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Julgamento antecipado, fracionamento do mérito e questões prejudiciais

Capítulo IV. Questões prejudiciais de mérito e ampliação dos limites objetivos da coisa julgada

4.3. Coisa julgada e questões prejudiciais: regime do CPC/2015

4.3.10. Julgamento antecipado, fracionamento do mérito e questões prejudiciais

O julgamento antecipado do processo está disciplinado no art. 355, incs. I e II, do CPC.

A primeira hipótese de cabimento é a desnecessidade de produção de outras provas além das que foram produzidas na inicial, na contestação e na impugnação. Em outras palavras, o

julgamento antecipado, na forma do art. 355, inc. I, é viável quando a prova documental, trazida na fase postulatória, for suficiente para convencer o juiz.

Com o oferecimento da resposta e a caracterização de questão prejudicial, pergunta-se se a decisão que resolvê-la será atingida pela coisa julgada. O questionamento deve ser respondido afirmativamente. O julgamento antecipado não pressupõe limitação probatória, nem restrição ao debate, de modo que a presença dos requisitos indicados no art. 503, §1º, incs. I a III, é suficiente para que a decisão sobre a questão prejudicial seja coberta pela res judicata. A premissa é a realização de contraditório prévio e efetivo, que indubitavelmente pode ocorrer com o oferecimento da contestação e da réplica, acompanhadas dos respectivos documentos. A cognição é exauriente, apta a ensejar a coisa julgada, que se estenderá também para a questão prejudicial em razão do contraditório prévio e efetivo.

A possibilidade de imutabilização da prejudicial, na hipótese de julgamento antecipado, confirma a desnecessidade de indicação da quaestio pelo juiz. A questão se constitui pelas alegações das partes, mais especificamente, pela impugnação oferecida pelo réu às alegações do autor, de modo que a identificação prévia não é necessária. Quando houver julgamento antecipado, sequer será possível advertir as partes sobre o tema prejudicial.

Se o julgamento antecipado decorrer do pedido das partes, a possibilidade de extensão da coisa julgada à decisão sobre matéria prejudicial é bastante nítida. Por outro lado, pode-se questionar se há imutabilização mesmo que as partes pleiteiem a produção de prova pericial e oral. A resposta é positiva. Ao juiz cabe decidir sobre a necessidade de produção de outras provas. Manifestando seu convencimento sobre a suficiência dos elementos probatórios produzidos pelas partes, pode julgar antecipadamente o processo. A decisão será controlada por meio de recursos, cabendo à parte sucumbente comprovar a imprescindibilidade de outras provas. Reitere-se que o julgamento antecipado previsto no art. 355, inc. I, ocorre com base em cognição exauriente, o que autoriza a estabilização das decisões sobre questões subordinantes.

Quanto à hipótese disciplinada no art. 355, inc. II, não há dificuldade para estabelecer a impossibilidade de estabilização. O dispositivo se refere ao julgamento antecipado lastreado na revelia, com a presunção de veracidade dos fatos invocados pelo autor e a ausência de requerimento probatório na forma do art. 349, do CPC. A estabilização do decisum sobre a matéria prejudicial encontra óbice no art. 503, §1º, inc. II, do CPC. Nesse caso, contudo, não haveria necessidade de previsão legal expressa sobre o tema, pois a revelia, aliada à presunção de veracidade dos fatos e ao não requerimento de provas, impede que se forme questão. Há apenas pontos e estes, como demonstrado no item 4.3.2, não se imutabilizam.

Como visto no item 2.3.1 desta tese, o CPC permite expressamente o julgamento antecipado parcial do mérito, cuja primeira hipótese de cabimento é a do pedido incontroverso (CPC, art. 356, inc. I). A incontrovérsia significa que não há questão, mas apenas ponto. A prejudicialidade, como já visto inúmeras vezes, é lógica antes de ser jurídica. Isso significa que se a questão principal é incontroversa, a prejudicial também o é. Assim, no julgamento antecipado de fração incontroversa do mérito não há questão, mas apenas ponto prejudicial. A decisão sobre pontos prejudiciais não se estabiliza (vide item 4.3.2), de modo que na primeira hipótese de julgamento antecipado parcial, sequer existe questão a ser imutabilizada.

O art. 356, inc. II, mediante expressa referência ao art. 355, incs. I e II, estabelece a possibilidade de julgamento antecipado parcial do mérito quando não houver necessidade de produção de outras provas e, ocorrendo revelia, houver presunção de veracidade e inexistir requerimento de provas do réu. Descarta-se, de antemão, a estabilização de matéria prejudicial quando houver revelia. Com efeito, atendida a hipótese do art. 355, inc. II, sequer é possível que se constitua questão. Quanto ao julgamento antecipado parcial, motivado pela desnecessidade de produção de outras provas, vale aqui o que foi dito sobre o julgamento antecipado. A suficiência da prova documental não impede a estabilização do decisum proferido sobre questão prejudicial. Assim, ocorrendo julgamento antecipado parcial por força da suficiência da prova carreada com a inicial, a contestação e a impugnação, pode haver estabilização do provimento sobre a questão prejudicial.

Também no art. 354, par. ún., faz-se referência ao julgamento antecipado parcial do mérito. O dispositivo alude aos arts. 485 e 487, incs. II e IV. O art. 485 aglutina hipóteses de extinção do processo sem resolução de mérito. Como a questão prejudicial só se estabiliza quando a que lhe é subordinada for matéria meritória, deve ser rejeitada a possibilidade de estabilização em relação a todos os temas elencados nesse dispositivo (vide item 4.3.4). Por sua vez, o art. 487, inc. III, diz respeito às hipóteses de homologação de reconhecimento do pedido, transação e renúncia ao direito sobre o qual se funda a pretensão. Nesses casos, não há questões, nem seria possível falar em imutabilização decorrente de decisão homologatória.

Todavia, à luz do art. 487, inc. II, admite-se a possibilidade de que seja reconhecida a decadência ou a prescrição de parte do mérito, circunstância a ensejar o julgamento parcial antecipado. Nesse caso é concebível que haja questão prejudicial. O réu pode invocar a inexistência da relação contratual subjacente e a prescrição da pretensão creditória. No iter decisório, para decretar a prescrição, exceção substancial indireta, deve o juiz, primeiramente, reconhecer existente a relação jurídica da qual surge a prestação exigida. Logo, é possível que

haja estabilização sobre essa questão prejudicial. O mesmo raciocínio se aplica à decadência.

Reitere-se a existência de cognição exauriente no julgamento antecipado, seja de todo o mérito, seja de parcela dele. Assim, inexistindo obstáculo ligado à profundidade da análise do juiz e se fazendo presentes os demais requisitos, é possível sustentar a ampliação dos limites objetivos da coisa julgada à questão prejudicial.

4.3.11 Redimensionamento da reconvenção e da sucumbência e possibilidade de

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