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4.1 – Princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado

O primeiro princípio a se relacionar com o tema da antecipação de tutela é o do meio ambiente ecologicamente equilibrado. Na realidade, dada a sua vasta abrangência, trata-

60 Idem, p. 74-75.

61 Sobre o tema, Antônio Herman V. Benjamim afirma que, “no Direito Ambiental e nas outras disciplinas de

elaboração recente, ‘os princípios auxiliam a compreensão e consolidação de seus institutos’.” In: CANOTILHO, José Joaquim Gomes; e LEITE, José Rubens Morato (orgs.). “Direito Constitucional Ambiental Brasileiro.” Ob. cit., p. 117.

se de mandamento finalístico que deve servir de norte para todas as relações que envolvem o meio ambiente.

Tal princípio encontra-se expressamente previsto pela Constituição Federal, ao estabelecer, no caput do artigo 225, que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida (...).”

Comentamos nos tópicos anteriores sobre a relevância da tutela do meio ambiente pela Lei Maior, sendo certo que as disposições constitucionais sobre o tema servem como orientação de base para todo o sistema jurídico. A premissa constitucional ora em análise, relacionada ao direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, não por acaso foi prevista logo na inauguração do Capítulo VI da Carta Magna – “Do Meio Ambiente”. No escólio de Édis Milaré, “é, sem dúvida, o princípio transcendental de todo o ordenamento jurídico ambiental.”62

Denota-se disso que se trata de norma que deve nortear, em primeiro plano, a criação de normas infraconstitucionais; não apenas aquelas de conteúdo eminentemente de Direito Ambiental, mas qualquer disposição que regule atividades humanas que possam, de alguma forma, gerar efeitos sobre o equilíbrio ecológico do meio ambiente. Em outro plano, o mandamento constitucional em questão ainda tem como função guiar a interpretação e aplicação do ordenamento jurídico como um todo.

Com efeito, o princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado guarda relação direta com o direito à vida, constitucionalmente previsto no caput do artigo 5.º; tanto no que toca à necessidade de garantir qualidade de vida, como também em termos da própria sobrevivência do ser humano, dependente da promoção e manutenção do equilíbrio ecológico do meio ambiente.63

62 “Direito do Ambiente.” Ob. cit., p. 1066.

63 Sobre esta questão, Édis Milaré pontifica que “o reconhecimento do direito a um meio ambiente sadio

configura-se, na verdade, como extensão do direito à vida, quer sob o enfoque da própria existência física e saúde dos seres humanos, quer quanto ao aspecto da dignidade dessa existência – a qualidade de vida –, que faz com que valha a pena viver.” In: Idem, p. 1065. Ainda nesse sentido, Guilherme José Purvin de Figueiredo assevera: “vincula-se, portanto, referido dispositivo constitucional, ao caput do art. 5º da Carta Republicana, que elege a vida como direito humano fundamental.” In: “Curso de Direito Ambiental.” 4.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011, p. 121.

Sobre o tema, vale observar as seguintes considerações de Paulo Affonso Leme Machado:

“O Direito Ambiental tem entre suas bases a identificação das situações que conduzem as comunidades naturais a uma maior ou menor instabilidade, e é também sua função apresentar regras que possam prevenir, evitar e/ou reparar esse desequilíbrio.

(...)

A especial característica do princípio é a de que o desequilíbrio ecológico não é indiferente ao Direito, pois o Direito Ambiental realiza-se somente numa sociedade equilibrada ecologicamente. Cada ser humano só fruirá plenamente de um estado de bem- estar e de equidade se lhe for assegurado o direito fundamental de viver num meio ambiente ecologicamente equilibrado. A Constituição do Brasil, além de afirmar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, determina que incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, interditando as práticas que coloquem em risco sua função ecológica ou provoquem a extinção de espécies (art. 225, caput e seu § 1º, VII).”64

Nesse ponto, vale reiterar aquilo que foi mencionado no item “II.3” no sentido de que, ao ordenar a promoção e a manutenção do equilíbrio ecológico, o princípio em referência exige que todos os componentes ambientais devem ser objeto de proteção jurídica.

Com base nas premissas estabelecidas no tópico anterior a respeito da aplicação dos princípios, em especial no que se refere à análise do magistrado sobre se determinada conduta atende ou não o estado ideal de coisas buscada pelo princípio jurídico, temos que o princípio do meio ambiente ecologicamente equilibrado impõe que a atividade humana não cause desequilíbrio ao meio ambiente65.

É claro que, por se tratar de norma com natureza jurídica de princípio, não se pode exigir que a conduta guarde a correspondência que deve ser exigida quando se está a tratar de regras jurídicas, hipótese em que, em geral, há apenas uma possibilidade de atendimento da norma.

Essa avaliação, como apontado no tópico anterior, deve se pautar pela verificação de correlação entre os efeitos da conduta e o atendimento do estado de coisas determinado pelo princípio. Assim, ao proceder com a análise de pedidos de antecipação de tutela em

64 “Direito Ambiental Brasileiro.” 20.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 67-68.

65 Nesse sentido é a precisa lição de Paulo Affonso Leme Machado, in verbis: “Ter direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado equivale a afirmar que há um direito a que não se desequilibre significativamente o meio ambiente.” In: Idem, p. 66.

ações civis públicas ambientais, deve o julgador verificar se a conduta a ser adotada ou já realizada se coaduna com o mandamento finalístico estabelecido pelo princípio em referência.

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