• Nenhum resultado encontrado

O VALOR E SUAS CARACTERÍSTICAS NA ONTOLOGIA AXIOLÓGICA DE JOHANNES HESSEN

1 O VALOR DO MEIO AMBIENTE NA ECOLOGIA E NA ECONOMIA

1.1 O VALOR E SUAS CARACTERÍSTICAS NA ONTOLOGIA AXIOLÓGICA DE JOHANNES HESSEN

Todos os homens valoram. Conforme afirma Hessen (1967, p. 40): “Todos nós valoramos e não podemos deixar de valorar. Não é possível a vida sem proferir constantemente juízos de valor. É da essência do ser humano conhecer e querer, tanto como valorar”.

O que significa, porém, dizer que alguma coisa tem valor? Hessen (1967, p. 40-42) responde que determinados bens nos parecem valiosos por satisfazerem determinadas necessidades elementares da vida. Assim, água, pão, vestuário, saúde, etc. são valores positivos, que nos parecem valiosos por satisfazerem determinadas necessidades humanas.

Entretanto, a esfera de valores não se cinge a estes. Há, segundo Hessen (1967 p. 42), outros valores chamados éticos, estéticos e religiosos, que também satisfazem necessidades não vitais mas espirituais; não do homem externo, mas do homem interior, verbis:

[...] Poderemos dizer: valor moral é tudo aquilo que satisfaz as nossas necessidades ou exigências morais; valor estético ou religioso tudo aquilo que satisfaz as nossas necessidades ou exigências estéticas ou religiosas. Mas ao mesmo tempo, dizendo isto, é aqui que se nos revela como, no fundo das coisas, é afinal insuficiente aquela determinação que fizemos do conceito de valor. Na verdade, nela não se diz em que consiste o conteúdo daqueles valores; diz-se simplesmente que eles produzem determinados efeitos. Por outras palavras: o objecto daquela determinação deu-nos apenas a noção do seu efeito psíquico mas não da sua essência.

[...] Se fazemos a afirmação: <<alguma coisa tem valor>>, teremos proferido um juízo de valor. Um <<juízo de valor>> (Werturteil) é, porém, diferente de um juízo de existência ou de essência (Seinsurteil).

Assim, ao afirmar que os valores buscam a satisfação das necessidades do homem externo e do homem interno, expressam-se, segundo Hessen (1967, p. 42-44), os “efeitos” daqueles valores, mas não a sua “essência”.

Nessa abordagem, Hessen (1967, p. 47) define valor como “a qualidade de uma coisa, que só pode pertencer-lhe em função de um sujeito dotado de uma certa consciência capaz de a registrar”.

Assim, metodologicamente, Hessen utiliza a palavra “valor”, em um sentido

subjetivo, se “x” tem valor, tem valor para alguém. Valor, nessa visão, torna-se algo existente

para um certo sujeito.

Poder-se-ia, indevidamente, imaginar que Hessen adota posição subjetiva e relativa dos valores. No entanto, não se trata de posição relativista pura do valor, para Hessen (1967, p. 54); o valor refere-se não ao indivíduo (visto concretamente em um determinado ser), mas ao gênero homem (sujeito abstrato). Procura, dessa maneira, mitigar a noção de que se filia ao

subjetivismo axiológico, ao mesmo tempo em que evita o objetivismo radical de Nicolas Hartmann.

Trata, pois, de destacar o aspecto referencial do valor e não uma visão relativista do mesmo. No mesmo sentido, Ruyer (1969, p. 78) assinala que é impossível descrever o valor, abstraindo-se de um sujeito, verbis:

[...] En este sentido preciso el valor es subjetivo. Un ideal, es el ideal de um sujeto. El valor o la forma de um objeto precioso, se aprehende por um sujeto. La gracia o la belleza de uma actitud, lo cómico de uma situación, la rectitud de um razonamiento, la utilidad de um material, deben ser captadas por um sujeto.

Com relação à diferença entre o valor depender de um sujeito e ser arbitrário, Ruyer (1969, p. 81) afirma:

[...] Un cuadro o un disco no pueden existir axiológicamente sino em la consciencia del artista o de su público, pero esto no quiere decir que su valor pueda ser decretado arbitraria o convencionalmente. El valor no puede sino definirse em uma subjetividad, sin ser “subjetivo”em el sentido de “arbitrario’, “convencional”, “falso”o “irreal”. El valor puede implicar siempre uma relación sujeto-objeto o sujeto-ideal o sujeto-sujeto sin ser por ello mismo relativo. El amor exige al menos dos personas; la admiración por la obra de um pintor, dos personas y uma cosa y em este sentido es “relación”,pero no se debe jugar com la palabra concluyendo que ela también es siempre relativa.

Afirma Ruyer, como Hessen, portanto, que o valor é atributo relacional. A realidade do valor não pertence nem ao sujeito, nem ao objeto, pertence ao sistema de interação: sujeito -> objeto -> escala valorativa (idéia do valor).

Ao relacionar valor e ser e tratar da realização do valor na Cultura, esclarece Hessen (1967, p. 57-58) que os valores nunca são “ens in se”, mas “ens in alio”, verbis:

[...] Não consiste num ser em si mesmo, mas num ser que está noutro ser. Assim, por exemplo, um valor estético converte-se em existencial no quadro do pintor; o valor ético, na acção do homem virtuoso. O quadro do pintor passa então a chamar-se <<belo>>; a acção do homem, chamar-se <<boa>>. Isto é: os valores, portanto, só podem tornar-se existenciais sob a forma de qualidades, características, modos de ser. Não possuem um ser independente, mas são de certo modo <<trazidos>>, <<sustentados>> pelos objectos nos quais se realizam; estes objectos tornam-se seu <<suporte>>. As coisas são então <<portadoras>> dos valores (Wertträger).

Assim Hessen diferencia a ordem ontológica da ordem axiológica.

Destaca, na construção da ontologia dos valores, outros aspectos intrínsecos da ordem axiológica, relevantes para o presente trabalho: a estrutura polar do valor (oposição entre valores positivos e negativos) e sua estrutura hierárquica (os valores admitem graus intra e intervalorativos):

[...] Há valores que estão mais alto que outros. Não só dentro da mesma classe, como entre as diferentes classes de valores, há distinções a estabelecer e preferências a atribuir. Por exemplo, o heroísmo da renúncia e o sacrifício de si mesmo valem eticamente

mais que uma simples pequena transformação moral. Todos nós falamos em valores menos nobres e em valores mais nobres. Todos sabemos que os valores sensíveis são inferiores aos valores espirituais. Todos falamos do <<primado do espiritual>>. E ainda dentro dos últimos, dos espirituais, nem todos são iguais em dignidade. Ninguém duvida de que, por ex., os valores éticos são superiores aos estéticos (HESSEN, 1967, p. 61).

No presente trabalho, metodologicamente, utilizaremos da ontologia dos valores de Hessen, para buscar compreender o meio ambiente como valor para o “homo economicus” (valor na Economia) e para o “homo sapiens” (valor na Ecologia), não obstante com diferentes graus hierárquicos para cada uma das ciências a eles relacionadas.

Aqui estaremos analisando, conseqüentemente, duas óticas de valoração: a econômica e a ético-ecológica, de forma simplificada, uma vinculada ao “homem externo” (“residem na esfera do vital”) e a outra, ao “homem interior” (“residem na esfera do espírito”), respectivamente.163

Outline

Documentos relacionados