• Nenhum resultado encontrado

1 AS DIMENSÕES (GERAÇÕES) DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS E O FENÔMENO ECONÔMICO

2 CORRELAÇÃO ENTRE OS SISTEMAS ECONÔMICOS E AS DIMENSÕES DE DIREITOS FUNDAMENTAIS

2.2 O INTERVENCIONISMO E OS DIREITOS DE SEGUNDA GERAÇÃO

A vigência do sistema de cunho liberal durante cerca de 150 anos trouxe, a par de um grande desenvolvimento em termos de disponibilidade crescente de bens e serviços, uma série de conseqüências negativas, cuja explicação redundou em refinamento na própria análise e no estudo das instituições econômicas.

Assim assinala Nusdeo (2000, p. 208-209), verbis:

Durante século e meio aproximadamente, predominou a doutrina liberal-utilitarista, muito embora nos últimos 50 anos sob forte assédio do socialismo coletivista. Entre os anos 20 e 30, ganha terreno a chamada social-democracia ou intervencionismo, no mundo ocidental, enquanto na Europa oriental e em algumas nações asiáticas ensaiava-se o regime de índole coletivista-estatal. Já a última década do século assiste a um refluir das soluções socializantes de diversas vertentes, com o remontar da maré liberalista, voltada a conter o Estado dentro de limites mais acanhados, ao que se tem chamado de

Estado mínimo. Privatização e desregulamentação têm-se constituído

em balizas fundamentais no plano interno, com a globalização, querendo significar a livre circulação internacional de produtos e fatores, a complementá-las no plano internacional (grifo nosso). Evidencia-se, pois, que, no plano econômico, se podem visualizar, claramente, dois sistemas econômicos que se contrapõem ao liberalismo com diferentes graus de intervenção estatal: o intervencionismo em sentido estrito (economia de mercado com ajustes) e o

socialismo (economia em que o Estado é o proprietário exclusivo dos meios de produção).

Assim, ao Estado Social, Estado promotor do bem-estar, já analisado anteriormente, correlacionam-se os sistemas econômicos intervencionistas, enquanto que ao Estado Liberal, Estado não intervencionista, correlaciona-se o sistema econômico liberal.

dez anos da Monarquia, que precedem a proclamação da República em 1889 e vai até a promulgação da Constituição de 24 de fevereiro de 1891. Para ele, “[...] nessa fase, o Estado brasileiro, independente em 1822, fundado na herança do sistema administrativo e político português, vai tentar definir-se como instituição política moderna. Trata-se de uma importante transição, em que os atores sociais são ultrapassados pelos acontecimentos, e os discursos começam a ter uma difusão na sociedade jamais alcançada anteriormente, ultrapassando mesmo a intenção de seus emissores. Pela primeira vez, notadamente na discussão das eleições diretas e da abolição, o discurso político atingiria, muito além do então restrito espaço público, camadas mais profundas da sociedade. É praticamente o nascimento da política moderna e da ideologia no Brasil.

Assim, a Constituição passa a atribuir ao Estado Social diferentes funções na organização do processo econômico, que podem ser agrupadas em dois grandes tipos: Estado

como empresário (produtor ou distribuidor de bens ou de serviços) e Estado como regulador (condiciona, fiscaliza, planeja e promove as atividades de terceiros e, muitas vezes,

em braços do próprio Estado) (SANTOS; GONÇALVES, 1997, p. 70).

Quando o Estado produz ou distribui bens ou serviços, concorre com os agentes econômicos privados de forma direta. Por outro lado, no momento em que regula, condiciona positiva (incentivando) ou negativamente (proibindo ou onerando) a atividade de terceiros na qualidade de agente externo do mercado.

Em resumo, nas duas formas, o Estado intervém na economia, seja direta ou indiretamente.

Na época liberal, as poucas intervenções diretas dos Estados na produção de bens e de serviços restringiam-se aos investimentos em infra-estrutura (SANTOS; GONÇALVES; MARQUES, 1997, p. 165).

A atividade econômica do Estado entendia-se, então, como excepcional. Era distinta, por natureza, da função própria do Estado-legislador e do Estado-juiz e do Estado- administrador da coisa pública. À luz da doutrina liberal, os poderes públicos deveriam abster-se de atuar como agentes econômicos sob pena de falsearem as leis do mercado.

As circunstâncias fáticas, entretanto, levaram a uma nova configuração do papel do Estado, em face das situações não protegidas pelas leis do mercado. No campo teórico, o grande economista inglês Keynes mostrou ser perfeitamente possível haver o equilíbrio da oferta e da procura no nível de subemprego, o que justificava a ocorrência da grande depressão de 1929, iniciada nos Estados Unidos e estendida para todo o mundo, inclusive para o Brasil que, durante muitos anos, passou a queimar café como forma de aliviar os estoques, em face da diminuição da demanda por esse produto (NUSDEO, 2000, p. 141).

Assim, as leis de mercado ocasionavam sérios efeitos negativos no campo social e econômico. Não haveria forças automáticas de mercado, aptas para ajudar a economia a sair do subemprego e voltar a aproximar-se do pleno emprego.

Ainda na década de 30, Keynes lança a teoria revolucionária do déficit sistemático das contas públicas como mecanismo de estímulo a atividade econômica em períodos recessivos.

Keynes (apud NUSDEO, 2000, p. 142) ilustrava a sua idéia com exemplo aparentemente estapafúrdio:

[...] se o governo numa época de depressão contratar duas equipes de operários, incumbindo a primeira de abrir buracos e a segunda de fechá-los, isto parecerá inócuo e absurdo sob o ponto de vista físico, mas terá um sentido altamente salutar sob o ponto de vista econômico (macroeconômico). Por quê? Pela simples razão de tanto os trabalhadores do primeiro grupo, quanto os do segundo passarem a receber algum salário a ser gasto em compras. Estas, por sua vez, estimularão o comércio, que voltará a colocar encomendas junto à indústria, a qual contratará empregados (ou deixará de despedi-los) para atendê-las e, ainda, comprará matérias-primas a serem transportadas e assim, sucessivamente, as engrenagens da produção e do emprego irão se reativando.

Keynes visualizou que o mercado, de forma pura, pode ocasionar momentos desconfortáveis para o sistema econômico e social, na noção de “pleno emprego”,

“subemprego” e da necessidade de intervenção estatal, inclusive sem lastro econômico (“déficit sistemático das contas públicas”).

A ação estatal de combate à recessão significou a intervenção do Estado na economia, com ênfase, em primeiro momento, na função de Estado-produtor e, também, na de agente regulador (por exemplo: na edição de legislação social garantidora dos direitos trabalhistas e previdenciários). Nesse contexto, os direitos de segunda geração podem ser vistos como reflexo da intervenção estatal na economia.

As falhas do mercado impulsionaram a intervenção estatal que, por outro lado, buscou minimizar os efeitos econômicos e sociais deletérios da atividade econômica ancorada no modelo liberal.

Hoje, a importância do Estado como produtor de bens ou serviços decresce, consideravelmente, no contexto das privatizações e da busca de um Estado mínimo. Entretanto, o Estado-regulador permanece com atuação crescente no mundo contemporâneo, conforme veremos, a seguir, em análise a ser feita do modelo neoliberal.

2.3 O NEOLIBERALISMO, A GLOBALIZAÇÃO E OS DIREITOS DE TERCEIRA

Outline

Documentos relacionados