambiente se torna um mero acessório dispensável no funcionamento das engrenagens da economia. Para essa teoria, considera-se sustentável a sociedade que, mesmo consumindo desenfreadamente o capital natural, possui recursos tecnológicos e financeiros para compensar a perda por meio de novas tecnologias.

O foco dessa corrente é a economia, ou seja, estuda-se e se propõe medidas para se preservar o crescimento econômico e não necessariamente o desenvolvimento sustentável tal como entendido nesse trabalho. Como diz Amazonas46, é uma visão na qual a ideia de desenvolvimento sustentável acaba sendo absorvida e reduzida a crescimento econômico. Para a Economia Ambiental, arraigada à ideia neoclássica, a combinação ótima dos fatores de produção continua sendo o principal fator de progresso da humanidade, o que se precisa fazer é integrar à função de produção o fator natureza. Motivo pelo qual seus adeptos concentraram-se em encontrar mecanismos de internalização do meio ambiente à economia.

Destarte, pode-se dizer que essa ideia de sustentabilidade fraca é, na verdade, um subproduto da economia neoclássica, na medida em que responde, de maneira simples e superficial, às questões fundamentais do desenvolvimento sustentável, quais sejam, (i) restringem a definição de equidade intra e intergeracional à condição de um nível não declinante de consumo per capita e (ii) simplificam a relação entre economia e ecologia à introdução de um insumo chamado capital natural.

1.2.1.1 Contribuições ao debate sobre PSA

Não obstante as críticas, de certa forma, a proposta da economia ambiental contribui significativamente na concretização do desenvolvimento sustentável, na medida                                                                                                                          

46   AMAZONAS, Maurício. Desenvolvimento sustentável e teoria econômica: o debate conceitual nas

perspectivas neoclássicas, institucionalista e da economia ecológica. in NOBRE, Marcos e AMAZONAS,

Maurício (orgs.). Desenvolvimento sustentável. A institucionalização de um conceito. (parte II). Brasília: Ed. Ibama, 2002. p. 136.

em que se mostra mais factível. Os adeptos dessa corrente não propõem mudança estruturais, apenas buscam instrumentos econômicos que sejam capazes de, dentro de uma mesma lógica de produção, internalizar os custos ambientais, tanto no que se refere ao fornecimento de matéria prima, quanto à absorção dos resíduos.

Essa praticidade de um lado é criticada pela superficialidade do enfrentamento da questão ambiental, mas, por outro lado, deve-se reconhecer as contribuições fundamentais, pois graças a essa simplicidade já se contabilizam inúmeras experiências ao redor do planeta de implementação de instrumentos econômicos e políticas públicas que visam, ainda que de maneira pontual e localizada, internalizar o fator ambiental à função de produção. É o que se vê, por exemplo, nos projetos de pagamentos por serviços ambientais, que serão detalhadamente analisados adiante.

Outra contribuição importante da economia ambiental é a possibilidade, ainda que discutível, de se definir valores econômicos ao meio ambiente. Os métodos47 de valoração da economia ambiental são utilizados não apenas para valorar bens e serviços ambientais, mas também mensurar financeiramente danos ambientais.

Destarte, ainda que simplificadora da questão ambiental ou que represente uma primazia da economia, não há que se negar a imprescindível contribuição para o combate à mudanças climáticas de maneira mais prática, rápida e factível, na medida em que já se tem inúmeros instrumentos econômicos implementados ao longo do mundo. As ideias da economia ambiental devem ser levadas em consideração como meio de se alcançar um objetivo maior, que, em última análise, deve extrapolar os limites técnicos e temáticos da economia e irradiar por outros ramos da sociedade.