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Proposta de criação ou inclusão no mercado mundial de carbono

REDUÇÃO DE EMISSÕES POR DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO REDD+

3.4. Compreensão atual e principais desafios

3.4.1. Financiamento baseado em resultados

3.4.1.2. Proposta de criação ou inclusão no mercado mundial de carbono

Para se implementar um mecanismo de REDD+ com financiamento via criação de mercado deve se pensar, primordialmente, na criação da oferta e da procura desses serviços ecossistêmicos.

A oferta já se tem, diante da imensidão de áreas florestais preservadas. O que precisa, na realidade, é tão somente uma adequação e padronização dessa oferta a critérios específicos e predeterminados. Já a procura, apesar de se tratar de serviços essenciais à vida, é, paradoxalmente, o grande desafio desse mecanismo. Como o próprio nome sugere, a procura pressupõe exclusividade, ou seja, só terá procura aquele produto ou serviço que não esteja disponível a todos, pois do contrário, não haveria necessidade de procura-lo no mercado. Os serviços ecossistêmicos, como analisados anteriormente, são considerados bens comuns, ou seja, além não serem exclusivos, são ofertados pela natureza gratuitamente para todos.

Assim, o grande desafio de financiar o REDD+, por intermédio do mercado, está exatamente na criação de um mecanismo que obrigue alguns usuários ou todos (o que seria ainda mais árduo) a pagarem por um serviço que lhe é fornecido gratuitamente. Há que se criar ou estimular a demanda por esses serviços.

Como visto no capitulo anterior, o Protocolo de Quioto da UNFCCC, que entrou em vigor em 16 de fevereiro de 2005, formaliza a intensão de pelo menos 37 países mais industrializados (Anexo I), entre os 146 países que ratificaram o acordo, em reduzir suas

emissões de gases de efeito estufa aos níveis de 1990, durante um período de compromisso inicial que seria de 2008 à 2012.

Esse compromisso foi essencial para instituição do sistema de Cap and Trade, analisado anteriormente. Esse sistema teria como base a comercialização de Reduções Certificadas de Emissões - RCEs ou CERs (em inglês), que são emitidas por países em desenvolvimento que implementem projetos tecnológicos capazes de efetivamente reduzir as emissões de gases de efeito estufa, por intermédio de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL.

Entretanto, como visto, o MDL limita-se a projetos de redução de emissões oriundas da produção de energia ou projetos de florestamento ou reflorestamento. Os projetos de MDL podem ser baseados em fontes renováveis e alternativas de energia, eficiência e conservação de energia ou reflorestamento. Existem regras claras e rígidas para a aprovação de projetos no âmbito do MDL. Esses projetos devem utilizar metodologias pré-aprovadas, devem ser validados e verificados por Entidades Operacionais Designadas (EODs), e devem ser aprovados e registrados pelo Conselho Executivo do MDL.

Essa exclusão das atividades que reduzam emissões por desmatamento do MDL deixou países com risco de desmatamento, como Brasil, Indonésia, Bolívia, Peru, Colômbia e países centro-africanos, sem qualquer incentivo para reduzir ou evitar suas emissões provenientes do desmatamento, o que dificulta sobremaneira o objetivo principal do Protocolo, que é evitar o aumento das emissões de gases de efeito estufa.

Entretanto, segundo Daniel Nepstad et al.178, em um cenário alternativo à exclusão do desmatamento do MDL, foi criado um mercado regulado de carbono florestal quando a política da Califórnia de Cap and Trade se ligou aos programas de REDD+ de alguns países. Nesse contexto inovador, as empresas de eletricidade da Califórnia, que foram obrigadas a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa, começaram a comprar RCEs a partir de programas de REDD+ de localidades que conseguiram diminuir suas taxas de desmatamento.

A inclusão ou criação de um mercado de carbono florestal origina um mecanismo eficiente de alocação de recursos e de proteção ambiental. Para Eric Beinhocker179, o mercado tem um mecanismo de equilíbrio natural: o preço. O preço é a peça chave de                                                                                                                          

178 NEPSTAD, Daniel, et al. 2009. The end of deforestation in the Brazilian Amazon. Science 326:1350 –

1351.

179 BEINHOCKER, Eric. D. The origin of wealth: evolution, complexity, and the radical remaking of

informação que produtores e consumidores compartilham. O seu aumento irá, simultaneamente, diminuir o consumo e aumentar a produção, enquanto sua diminuição realizará o inverso.

O preço age como um sistema nervoso, transmitindo sinais sobre oferta e demanda através da economia, e o interesse das pessoas reage aos sinais de preço e, inevitavelmente, conduz o sistema ao equilíbrio social ótimo – a mão invisível é poderosa de fato180 e poderá contribuir sobremaneira para a tão urgente e necessária preservação ambiental.

Entretanto, uma das grandes dificuldades dos mecanismos de mercado, segundo George Akerlof181, é a assimetria de informações na definição desse preço. De fato, as incertezas que cercam a oferta e a demanda de unidades de REDD+ geram riscos potenciais de mercado. Entre esses riscos estão (i) inundação do mercado por grandes quantidades de certificados de REDD+, (ii) volatilidade nos preços e (iii) incertezas com relação ao momento em que entrarão no mercado, provocando choques nos preços. Este trabalho limita-se à análise da primeira crítica, pois as demais não se mostram essenciais ao desenvolvimento do raciocínio.

A crítica de excesso de oferta com a inundação do mercado de carbono pode até ser rebatida com o desenvolvimento de políticas públicas de redução do teto (Cap). Pois, assim, os países industrializados teriam menos cotas e continuariam adquirindo os créditos oriundos do REDD+ e, consequentemente, a preservação ambiental estaria garantida e devidamente financiada. Entretanto, não se pode esquecer que a modificação desse teto deve seguir a mesma formalidade da sua criação, ou seja, por meio de decisões tomadas a nível da UNFCCC. A análise histórica da evolução do conceito de REDD+, analisada anteriormente, nos evidencia a dificuldade técnica e política de se tomar decisões no âmbito global, sobretudo, quando se trata da definição de responsabilidades financeiras. A estratégia de redução do teto, a priori, mostra-se factível, porém, na prática, representará um significativo aumento da responsabilidade para um poderoso grupo de países, o que, provavelmente, inviabilizaria, em última análise, a redução de oferta por meio da redução do teto.

                                                                                                                          180  BEINHOCKER, Eric. D. Op. cit. p. 38.  

181 AKERLOF, George. The Market for Lemons: Quality Uncertainty and the Market Mechanism, in

Para Nepstad182, o armazenamento de carbono pelas árvores é o único serviço ecossistêmico que poderia, a curto prazo, criar um mercado mundial. Por isso, criou-se a necessidade de aproveitar essa oportunidade e inaugurar um novo paradigma de desenvolvimento florestal que pode levar uma abordagem mais sistêmica para a conservação em um futuro verdadeiramente sustentável.

A inclusão dos créditos oriundos de REDD+ no mercado mundial de carbono, criado pelo protocolo de Quioto, pode ser uma alternativa eficaz tanto na alocação de recursos quanto na proteção ambiental, dois dos principais objetivos do princípio do desenvolvimento sustentável ao norte delineados.

O sistema de Cap and Trade possibilita a flexibilização e a adequação da oferta e demanda com as características do mercado e do meio ambiente. Nas palavras de Fábio Nusdeo183, o mercado é uma das instituições mais ágeis e flexíveis criadas pelo homem. E são exatamente essas características que conferem ao mecanismo de mercado uma celeridade e eficiência fundamentais nas respostas governamentais aos efeitos devastadores da economia predatória.

Por fim, imperioso destacar que a indefinição sobre a responsabilidade e a(s) modalidade(s) de financiamento do REDD+ no âmbito das negociações da UNFCCC tornam o investimento em projetos desta estirpe bastante alto e deveras arriscado. O que se tem são experiências de mercados voluntários, como o Projeto Juma184, que será analisado

em Capitulo especifico mais adiante e em nada se diferenciam dos mecanismos de financiamento por meio de fundos.