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Os artigos 5º e 225 e a qualidade de vida na Constituição Federal

28. Además de esta regulación de la estructura estatal la Constitución determina los procedimientos que deben

4.1.5. Os artigos 5º e 225 e a qualidade de vida na Constituição Federal

Os direitos fundamentais encontram-se de maneira expressa no caput do artigo 5º da Constituição de 1988. Esses direitos estão consubstanciados na vida, na liberdade, na igualdade, na segurança e na propriedade. Para Maria Garcia, es- ses cinco direitos fundamentais são direitos fundamentais básicos 294 ”que constituem

o fundamento de todos os demais direitos consagrados, quer pelos incisos do art. 5º, quer

294 Esses cinco direitos são considerados básicos pela autora após estudo doutrinário conjugado com a contribui-

ção de Lassalle, onde o mesmo buscou demonstrar a diferença entre uma Constituição como lei fundamental e uma lei qualquer (A essência da constituição. Rio de Janeiro – Líber Júris, 1985, p. 9/10). “Para tanto, para jus- tificar-se a denominação de lei fundamental, conforme expõe, ‘será necessário: 1º Que a lei fundamental seja uma lei básica; mais do que as outras comuns, como indica seu próprio nome ‘fundamental’. 2º Que constitua – pois de outra forma não poderíamos chamá-la de fundamental – o verdadeiro fundamento de outras leis, isto é, a lei fundamental, se realmente pretende ser merecedora desse nome, deverá informar e engendrar as outras leis comuns originárias da mesma. A lei fundamental, para sê-lo, deverá, pois, atuar e irradiar-se através das leis comuns do país. 3º Mas as coisas que têm um fundamento não o são por um capricho; existem porque necessa- riamente devem existir. O fundamento a que respondem não pode ser de outro modo. Somente as coisas que carecem de fundamento, que são as casuais e as fortuitas, podem ser como são ou mesmo de qualquer outra forma; as que possuem um fundamento, não. Elas se regem pela necessidade. (...) A idéia de fundamento traz, implicitamente, a noção de uma necessidade ativa, de uma força eficaz e determinante que atua sobre tudo que nela se baseia, fazendo-a assim e não de outro modo’. Adotando-se, portanto, os critérios identificadores de Lassalle para a lei fundamental – relativamente aos direitos fundamentais – ter-se-iam os seguintes pontos a recrutar, com vistas, já, à Constituição brasileira: O Título II da Constituição encima, como referido, a diversi- ficada matéria dos arts. 5º (direitos e deveres individuais e coletivos); 6º (direitos sociais); 12 (nacionalidade); 14 (direitos políticos) e 17 (Partidos Políticos) – sob a denominação ‘Dos Direitos e Garantias Fundamentais’. Conforme visto pela análise doutrinária, desses direitos e garantias alguns seriam formalmente fundamentais e outros, formal e materialmente fundamentais – aos quais, e apenas a estes, a Constituição teria atribuído o re- gime constitucional de direitos fundamentais. A seguir, os parâmetros de Lassalle para a qualificação da lei fundamental (a Constituição, portanto) seriam considerados fundamentais: 1º os direitos básicos, mais do que os demais, alicerces, base antropológica dos direitos fundamentais; 2º fundamentos de outros direitos: os direi- tos fundamentais deverão ‘informar e engendrar’os demais direitos constitucionalmente assegurados, além de outros materialmente constitucionais; e 3º esses direitos fundamentais existem porque necessariamente devem existir, ‘o que são e como são, sem poderem ser de outro modo’, regendo-se por uma ‘necessidade ativa’, ‘uma força eficaz e determinante que atua sobre tudo o que nela se baseia’, ou fundamenta – ‘fazendo-a assim e não do outro modo’” (grifado no texto). Maria Garcia, Mas, quais são os Direitos Fundamentais?, Revista de Di- reito Constitucional e Internacional, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, Ano 10, abril/julho de 2002, nº 39, pp. 120/122.

pelos dispositivos seqüenciais, do mesmo Título II, bem como de toda a Constituição – dado que órgãos, bens, direitos, deveres, instituições refluem, todos, para um destinatário único, em especial, o ser humano”.295

Assevera ainda a autora que esses cinco direitos fundamentais básicos

(vida, liberdade, igualdade, segurança e propriedade), “assim o são, e devem ser, pelos fun- damentos do Estado brasileiro, mediante um pacto fundacional firmado a partir de um enfo- que do Direito Ocidental, conforme Jorge Miranda, compondo a família constitucional oci- dental – portanto, por uma exigência de necessidade”. E conclui, que à luz dos demais direitos e garantias consagrados pela Constituição, e, dos direitos não expressos mas previstos em face da abertura e abrangência do § 2º do art. 5º que “todos os di- reitos e garantias diretamente vinculados a um dos cinco direitos fundamentais básicos constantes do art. 5º, caput”, são direitos fundamentais. “Os demais compõem apenas o quadro dos direitos constitucionais”(grifado no texto). E assim destaca os direitos vincu- lados diretamente à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade.296

Para este trabalho interessa os direitos vinculados diretamente ao di- reito à vida, onde Maria Garcia enumera “os direitos sociais constantes do art. 6º (‘a educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à ma- ternidade e à infância, a assistência aos desamparados’)”, o art. 5º com os incisos IV

(manifestação de pensamentos), e L (amamentação dos filhos pelas presidiárias como pro- teção ao infante), e indiretamente alguns direitos constitucionais do art. 7º e cita a re- muneração do serviço extraordinário (XVI).297

Nossa visão vai mais além nos direitos vinculados diretamente à vida como o meio ambiente e a qualidade de vida (numa terceira acepção desse direito fun- damental), com um foco especial para a vida na cidade.

295 Maria Garcia, Mas, quais são os Direitos Fundamentais? Revista de Direito Constitucional e Internacional,

Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, Ano 10, abril/julho de 2002, nº 39, p. 122.

296 Maria Garcia, Mas, quais são os Direitos Fundamentais? Revista de Direito Constitucional e Internacional,

Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, Ano 10, abril/julho de 2002, nº 39, pp. 122/123.

297 Maria Garcia, Mas, quais são os Direitos Fundamentais? Revista de Direito Constitucional e Internacional,

Para entender a qualidade de vida como direito fundamental, faz-se necessário uma interpretação sistemática na Constituição entre o artigo 5º (direito à vida) e o artigo 225 (meio ambiente como essencial à sadia qualidade de vida).298

Ora, se a vida é direito fundamental básico consagrado no caput do artigo 5º (é alicerce e base antropológica de todos os direitos; é fundamento de todos os direitos, e existe, pois, sem ele não haveria os demais direitos, cf. Maria Garcia), e se os direitos diretamente vinculados ao direito à vida também são fundamentais, o meio ambiente como é essencial à sadia qualidade de vida (art. 225), tem por decorrência lógica, estreita ligação com o direito à vida, pois, segundo já disse José Afonso da Silva, “a tutela da qualidade do meio ambiente é instrumental no sentido de que, através dela, o que se protege é um valor maior: a qualidade de vida”(grifado no texto).299

Assim, tem-se a proteção ao meio ambiente como direito fundamental reconhecido na doutrina 300. Porém, a qualidade de vida como valor maior também deve ser considerada como direito fundamental, mas não só pelo meio ambiente (art. 225). A qualidade de vida transita entre todos os direitos fundamentais ligados dire- tamente ao direito à vida, e por toda a Constituição quando o tema é o bem estar do homem. Embora a qualidade de vida esteja somente prevista expressamente no ca- put do artigo 225 que cuida do meio ambiente, por força de sua ligação direta com o direito à vida (art. 5º, caput, C.F.), reforçada pela abrangência do § 2º do art. 5º da Constituição Federal, não se pode olvidar o seu status de direito fundamental.

298 Constituição Federal de 1988 -Art. 225 – Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletivi- dade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (caput – destacamos).

299 José Afonso da Silva, Direito Ambiental Constitucional, p. 70.

CAPÍTULO V

QUALIDADE DE VIDA: DIREITO FUNDAMENTAL

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