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5.1.2 – O conceito jurídico de dano ambiental: lesão ao direito

e/ou ao bem ambiental em si considerado

No caso do dano ambiental, para que se verifique sua ocorrência, mister seja violado o direito da coletividade ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ou seja causada lesão ao bem ambiental em si considerado, com proteção jurídica conferida pelo já mencionado artigo 225, caput, da Constituição Federal.

Sobre o tema, interessante observar as elucidações de Érika Bechara, assim vazadas:

127 “Curso de Direito Administrativo.” Ob. cit., 1037.

128 “Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial.” Ob. cit., p. 93.

“Com a compreensão do conceito de dano, podemos concluir que dano ambiental é a agressão ao meio ambiente, i.e., aos componentes ambientais do ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho, que lesa o direito da coletividade ao ‘meio ambiente ecologicamente equilibrado’. Por assim dizer, produz alterações no meio ambiente que afetam o equilíbrio ecossistêmico ao qual toda a coletividade faz jus. O dano ambiental, como todos os danos jurídicos, está sempre ligado ao aniquilamento de um direito.”130

“Dessa forma, o ataque a elementos corpóreos e incorpóreos do meio ambiente natural, artificial, cultural e do trabalho, com resultado lesivo e comprometedor do direito da coletividade ao ambiente saudável, configura, em nossa visão, dano ambiental.”131

“Não é qualquer incômodo ou pequena alteração no ambiente que configura dano ambiental, entendido este como a lesão ao direito da coletividade ao equilíbrio ecológico. Dano ambiental, portanto, não é sinônimo de alteração ambiental, mas sim de comprometimento do equilíbrio ambiental.”132

Esse também é o sentir de Anderson Furlan e Willian Fracalossi, para quem “o dano ambiental, nesta perspectiva legal, pode então ser entendido como qualquer degradação do meio ambiente que possa afetar seu equilíbrio, prejudicando o homem e/ou a natureza. É o mal causado ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.”133

Álvaro Luiz Valery Mirra igualmente entende que “o dano ambiental consiste na lesão ao meio ambiente como bem de uso comum do povo, assim definido na Constituição Federal, e na violação do direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, como direito humano fundamental, de natureza difusa, igualmente consagrado na Carta Magna (art. 225, caput).”134

Diante desse contexto, a doutrina tem elencado dois elementos caracterizadores do dano ambiental, juridicamente considerado: a anormalidade e a gravidade.135 Sobre o tema, valemo-nos novamente dos ensinamentos de Érika Bechara:

130 “Licenciamento e compensação ambiental.” Ob. cit., p. 50. 131 Idem, p. 57.

132 Idem, p. 69.

133 “Direito Ambiental.” Ob. cit., p. 498. (destacamos)

134 “Responsabilidade civil pelo dano ambiental e o princípio da reparação integral do dano.” In: NERY

JÚNIOR, Nelson; e NERY, Rosa Maria de Andrade (orgs.). Doutrinas essenciais: responsabilidade civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2010, v. VII, p. 437-438.

135 Especificamente sobre a gravidade do dano, José Rubens Morato Leite e Patryck de Araújo Ayala assinalam

que “há, assim, que se avaliar quando se faz surgir a quebra de equilíbrio da qualidade ambiental, quer na capacidade atinente ao ecossistema, quer na sua capacidade de aproveitamento ao homem e a sua qualidade de vida, isto é, o exame da gravidade do dano ambiental é elemento necessário para a reparação.” In: “Dano ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial.” Ob. cit., p. 104.

“A anormalidade e a gravidade do incômodo ambiental – e, consequentemente, a configuração do dano ambiental – estão relacionadas aos limites de tolerância estabelecidos ora pelas normas jurídicas, ora pelos padrões conhecidos ou aceitos pela comunidade científica.

Isso porque há que se tolerar certas alterações ambientais decorrentes das atividades humanas, uma vez que as atividades humanas, por sua natureza, são modificadoras do ambiente. Mas até um determinado limite!

Como se põe a explicar José Rubens Morato Leite, ‘dado que o homem só desenvolve sua atividade em sociedade, em íntima relação com o meio ambiente, é lógico que sua ação pode ser fonte de perturbações’, fazendo-se necessário, por esta razão, o estabelecimento do momento exato em que o homem deixa, com sua atividade, de usar o meio ambiente para abusar dele. Neste abuso reside a ultrapassagem do limite de tolerância e a configuração da anormalidade e gravidade do incômodo e, também, do próprio dano ambiental.”136

Poder-se-ia concluir, então, que o atendimento aos padrões técnicos estabelecidos pela legislação resultaria na não ocorrência de dano ambiental. Na grande maioria dos casos, de fato, essa assertiva se mostra verdadeira. Mas essa não é uma premissa válida para todas as situações.

Vejamos o seguinte exemplo: a Resolução CONAMA n.º 357/2005, complementada pelas Resoluções CONAMA n.º 410/2009 e n.º 430/2011, estabelece as condições e os padrões de lançamento de efluentes em corpos d’água. A lógica da referida norma é simples. Com base em estudos técnicos, restaram definidos os parâmetros de lançamento de efluentes com os quais, teoricamente, não são alterados a qualidade e o equilíbrio do corpo d’água. Contudo, se uma empresa causar danos a determinado rio através do lançamento de seus efluentes, esse fato enseja a sua responsabilização civil, ainda que estejam sendo atendidos os padrões da dita Resolução CONAMA n.º 357/2005.

Sim, porque, como já mencionado, a responsabilidade civil ambiental, com a adoção das teorias objetiva e do risco integral, independe da licitude da conduta, bastando a presença do dano e do respectivo nexo de causalidade, seus pressupostos caracterizadores. É o que ensina a melhor doutrina. Confira-se:

“Ainda que haja autorização da autoridade competente, ainda que a emissão esteja dentro dos padrões estabelecidos pelas normas de segurança, ainda que a indústria tenha tomado todos os cuidados para evitar o dano, se ele ocorreu em virtude da atividade do poluidor há o nexo causal que faz nascer o dever de indenizar”.137

136 “Licenciamento e compensação ambiental.” Ob. cit., p. 72-73.

137 NERY JÚNIOR, Nelson; e NERY, Rosa Maria de Andrade. “Responsabilidade civil por dano ecológico e a

“Nem sempre os parâmetros oficiais são ajustados à realidade sanitária e ambiental, decorrendo daí que, mesmo em se observando essas normas, as pessoas e a natureza sofrem prejuízos.”138

Nesse ponto, importante esclarecer que os elementos da anormalidade e da

gravidade indicados por parte da doutrina para a caracterização do dano ambiental devem, na realidade, ser compreendidos no sentido de alterações não insignificantes e que não chegam a afetar os componentes do bem ambiental; são aquelas alterações que o meio ambiente e seus elementos têm a capacidade de absorver rapidamente e sem a ocorrência de lesão, decorrentes da própria natureza das coisas.139

A bem da verdade, portanto, ao se falar em gravidade e anormalidade, não se está a conceituar o dano ambiental como apenas aquela lesão significativa; os termos em referência querem denotar as alterações consideradas não insignificantes. Nada mais lógico, uma vez que as alterações não insignificantes, na acepção aqui considerada, não geram lesão alguma; e senão não há lesão, como visto acima, também não há dano.

Portanto, em uma conceituação parcial e preliminar, com base nos elementos até aqui verificados, temos que, para o Direito, dano ambiental é a lesão grave e anormal (não

insignificante) ao direito fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado ou ao bem ambiental em si considerado, de modo que qualquer intervenção que resulte em desequilíbrio ambiental deve ser tida, juridicamente, como atividade danosa.

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