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1 UMA VISÃO CONSTITUCIONAL ACERCA DOS INSTITUTOS DA

2.2 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

2.2.1 O DANO

2.2.3.1 Teorias do nexo de causalidade

A análise das teorias do nexo de causalidade, diante de uma conduta danosa consistente em um fato simples que gerou dano cuja relação de causa e efeito diretamente estabelecida não se apresenta como tema de grande intelecção155. Afinal, independentemente de qual teoria se adotar, não haveria outras potenciais concausas a serem excluídas a fim de aferir a formação da relação de responsabilidade. Contudo, a possibilidade de mais de uma hipótese para que tenha ocorrido o dano leva a um tradicional maior aprofundamento nas teorias de modo a permitir que seja(m) afastada(s) (ou não) alguma(s) dessa(s) e se estabeleça o surgimento ou não da responsabilidade civil. E como já exposto, diante de situações em que impera a responsabilidade objetiva, afastar a causa imputada ao agente e atribuir o dano a outra causa sem qualquer relação com esse agente se mostra como tarefa primordial. Importante, então, a doção de um caminho racional que permita proceder à conexão entre conduta danosa e o dano, e, via de talante, que permita também afastar outras possíveis causas para o dano. Com tal finalidade, exsurgem algumas teorias que pretendem indicar esse caminho a ser adotado. A primeira que se preocupou com tal temática é a denominada teoria da equivalência das condições. Por essa teoria, qualquer evento capaz de dar origem ao dano seria caracterizado como tal para fins de aferição do nexo causal, sem qualquer distinção entre a efetiva potencialidade. Para que se fale na existência de nexo de causalidade, basta que a conduta seja

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Nesse sentido, CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012. p.49; SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros da reparação à diluição dos danos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p.54; .

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apta a causar o dano, sem perquirir o nível de influência desta em relação a outras potenciais causas. Também é denominada de teoria da conditio sine qua non. Essa teoria recebe muitas críticas no âmbito da responsabilidade civil, por caracterizar uma responsabilidade por deveras ampla, mas é adotada no âmbito da responsabilidade penal, na forma do artigo 13 do Código Penal Brasileiro156. Sérgio Cavalieri Filho explicando o posicionamento por parte de seus defensores leciona que:

Sustentam seus defensores que o resultado é sempre uno e indivisível, não podendo ser subdividido em partes, de forma a ser atribuído a cada uma das condições, isolada e autonomamente. Logo, todas as condições, antecedentes necessários do resultado, se equivalem157.

A superação a essa teoria se deu com a elaboração de outras duas. Contudo, há considerável divergência acerca da qual seria adotada pelo legislador pátrio, gerando discussão entre os que defendem a adoção da teoria da causalidade adequada158 o os que defendem a adoção da causalidade direta e imediata159. Há ainda autores que não identificam a distinção entre ambas, tratando como se fosse uma só teoria160.

A teoria da causalidade adequada, elaborada por Von Tries, tem por peculiaridade o reconhecimento de que, a despeito de ser possível uma sucessão de eventos serem apontados como desencadeadores da responsabilidade, alguns desses têm maior potencial de efetivamente causar o dano, ao passo que outros não teriam tanta importância para o evento. Assim, há uma hierarquização entre os eventos, e nem todos podendo ser chamados de causas do dano. Explicando tal teoria, Sérgio Cavalieri Filho afirma que:

Causa [...] é o antecedente não só necessário mas, também, adequado à produção do resultado. Logo, se várias condições concorreram para determinado resultado, nem todas serão causas, mas somente aquela que for a mais adequada à produção do

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Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido.

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CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 51.

158

Colocar quem defende causalidade adequada. TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil - volume único. 1. ed. São Paulo: Método, 2011; CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012.

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Causliaded direta e imediata. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: responsabilidade civil: v 4. 5. ed. – São Paulo: Saraiva, 2010; SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros da reparação à diluição dos danos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009; RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil. 6. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013; Wald, Arnoldo; GIANCOLI, Brunno Pandori. Direito civil : responsabilidade civil, vol. 7. 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012.

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Sérgio Cavalieri Filho, ao abordar as teorias do nexo causal traz apenas as teorias da equivalência dos antecedentes e da causalidade adequada, tratando ainda a direta imediata no bojo da explicação da causalidade adequada, razão pela qual se identifica que o autor entende a adoção da teoria da causalidade adequada no Brasil. (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012, pp. 51- 54)

evento.161

Dessa forma, somente há que se falar em configuração do nexo de causalidade caso a conduta danosa reputada praticada pelo agente possa ser qualificada como causa, que tenha aptidão à ocorrência do dano e que sua inexistência levaria à inexistência própria do dano. Essa aferição é feita com base em juízos hipotéticos de como as coisas normalmente se sucedem, se o fato narrado teria aptidão a causar, por si só, o dano alegado de acordo com curso normal das coisas e com base na experiência comum da vida. Anderson Schreiber afirma ser uma análise feita em abstrato, fundada em um princípio de normalidade162. Por sua vez, Flávio Tartuce sustenta ser essa a teoria prevalente em nosso ordenamento, afirmando estar presente nos artigos 944 e 945 do Código Civil163.

Em contraposição à teoria da causalidade adequada, ganha força a teoria da causalidade direta e imediata. Seus defensores apontam o artigo 403 do Código Civil164 como a indicação de que essa é a teoria adotada pelo legislador pátrio. Ainda que inserido no bojo da inexecução de obrigações – e, por isso, mais relacionada com a responsabilidade contratual – é assente que sua previsão também surte efeitos perante a responsabilidade aquilina. A dicção do mencionado dispositivo expressa que a responsabilidade somente refere-se aos danos que tenham decorrência direta e imediata da conduta danosa. Também denominada de teoria da interrupção do nexo causal, verifica-se uma restrição ainda maior em relação à causalidade adequada, exigindo uma maior proximidade entre o evento e o dano. Não se trata de uma proximidade temporal, mas sim de uma proximidade lógica165. Anderson Schreiber aponta que a teoria da causalidade direta e imediata “considera como causa jurídica apenas o evento que se vincula diretamente ao dano, sem a interferência de outra condição sucessiva”166. De um lado, essa restrição aparenta ser benéfica, uma vez que reduzindo a cadeia de possiblidades acerca do nexo causal, busca-se uma maior objetividade na aferição do nexo causal no caso concreto, restringindo a relevância da conduta apenas àquelas efetivamente

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CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 51.

162

SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros da reparação à diluição dos danos. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2009, p.56.

163

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2011, p. 421.

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Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato, sem prejuízo do disposto na lei processual.

165

Wald, Arnoldo; GIANCOLI, Brunno Pandori. Direito civil : responsabilidade civil, vol. 7. 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 112.

166 SCHREIBER, Anderson. Novos paradigmas da responsabilidade civil: da erosão dos filtros da reparação à

mais relacionadas com o dano. Mas por outro lado, essa restrição, em sentido inverso às outras teorias, também é apta a causar injustiças, não pela ampla reparabilidade, mas, pelo contrário, pela diminuição de hipóteses de responsabilização.

No intuito de abrandar essa limitação, a questão da ligação entre o dano e a conduta danosa passou a considerar o efeito direto sob a perspectiva da necessariedade, ou seja, é considerado efeito direto do dano aquele evento cuja prática seria necessária para ocorrência daquele. Anderson Schreiber assenta que:

A melhor doutrina conclui, atualmente, a necessariedade consiste no verdadeiro núcleo da teoria da causalidade direta e imediata, não se excluindo a ressarcibilidade excepcional de danos indiretos, quando derivados necessariamente da causa em questão167.

Mesmo percebendo que a teoria da causalidade direta e imediata, analisada sob a ótica da necessariedade da conduta para a ocorrência do dano, permita uma melhor consolidação acerca da questão do nexo causal, sem desconsiderar também a grande contribuição que a teoria da causalidade adequada tem para o estudo desse elemento tão importante para a relação de responsabilidade civil, é possível identificar que a aplicação de uma ou outra teoria tem espaço, no limiar da identificação da causa jurídica, para gerar algum tipo de injustiça, de onde se percebe a tentativa da adoção de uma ou outra sob a perspectiva de consolidar a reparação do dano como norte a ser seguido.

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