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Distinção entre o cumprimento provisório da sentença e a efetivação de tutelas de urgência

1 UMA VISÃO CONSTITUCIONAL ACERCA DOS INSTITUTOS DA

5.3 A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PREVISTA NO ARTIGO 302, I, DO NOVO CPC

5.3.3 EQUIPARAÇÃO DA RESPONSABILIDADE PELA EFETIVAÇÃO DE TUTELAS DE URGÊNCIA

5.3.3.2 Distinção entre o cumprimento provisório da sentença e a efetivação de tutelas de urgência

amparo constitucional. Ambos são, portanto, atos lícitos e que importam benefícios ao postulante da medida. Por seu turno, ao se beneficiarem desse ato, a aptidão a causar riscos impõe o dever de reparar, sendo esse dever a fonte da responsabilidade e, via de talante, deve ser despicienda a perquirição acerca do elemento volitivo. Galeno Lacerda aponta o benefício do requerente como a origem responsabilidade, justificando que “quem tem interesse, para sua conveniência (cômodo), em executar a cautela ou a sentença provisória, suporta a inconveniência (incômodo) de indenizar o prejuízo causado, se decair da medida ou for vencido na ação”376.

Percebe-se, pois, que andou bem o legislador ao equiparar o sistema de responsabilidade do cumprimento de sentença e da efetivação de tutelas de urgência, mantendo, na medida do possível, a unicidade lógica do ordenamento.

5.3.3.2 Distinção entre o cumprimento provisório da sentença e a efetivação de tutelas de urgência

Destacada a fundamentação que sustenta a equiparação da responsabilidade pelos danos causados pela efetivação de tutelas de urgência com a responsabilidade pelos danos causados pelo cumprimento provisório de sentença, e tendo em vista a semelhança fática entre as duas situações377, é importante destacar que se tratam de figuras distintas. Sob o ponto de vista

375

ASSIS, Araken de. Cumprimento da sentença. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013, p. 117.

376

LACERDA, Galeno. Comentarios ao Codigo de Processo civil, vol. VIII, tomo I: arts. 796 a 812. 4. ed. - Rio de Janeiro: Forense, 1992, 313.

377

Lembrando ainda que, em se tratando de tutelas de urgência (em especial, a tutela antecipada) concedida em sentença, o resultado prático dessa, se comparado com a execução provisória, produzido é, como bem lembra José Roberto dos Santos Bedaque, substancialmente idêntico, distinguindo-se apenas em relação às hipóteses de cabimento, sendo suficiente para o cumprimento provisório de sentença a mera prolação de sentença cuja apelação não terá efeito suspensivo, ao passo que na tutela de urgência concedida em sentença, imperiosa a presença do perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, já que a questão relativa à probabilidade do direito resta resolvida em razão da cognição exauriente perpetrada para fins de prolação da sentença

empírico, é latente a semelhança, que, contudo, se esvai quando se analisadas sob a perspectiva jurídica.

Desta maneira, a primeira distinção que ganha relevo diz respeito ao escopo de cada medida. As tutelas de urgência tem como fundamento a tentativa de se mitigar os efeitos do tempo no processo, afastando os riscos de dano ou inutilidade do provimento jurisdicional final. A efetividade da prestação jurisdicional se encontra no cerne da tutela de urgência. Assim, a efetivação dessas tutelas tem como esteio a necessidade de se evitar que a espera por uma decisão de cunho definitivo venha por tornar tal decisão incapaz de debelar a crise jurídica a que se propôs. Possuem, pois, finalidade conservativa ou antecipatória.

Por outro lado, a execução provisória não possui essa peculiaridade. Ela está à disposição do postulante independentemente de existir qualquer risco. A finalidade é, como bem destaca Marcelo Lima Guerra, “a satisfação do direito do credor, embora esta satisfação, na execução provisória, não seja ‘definitiva’ ”378. Trata-se de uma opção de política legislativa, conferindo ao exequente a possibilidade de iniciar os atos expropriatórios e também finalizá-los, desde que prestada caução suficiente e idônea (sem se olvidar das hipóteses em que tal caução poderá ser dispensada, na forma do artigo 521 do NCPC379).

Guardando relação com a finalidade do cumprimento provisório de sentença e da efetivação de tutelas de urgência, verifica-se a existência de distinção também em relação à formação do título que lhe confere suporte. A primeira distinção nesse ponto é a própria natureza do título, uma vez que no cumprimento provisório de sentença o título é, como a própria denominação legal expõe, sempre uma sentença, ao passo que na tutela de urgência, o título é, em geral, uma decisão interlocutória380.

Outro ponto que merece atenção quanto à formação do título diz respeito à sua gênese. Para (BEDAQUE, José Roberto dos Santos. Tutela cautelar e tutela antecipada: tutelas sumárias e de urgência (tentativas de sistematização). 4.ed. São Paulo: Malheiros, 2006, p. 413).

378

GUERRA, Marcelo Lima . Estudos sobre o processo cautelar. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, p.95.

379

Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos casos em que: I - o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem;

II - o credor demonstrar situação de necessidade;

III - pender o agravo fundado nos incisos II e III do art. 1.042;

IV - a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos.

380

Não se olvida a possibilidade de se conceder a tutela de urgência no bojo da sentença. Todavia, tal medida deverá se dar sempre como um capítulo distinto da sentença, em que o magistrado deverá delinear o preenchimento dos requisitos próprios da tutela de urgência.

fins de cumprimento provisório de sentença, o único requisito para seu início é a prolação de sentença cuja eventual apelação seja desprovida de efeito suspensivo. São hipóteses taxativas, previstas na legislação. As hipóteses previstas no NCPC são trazidas pelo parágrafo primeiro do artigo 1.012381. Inexiste espaço para valoração do magistrado acerca da conveniência da medida; uma vez proferida sentença que tenha aptidão de produzir efeitos imediatos, ao potencial exequente está abera a via do cumprimento (ainda que provisório) da sentença. Como destaca Marcelo Lima Guerra, o magistrado não pratica atividade propriamente decisória, limitando-se a aferir o enquadramento do pleito de cumprimento provisório de sentença a alguma previsão legal382. É concedida, portanto, ope leges.

Já a tutela de urgência (e, via de talante, sua efetivação), impõe que o magistrado analise a presença dos requisitos legais. Assim, proferirá decisão fundamentando a presença do requisito justificador (o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo), bem como da presença do requisito cognitivo (a probabilidade do direito alegado). Trata-se, pois, de concessão ope iudicis.

A natureza dos títulos também se mostra distinta. Partindo da premissa de que tanto na efetivação de tutela de urgência quanto no cumprimento provisório de sentença os título que dão ensejo a essas providências têm como característica comum o fato de serem instáveis, a razão dessa instabilidade é o ponto de distinção.

Como bem alerta Pontes de Miranda ao afirmar não ser a execução provisória383 uma medida cautelar, há que se evitar a confusão entre provisoriedade e cautelaridade384-385. Nessa linha, a instabilidade da sentença provisoriamente cumprida advém tão somente da possibilidade de sua modificação, ou seja, do fato de ainda não ser definitiva. Já em se tratando de tutelas de

381

Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.

§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que:

I - homologa divisão ou demarcação de terras; II - condena a pagar alimentos;

III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado; IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;

V - confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI - decreta a interdição.

382

GUERRA, Marcelo Lima . Estudos sobre o processo cautelar. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1997, pp. 94-95.

383

Utiliza-se o mesmo termo empregado por Pontes de Miranda quando apresenta tal distinção, mas sem olvidar que, com as modificações legislativas, não há que se falar em execução provisória, mas sim de cumprimento provisório de sentença.

384

MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil: atualização legislativa de Sérgio Bermudes. 2. ed., Rio de Janeiro: Forense. 2003, Tomo XII, p. 74.

385 Fala-se em cautelaridade por se tratar de comentário ao artigo 811 do CPC/73. Mas a distinção também se

urgência, sua instabilidade decorre de uma situação mais complexa. É verdade que também é passível de modificação – e que, assim, não goza de um caráter definitivo. Mas essa possibilidade de modificação advém precipuamente do fato de a decisão ser proferida sob uma cognição sumária, técnica erigida pelo legislador como a mais apta a atingir a finalidade de se extirpar os perigos de dano ou os riscos de inutilidade do processo.

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