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EXTRAINDO INFORMAÇÕES ESSENCIAIS

No documento TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO Beck (páginas 83-85)

É importante observar que a entrevista habilidosa não apenas extrai informações essenciais sobre (a) o diagnóstico do paciente, (b) sua história passada, (c) situação actual de vida, (d) problemas psicológicos, (e) atitudes a respeito do tratamento e (f) motivação para o tratamento, mas também serve para dar ao paciente alguma objectividade acerca de seu distúrbio específico. Com frequência, essa objectividade é, em si mesma, bastante reconfortante.

Em nosso próprio grupo de pesquisas, procuramos obster tantas informações de auto-relato quanto possível antes da entrevista, a fim de reduzir a quantidade de tempo necessária para uma avaliação clínica. Os questionários fornecem dados demográficos e biográficos e informações acerca de sintomas, doenças anteriores, contactos prévios com profissionais e organizações de saúde e tratamento anterior. Uma das ferramentas terapêuticas úteis é o Inventário de Depressão (Beck, 1967; Beck, 1978), que não apenas fornece uma rápida avaliação da gravidade do distúrbio, mas pode também apontar para alguns sintomas (tais como desejos suicidas), que requereriam intervenção imediata. Além disso, os diversos itens no Inventário de Depressão fornecem dados importantes acerca do pensamento negativo do indivíduo, o que traz uma orientação natural para alguns dos problemas centrais do paciente (por exemplo, suas expectativas de que tudo sairá mal, sua visão de si mesmo como um fracasso, sua crença de que é incapaz de fazer qualquer coisa sem ajuda, ou seus desejos suicidas). Da mesma forma, a Escala de Desesperança (Beck, Weissman, Lester e Trexter, (1974) contém muitos itens que podem servir como portas de acesso às visões negativistas do paciente sobre seu futuro.

Quase todas as respostas às indagações terapêuticas fornecem uma mistura de informações essenciais sobre a ideação do paciente e a conexão entre seu pensamento negativista e suas emoções desagradáveis. A "socialização para a terapia" é importante e já foi descrita no capítulo anterior. Embora muitos pacientes tenham completo conhecimento do enquadre conceitual da terapia cognitiva, quase todos requerem demonstrações e exemplos pertinentes a seus próprios problemas, a fim de conseguir uma boa compreensão desta abordagem.

Em alguns casos, especialmente naqueles em que o paciente tem grande dificuldade em expressar-se ou desconhece o esquema básico da terapia cognitiva, é muitas vezes útil apresentar algumas instruções introdutórias e material informativo acerca da terapia cognitiva e da depressão. Esse material ajuda a moldar as expectativas dos pacientes e a fornecer um esboço geral do tratamento. O seguinte raciocínio específico da terapia cognitiva é geralmente suficiente para esses objectivos. Na realidade, pode não ser necessário entrar em tantos detalhes:

Em nossas sessões, tremos inicialmente assinalar algumas das dificuldades e problemas que você vem tendo e usar técnicas que, esperamos, irão resolver essas dificuldades. Será importante descobrirmos como você reage a situações específicas em sua vida e que efeito têm essas reacções em seus sentimentos.

Observando cuidadosamente suas reacções, teremos uma ideia mais claras sobre qual o melhor maneira de ajudá-lo. Poderemos então examinar novas formas de lidar com a tensão, especialmente formas que possam ser usadas para prevenir depressões futuras. Muitos dos procedimentos se tornarão mais claros à medida que os utilizarmos. Você gostaria de fazer alguma pergunta antes de prosseguirmos?

Em nossas pesquisas sobre a terapia cognitiva da depressão, temos seguido este procedimento: Depois que o terapeuta discute a orientação racional da terapia cognitiva e explica os processos do tratamento, dá ao paciente o folheto Coping with depression, que contém material impresso de natureza semelhante. O terapeuta solicita ao paciente que leia o folheto, sublinhe as partes sobre as quais gostaria de fazer perguntas ou que sejam especialmente pertinentes a ele, e faça anotações no folheto. Essa sugestão pode constituir-se na primeira tarefa para casa. As respostas do paciente a esse folheto serão posteriormente examinadas na segunda sessão terapêutica.

Essa abordagem geral que fornece explicações claras para cada passo do tratamento e cada tarefa para casa - é mantida ao longo de toda a terapia. O terapeuta busca tornar o tratamento tão compreensível e digno de crédito quanto possível, a fim de que o paciente possa participar activamente na identificação de seus problemas e ajudar a desenvolver estratégias de abordagem para cada uma dessas dificuldades. Como consequência, o paciente aprende os princípios gerais da identificação e resolução de problemas.

Começamos, recentemente, a desenvolver um teste piloto de um vídeo-tape destinado a explicar aos pacientes o fundamento lógico e a base do tratamento cognitivo. Essa técnica de socialização para a terapia mostrou levar a um decréscimo da interrupção prematura do tratamento e aumentar as respostas à terapia em pacientes psicologicamente ingénuos ou de classe socio-económica inferior.

Observação: O volume de informação que pode ser obtido do paciente é praticamente infinito, mas o volume de tempo e o número de perguntas que podem ser formuladas é finito. Devido a restrições de ordem prática, o terapeuta é forçado a utilizar ao máximo um volume limitado de informações. Assim, é essencial que o terapeuta procure tornar significativa cada pergunta. Isso equivale a dizer que a totalidade do quadro em que se origina o distúrbio pode não emergir ao longo de varias entrevistas. Entretanto, é essencial que os problemas cruciais, particularmente quando o paciente se mostra gravemente perturbado, sejam delineados bem cedo na primeira sessão e que seja apresentado ao paciente um planejamento provisório do tratamento. Além disso, através da combinação cuidadosa de perguntas elicidoras de informações e das observações do terapeuta, espera-se que o paciente possa sentir se melhor ao final da procura sessão. Isto é particularmente importante no caso de pacientes suicidas, que podem resolver cometer suicídio antes da data marcada para a sessão seguinte, caso se sintam desencorajados ao final da entrevista. Seja como for, é aconselhável reservar pelo menos uma hora a uma hora e meia para a entrevista inicial.

No documento TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO Beck (páginas 83-85)