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1 UMA VISÃO CONSTITUCIONAL ACERCA DOS INSTITUTOS DA

1.2. PERSPECTIVA CONSTITUCIONAL DAS TUTELAS DE URGÊNCIA

1.2.2 O PRINCÍPIO DA EFICIÊNCIA E SUA INFLUÊNCIA NAS TUTELAS DE URGÊNCIA

Ponto pouco abordado em se tratando de tutelas de urgências é sua correlação com o princípio da eficiência, princípio esse com natural incidência no direito administrativo. Todavia, sua teleologia permite que exerça influência também no caso sob análise. Pensado majoritariamente para aplicação frente ao Poder Executivo, uma perspectiva mais pragmática permite sua invocação para o reforço da índole constitucional das tutelas de urgência.

A despeito de sempre se falar que a Administração deve atuar de forma eficiente em seu trato com a coisa pública, o princípio da eficiência constitucionalmente passou a integrar o ordenamento jurídico pátrio com a Emenda Constitucional n° 19/1998, a chamada Reforma Administrativa, que o incluiu no bojo do caput do artigo 37 da Constituição Federal. Até mesmo pela incongruência em se pensar na Administração agindo em desconformidades com primados da eficiência, bem como pela fluidez de seu conteúdo, além do fato de que não seria a mera presença de tal exigência escrita na Constituição Federal que tornaria, de uma hora para outra, a Administração Pública eficiente, é que sua inclusão sofreu críticas61.

Celso Antônio Bandeira de Mello lembra que o princípio da eficiência advém daquilo que há muito é tratado pela doutrina italiana como “boa administração”, o que impõe que a atividade administrativa deve ser desenvolvida da forma mais congruente, oportuno e adequado aos fins que se propõe, graças à escolha dos meios e ocasião mais oportuna de utilizá-los62. Percebe-se que a ideia de eficiência administrativa proposta pelo constituinte reformador, mais do que imposta pela inclusão no texto constitucional, deve ser absorvida pelo administrador, buscando alcançar a finalidade estatal com o mínimo dispêndio possível. José Afonso da Silva destaca ser a eficiência um conceito econômico, mais do que jurídico, que se guia pela regra

61

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 29.

62 BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Editora Malheiros,

da consecução do maior benefício com o menor custo possível63. José dos Santos Carvalho Filho, sobre essa relação econômica trazida pelo princípio da eficiência afirma que:

O núcleo do principio e a procura de produtividade e economicidade e, o que e mais importante, a exigência de reduzir os desperdícios de dinheiro publico, o que impõe a execução dos serviços públicos com presteza, perfeição e rendimento funcional64.

Por sua vez, ainda que desenvolvido pela doutrina administrativista pátria, a aplicação do princípio da eficiência também se dá em relação ao Poder Judiciário, posto a previsão constitucional afirmar expressamente sua obediência por qualquer dos Poderes. E essa propalada eficiência deve ser buscada não só nas atividades administrativas do Poder Judiciário. Deve-se buscar também a eficiência nas atividades jurisdicionais do Poder Judiciário, afinal, essa é a principal atividade desse poder. Buscar a eficiência no campo administrativo sem que se faça igual busca no campo jurisdicional implica em negar seu próprio objetivo. Eficiência que não se proponha a trazer resultados mais úteis aos jurisdicionados decorrente de um mínimo de esforço possível não pode ser qualificada como eficiência. Deve, então, primar pela eficiência do Poder Judiciário em sua capacidade de dar uma resposta ao jurisdicionado.

Sob essa perspectiva, importante se mostra sua distinção em relação à efetividade do acesso à justiça, outro princípio que conforma o aspecto constitucional das tutelas de urgência. Essa distinção é bem traçada por Leonardo Carneiro da Cunha:

Efetividade é uma medida de realização concreta dos efeitos calculados in abstrato na norma jurídica [...].

Por sua vez, a eficiência [...] mede a relação entre os meios empregados e os resultados alcançados. Quanto maior o rendimento de produção mais eficiente será a atividade desenvolvida. A eficiência relaciona-se com o alcance de finalidades pré- estabelecidas65.

A importância conferida à eficiência mostra-se, dessa forma, mais condizente com o Estado Democrático de Direito, como uma forma de superação da mera busca pela efetividade. Não basta mais a efetividade do direito. Imperioso que para se assegurar tal direito os instrumentos à disposição do jurisdicionado sejam utilizados de forma a gerar um menor impacto sob o ponto de vista econômico.

63

SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 25a. edição - São Paulo: Malheiros, 2005. p. 334.

64

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p. 29.

65 CUNHA, Leonardo Carneiro da. A previsão do princípio da eficiência no projeto do novo Código de

É sob essa perspectiva que se fala que a busca pela eficiência é dada com uma ótica mais pragmática do exercício do poder inerente ao Judiciário. Sob uma visão mais pragmática, se a prestação jurisdicional final não for útil ao jurisdicionado, a atuação do Estado-Juiz teria sido sem razão de ser, já que, invocada para tutelar certo direito, esse restara perecido em razão da ausência de uma resposta eficiente. E mais. Essa utilidade deve ser aferida também com vistas à economicidade da prestação jurisdicional. Não basta ser útil; deve ser suficiente. E que, resolvida a questão, não se faça mais necessário buscar um complemento objetivando tornar integral o direito que se pleiteou.

Desta forma, não faz sentido, economicamente falando, prever um instrumento para dirimir crises jurídicas, mas não dotar tal instrumento de mecanismos que possam assegurar que sua utilização será útil e suficiente. Haveria a utilização de meios sem que a finalidade fosse razoavelmente alcançada, representando, em verdade, desperdício de esforços. Esses mecanismos, assim, permitiriam que o Judiciário atuasse de forma mais eficiente, dirimindo a crise jurídica, mas também garantido que quando debelada tal crise, os resultados ainda fossem úteis, ou seja, a movimentação da máquina judiciária não teria sido em vão.

Trata-se, como bem destaca Fredie Didier Jr., de mecanismos a disposição do Estado-Juiz como forma de gestão do processo judicial, que deve orientar essa para que, ao final, possa se constatar ter havido um processo eficiente, que atingiu a finalidade a que se propôs66.

Delineado que a efetividade do acesso à justiça não se mostra mais o bastante, sendo necessário assegurar também a eficiência desse acesso, é possível perceber a tutela de urgência como um mecanismo com grande aptidão a assegurar tal eficiência. Na medida em que ao Estado-Juiz são assegurados os mecanismos inerentes às tutelas de urgência para que os efeitos do tempo no processo sejam bloqueados (ou, ao menos minimizados), os danos causados àquele que o procurou alegando a mácula de um direito são estancados (ou reduzidos) já no momento em que se mostrem preenchidos os requisitos legais para a concessão da tutela antecipada – em regra, quando da propositura da ação.

Ora, o aguardo do término do trâmite processual pode, de um lado, conferir efetividade ao acesso à justiça, posto entregar ao postulante a tutela jurisdicional pretendida, sendo-lhe ainda útil. Contudo, pode ser que, mesmo ainda útil - efetiva, portanto - o direito do autor tenha

66 DIDIER Jr., Fredie . Curso de Direito Processual Civil (v. 1) - teoria geral do processo e processo de

sofrido máculas que imporão também sua reparação. Fica claro, pois, que a despeito de efetiva, a tutela não foi eficiente, já que o autor ver-se-á obrigado a ainda exigir a reparação dos danos causados - não só o reconhecimento, mas, principalmente, a execução dessa reparação, que pode levar mais tempo ainda. Ao passo que o manejo das tutelas de urgência tem o condão de interromper esse ciclo de prejuízos, permitindo que, quando encerrado o processo, não haja nenhuma causa para nova busca pelo Poder Judiciário.

1.2.3 A GARANTIA DE DURAÇÃO RAZOÁVEL DO PROCESSO E AS TUTELAS DE

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