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5 – Tutela civil do meio ambiente ecologicamente equilibrado

Como se sabe, a ação civil pública ambiental tem como objeto central o dano

ambiental, sendo voltada à sua prevenção e/ou à sua reparação, a partir da responsabilização

civil do agente causador da lesão. Sua vocação, portanto, é a tutela civil do meio ambiente ecologicamente equilibrado.

Dentro desse contexto, é notória a relevância de se compreender adequadamente o conceito jurídico de dano ambiental, visto que é com base nessa conceituação que se faz possível verificar se incidirão ou não consequências jurídicas nas mais diversas situações de eventos danosos ao meio ambiente. Sobre o tema, José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala assinalam que “a definição jurídica de dano ambiental apresenta relevância especial, na medida em que será útil para determinar o tipo e o âmbito das ações de reparação necessárias e, por conseguinte, os custos que devem ser reparados mediante o recurso à responsabilidade civil.”116

Mas não é só. É partindo da definição do que é considerado dano ambiental para o Direito que se pode, por exemplo, definir as medidas preventivas (lato sensu) a serem adotadas com vistas a evitar a ocorrência da prática danosa. Em suma, é baseando-se na definição do conceito jurídico de dano ambiental que se pode verificar qual a repercussão jurídica dos fatos e dos atos ambientalmente relevantes.

A despeito de sua importância, não há na legislação brasileira definição específica do conceito de dano ambiental.117-118 E talvez a ausência de previsão legal seja mesmo uma

116 “Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial.” 4.ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2011,

p. 101-102.

117 Ao contrário da legislação brasileira, a Lei argentina n.º 25.675/2002, chamada “Ley General Del

Ambiente”, em seu artigo 27, traz o conceito de dano ambiental como sendo “toda alteração relevante que modifique negativamente o ambiente, seus recursos, o equilíbrio dos ecossistemas ou os bens ou valores coletivos. Tradução livre do texto: “toda alteración relevante que modifique negativamente el ambiente, sus recursos, el equilíbrio de los ecossistemas, o los bienes o valores colectivos.”

118 O conceito de dano ambiental fornecido pelo Protocolo de Nagoya Kuala-Lumpur sobre Responsabilidade e

Compensação não deve ser seguido pelo interprete, visto que demasiadamente impreciso. Confira-se:

“Art. 2.º (...) b) Dano significa um efeito adverso sobre a conservação e a utilização sustentável da diversidade biológica, tendo igualmente em conta os riscos para a saúde humana, que:

(i) é mensurável ou observável tomando em consideração, quando estiverem disponíveis, padrões cientificamente estabelecidos, reconhecidos por autoridade competente; e

(ii) é significativo conforme descrito no § 3.º abaixo; Tradução livre do inglês para o português do seguinte texto:

opção do legislador.119 Nos dizeres de Édis Milaré, “se o próprio conceito de meio ambiente é aberto, sujeito a ser preenchido casuisticamente, de acordo com cada realidade concreta que se apresente ao intérprete, o mesmo entrave ocorre quanto à formulação do conceito de dano

ambiental. Essa, provavelmente, a razão de não ter a lei brasileira, ao contrário de outras, conceituado, às expressas, o dano ambiental.”120

O ordenamento jurídico brasileiro, no entanto, prevê os conceitos de termos relacionados ao dano ambiental, quais sejam: degradação da qualidade ambiental; poluição; e impacto ambiental.

Veja-se, inicialmente, que a degradação da qualidade ambiental é conceituada pelo artigo 3.º, inciso II, da Lei n.º 6.938/1981 como “alteração adversa das características do meio ambiente.” Não obstante denotar significado intimamente relacionado ao dano ambiental121, o referido conceito não se presta a conceituá-lo, pois, como será visto adiante, prescinde de alguns elementos que o compõem.

O conceito de poluição122 é igualmente previsto pela Lei n.º 6.938/1981, em seu artigo 3.º, inciso III, que o vinculou à noção de degradação da qualidade ambiental. Assim, de acordo com esse dispositivo, poluição é a alteração adversa das características do meio ambiente “resultante de atividades que direta ou indiretamente: prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do

“Article 2.º (...) b) Damage means an adverse effect on the conservation and sustainable use of biological diversity, taking also into account risks to human health, that:

(i) Is measurable or otherwise observable taking into account, wherever available, scientifically-established baselines recognized by a competent authority that takes into account any other human induced variation and natural variation; and

(ii) Is significant as set out in paragraph 3 below;”

119 Nesse sentido, vale conferir o que afirma Paulo de Bessa Antunes, in verbis: “Ora, se o próprio conceito de

meio ambiente é aberto, parece-me que os conceitos de dano e recuperação devem seguir o mesmo caminho, sob pena de uma incoerência lógica e formal.” In: “Dano Ambiental: uma abordagem conceitual.” Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000, p. 247.

120 “Direito do Ambiente.” Ob. cit., p. 1118. 121 Cf. Idem, p. 1605.

122 Sobre o conceito de poluição, confira-se, entre outros: MILARÉ, Édis; e BENJAMIN, Antonio Herman V.

“Estudo Prévio de Impacto Ambiental.” São Paulo: Revista dos Tribunais, 1993, p. 15-16; e ALVES, Sérgio Luis Mendonça. “Estado poluidor.” São Paulo: Juarez de Oliveira, 2003, p. 83 e seguintes. Quanto ao conceito de poluidor, vide: MIRRA, Álvaro Luiz Valery. “A noção de poluidor na Lei n.º 6.938/81 e a questão da responsabilidade solidária do Estado pelos danos ambientais causados por particulares.” In: LEITE; José Rubens Morato; e DANTAS, Marcelo Buzaglo. Aspectos processuais do Direito Ambiental. 3.ª ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010, p. 02 e seguintes.

meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos.” Ao sintetizar essas características, José Afonso da Silva propõe considerar como poluição “qualquer modificação das características do meio ambiente de modo a torná- lo impróprio às formas de vida que ele normalmente abriga.”123

Por sua vez, o conceito de impacto ambiental é fornecido pelo artigo 1.º da Resolução CONAMA n.º 01/1986, consistindo em “qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: a saúde, a segurança e o bem-estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; a qualidade dos recursos ambientais.” Vale destacar que, apesar da divergência doutrinária124, entendemos que o conceito de impacto ambiental abrange tanto as alterações negativas, quanto as positivas; e não apenas as negativas.125 A uma, porque o termo “afetam”, presente no dispositivo transcrito, não é suficiente para restringir o referido conceito apenas aos efeitos negativos; a duas, porque a própria Resolução CONAMA n.º 01/1986, em seu artigo 6.º, inciso II126, menciona expressamente a abrangência de impactos ambientais como negativos e positivos.

Sob esse contexto, afinal, o que o Direito considera como dano ambiental?

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