PAGAMENTO POR SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS Introdução
2.3. Espécies de serviços ecossistêmicos
Mas, afinal, quais seriam, então, esses serviços ecossistêmicos?
Existem vários trabalhos científicos81 que categorizam e conceituam diversos serviços ecossistêmicos. Entretanto, tomaremos como base as categorias definidas por Rudolf De Groot82, que os divide em quatro grandes categorias, como base nas funções ecossistêmicas das quais derivam:
(a) Habitat: são os serviços de manutenção de espécies e ambientes que podem ser explorados comercialmente. São derivados das funções necessárias para a sobrevivência da fauna e da flora, suporte da diversidade biológica e genética. E, portanto, essenciais para provisão de todos os outros processos e fluxos dos ecossistemas. Entre as funções que se enquadram nessa categoria, podemos indicar a função de refúgio83 e a função de berçário.
(b) Produção: são serviços ecossistêmicos relacionados às funções de suprimento dos recursos naturais renováveis, ou seja, que ao final dos fluxos de materiais e energias, produzem os bens ambientais, tais como, alimentos, água potável, combustíveis fósseis, fibras, bioquímicos, recursos genéticos, recursos ornamentais, entre outros. A princípio,
80 Verificar tópico 4.4.
81 COSTANZA, Robert; D ́ÁRGE, Ralph; GROOT, Rudolf; FARBER, Stephen; GRASSO, Monica;
HANNON, Bruce; LIMBURG, Karin; NAEEM, Shahid; O ́NEILL, Robert; PARUELO, Jose; RASKIN, Robert; SUTTON, Paul; VAN DEL BELT, Marjan.. The value of the world’s ecosystem services and natural capital. Nature, v. 387, n. 6630, 1997; NORBERG, J. Linking Nature’s services to ecosystems: some general ecological concepts. Ecological Economics 29: 183-202. 1999.
82 DE GROOT, R.; WILSON, M.A.; BOUMANS, ROELOF M.J. 2002. A typology for the classification,
description and valuation of ecosystem functions, goods and services. Ecological Economics 41: 393-408. 2002.
83 Ao fornecer espaço para as plantas selvagens e animais, tanto para residentes e transitórios (espécies
migratórias), os ecossistemas naturais são essenciais para a manutenção da diversidade biológica e genética na terra.
esses serviços se confundem com os próprios produtos obtidos dos ecossistemas. Porém, de acordo com o conceito de funções, acima analisados com base em Georgescu-Reagen, esses serviços são apenas os recursos fundo-serviço (fund-service resources), ou seja, são aqueles que não são incorporados ao produto final. Eles produzem serviços a taxas fixas e estes não podem ser estocados para uso futuro. Para a produção de alimento vegetal, por exemplo, a fotossíntese representa um processo de fluxo de energia e materiais, mas não pode ser considerada o alimento em si.
(c) Regulação: são os benefícios percebidos pela sociedade em razão da função de regulação dos ecossistemas, tais como, regulação do clima, regulação da água, purificação do ar e da água, dentre outros. Entre esses benefícios destaca-se a prevenção de inundações, a proteção contra tempestades, a drenagem e irrigação natural.
(d) Culturais: são, na verdade, benefícios intangíveis obtidos da aptidão dos ecossistemas para o desenvolvimento cognitivo, tais como as informações estética, espiritual, histórica, cultural ou artística. Dentre esses serviços, destacamos os recreativos, como ecoturismo, a utilização da natureza como objeto de livros, filmes, pinturas, folclore, símbolos nacionais, arquitetura, propaganda, ou ainda, para fins religioso, científicos e educacionais.
Influenciada pelas categorias de De Groot, a Avaliação do Milênio84, também
divide os serviços ecossistêmicos em quatro categorias, quais sejam, suporte, abastecimento, regulação e culturais, modificando apenas a terminologia, mas são essencialmente iguais.
2.3.1. Serviços ecossistêmicos florestais: finalidade do REDD+
Dentre os inúmeros ecossistemas o presente trabalho elegeu o florestal, diante da sua importância para a manutenção da vida na terra, visto que fornecem todos os serviços caracterizados no tópico anterior, quais sejam, habitat, produção, regulação e cultura. Essas característica elevaram a preocupação com esses ecossistemas à discussões no âmbito
84 Para a Avaliação do Milênio, os serviços ecossistêmicos podem ser divididos em quatro categorias, quais
sejam: (a) Suporte: são os serviços necessários para a produção de todos os outros serviços dos ecossistemas, como por exemplo, formação do solo, ciclos de nutrientes e produção primária; (b) Abastecimento: são os Produtos obtidos dos ecossistemas, como por exemplo, alimentos, água potável, combustíveis fósseis, fibras, bioquímicos e recursos genéticos; (c) Regulação: são os benefícios obtidos pela regulação dos processos dos ecossistemas, tais como, regulação do clima, regulação da água, purificação do ar e da água, dentre outros; (d) Culturais: que na verdade são benefícios intangíveis obtidos dos ecossistemas, dos quais destacamos os recreativos e os ecoturísticos. (AVALIAÇAO ECOSSISTÊMICA DO MILÊNIO. Ecossistemas e o bem-
estar humano – Estrutura para uma avaliação. Relatório do Grupo de Trabalho da Estrutura Conceitual da
internacional, que culminaram na definição do REDD+, um mecanismo em construção que pretende compensar financeiramente aqueles que mantem a floresta em pé e, assim, proporcionam a provisão de importantíssimos bens e serviços ecossistêmicos. Senão vejamos.
Como bens, pode-se extrair das florestas a madeira, utilizada na construção civil, na fabricação de móveis e utensílios, até mesmo no desenvolvimento de pesquisas; as folhas, que servem de alimentos e até mesmo forragem; os frutos, importantes fontes de vitaminas e nutrientes; as sementes das plantas, que podem servir como medicamentos, alimentos e matérias-primas para a fabricação de artesanatos; e muitos outros.
Como serviços, as florestas servem de habitat, suportando a vida de uma série de animais e insetos que, por sua vez, em conjunto propiciam, entre outros, serviços de polinização, garantem a resiliência de sistemas agrícolas, contribuem para a formação dos solos e para a ciclagem de nutrientes.
As florestas também influenciam os processos hidrológicos, como a regulação dos fluxos hídricos e a manutenção da qualidade da água e se interrelacionam diretamente com o ecossistema aquático. As florestas às margens de rios, além de evitar a erosão e o processo de lixiviação do solo, evitam que as águas das chuvas carregadas de sedimentos escorram diretamente aos rios, além de amenizarem a rápida perda de água em épocas de seca. Quando plantadas em encostas, topos de morros e montanhas, as florestas reduzem os riscos de inundações e deslizamentos.
Há que se falar também dos benefícios recreacionais fundamentais para o bem estar do homem. As paisagens formadas pela composição entre florestas, rios, lagos, cachoeiras, montanhas e praias, somadas à mistura de populações e culturas, podem trazer não apenas benefícios hedonísticos, mas também econômicos. O lazer e a recreação em ambientes florestais atraem cada vez mais turistas que apreciam a natureza intacta, a diversidade de ecossistemas e culturas.
No que tange aos serviços culturais, as florestas, por meio de suas biodiversidade oferecem inspiração para a cultura, arte e para experiências espirituais. Populações tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhos, têm sua cultura, crenças e modo de vida associados aos serviços culturais de ecossistemas nativos.
Ademais, por meio da fotossíntese das plantas, as florestas proporcionam uns dos mais importantes serviços ecossistêmicos que é a internalização da energia solar à cadeia trófica por meio do processo bioquímico da fotossintético. Essa energia é repassada e acumulada ao longo da estrutura trófica do ecossistema florestal, servindo de fonte
energética para vários outros ecossistemas. E ainda, um dos serviços mais prestigiados, qual seja, o sequestro de carbono da atmosfera. O dióxido de carbono (CO2) é o grande
vilão da problemática das mudanças climáticas, uma vez que indicado pelos especialistas como gás responsável pelo buraco da camada de ozônio, que causa o tão conhecido efeito estufa. A retirada do excesso de CO2 da atmosfera representa uma capacidade impar de
regulação não apenas do microclima de determinada região, mas também de todo o globo. Por fim, segundo um estudo publicado pela FAO85, em um hectare de floresta tropical são armazenados cerca de 224,2 toneladas de biomassa, contendo cerca de 110,3 toneladas de carbono. Estima-se que somente as florestas brasileiras armazenam 49,335 milhões de toneladas de carbono em sua biomassa: mais do que todas as florestas europeias juntas conseguem armazenar.
Essas características demonstram a importância dos serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas e, consequentemente, a necessidade de recuperação e, sobretudo, manutenção da floresta em pé. Além de seus serviços ecossistêmicos ultrapassarem seus limites territoriais, influenciando direta e indiretamente outros ecossistemas e, principalmente, outras comunidades, que não apenas aquela que suporta o custo (financeiro, ambiental e social), a diminuição de áreas florestadas causará significativa liberação de CO2 na atmosfera, afetando definitivamente a regulação climática do planeta
com consequências ainda incalculáveis, mas certamente bastante prejudiciais ao homem e até mesmo a própria economia.