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A erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais

1. As cidades garantirão o direito a todos

5.2.3. A erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais

Os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil são cons- tituídos pela construção de uma sociedade livre, justa e solidária; pela garantia do desenvolvimento nacional, pela erradicação da pobreza e da marginalização e pela redução das desigualdades sociais e regionais e pela promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º e incisos, CF).

Para Celso Ribeiro Bastos, “a idéia de objetivos não pode ser confundida com a de fundamentos, muito embora, algumas vezes, isto possa ocorrer. Os fundamentos são inerentes ao Estado, fazem parte de sua estrutura. Quanto aos objetivos, estes consis- tem em algo exterior que deve ser perseguido”.336

José Afonso da Silva, ao cuidar do tema, destaca que “é a primeira vez que uma Constituição assinala, especificamente, objetivos do Estado brasileiro, não todos, que seria despropositado, mas os fundamentais, e entre eles, uns que valem como base das prestações positivas que venham a concretizar a democracia econômica, social e cultural, a fim de efetivar na prática a dignidade da pessoa humana”.337

Alexandre de Moraes destaca o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza criado pela EC nº 31 de 14/12/2000, e as regras de financiamento desse fundo dispostas na EC nº 42, de 19/12/2003. Assevera ainda que esse fundo que deverá vigorar até 2010, e “tem como objetivo viabilizar a todos os brasileiros acesso a níveis dignos de subsistência, devendo a aplicação de seus recursos direcionar-se às ações suplementares de nutrição, habitação, educação, saúde, reforço de renda familiar e outros programas de relevante interesse social voltados para a melhoria da qualidade de vida”.338

A erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desi- gualdades sociais e regionais são problemas ligados diretamente à Política urbana e ao bem-estar dos cidadãos, em especial, às funções sociais da cidade, ao seu des- envolvimento sustentável e à possibilidade de se alcançar a qualidade de vida, como direito fundamental que é.

A Constituição de 1988 cuida da política urbana objetivando a busca do pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e a garantia do bem-estar dos cidadãos. Contribuem com o texto constitucional as várias Declarações sobre o Di- reito ao Desenvolvimento, em especial a de 1986, adotada pela Resolução 41/128 da Assembléia das Nações Unidas, onde encontramos em seu artigo 1, que “reco- nhece o direito ao desenvolvimento como um direito humano alienável, em virtude do qual toda pessoa humana e todos os povos estão habilitados a participar do desenvolvimento econômico, social, cultural e político, a ele contribuir e dele desfrutar, no qual todos os direi-

336 Celso Ribeiro Bastos, Curso de Direito Constitucional, p. 250.

tos humanos e liberdades possam ser plenamente realizados”. Já o artigo 2 dispõe que a pessoa humana é considerada como o sujeito central do desenvolvimento. “Quanto aos Estados é atribuído o dever de formular políticas nacionais, adequadas com o desenvol- vimento, que visem o constante aprimoramento do bem-estar de toda a população e de to- dos os indivíduos, com base em sua participação ativa, livre e significativa no desenvolvi- mento e na distribuição eqüitativa dos benefícios daí resultantes”.339

Reforçando o artigo 2 da Declaração sobre o Direito ao Desenvolvi- mento, no que diz respeito à complementação das atribuições do Estado, o artigo 8 do mesmo documento “atribui aos Estados o dever a nível nacional de tomar as medidas necessárias para a realização do direito ao desenvolvimento, e de assegurar a igualdade de oportunidade para todos em seu acesso aos recursos básicos, educação, serviços de saú- de, alimentação, habitação, emprego e distribuição eqüitativa de renda”. O mesmo dispo- sitivo assegura um papel ativo das mulheres no processo de desenvolvimento. Prevê reformas econômicas e sociais para a erradicação de todas as injustiças sociais. E por fim, dispõe sobre a defesa da democracia participativa e da cidadania, devendo o Estado encorajar a participação popular, por se tratar de fator importante ao des- envolvimento e a realização dos direitos humanos.340

O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas de 1996 (subscrito pelo Brasil – Decreto 592 de 06/07/92), garantem a todas as pessoas os ingredientes mínimos para um nível de vida adequando para si e para a família, inclusive reconhecendo a cooperação internacional para os seus fins. Assim, o direito à alimentação, vestimenta, e moradia que garanta melhoria contínua das condições de vida e o direito de todos à saúde, educação, participação na vida cultural, e usufruir do progresso científico, também são direitos reconheci- dos.341

Para fazer valer esses direitos mínimos garantindo a vida, propiciando desenvolvimento urbano a partir das funções sociais da cidade e seu desenvolvi-

338 Alexandre de Moraes, Direito Constitucional, p. 18.

339 Nelson Saule Júnior, Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento Constitucional da

Política Urbana. Aplicação e Eficácia do Plano Diretor, p. 63.

340 Nelson Saule Júnior, Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento Constitucional da

mento sustentável (alguns dos meios para a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais), é importante o exercício do direito à cidadania, uma gestão democrática da cidade e a função social da cidade e da pro- priedade.342

Outro instrumento para a erradicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regionais é o planejamento urbano. O cres- cimento desordenado das periferias não irá abrigar somente população, mas tam- bém a miséria, pela impossibilidade de oferta de habitação, transportes e sanea- mento básico adequados.

Para essa parcela da população periférica, ante a impotência do Esta- do que muito perdeu para investimentos em infra-estrutura e serviços sociais (vide justa distribuição de serviços públicos), a vida urbana passou a ser o retrato do desem- prego, da miséria, da violência, das favelas, congestionamentos e poluição.

O direito à qualidade de vida passa a ser encarado como um sonho – utopia, pois a realidade demonstra pobreza, marginalização e desigualdade. Assume grande papel instrumental o Plano Diretor na luta por essas discriminações.

Para fins da consecução desse objetivo fundamental da República (er- radicação da pobreza e da marginalização e a redução das desigualdades sociais e regio-

341 Nelson Saule Júnior, Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento Constitucional da

Política Urbana. Aplicação e Eficácia do Plano Diretor, pp. 64/65.

342 O Tratado sobre Cidades, Vilas e Povoados Sustentáveis, elaborado na Conferência da Sociedade Civil sobre

o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO-92. Princípios fundamentais que devem nortear a política para concretizar os direitos inerentes às pessoas que vivem na cidade: Direito à Cidadania – entendido como a par- ticipação dos habitantes das cidades e povoados na condução de seus destinos. Inclui o direito à terra, aos mei- os de subsistência, à moradia, ao saneamento, à saúde, à educação, ao transporte público, à alimentação, ao tra- balho, ao lazer, à informação. Inclui também o direito à liberdade de organização; o respeito às minorias e à pluralidade étnica, sexual e cultural; o respeito aos imigrantes e o reconhecimento de sua plena cidadania; a preservação da herança histórica e cultural e ao usufruto de um espaço culturalmente rico e diversificado, sem distinções de gênero, nação, raça, linguagem e crenças. Gestão Democrática da Cidade – entendida como a forma de planejar, produzir, operar e governar as cidades e povoados submetida ao controle e participação da sociedade civil destacando-se como prioritário o fortalecimento da autonomia dos poderes públicos locais e a participação popular. Função Social da Cidade e da Propriedade – entendida como a prevalência do interesse comum sobre o direito individual de propriedade, como o uso socialmente justo do espaço urbano para que os cidadãos se apropriem do território, democratizando seus espaços de poder, de produção e de cultura dentro de parâmetros de justiça social e da criação de condições ambientalmente sustentáveis. In Nelson Saule Júnior, Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento Constitucional da Política Urbana. Apli- cação e Eficácia do Plano Diretor, p. 66, Nota de Rodapé nº 20.

nais) é de fundamental importância o respeito e a concretização do princípio da di- gnidade humana em seu aspecto material, o respeito aos direitos fundamentais vin- culados ao direito à vida, a uma justa política de aplicação dos direitos sociais, a uma justa distribuição de rendas e de serviços públicos, planejamento onde se res- peite as funções sociais da cidade com um desenvolvimento sustentável que possi- bilite uma vida digna nas cidades, pois somente será sustentável se estiver voltado para a eliminação da pobreza e a redução das desigualdades sociais, e principal- mente a busca da qualidade de vida como direito fundamental a todos os cidadãos, posto que não pode ser aceito um mero direito à sobrevivência.

Nelson Saule Júnior assevera que as diretrizes gerais para a promoção da política urbana previstas no artigo 182 da Constituição devem levar a uma inter- pretação no sentido de que o desenvolvimento urbano deverá estar associado a um processo de desenvolvimento, envolvendo a política agrária, a ambiental, a econô- mica e a política social nacional. E sugere as seguintes diretrizes: “a) assegurar o res- peito e tornar efetivo os direitos humanos; b) promover medidas para proteger o meio ambi- ente natural e construído, de modo a garantir a função social ambiental da propriedade na cidade; c) incentivar atividades econômicas que resultem na melhoria da qualidade de vida, mediante um sistema produtivo gerador de trabalho e de distribuição justa da renda e rique- za; d) combater as causas da pobreza, priorizando os investimentos e recursos para as polí- ticas sociais (saúde, educação, habitação); e) Democratizar o Estado, de modo a assegurar o direito à informação e à participação popular no processo de tomada de decisões”.343

Concordando com o ilustre autor, temos que para o alcance dessas diretrizes, deverão ser implementados projetos políticos para a solução das questões trazidas, e observância às normas legais e constitucionais, e em especial a adoção dos planejamentos não só em nível local, mas regional e nacional.

Somente assim, poder-se-ão combater as desigualdades, a pobreza e a exclusão social que leva à marginalidade, cumprindo-se o prescrito na Constituição (art. 3°).

343 Nelson Saule Júnior, Novas Perspectivas do Direito Urbanístico Brasileiro. Ordenamento Constitucional da

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