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EXTRAIR FEEDBACK DO PACIENTE

No documento TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO Beck (páginas 77-80)

A colaboração terapeuta-paciente normalmente envolve um esforço conjunto para identificar e avaliar cognições, desenvolver hipóteses e realizar "experimentos". Ao longo de todas essas trocas verbais, o terapeuta deve observar activamente as reacções do paciente a seu comportamento verbal e não-verbal. Esse feedback é, particularmente importante na terapia com pessoas deprimidas é um ingrediente fundamental para aumentar a aliança terapêutica. Além disso, o mecanismo de feedback deve encorajar o paciente a expressar, nas sessões, suas percepções e

sentimentos sobre a terapia, as tarefas de casa ou o terapeuta. O terapeuta dá início a esse procedimento no começo da terapia, solicitando ao paciente que manifeste seus sentimentos e avaliação da sessão em curso, da sessão anterior, das tarefas de casa etc. Os pacientes deprimidos frequentemente relutam em "falar directamente" ao terapeuta, por medo de serem rejeitados ou criticados, ou de cometerem erros. Assim, podem concordar com uma formulação simplesmente por submissão. Por isso, cabe ao terapeuta fazer um esforço adicional para eliciar os sentimentos ou desejos relativos à submissão (ansiedade acerca da rejeição, desejo de agradar) no paciente.

O "feedback" é particularmente importante dado que muitos pacientes interpretam mal as observações ou perguntas dos terapeutas, Por exemplo, após as explicações acerca de suas auto-avaliações negativas, uma paciente - quase em prantos disse, "Cheguei aqui sentindo-me deprimida. Agora, você está me dizendo que meus pensamentos não prestam, também". Apenas com o feedback pode o terapeuta avaliar se ele e o paciente estão operando no mesmo "comprimento de onda" e corrigir as más interpretações do cliente sobre seu comportamento ou suas técnicas.

O padrão para extrair esse tipo de feedback do paciente deve ser estabelecido na primeira sessão. Seguindo-se à explicação introdutória dos métodos da terapia cognitiva, o terapeuta indaga como o paciente reage ao que ele disse. Deve encorajar o cliente a continuar a dar informações sobre reacções discordantes ao longo de todas as sessões do tratamento.

Na primeira sessão, o terapeuta pode dizer:

Agora que discutimos suas emoções e pensamentos negativos, é importante saber que o mesmo tipo de reacções negativas pode ocorrer na própria terapia. Posso dizer ou fazer alguma coisa que você sinta como contundente, rejeitante ou insultuosa. Sua percepção pode ser exacta ou não. A única maneira de descobrir e verificar sua percepção comigo. Não tenho maneira alguma de saber se você experimenta esse tipo de pensamento ou sentimento, portanto você precisará dizer-me. Como poderá ver, esses relatos são extremamente valiosos para nos dar informações que ajudarão a terapia. Na verdade, esses relatos são muitas vezes o material mais valioso que obtemos no tratamento. Próximo ao final de cada sessão, vamos verificar suas reacções à entrevista e é importante que você me diga qualquer coisa que o tenha perturbado ou confundido, ou quaisquer sentimentos negativos ou desagradáveis que tenha experimentado.

Muitas pessoas deprimidas têm uma relutância especial em expressar suas percepções negativas do terapeuta. Podem pensar, "Se eu reclamar, ele não vai gostar de mim ou pode desistir do meu caso". Por essa razão, é inicialmente responsabilidade do terapeuta solicitar o feedback. Depois de algum tempo, o paciente pode começar a manifestar voluntariamente suas reacções negativas, sem ser perguntado ou incitado pelo terapeuta. De modo geral, os tipos de mal-entendidos, respostas exageradas ou

distorções relatadas pelo paciente em relação a outras pessoas têm paralelo em suas reacções ao terapeuta.

Algumas respostas cognitivas típicas expressas pelos pacientes em relação ao terapeuta incluem:

1. "Você não gosta de mim". 2. "Sou seu pior paciente".

3. "Você não pode me fazer melhorar". 4. "Você quer se livrar de mim".

5. "Você não quer ouvir meus problemas".

6. "Você vai-me hospitalizar, me dar tratamento de choque etc.". 7. "Estou aborrecendo você".

8. "Você não me compreende".

9. "Você está mais interessado em experimentar suas técnicas do que em mim". 10. “Você age como se soubesse melhor o que eu sinto do que eu mesmo". 11. "Você está sempre tentando colocar palavras na minha boca".

No início da sessão, é útil solicitar feedback sobre a última tarefa para casa e sobre a sessão terapêutica anterior. Por exemplo, "Você tem alguma opinião sobre a tarefa de casa?", ou "Você provavelmente pensou a respeito da última sessão que tivemos. Quais foram suas reacções?". Além disso, é importante buscar feedback, próximo ao final de cada sessão, sobre a própria sessão, Por exemplo, "Você tem alguma opinião ou sentimento sobre esta sessão até agora?", "Você se sente melhor ou pior do que quando começamos?".

O terapeuta deve atentar cuidadosamente para o comportamento não-verbal (por exemplo, uma mudança acentuada na expressão facial, lágrimas ameaçando brotar, alteração na modulação da voz etc.) como formas de feedback. Ao observar tais reacções não-verbais, pode indagar, com jeito, "O que estava acorrendo à sua mente agora há pouco?". Quando os pensamentos negativos automáticos são eliciados durante a sessão terapêutica, são tratados como cognições reunidas como trabalho de casa. O terapeuta gentilmente indaga sobre os estímulos que evocaram tais respostas e, possivelmente, sobre as provas ou observações que apoiam as cognições relatadas, Se forem observados erros cognitivos específicos (por exemplo, inferência arbitrária, hipergeneralização, desatenção selectiva etc.), eles podem tornar-se o foco da discussão. O terapeuta deve acautelar-se contra corrigir ou tranquilizar prematuramente o paciente. Em geral, é terapêutico orientar o paciente na reconstituição do modo como chegou à sua distorção cognitiva.

Algumas vezes, certos pacientes fazem observações ásperas sobre o comportamento antiterapêutico do terapeuta. Um paciente pode dizer, por exemplo, "Sinto que você fala demais e não me dá oportunidade de dizer o que vai na minha mente". O terapeuta deve estar preparado para admitir que é falível como qualquer

outro ser humano e poderia retrucar com uma resposta como. "Outros pacientes fizeram essa observação. Se você achar que estou falando demais, gostaria que me interrompesse ou me fizesse um sinal com a mão". Esse tipo de arranjo não apenas facilita a relação de trabalho, mas constitui-se também num estímulo para que o paciente se afirme - um antídoto eficaz contra a depressão.

No documento TERAPIA COGNITIVA DA DEPRESSÃO Beck (páginas 77-80)