• Nenhum resultado encontrado

O acompanhamento do trabalho de supervisão avaliativa realizado pelos relatores teve início em fevereiro de 2011, após a CCAD e o Conselho Pedagógico terem aprovado os instrumentos de avaliação da profissionalidade docente. Participaram no

184 estudo quatro núcleos de avaliação de áreas disciplinares diferenciadas constituídos por relatores e professores que solicitaram avaliação da componente letiva. Todos os relatores possuíam experiência em avaliação docente desde 2007 e em supervisão e orientação da prática profissional no âmbito da formação inicial e contínua de professores. Inicialmente estava prevista a participação no estudo dum quinto núcleo, de geografia, mas os professores do departamento curricular de ciências sociais e humanas desaprovaram a participação da relatora na investigação, invocando o caráter sigiloso do processo de avaliação docente.

No acompanhamento dos quatro núcleos de avaliação, a investigadora reuniu inicialmente com cada um dos relatores, de forma informal, com o objetivo de conhecer os procedimentos do processo de supervisão avaliativa em função das regras estabelecidas por cada departamento/área curricular na aplicação das orientações provenientes da CCAD. Num segundo momento, a investigadora procedeu à explicitação formal dos objetivos da investigação aos professores em avaliação e esteve presente nas primeiras reuniões preparatórias entre relatores e docentes para calendarização da avaliação. Os relatores já tinham reunido anteriormente com os professores para explicitarem o protocolo da investigação e solicitar a sua participação no estudo. Na fase seguinte, a investigadora observou e gravou em registo áudio as conferências de supervisão desde janeiro a junho de 2011.

Natureza do ciclo de supervisão avaliativa. Os procedimentos adotados pelos

relatores no processo de supervisão avaliativa apresentaram diferenças entre si relativamente à natureza da supervisão assim como aos aspetos de organização e gestão da avaliação. Embora os relatores tenham reunido duas vezes com os professores, após a observação das duas aulas assistidas previstas no DR nº 2/2010, alguns optaram por reuniões conjuntas e/ou individuais com os docentes em função da disponibilidade de horário, com as respetivas repercussões na profundidade dos temas abordados. Contudo, dois dos relatores, Sara e João, realizaram sempre conferências individuais de supervisão avaliativa. Embora houvesse a preocupação de dar tempo aos professores para refletir acerca dos seus desempenhos, após as aulas observadas, em algumas situações, as conferências ocorreram logo a seguir à observação das aulas e tiveram uma duração aproximada de trinta a sessenta minutos.

As conferências de supervisão avaliativa apresentaram a seguinte estrutura: fase pré-interativa, que incluiu a explicitação por parte dos docentes das: a) intenções subjacentes aos planos de aula; b) contextualização das aulas nas unidades didáticas; c)

185 caraterização das turmas; d) esclarecimento de dúvidas em função dos comentários dos relatores; e e) aferição de perspetivas entre avaliados e avaliadores acerca dos objetivos, metodologia e estratégias de ensino a implementar. As conferências pré-observação ocorreram na véspera ou dias antes das aulas assistidas, permitindo que os docentes procedessem a reformulações nos planos de aula, na sequência das opções explicitadas e aferidas com os avaliadores.

Na fase pós-interativa, a maioria das conferências iniciou-se com a leitura por parte dos professores dos seus relatórios de autoavaliação em conformidade com os padrões de desempenho pré-definidos. Seguida da leitura comentada dos relatórios produzidos pelos relatores acerca das aulas observadas, pela explicitação das interpretações efetuadas e tentativa de aferir entendimentos entre o que observaram/escreveram e as explicações dadas pelos docentes no decorrer das conferências de supervisão. A avaliação qualitativa das aulas observadas ocorreu na mesma reunião da sua desmontagem para todos os relatores, com exceção do relator João. Este marcou uma terceira conferência para avaliação de cada aula observada, onde apresentou as menções qualitativas e a fundamentação dos julgamentos subjacentes à ação de avaliar, baseada nos perfis de desempenho e nos comentários dos professores. Apesar dos restantes relatores não terem realizado as terceiras conferências direcionadas unicamente para a avaliação, as suas propostas de classificação foram pontualmente alteradas em função da pertinência da argumentação apresentada pelos professores, no decorrer da desmontagem das aulas observadas.

As conferências de supervisão avaliativa ocorreram, normalmente, quarenta e oito horas após as aulas observadas. A sua duração diferiu muito inter-relatores e intra- relator em função das caraterísticas do desempenho do professor em avaliação e da qualidade das relações interpessoais pré-existentes entre avaliador e avaliado. O núcleo em que houve maior disparidade foi o da relatora Ana em que as conferências mais problemáticas tiveram a duração de cento e oitenta minutos, por oposição a outras realizadas pela mesma relatora que ocorreram em trinta minutos. Nos núcleos que efetuaram conferências com o objetivo de desmontagem dos planos de aula, estas tiveram a duração aproximada de sessenta minutos e as realizadas pós-observação entre noventa e cento e cinquenta minutos. Na ausência das reuniões pré-observação, os professores enviavam por correio eletrónico aos avaliadores, os planos das aulas esperando a sua (des)aprovação e respetivas propostas de alteração. Os avaliadores responsabilizaram-se pela elaboração de todas as atas das conferências realizadas,

186 revelando grande preocupação com o registo processual e descrição pormenorizada das posições assumidas pelos docentes. As preocupações de natureza administrativa adquiriram maior visibilidade nos núcleos em que as tensões e conflitos interpessoais eram mais evidentes e os relatores antecipavam a apresentação pelos docentes de recurso à classificação final.

A maioria dos relatores delineou três etapas no desempenho das suas funções de supervisor/avaliador: i) comentário dos planos de aula; ii) desmontagem das aulas observadas; e iii) fundamentação das menções qualitativas registadas no instrumento de recolha de dados, no decorrer das conferências pós-observação. Enquanto uns relatores preencheram o instrumento de avaliação da prática letiva na presença dos professores, outros trouxeram-no preenchido a lápis de casa. Em ambas as situações ocorreram alterações pontuais às propostas iniciais de avaliação qualitativa, em função da aferição conjunta e pertinência dos argumentos apresentados pelos professores no decorrer da conferência. No final do ciclo, os relatores deram conhecimento aos avaliados das suas propostas de classificação nas quatro dimensões da profissionalidade docente, em conformidade com o calendário definido pela CCAD. Os dados recolhidos na fase pós- classificação incluíram a gravação áudio da entrevista, prevista na lei, realizada entre a relatora Emília e a professora Ana, com vista ao esclarecimento dos critérios de desempate para seriação das classificações e aplicação respetiva quota aos professores contratados.

Clima. O ambiente das conferências de supervisão avaliativa foi muito diferenciado

nos diferentes núcleos, marcado quer por momentos de tensão e contestação, quer por cordialidade e confiança. Os relatores verbalizaram o desconforto sentido no desempenho das suas funções aos professores em avaliação e à investigadora, revelando sinais exteriores de nervosismo e preocupação em justificar as apreciações, julgamentos e tomadas de decisão na ação de avaliar. Na sua maioria, os docentes revelaram mais à vontade durante as conferências pós-observação, posicionando-se mais no papel de ouvintes do que falantes. Embora alguns tenham adotado posições críticas face ao modelo de avaliação e ao papel do relator. Nas conferências pré-observação, a maioria dos docentes, desempenhou um papel mais interventivo na apresentação e fundamentação das opções metodológicas a implementar no processo de ensino- aprendizagem.

187