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1 UMA VISÃO CONSTITUCIONAL ACERCA DOS INSTITUTOS DA

2.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.2.1 O DANO

2.2.3.3 Excludentes do nexo de causalidade

Há situações em que seria até possível identificar a ligação entre a atuação do agente e o dano causado, ligação essa, contudo, que não resistiria a uma análise mais aprofundada do liame de causalidade, uma vez que outros acontecimentos também tenham agido sobre essa relação e que esse tenham impedido que a atuação do agente tivesse ocorrido sem o resultado dano. Em sendo reconhecidos como estranhos à cadeia causal, há que se considerar como rompido o anterior nexo de causalidade configurado, afastando, desta forma, a responsabilidade do agente. Configura-se rompido o nexo de causalidade, ainda, quando, a despeito de o dever de conduta consistente em não causar danos a outrem aparentemente ter sido violado, essa violação se deu por razão estranha ao agente, que não teria condições de efetivamente adimplir esse dever. Como bem delineia Sérgio Cavalieri Filho, “causas de exclusão do nexo causal são, pois, casos de impossibilidade superveniente do cumprimento da obrigação não imputáveis ao devedor ou agente”170.

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SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros da reparação à diluição dos danos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009, pp. 63-65.; SCHREIBER, Anderson. Novas tendências da responsabilidade civil brasileira. Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro, v. 22, 2005, pp. 53-55.

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SCHREIBER, Anderson. Novas tendências da responsabilidade civil brasileira. Revista Trimestral de Direito Civil, Rio de Janeiro, v. 22, 2005, p.47.

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Dentre as causas de exclusão do nexo de causalidade, a primeira que se destaca é o fato exclusiva da vítima. Nessas situações, a relação de causalidade se dá propriamente entre o comportamento da vítima e o dano, de modo que conforme lição de Sílvio Rodrigues, “o agente que causa diretamente o dano é apenas um instrumento do acidente”171. A atuação daquele que figura como agente causador direto do dano não se configura como suficiente a estabelecer a relação de causalidade com o dano sofrido pela vítima e, via de talante, de responsabilidade civil. Assim, o comportamento que for o decisivo para o evento danoso é e será considerado pra fins de estabelecimento, ou não, do nexo causal.

Situação diversa ocorre quando tanto o comportamento da vítima quanto o comportamento do agente são causas aptas ao surgimento do dano. Tem-se, assim, a concorrência de culpas que, a despeito de não configurar hipótese excludente do nexo causal, pode implicar na redução da indenização devida à vítima, na forma do artigo 945 do Código Civil172, significando dizer que o grau de culpa de cada um dos envolvidos será levado em conta para fins de repartição proporcional dos prejuízos.

Outra hipótese de interrupção do nexo de causalidade é o fato de terceiro. Essa hipótese, contudo, é de aplicação mais complexa. Isso porque nem todas as situações em que é possível atribuir a terceiro a prática do ato que deu causa ao evento danoso permitem a exclusão do nexo de causalidade entre o dano e o agente direto do dano. De pronto é de se afastar as hipóteses em que a legislação atribui a responsabilidade a alguém pelo fato praticado por terceira pessoa, à exemplo do empregador, que responde pelos atos de seus empregados quando no exercício do trabalho. Feito esse destaque, mister aferir as situações em que o fato de terceiro pode efetivamente excluir o nexo de causalidade.

Na lição de José Aguiar Dias, “fato de terceiro só exonera quando realmente constitui casa estranha ao devedor”173. A causa estranha, por sua vez, é aquela que foge dos limites da previsibilidade sendo irresistível ao agente. Fica, assim, desconfigurada a relação de causalidade, afastando, pois, a responsabilidade. Imperioso ainda que o agente não tenha dado qualquer contribuição para o evento. Havendo alguma concorrência do agente, o fato de terceiro não se configura como excludente de responsabilidade, podendo configurar apenas hipótese de estado de necessidade em que ao agente é assegurado o direito de regresso perante

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RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: responsabilidade civil: v. 4. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2003, p. 65.

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Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano.

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o terceiro, na forma do artigo 930 do Código Civil. A imprevisibilidade e a inevitabilidade do evento danoso nas situações em que se configura o fato de terceiro passível de afastar o nexo de causalidade permitem sua associação com o caso fortuito e a força maior, mas com eles não se confundindo.

Nessa linha, cumpre apontar o caso fortuito e a força maior como outra excludente do nexo de causalidade. O legislador pátrio traz essa causa de não formação da relação de responsabilidade no artigo 393 do Código Civil174, reconhecendo a não responsabilização por prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, ao passo que no parágrafo único do mencionado artigo é veiculado seu conceito legal. Tratando dessa temática, o legislador adota esses termos sempre em conjunto e atribuindo a mesma consequência jurídica, podendo-se afirmar, portanto, a distinção desses dois institutos, ainda que existente, mostra-se irrelevante na prática. Constatado o caso fortuito ou a força maior, o resultado é o mesmo: considera-se interrompido o nexo causal e, via de talante, não formada a relação de responsabilidade civil. Partindo-se do conceito legal, e a despeito de inexistir distinções acerca das consequências jurídicas, é possível traçar distinção entre caso fortuito e força maior. Em comum, em ambos os casos se está diante de um evento necessário à ocorrência do dano. Essa necessariedade deve decorrer de fatores externos ao agente, estranhos ao seu poder, de modo que seu comportamento seja irrelevante ao dano. A causa seria justamente o evento caracterizado como caso fortuito ou força maior. Daí se extrai que o evento seria inevitável. Já no ponto em que se distinguem, tem-se que o caso fortuito corresponde àquele evento que seja imprevisível. E, por ser imprevisível, não haveria como ser evitado por quem reputado inicialmente como agente. Já no que tange à força maior, verifica-se como característica a irresistibilidade, no sentido de que, ainda que previsível o evento, não seria possível impedir sua ocorrência (ou de suas consequências). Sérgio Cavalieri Filho conclui que “pode-se dizer que o elemento comum a ambos é a inevitabilidade; só que no fortuito a inevitabilidade decorre da imprevisibilidade e na força maior da irresistibilidade”175.

A imprevisibilidade e a inevitabilidade do evento para fins de configuração do caso fortuito ou força maior caso fortuito ou força maior afasta qualquer influência que a análise da culpa

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Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado.

Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos efeitos não era possível evitar ou impedir.

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poderia exercer na formação (ou não) da relação de responsabilidade civil. Em se tratando de caso fortuito ou força maior, inexiste volitividade na atuação, afastando a aferição do comportamento do agente como ato relevante. Em verdade, à semelhança das outras causas de exclusão do nexo causal, o evento danoso ocorreu como decorrência não de uma ação (ou omissão) do agente, mas sim do próprio caso fortuito ou força maior.

A distinção do caso fortuito e força maior da ausência se mostra importante quando diante da responsabilidade objetiva, bem como sua atuação como causa de exclusão do nexo causal. Caso fossem identificados como causas relacionadas à culpa e não ao nexo causal, não teriam aplicabilidade nas hipóteses de responsabilidade objetiva, sistema em que o elemento volitivo é irrelevante à responsabilização. Contudo, sua potencialidade de afastar a relação de responsabilidade é patente.

Nesse interim se mostra de grande valia a distinção trazida pela doutrina176 acerca do fortuito interno e fortuito externo. O fortuito interno, identificado como o caso fortuito, diz respeito àquele evento relacionado ao agente ou à máquina, ao passo que o fortuito externo identificar- se-ia com a força maior, referindo-se a eventos externos à pessoa do agente (também conhecidos como act of God do direito da common law). Em se tratando de responsabilidade subjetiva, tanto o fortuito interno quanto o fortuito externo são aptos a interromper o nexo causal e afastando o dever de indenizar. Já em se tratando de responsabilidade objetiva, apenas o fortuito externo seria causa exoneradora da responsabilidade, uma vez o fortuito interno estar no âmbito do risco assumido pelo agente. E, como é justamente o risco o fundamento da responsabilidade objetiva, é reconhecida a manutenção da relação de causalidade ensejadora da responsabilidade.

Ainda sob o pálio de uma maior reparabilidade de danos, percebe-se que a distinção entre fortuito interno e fortuito externo tem como característica aumentar as situações em que a vítima verá a recomposição de seus danos, em consonância com a moderna tendência de redução dos obstáculos à obtenção da reparação de danos. Iniciado nas situações em que seria possível arguir o caso fortuito ou força maior, como apontado alhures, também o fato da vítima e o fato de terceiro vêm sendo flexibilizados em seu papel de interrupção do nexo causal em situações em que possam ser inclusos no risco da atividade do agente, invocando-

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A doutrina é assente ao apontar Agostinho Alvim, em sua obra “Da inexecução das obrigações e suas consequências” o marco para a identificação da distinção entre fortuito interno e fortuito externo e, da mesma forma, vislumbrar a distinção antes deixada de lado entre caso fortuito e força maior.

se, pois, a configuração do fortuito interno e a formação da relação de responsabilidade civil177.

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