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Neoliberalismo e o Capitalismo Financeiro

No documento Paula Angela de Figueiredo e Paula (páginas 57-66)

1. O CAPITALISMO E A ESTRUTURA DE SEUS DISCURSOS

1.8 Neoliberalismo e o Capitalismo Financeiro

Em geral, o neoliberalismo é definido como um movimento político econômico heterogêneo, consolidado nos países capitalistas desenvolvidos em meados da década de 70 com Margareth Thatcher na Inglaterra e Ronald Reagan nos EUA, cuja proposta econômica significa o retorno aos princípios ortodoxos do liberalismo, ou seja, às propostas da economia clássica como única alternativa de superação da crise pela qual passavam essas sociedades.

Para Villarreal (1986 apud BIANCHETTI, 2005) o neoliberalismo é para a teoria econômica uma “contrarrevolução monetarista” que propõe o desmantelamento das instituições sociais criadas pelo modelo do Estado de Bem-estar Social, como também das que se derivam da aplicação das propostas keynesianas e neokeynesianas, ou seja, daquelas instituições reguladoras do mercado que tem por finalidade reduzir os riscos derivados das flutuações que se produzem no funcionamento do livre mercado.

Para Hayek (1985 apud BIANCHETTI, 2005), a crise econômica dessas sociedades só aconteceu porque as mesmas abandonaram o caminho da evolução “natural” das instituições sociais, por ceder às pressões das ideias igualitárias. Para esse autor, um dos mais influentes do pensamento neoliberal, as sociedades devem retomar seu desenvolvimento realizando um ajuste estrutural sobre a base do modelo econômico neoclássico, por considerar que esse modelo seja a manifestação objetiva das relações naturais entre os homens. Essa é a ideia básica do pensamento clássico do liberalismo, segundo o qual as relações econômicas de mercado são a única forma de distribuição dos bens, que mantêm o equilíbrio entre a demanda crescente e uma oferta limitada pelas possibilidades da própria natureza.

33 No caso do Haiti, em janeiro de 2010 vimos a comunidade internacional se concentrar na campanha humanitária de recolhimento de dinheiro para o socorro às vitimas do terremoto, mas a questão política por trás da pobreza do pais não foi amplamente discutida nem divulgada, pois colocaria às claras as relações predatórias dos países ricos para com o Haiti, que forçaram o país a contrair uma dívida impagável, paralisando sua condição de desenvolvimento social. A ajuda verdadeira, nesse caso, seria a do perdão de sua dívida pelos países credores, tal como o Ministro das Relações Exteriores do Brasil Celso Amorim defendeu no último Fórum Mundial Econômico, realizado em janeiro de 2010 em Davos, na Suíça.

A partir da década de 1950 do século XX houve uma expansão de desenvolvimentos teóricos de base utilitarista que serviram ideologicamente para a aplicação da metodologia econômica de mercado ao terreno das opções não mercantis, tais como na proposta de reformulação das instituições sociais, do direito e da política (BIANCHETTI, 2005, p. 27-28).

No pensamento neoliberal há uma utilização das categorias econômicas para analisar as relações sociais, o Estado e a política. A centralidade do econômico, como estruturador das relações sociais, define as características e limites das propostas políticas, as quais se consideram derivadas das primeiras e regidas pela lógica (BIANCHETTI, 2005, p. 26).

O neoliberalismo pretende converter-se no fundamento de uma nova ordem internacional, reformulada a partir das novas condições do desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o que implica, para o resto dos países, em uma nova forma de domínio sobre aqueles que não desenvolvem o controle do mecanismo de produção de conhecimento (BIANCHETTI, 2005, p. 27).

A terceira fase do capitalismo é também nomeada como monopolista, e têm no sistema bancário, nas grandes corporações financeiras e no mercado globalizado, as molas mestras de seu desenvolvimento. Iniciada no final da década de 1960 do século XX está completamente atrelada ao poder do capital das instituições financeiras. Alguns cientistas sociais ingleses, tais como Lash e Urry (1987 apud SANTOS, 2005, p. 79), designam-na capitalismo desorganizado. José Luiz Aidar Prado (2005, p. 99) a chama de informacional multiculturalista em contraposição ao capitalismo fordista produtivista; o economista francês Frédéric Lordon (2010, p. 28-29) a intitula capitalismo acionário. De acordo com Hudson (2009), foi em 1910, nos Estados Unidos, que o socialista Rudolf Hilferding cunhou a expressão “capitalismo financeiro”, para dizer que as relações pecuniárias, com sua estrutura financeira e monetária, distorceram o sistema econômico, afastando-o do modo como deveria ser racionalmente gerido por engenheiros.

Diferente do século XIX, quando os proprietários de pequenos parques de máquinas iam se apropriando gradualmente do excedente produzido por um número crescente de trabalhadores até se tornarem capitalistas, a apropriação do excedente no capitalismo monopolista se dá por uma classe dirigente cujo único mérito é ter boas relações com o Estado ou com os bancos. Os grandes monopólios usam muito de determinadas estratégias para se apropriar do excedente produzido pela classe trabalhadora, como controlar o mercado através de acordos lucrativos com outras empresas, através do monopólio de certas tecnologias, ou ainda através da localização solitária em uma região. Assim, conseguem lucros mais elevados, o que lhes permitem adquirir mais fatores de produção para reinvestir e

se expandir, de maneira que quando pagam sua dívida junto ao órgão financiador, o fazem sem tocar em seu próprio capital.

Por outro lado, é importante destacar que, sob a perspectiva econômica, a capacidade de consumo da sociedade acabou colocando em crise o capitalismo de produção estruturado no sistema fordista. Isso porque a exigência crescente de consumo, a obsolescência programada da mercadoria e a orientação da competição comercial para a mínima diferença entre os produtos, exigem do sistema produtivo um ritmo e uma flexibilidade que a rigidez da produção serializada em linhas de montagem não é capaz de acompanhar.

Dois aspectos nos chamam a atenção quando analisamos o sistema financeiro e as mudanças culturais que encontramos a partir da década de 1950, quando a produção precisava acompanhar o crescimento da demanda de consumo. O primeiro se refere ao fato do sistema monetário e financeiro ter disponibilizado o crédito indiscriminadamente, de maneira que a relação entre o dinheiro e a base produtiva real da economia se perdeu. A disponibilidade de crédito para grandes empreendimentos privados, muitas vezes com a utilização de recursos e de financiamento do Estado, favoreceu a apropriação do capital por quem não o produziu (tal como Marx teorizou com a extração da mais-valia através do trabalho produtivo), sofisticando-se de uma maneira tal que se tornou difícil indicar em qual momento a extração da mais-valia acontece. O segundo aspecto diz respeito ao valor que a dívida tomou neste sistema, de maneira a se transformar em um tipo de capital inexorável, porque tem a capacidade virtual de se deslizar metonimicamente pelo sistema.

Se o pensamento econômico, desde seus primórdios, via como um problema a tendência da dívida a crescer, excedendo a capacidade das economias de pagá-la e de produzir bens, a economia moderna assume que o dinheiro é apenas “um véu”, não intervindo nos processos econômicos. Embora os processos sejam sofisticados, o que está por baixo das complexas operações financeiras é a luta nua e crua pelo excedente produzido pelo trabalho de toda a coletividade de trabalhadores. O fato é que os impostos recolhidos pelo Estado (que na verdade são o grosso do excedente social produzido) se tornam um capital que vai parar nas mãos de quem não o produziu.

Quanto à constituição de dívidas que se tornaram impagáveis, Hudson (2009) nos diz que algumas delas se iniciaram na I Guerra Mundial como resultado do Tratado de Versalhes, que atrelou a Alemanha e os aliados às dívidas com os Estados Unidos da América. Para além de seu crescente poderio econômico-militar, os EUA se transformaram em grande potência, por manejar a dívida ao longo de século XX. A Alemanha desnudou sua economia na tentativa de pagar a reparação da guerra e os Aliados viram-se amarrados à surpreendente

exigência americana do pagamento das armas que eles haviam fornecido, o que obrigou a Inglaterra e a França a seguirem uma linha dura na economia.

Após a I Guerra Mundial, os economistas teóricos ainda insistiam que as economias eram capazes de satisfazer qualquer volume de pagamento de dívida ou de transferência de capital. As suas mal orientadas políticas foram contrabalançadas por John Maynard Keynes na Inglaterra e Harold Moulton nos EUA, que reconheceram haver limites para a capacidade de pagamento de dívidas. Os governos não responderam aos seus alertas, e o primeiro insucesso foi o da Conferência Econômica de Londres, tornando a Grande Depressão inevitável (HUDSON, 2009).34

Depois da II Guerra Mundial, a hegemonia norte-americana se consolidou com a Conferência de Bretton Woods, em 1944,35 pois ali se acordou, em documento firmado em 22 de julho de 1944, que o dólar seria a principal moeda de reserva mundial, em paridade com o padrão-ouro.36 Dentro do acordo havia o compromisso de instituir um fundo encarregado de dar estabilidade ao sistema financeiro internacional e um banco responsável pelo financiamento da reconstrução dos países atingidos pela destruição e pela ocupação. De acordo com Kennedy (1988), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, ou simplesmente World Bank (Banco Mundial), foram apelidados de Pilares da Paz.

Vamos nos concentrar um pouco nas consequências mundiais desse acordo para entendermos que a crise monetária e financeira deflagrada em 2008 é um fenômeno da série dos efeitos do seu colapso. O problema básico a se solucionar em Bretton Woods era a

34 A Conferência Econômica e Monetária organizada em Londres, em 1933, reuniu as delegações de 66 países durante seis semanas em busca de soluções para a alta do desemprego, a queda do nível de vida e a letargia do comércio mundial. Os Estados Unidos e a Europa tinham visões diferentes da situação e o que cada país tinha que fazer frente a sua situação nacional, na busca de uma solução internacional. Foi uma mensagem de Roosevelt que marcou a conferência, quando afirmou que não queria um acordo de estabilização das taxas de juros, provocando, em 27 de julho, o bloqueio do encontro. Como consequência, a recessão da época se prolongou durante anos. Em abril de 2009, os dirigentes dos países desenvolvidos e dos emergentes (G-20, criado desde 1999) se reuniram para tratar da crise financeira mundial, temendo uma eventual divergência entre a América e a Europa no que concerne a resolução da crise através de grandes investimentos públicos. O presidente Barack Obama abordou a questão do escândalo dos bônus pagos a banqueiros, afirmando que as recompensas passariam a ser pagas com base no crescimento efetivo, e que os acordos fechados durante o G-20 iriam evitar que o mesmo acontecesse no futuro. Não foi isso que vimos acontecer em janeiro de 2010.

35 Durante três semanas de julho de 1944, do dia 1 ao dia 22, 730 delegados de 44 países do mundo então em guerra reuniram-se no Hotel Mount Washington, em Bretton Woods, New Hampshire, nos Estados Unidos, para definir uma Nova Ordem Econômica Mundial. Foi uma espécie de antecipação da Organização das Nações Unidas (ONU, fundada em São Francisco no ano seguinte, em 1945) para tratar do capital financeiro. A reunião centrou-se ao redor de duas figuras chave: Harry Dexter White, Secretário-Assistente do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos e Lord Keynes, o mais famoso dos economistas, representando os interesses da Grã-Bretanha, que juntos formavam o eixo do poder econômico da terra inteira (KENNEDY, 1988).

36 O que define uma economia como dominante é quando a sua moeda se torna uma moeda internacional, servindo de parâmetro ou de reserva financeira para outros países.

restauração do comércio entre as nações para facilitar a reconstrução da infraestrutura econômica da Europa devastada pela guerra. A paridade cambial visava garantir estabilidade para investimentos de longo prazo, favorecendo as relações comerciais entre os países.37

Segundo Kennedy (1988), o valor do dólar em Bretton Woods resultava do fato de que, naquele momento, os EUA possuíam um brutal lastro de ouro equivalente a 65% da reserva mundial. Mediante esse padrão, um Banco Central de um país filiado ao FMI podia emitir moeda numa taxa definida pelas suas reservas tanto em ouro quanto em dólar. O dólar funcionou durante um quarto de século, até o final da década de 1960, como um substituto para o ouro. O resultado do acordo foi a transferência de um parque produtivo, fruto do trabalho do operariado europeu, que passou para as mãos americanas em troca de simples papel.38 A expansão global dos bancos norte-americanos também contribuiu para o fortalecimento financeiro dos Estados Unidos. Juntamente com a globalização da economia veio a globalização cultural, com a crescente participação das empresas norte-americanas no exterior, em especial na Europa e em alguns países como o Brasil e o México. Por fim, Hudson (2009) também aponta a descolonização da África e da Ásia como aspectos que impuseram dificuldades econômicas aos países europeus.

Os investimentos internacionais cresceram em volume, pois, além dos Estados Unidos, as antigas potências europeias, que estavam se recuperando da crise criada pelos desastres da guerra, também começavam a se expandir. Entretanto, o domínio mundial estadunidense é evidenciado pelo seu controle de mais da metade dos investimentos internacionais e pelo elevado número de filiais das transnacionais. A tendência de monopolização do capitalismo foi acelerada, fato que também pode ser observado nos programas de privatização que se intensificaram na década de 1980, envolvendo mais de 100 países do mundo e movimentando trilhões de dólares (HUDSON, 2009).

Kennedy (1988) nos conta que os bancos centrais dos países-membros do FMI podiam tomar os dólares que tivessem se acumulado e trocá-los por ouro na Reserva Federal de Nova Iorque, pois era lá que as barras de ouro permaneciam fisicamente. Só então o ouro era

37 O dólar norte-americano foi congelado até 1971, valendo 0,88 gramas de ouro puro. Esperava-se com isso encorajar os outros governos a não desvalorizarem suas moedas simplesmente imprimindo mais papel, medida muito tentadora no pós-guerra imediato, mas que causaria déficits colossais e adiaria a tão almejada estabilidade. A garantia do câmbio fixo acelerava a retomada do comércio internacional, mas dava aos EUA total superioridade nas negociações (KENNEDY, 1988).

38 O sistema está descrito com detalhes em O Desafio Americano de Jean Jacques Servan-Schreiber, e levou na época à conhecida declaração de De Gaulle: “Nós os pagamos para que nos comprem”. Quando De Gaulle começou a trocar os dólares da França por ouro, conforme aos acordos de Bretton Woods, os Estados Unidos constataram que tinham emitido muito mais dólares do que lastro em ouro (que se tinham comprometido a manter), e denunciaram o acordo, no maior calote já visto no planeta (HUDSON, 2009).

creditado e registrado para a conta do respectivo banco central membro. Antes de 1965, o montante de tais transações era relativamente pequeno, mas depois da denúncia do presidente francês Charles De Gaulle sobre o “privilégio exorbitante” usado pelos EUA para imprimir os dólares, que permitiam que as companhias norte-americanas comprassem companhias europeias, a política da França mudou. Ao invés de aplicar o seu saldo de dólares em títulos do Tesouro Americano, como era comum, o Banco de França, e em seguida o Banco da Inglaterra, começaram a pedir a troca de seus dólares por ouro na Reserva Federal, pela primeira vez em quantias avassaladoras (KENNEDY, 1988).

De acordo com Kennedy (1988), em 4 de fevereiro de 1965, o governo francês pediu a troca do padrão ouro-dólar estabelecido em Bretton Woods e o retorno ao padrão ouro puro do século XIX, porque já tinha acumulado imensas reservas de ouro. A França estava numa posição excelente para propor a reavaliação do preço do ouro em torno de 100%, e uma nova base monetária que não carregasse a estampa de nenhum país em particular.

Washington argumentou que o maior beneficiário, além da África do Sul, seria a União Soviética, que sendo o segundo maior produtor mundial de ouro ficaria em posição confortável em plena guerra fria, mas a França não se impressionou com a arenga americana. De Gaulle ordenou imediatamente a conversão de 300 milhões de dólares, uma soma considerável naquela época, trocada pelo Banco de França na Reserva Federal de Nova Iorque. Daí em diante, a França começou a trocar mensalmente seus dólares por ouro norte- americano (KENNEDY, 1988).

A partir de 1963, as dez principais economias industriais do ocidente, lideradas pelos EUA, concordaram em colocar as reservas de ouro num consórcio para sustentar a paridade estabelecida por Bretton Woods, vendendo, quando necessário, suas reservas de ouro desse consórcio no mercado de Londres. Entretanto, quanto mais ouro era ofertado em Londres, mais os especuladores compravam, sinalizando que o câmbio fixo de Bretton Woods estava nos estertores finais. Em junho de 1967, De Gaulle, unilateralmente, retirou a França do consórcio de ouro de Londres, enfraquecendo-o significativamente (KENNEDY, 1988).

No final de 1967, a inflação norte-americana, causada principalmente pelas despesas colossais advindas da impopular guerra do Vietnã, bem como pelos déficits crônicos no balanço de pagamentos, cresceu dramaticamente. As economias da Alemanha, do Japão e da França, pelo contrário, estavam experimentando um “boom” nas suas exportações e apresentavam superávits nos seus balanços de pagamento.

Durante um período de seis meses, de outubro de 1967 até a desvalorização da libra em abril de 1968, os países aderentes àquele sindicato de ouro foram forçados a vender algo

em torno de 3,5 bilhões de dólares em ouro para acalmar os especuladores que aguardavam a quebra do sistema de Bretton Woods, fazendo com que os EUA perdessem 20% de suas reservas de ouro (KENNEDY, 1988).

Finalmente, em março de 1968, o pool de ouro oficial foi dissolvido, começando assim a flutuação esquizofrênica da compra e venda de ouro, pois, enquanto o mercado privado se tornava livre, os bancos centrais ainda mantinham a paridade dos 35 dólares por onça (um dólar = 0,88 gramas de ouro). No final de 1969, a economia americana ingressou numa brutal recessão, o que acabou transformando os EUA, da situação de maior credor para a de maior devedor mundial (KENNEDY, 1988, p. 498-500).

Em 1970, a administração Nixon e a Reserva Federal afrouxaram a política monetária com taxas de juros mais amenas para estimular o crescimento doméstico. Em 1971, como a recessão piorava e Nixon se via frente a uma difícil campanha para sua reeleição, a inflação e o dinheiro fácil da Reserva Federal foram incrementados por pressão da Casa Branca. O presidente necessitava, para sua reeleição em 1972, de baixas taxas de juros e do aumento do suprimento de dinheiro para estimular uma economia cambaleante.39

Kennedy (1988) escreve que, para evitar novos ataques às reservas de ouro norte- americanas, Nixon anunciou ao mundo, em 15 de agosto de 1971, que a Reserva Federal dos EUA não honraria suas obrigações, baseadas no Tratado de Bretton Woods, de trocar dólares por ouro. De acordo com Kennedy (1988), esse foi o maior calote internacional de todos os tempos. A medida fazia parte de um Novo Programa Econômico, que incluía um congelamento de preços e salários, uma sobrecarga de 10% nas importações e cortes em impostos; ao mesmo tempo, deveria controlar a inflação e o déficit na balança de pagamento dos EUA.

Na década de 1960 começou a erosão do modelo de industrialização, pois tanto o padrão tecnológico quanto o modo de regulação não mais garantiam o regime de acumulação. E isso se verificou mediante uma circularidade, ou seja, porque a produtividade diminuía em virtude de uma queda na lucratividade, esta levava, por sua vez, a uma queda na taxa de

39 O torrencial fluxo de dinheiro levou a uma fuga de fundos de curto prazo para fora dos EUA. Essa fuga de capitais alcançou 6.5 bilhões de dólares em 1970 e atingiu a cifra alarmante de 20 bilhões em 1971. O déficit orçamentário seguiu as mesmas pegadas: 10 bilhões em 1970 e 30 bilhões em 1971. O custo da reeleição estava se tornando alucinante. Assim, em agosto de 1971, as reservas oficiais de ouro dos EUA chegaram à metade das de 1958. Algo mais alarmante, contudo, estava por vir, pois para cobrir os passivos externos dos EUA, as reservas representavam somente 25% do total das futuras exigências sobre o ouro americano pelos bancos centrais estrangeiros abarrotados de dólares. Teoricamente, se todos os bancos centrais exigissem ouro pelas suas reservas de dólares, os EUA quebrariam. Era o começo do colapso da paridade de Bretton Woods. Não foi “decretada” a falência dos EUA, nessa ocasião, pelas consequências que traria a todo o sistema (KENNEDY, 1988).

acumulação. A reação inicial se deu via internacionalização da produção, procurando-se, nos países periféricos, mão de obra barata para garantir a margem de lucratividade. Essa estratégia de produzir em locais onde a mão-de-obra é mais barata (tanto seu preço por hora quanto os

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