• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3. A LEY DE MIGRACIONES

3.3 Expulsão e Detenção de Imigrantes Irregulares e a Nova Normativa Migratória.

Anterior à Ley de Migraciones, o Decreto n° 1023/1994 determinava a proibição da entrada e da residência de pessoas com deficiência física, mental, que exercessem a prostituição, consideradas inúteis e que por qualquer circunstância, ao juízo do Ministerio del Interior, fossem classificadas de capacidade duvidosa para se integrarem à sociedade argentina. Essa previsão era uma espécie de “tipo penal aberto” conferida pelo Estado argentino ao imigrante, pois qualquer um, por qualquer motivo, poderia ser considerado de capacidade duvidosa para a integração na sociedade. Esse era o retrato do espírito da normativa anterior à Ley de Migraciones.

A nova normativa manteve algumas causas de impedimento de ingresso e permanência, criando outras. Todavia, as causas da nova lei não possuem mais a nefasta caracterização de “tipo penal aberto” anteriormente prevista. O art. 29 da Ley de Migraciones dispõe sobre esses impedimentos, a maioria relacionado a questões penais, por exemplo, possuir antecedentes por delitos com penas maiores a três anos, tratar-se de

43

crimes graves, como de lesa humanidade, tráfico de pessoas, genocídio, terrorismo, lavagem de dinheiro, tráfico de drogas, delitos de guerra, tráfico sexual, dentre outros.44

Durante o período de vigência da Ley Videla não havia respeito e nem garantias aos direitos fundamentais das pessoas detidas e posteriormente expulsas da Argentina. As detenções ordenadas pela Dirección Nacional de Migraciones e concretizadas pelas forças de segurança eram efetuadas sem prazo fixo, sendo absolutamente discricionárias e sem intervenção de qualquer autoridade judicial. Não havia previsão de instância em que se pudesse exercer o direito de defesa.

Nesse sentido, a nova Ley de Migraciones e o Decreto que a regulamenta trouxeram inovações substanciais. De acordo com eles, a Dirección Nacional de Migraciones só poderá ordenar a expulsão de uma pessoa, com procedimento que possuirá caráter suspensivo, após devida intimação, abrindo-se prazo para que o imigrante possa ser regularizado. Uma vez intimado, será iniciado o procedimento administrativo pelo qual lhe

44

ARTÍCULO 29 - Serán causas impedientes del ingreso y permanencia de extranjeros al Territorio

Nacional: a) La presentación ante la autoridad de documentación nacional o extranjera material o ideológicamente falsa o adulterada. El hecho será sancionado con una prohibición de reingreso por un lapso mínimo de cinco (5) años; b) Tener prohibido el ingreso, haber sido objeto de medidas de expulsión o de prohibición de reingreso, hasta tanto las mismas no hayan sido revocadas o se hubiese cumplido el plazo impuesto al efecto; c) Haber sido condenado o estar cumpliendo condena, en la Argentina o en el exterior, o tener antecedentes por tráfico de armas, de personas, de estupefacientes o por lavado de dinero o inversiones en actividades ilícitas o delito que merezca para la legislación argentina pena privativa de la libertad de tres (3) años o más; d) Haber incurrido o participado en actos de gobierno o de otro tipo, que constituyan genocidio, crímenes de guerra, actos de terrorismo o delitos de lesa humanidad y de todo otro acto susceptible de ser juzgado por el Tribunal Penal Internacional; e) Tener antecedentes por actividades terroristas o por pertenecer a organizaciones nacional o internacionalmente reconocidas como imputadas de acciones susceptibles de ser juzgadas por el Tribunal Penal Internacional o por la ley n° 23.077, de Defensa de la Democracia; f) Haber sido condenado en la Argentina o tener antecedentes por promover o facilitar, con fines de lucro, el ingreso, la permanencia o el egreso ilegales de extranjeros en el Territorio Nacional; g) Haber sido condenado en la Argentina o tener antecedentes por haber presentado documentación material o ideológicamente falsa, para obtener para sí o para un tercero un beneficio migratorio; h) Promover la prostitución; lucrar con ello; haber sido condenado o tener antecedentes, en la Argentina o en el exterior por haber promovido la prostitución; por lucrar con ello o por desarrollar actividades relacionadas con el tráfico o la explotación sexual de personas; i) Intentar ingresar o haber ingresado al Territorio Nacional eludiendo el control migratorio o por lugar o en horario no habilitados al efecto; j) Constatarse la existencia de alguno de los impedimentos de radicación establecidos en la presente ley; k) El incumplimiento de los requisitos exigidos por la presente ley. En el caso del inciso a) el Gobierno Federal se reserva la facultad de juzgar a la persona en la República cuando el hecho pueda relacionarse con cuestiones relativas a la seguridad del Estado, a la cooperación internacional o resulte posible vincular al mismo o a los hechos que se le imputen con otras investigaciones sustanciadas en el Territorio Nacional. La Dirección Nacional de Migraciones, previa intervención del Ministerio del Interior, podrá admitir, excepcionalmente, por razones humanitarias o de reunificación familiar, en el país en las categorías de residentes permanentes o temporarios, mediante resolución fundada en cada caso particular, a los extranjeros comprendidos en el presente artículo.

serão assegurados o direito de defesa, a assistência jurídica gratuita e, se necessário, um intérprete. Como forma de assegurar o respeito ao efetivo exercício desses direitos, a lei previu em seu art. 86 a imediata intervenção do Ministerio Público de la Defensa.

Uma vez decidida a expulsão, a pessoa terá direito a interpor recursos administrativos para revogar a decisão expulsória. Caso a expulsão seja confirmada pelo Director Nacional de Migraciones, haverá a opção de continuar a recorrer por via administrativa, interpondo recurso de alçada em face do Ministerio del Interior, ou optando por recorrer diretamente aos Juzgados de Primera Instancia en lo Contencioso Administrativo Federal, por meio de um recurso de apelación, diante da Cámara desse foro. Ademais, caso estejam previstos os critérios estabelecidos pela normativa processual geral, é possível recorrer à Corte Suprema de Justicia de la Nación via recurso extraordinario federal.

Além desses direitos, a lei estabeleceu que a detenção do imigrante só poderá ser decidida por juiz competente e mediante fundamentada decisão, com a intervenção do Ministerio Público de la Defensa, sendo reconhecidos, repita-se, o direito à defesa e a um intérprete, se necessário. Da mesma maneira, é assegurado o direito à assistência jurídica gratuita.

No ano de 2004, com poucos meses de vigência da Ley de Migraciones, o Poder Judiciário argentino anulou algumas expulsões determinadas pela autoridade administrativa, em razão da omissão do dever de intimar previamente a pessoa para que ela pudesse regularizar sua situação migratória.45

O art. 70 da Ley de Migraciones dispõe que detido o imigrante, caso ele alegue ser pai, filho ou cônjuge de argentino nativo, desde que o matrimônio tenha sido celebrado anteriormente ao feito que motivou a detenção, a Dirección Nacional de Migraciones deverá suspender a expulsão e constatar a existência de vínculo familiar no prazo de quarenta e oito horas. Reconhecido o vínculo, o imigrante deverá ser colocado imediatamente em liberdade, como forma de respeitar a união familiar. Em seguida, deverá ser iniciado um procedimento sumário de regularização migratória.

45

Cámara Federal de Apelaciones de Paraná, Caso Ali, Yun, Lingyan Zheng y Yu Junyun s/ habeas corpus, sentença de 10 de dezembro de 2004.

O Ministerio del Interior ou a Dirección Nacional de Migraciones somente poderá solicitar a detenção do imigrante se existirem circunstâncias objetivas que demonstrem que ele está tentando eludir-se do procedimento.46 A solicitação da retenção deve ser feita à autoridade judicial, que deverá descrever precisamente as razões que fundamentem a medida, acompanhada de documentos, se houver, e indicando o prazo de duração. Aceita a solicitação de retenção, a autoridade migratória deverá informar ao órgão judicial interveniente a cada dez dias, detalhando o avanço do procedimento administrativo e as razões que justifiquem a subsistência da medida.

Em síntese, há um positivo avanço em relação à legislação anterior, pois a detenção só pode ser ordenada e controlada judicialmente. As arbitrariedades das ações das autoridades administrativas são, dessa maneira, reduzidas e os direitos dos imigrantes ganham maior chance de serem observados e respeitados. Apesar da Ley de Migraciones não prever o lugar onde essas pessoas devem ser detidas, o Decreto que a regulamentou especifica que elas somente podem ser alojadas em lugares diferentes daqueles destinados à privação da liberdade de pessoas que cometeram delitos previstos na legislação penal argentina. Ademais, esses lugares devem ser adequados e organizados, partindo do fundamento de que são pessoas que não cometeram um ilícito penal, mas apenas uma infração administrativa. Ou seja, não podem ser tratados como penalmente condenados e tampouco ser alojados em locais semelhantes aos do regime carcerário.