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2.11 – Meios de efetivação da tutela antecipada em ações civis

Como visto nos itens anteriores, considerando o conteúdo do provimento, adotamos a classificação ternária de tutelas jurisdicionais, no âmbito da qual são admitidas as tutelas declaratória, constitutiva e condenatória, sendo que esta última estaria a englobar as eficácias condenatória pura, mandamental e executiva lato sensu.

No que se refere às tutelas de natureza declaratória e constitutiva, vimos se tratar de espécies de provimento desprovidas de imperatividade, o que se dá em razão da primeira ser voltada à eliminação de determinada incerteza jurídica a partir de uma declaração formal do Poder Judiciário e a segunda objetivar a prolação de declaração que promova uma inovação específica na situação fática do autor. Ambas, portanto, caracterizam-se por promoverem a efetividade do processo sem a necessidade de serem realizados atos de

execução, já que não se prestam a impor condutas a serem realizadas pelo réu.

Diferentemente, os comandos de natureza condenatória são sempre dotados de

imperatividade, voltando-se ao cumprimento de determinada obrigação por parte do réu, que pode se referir ao pagamento de uma quantia em dinheiro, à realização de um fazer ou não fazer e à entrega de coisa.

Em se tratando de provimento condenatório proferido pela via da antecipação de tutela, dispõe o artigo 273, § 3.º, do Código de Processo Civil que a sua efetivação “observará, no que couber e conforme a sua natureza, as normas previstas nos arts. 588, 461, §§ 4.º e 5.º, e 461-A.” Registre-se, nesse ponto, que o artigo 588 do Código de Processo Civil foi revogado pela Lei n.º 11.232/2005, tendo sido substituído pelo disposto no artigo 475-O.

Especificamente em relação ao provimento condenatório com eficácia

condenatória pura, menos recomendada em sede de ações coletivas ambientais, caso o réu deixe de efetuar o pagamento ordenado pela decisão antecipatória, poderá o autor se valer da

Processo Civil. Tal dispositivo, vale dizer, aplica-se às ações civis públicas, ante a inexistência de previsão específica nas leis que integram o Microssistema de Processos Coletivos e por força da aplicação subsidiária da referida Lei Processual.

De importância vital para a efetividade da tutela ambiental, os provimentos que ordenam o cumprimento de obrigações específicas de fazer, não fazer e dar coisa podem revestir-se das eficácias mandamental ou executiva lato sensu, conforme for o caso.

Neste caso, é clara a intensão do legislador de impor que o próprio réu atenda ao

comando jurisdicional de forma espontânea, para o que o sistema processual prevê meios para tornar eficaz a decisão antecipatória em caso de inadimplemento.431

O mais frequente e efetivo deles consiste da imposição do mecanismo coercitivo das astreintes, oriundo do Direito francês, que tem por objetivo constranger o réu a adimplir com a obrigação determinada judicialmente, conforme se extrai do artigo 12, § 2.º, da Lei n.º 7.347/1985, do artigo 84, caput e §§ 3.º e 4.º, do Código de Defesa do Consumidor, dos artigos 461, caput e §§ 3.º e 4.º, e 461-A, caput e § 3.º, do Código de Processo Civil.

Sua vocação, portanto, é a de garantir a preferência absoluta do sistema

processual pelo resultado específico almejado pelo autor da ação – obviamente, se contar com amparo do Direito –, em detrimento da residual conversão em perdas e danos, admitida somente em caso de impossibilidade de cumprimento da tutela específica ou da obtenção do resultado prático equivalente, como previsto pelo § 1.º do artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor. Anote-se que, em sede de ação civil pública ambiental, não se admite que o autor da ação possa optar pela conversão em perdas e danos, já que, como expusemos no item “II.5.3”, a tutela material do meio ambiente ecologicamente equilibrado exige a adoção de medidas preventivas específicas, caso se pretenda evitar a perpetração de um dano, ou da medida de reparação in natura e in situ, na situação de dano já ocorrido.

Desse modo, quando da determinação específica ordenada pela decisão concessiva da antecipação de tutela, o juiz fixará prazo razoável para o seu cumprimento, sendo que, caso ultrapassado, passará a incidir multa diária até que cesse o inadimplemento.

A respeito de sua natureza jurídica, Sérgio Shimura afirma tratar-se “de multa de conteúdo processual, de cunho inibitório, intimidatório, coercitivo. Atua como meio de coação psicológica, destinado a vencer a resistência do devedor. Serve como desestimulante à recalcitrância, como se extrai dos vários dispositivos que a preveem: arts. 461 e 644, CPC, art. 12, Lei n.º 7.347/1985 (LACP, art. 84, CDC, art. 213, Estatuto da Criança e Adolescente, arts. 137 e 729, CLT). O legislador revigorou o instituto da astreintes com a finalidade de combater os óbices ao acesso à Justiça.”432

Tendo em vista que sua finalidade é de compelir o réu a atender espontaneamente a ordem emanada pelo Poder Judiciário, preservando-se a autoridade estatal e impedindo a ocorrência de atrasos prejudiciais no adimplemento de obrigações necessárias à proteção do direito versado na lide, sua natureza é essencialmente coercitiva, não se prestando a objetivos indenizatórios.433

Também por essas razões é que o valor da multa diária deve ser fixado em valor elevado, desde que suficiente e compatível com a obrigação (artigo 84, § 4.º, do Código de Processo Civil), desencorajando o réu de suas eventuais intenções de deixar de cumprir o comando judicial específico.434

Igualmente, por se tratar de medida que objetiva impedir o desrespeito às ordens emanadas pelo Poder Judiciário, a imposição de astreintes independe de requerimento expresso do autor, devendo ser fixada ex officio pelo magistrado, como estabelecem o artigo 11, in fine, da Lei n.º 7.347/1985 e o artigo 84, § 4.º, da Lei n.º 8.078/1990. Nos dizeres de Álvaro Luiz Valery Mirra, “basta, portanto, nesses casos, que o autor peça o cumprimento de uma obrigação de fazer ou de não fazer para que o juiz se veja compelido, ao julgar procedente a ação, a, por assim dizer, ‘completar’ de ofício o objeto da demanda, pela imposição de multa diária ou determinação do cumprimento da obrigação por terceiro às

432 “Tutela coletiva e sua efetividade.” São Paulo: Método, 2006, p. 107.

433 Cf. TALAMINI, Eduardo. “Tutela relativa aos deveres de fazer e de não fazer: e sua extensão aos deveres de

entrega de coisa (CPC, arts. 461 e 461-A, CDC, art. 84).” Ob. cit., p. 239.

434 Cf. NERY JÚNIOR, Nelson; e NERY, Rosa Maria de Andrade. “Código de Processo Civil comentado e

custas do responsável, como forma de constranger este último a adimplir voluntariamente o que lhe foi determinado.”435

É possível a alteração do valor da multa diária originariamente fixado na decisão antecipatória. Mas, como bem observa Eduardo Talamini, “a modificação do valor terá de estar fundamentada na mudança dos fatos que haviam ensejado sua definição originária. Por exemplo, o cumprimento de uma parte do comando judicial poderá ensejar sua diminuição. Da mesma forma, a persistência do demandado em descumpri-lo é elemento fático bastante para autorizar o seu aumento.”436

Segundo dispõe o artigo 12, § 2.º, da Lei n.º 7.347/1985, a multa diária, apesar de ser devida desde o dia em que restar configurado o inadimplemento da obrigação determinada judicialmente, somente poderá ser executada após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, o que pode retirar boa parte da eficiência concreta desse meio coercitivo.437 Em sede coletiva, o seu destino é o Fundo de Defesa de Direitos Difusos (ou o Fundo estadual respectivo), previsto no artigo 13 da Lei n.º 7.347/1985.438

Por fim, caso o réu, mesmo premido pela incidência da multa diária, continue a deixar de cumprir o comando antecipatório, prevê o artigo 84, § 5.º, do Código de Defesa do Consumidor que poderá o juiz valer-se de atos de sub-rogação como meio de efetivação da decisão, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de obra, impedimento de atividade nociva, requisição de força policial, entre outras.

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