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28. Además de esta regulación de la estructura estatal la Constitución determina los procedimientos que deben

5.1. Qualidade de vida (I)

5.1.2. O direito à (sadia) qualidade de vida

A grande maioria das Constituições escritas inicia o rol dos direitos in- dividuais com o direito à vida. Contudo, foi no século XX que se buscou avançar so- bre o tema com a formulação de um conceito sobre o direito à qualidade de vida. A assertiva é verdadeira. A Conferência das Nações Unidas sobre o meio Ambiente

(Declaração de Estocolmo/72) salientou que o homem tem direito fundamental a “ade- quadas condições de vida, em um meio ambiente de qualidade”(Princípio 1).

Já a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desen- volvimento (Declaração Rio de Janeiro/92) afirmou que os seres humanos “têm direito a uma vida saudável” (Princípio 1). O Instituto de Direito Internacional (Sessão de Estras-

burgo de 04.09.1997) afirmou que “todo ser humano tem o direito de viver em um ambiente sadio”.

Afirme-se uma vez mais que a visão de qualidade de vida vinculada tão somente ao meio ambiente não pode ser encarada como uma tautologia. A proteção ao meio ambiente deve ser adotada como uma maneira de conservação da vida humana e de todas as formas de vida. Todavia, dizer que só se deve viver ou con- servar a vida é insuficiente. A todos é garantido o direito de buscar e conseguir vida com qualidade. Destarte, o meio ambiente passa a ser um dos instrumentais para se alcançar o direito à qualidade de vida, cujo sentido é bem mais amplo.

Um bom conceito preliminar de qualidade de vida, para os fins deste trabalho, é o ofertado por Mateo, Ramón Martin, trazido por Celso Antonio Pacheco Fiorillo e Marcelo Abelha Rodrigues:

“La calidad de vida, por tanto, que aqui nos interesa, habrá de funcionar como parâmetro definitorio de lãs condiciones mínimas que debe tener el médio físico, entendido este en un sentido amplio, para que cumpla con las condiciones queridas por el legislador en un momento histórico determinado, relacionándose con los recursos naturales (...) No quieres decirse con esto el que los estándares utilizables para medir la influencia de los elementos reflejen exclusivamente informaciones materiales – estado de las aguas, de la atmósfera, etc. –: pueden estar implicados sensaciones sicológicas, estéticas o estados animicos – belleza del paisaje, tranquilidad del entorno, equilibrio natural – (...). Las sensaciones y satisfacciones que consideramos suponem el previo atendimento por parte del Estado de las necesidades básicas – alimentación, vivenda, salud, educación – que deben estar cubiertas por servicios públicos adecuados que lleguen a los sujetos que no estén en condiciones de proverse por sí de los recursos precisos (Op. cit. Págs. 102 e 103)”.305

Conforme se depreende do conceito de qualidade de vida apresentado, alguns elementos devem ser extraídos para uma completa compreensão de que qualidade de vida não se vincula tão somente ao meio ambiente, mas deve ser com- preendido como um todo dentro do texto constitucional.

305 Celso Antonio Pacheco Fiorillo – Marcelo Abelha Rodrigues, Manual de Direito Ambiental e Legislação

Assim, dever-se-á levar em conta: (i) as condições mínimas para o meio

físico devidamente relacionado aos recursos naturais (estado das águas, atmosferas, etc);

(ii) situações psicológicas causadas pela beleza da paisagem, tranqüilidade do meio e equi-

líbrio natural; a sensação e satisfação humana; (iii) o Estado deve assegurar as necessida- des básicas como alimentação, moradia, saúde, educação, materializadas através dos ser- viços públicos, meio instrumental para tanto, em especial para aqueles que não conseguem prover a própria mantença.

Pode-se dizer que o meio ambiente, através dos recursos naturais, possibilita a sensação de satisfação humana (tem caráter instrumental a sua tutela), mas que, somente vai se tornar qualidade de vida em sua plenitude (uma plena satis- fação em viver) através da prestação de serviços públicos (instrumento) para que to- dos, em especial os menos afortunados, possam ter acesso à alimentação, moradia, saúde e educação.

Ressalte-se, porém, que na qualidade de direito fundamental com vín- culo inseparável ao direito à vida, é direito de todos o acesso à qualidade de vida em seu sentido mais amplo.

A qualidade de vida, além de ser garantida constitucionalmente, possui papel relevante no Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10/07/01). E mais, o Estatuto da Cidade espanca de vez a possibilidade de vinculação exclusiva da qualidade de vida ao meio ambiente.

O Estatuto dispõe que lei municipal definirá quais os empreendimentos e atividades privados ou públicos em área urbana que dependerão de estudo prévio de impacto de vizinhança (EIV), para obtenção de licenças ou autorizações de cons- trução, ampliação ou funcionamento a cargo do Poder Público municipal (art. 36).

Uma primeira observação do dispositivo em tela diz respeito à funda- mental importância do Município na tutela da qualidade de vida, pois será esse ente da Federação o responsável pela edição de lei que determinará a elaboração de

estudo de impacto de vizinhança (EIV), além de outros instrumentos legais cuja competência foi deferida constitucionalmente.

Um outro ponto que merece atenção diz respeito ao conteúdo do estu- do de impacto de vizinhança. Ele deverá ser executado de maneira que contemple os efeitos negativos e positivos do empreendimento ou atividade “quanto à qualidade de vida da população residente na área e suas proximidades”. E deverá em sua análise incluir no mínimo, as seguintes questões: adensamento populacional; equipamentos urbanos e comunitários; uso e ocupação do solo; valorização imobiliária; geração de tráfego e demanda de transporte público; ventilação e iluminação; paisagem urbana e patrimônio natural e cultural (art. 37 e acessórios do Estatuto).

Mas não é só. O mesmo Estatuto, ao cuidar do Plano Diretor faz alusão expressa à qualidade de vida quando diz: “A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos quanto à qualida-

de de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das atividades econômicas, respeitadas as

diretrizes previstas no art. 2º desta Lei” (art. 39 – destacamos).

Percebe-se assim, que a intenção do legislador não foi a de vincular qualidade de vida tão somente ao meio ambiente, mas a todo um contexto de ne- cessidades que podem ser exigidos, pois trata-se de garantia constitucional de di- reito fundamental.

Respeitosamente discordamos daqueles que dizem que, quando se fala em qualidade de vida, dever-se-á remeter a questão à sadia qualidade de vida referida no caput do artigo 225 da Constituição Federal.306 Conforme já dito, a pala- vra sadia já se encontra implicitamente na expressão qualidade de vida, que respon- de ao binômio vida-dignidade. Noutro falar, qualidade de vida abrange muito mais que o comando contido no art. 225 da Constituição.

Uma vez que a qualidade de vida é garantida constitucionalmente como direito dos indivíduos, estes podem exigir dos poderes constituídos a sua tu- tela, ou nos dizeres de Canotilho, “direito de os cidadãos exigirem dos poderes públicos a

protecção(sic) dos seus direitos e o reconhecimento e consagração dos meios processuais adequados a essa finalidade”.307

A Lei de Bases do Ambiente da República Portuguesa (Lei n. 11, de 07/04/1987), em seu artigo 5º, ao cuidar de conceitos e definições, indica em seu item 1:

“A qualidade de vida é resultado da interacção(sic) de múltiplos fatores no funciona- mento das sociedades humanas e traduz-se na situação de bem-estar físico, mental e social e na satisfação e afirmação culturais, bem como em relações autênticas en- tre o indivíduo e a comunidade, dependendo da influência de factores(sic) inter- relacionados, que compreendem, designadamente: a) A capacidade de carga do ter- ritório e dos recursos; b) A alimentação, a habitação, a saúde, a educação, os trans- portes e a ocupação dos tempos livres; c) Um sistema social que assegure a posteri- dade de toda a população e os conseqüentes benefícios da Segurança Social; d) A integração da expansão urbano-industrial na paisagem, funcionando como valoriza- ção da mesma, e não como agente de degradação”.308

Ainda com relação à legislação lusitana, a Constituição Portuguesa as- segura o direito de ação para a efetivação da qualidade de vida, dispondo (art. 52, 3):

“É conferido a todos, pessoalmente ou através de associações de defesa dos inte- resses em causa, o direito de acção(sic) popular nos casos e termos previstos na lei, incluindo o direito de requerer para o lesado ou lesados a correspondente indemni- zação(sic), nomeadamente para: a) Promover a prevenção, a cessação ou a perse- guição judicial das infracções(sic) contra a saúde pública, os direitos dos consumido- res, a qualidade de vida e a preservação do ambiente e do patrimônio cultural; (...)”.309

Ora, se a garantia da Constituição diz respeito à defesa da Lei Funda- mental, as garantias constitucionais visam a defesa dos direitos dos cidadãos. Em um Estado constitucional democrático, onde uma das tutelas obrigatórias é a prote- ção do direito à vida em suas duas acepções, agora deve igualmente ser protegida

307 J. J. Gomes Canotilho, Direito Constitucional, p. 954. 308 José Roberto Marques, Meio Ambiente Urbano, pp. 35/36.

na terceira modalidade apresentada: a garantia da qualidade de vida como direito fundamental.

Assim, não bastasse o status de direito fundamental garantido constitu- cionalmente, o Estatuto da Cidade em seu art. 54, altera o art. 4º da lei n. 7.347, de 1985, para garantir prestação jurisdicional nos seguintes termos: “Art. 4º - Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o dano ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, esté- tico, histórico, turístico e paisagístico (Vetado)”.

E a possibilidade da medida cautelar noticiada é somente uma das pro- vidências judiciais, uma vez que a Ação Popular, a Ação Civil Pública e outros remé- dios processuais, de igual forma se prestam a tutelar a qualidade de vida como di- reito fundamental que é.

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