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A NATUREZA PROCESSUAL DA RESPONSABILIDADE PELA EFETIVAÇÃO DE TUTELAS DE

1 UMA VISÃO CONSTITUCIONAL ACERCA DOS INSTITUTOS DA

5.2 A NATUREZA PROCESSUAL DA RESPONSABILIDADE PELA EFETIVAÇÃO DE TUTELAS DE

Outro ponto que merece atenção quando analisada a responsabilidade pela efetivação das tutelas de urgência diz respeito à sua natureza. Uma análise apressada levaria à conclusão de ser a responsabilidade prevista na legislação processual exemplo de norma heterotópica, ou seja, uma norma de direito material no bojo de uma legislação processual. Todavia, com base nas características de ambas as modalidades de responsabilidade, é possível identificar a natureza processual da responsabilidade pelos danos decorrentes da efetivação de tutela de urgência.

De pronto, é de grande valia a lição de Pontes de Miranda que, discorrendo acerca da

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DINAMARCO, Cândido Rangel. O regime jurídico das medidas urgentes. In Nova era do processo civil. 2.ed. Sâo Paulo: Malheiros, 2007.p. 74

336 DINAMARCO, Cândido Rangel. O regime jurídico das medidas urgentes. In: Nova era do processo civil.

responsabilidade pela efetivação de medidas cautelares sob a égide do CPC/73 (mas com plena aplicabilidade em relação ao modelo de tutelas de urgência previsto no CPC/2015), afirma:

A responsabilidade [...] é de direito processual, e não de direito material. Não se trata de princípio de direito civil, que se haja colocado, heterotopicamente, no Código de Processo Civil, mas de regra jurídica de direito processual posta no lugar próprio.337

Para se alcançar essa conclusão se faz necessário analisar se a responsabilidade aqui discutida possui os requisitos que permitiram o reconhecimento da autonomia da responsabilidade processual. Afinal, se a responsabilidade processual possui certos contornos próprios, tais contornos devem estar presentes quando de seu confronto com a legislação processual pátria. Para tanto, traz-se à colação sua previsão legal, veiculada no artigo 302 do NCPC338.

Art. 302. Independentemente da reparação por dano processual, a parte responde pelo prejuízo que a efetivação da tutela de urgência causar à parte adversa, se: I - a sentença lhe for desfavorável;

II - obtida liminarmente a tutela em caráter antecedente, não fornecer os meios necessários para a citação do requerido no prazo de 5 (cinco) dias;

III - ocorrer a cessação da eficácia da medida em qualquer hipótese legal; IV - o juiz acolher a alegação de decadência ou prescrição da pretensão do autor. O primeiro critério para aferição da natureza processual é o suporte fático processual. A responsabilidade prevista, quando atine à efetivação da tutela de urgência, por óbvio está tratando de um ato processual. Isolando o ato potencialmente lesivo percebe-se toda estrutura processual, com sua gênese no bojo do processo, com o ato gerador do potencial dano sendo a própria efetivação da tutela de urgência. Não se olvida que a repercussão no mundo fático é patente, mas tal repercussão se dá de maneira colateral, como um efeito do que ocorrera no bojo da relação processual.

Também se verifica a judicialização dessa responsabilidade por meio da norma processual. O mero fato de a efetivação da tutela de urgência ter causado dano não resulta na pronta imputação de responsabilidade da parte causadora do dano. Imprescindível é que a norma processual descreva tal hipótese (o dano) e, ato contínuo, descreva como consequência dessa hipótese a imputação a responsabilidade à parte que efetivou o ato gerador de dano. Caso inexistente essa judicialização por meio da norma processual, até poder-se-ia falar em

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MIRANDA, Pontes de. Comentários ao código de processo civil: atualização legislativa de Sérgio Bermudes. 2. ed., Rio de Janeiro: Forense. 2003, Tomo XII, p. 75.

338 A previsão do mencionado dispositivo manteve, se não toda a literalidade, o cerne da previsão do artigo 811

responsabilidade, mas essa teria que ser perquirida por meio dos instrumentos à disposição da responsabilidade civil material. Ou seja, se faria necessário um novo processo, e, a priori, com investigação do elemento volitivo.

Configurada também a presença dos efeitos que a responsabilidade processual gera perante o processo e a relação processual. Em decorrência dos critérios supra mencionados, a responsabilidade pela efetivação de tutelas de urgência exsurge como um efeito anexo da sentença, como bem lembra Cassio Scarpinella Bueno339. Nessa esteira, a responsabilidade em comento gera desdobramentos também no bojo do processo, e, repetindo mais uma vez, por força da previsão na norma processual.

Também se afere a natureza processual da visão de Francesco Carnelutti, já apresentada no presente trabalho, acerca da justa composição da lide. Tendo em vista a finalidade da responsabilidade é a de recomposição dos danos sofridos pela parte que suportou a efetivação da tutela de urgência e, posteriormente, viu-se vencedora na demanda, a justa composição da lide imporia o retorno (ou uma tentativa) ao status quo ante. Essa direta confluência na justa composição, temática de caráter estritamente processual, seria o elemento final a impor o reconhecimento da natureza processual da responsabilidade pela efetivação de tutelas de urgência.

A natureza processual da responsabilidade pela efetivação da tutela de urgência permite, desta feita, destacar ser o dado objetivo do dano o elemento que confere justificação à responsabilidade objetiva. Não se trata de uma previsão com finalidade sancionatória. Essa ausência de finalidade sancionatória advém do fato de, em função da natureza constitucional das tutelas de urgência, essa nas não devem ser limitadas sem um substrato também de fulcro constitucional. Por seu lado, a responsabilidade objetiva se coaduna com a ideia de uma ampla reparabilidade, também de cunho constitucional, voltada para uma ideia de socialização do direito e primazia dos interesses da vítima.

Constatada a natureza processual da responsabilidade imputável ao requerente pela efetivação de tutelas de urgência, fica clara sua distinção em relação à eventual responsabilidade pelos danos sofridos pelo requerente quando não obtém a tutela de urgência, que se dá justamente na natureza dessa responsabilidade. A responsabilidade pelos danos sofridos pelo requerente é

339 BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de Direito Processual Civil, vol 4: tutela antecipada,

de natureza material, decorrente não da conduta processual (seja a prática de um ato ou a omissão correlata), mas sim de uma atuação extraprocessual, ainda que o processo tenha o condão de potencializa tais danos. Os danos seriam causados pela violação ao dever geral de conduta de não causar dano a outrem

Por não se enquadrar nas características já delineadas para a invocação de eventual natureza processual, a responsabilidade pelos danos sofridos pelo requerente de uma tutela de urgência não deferida decorre da regra geral de responsabilidade civil prevista no Código Civil.

5.3 A RESPONSABILIDADE OBJETIVA PREVISTA NO ARTIGO 302, I, DO

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