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A recolha de dados abrangeu o primeiro e único ano da implementação do modelo de avaliação do desempenho docente, segundo o DR nº 2/2010, em vigor de setembro de 2010 a dezembro de 2011. No entanto, a recolha de dados só terminou em fevereiro de 2012, após a conclusão da realização das entrevistas a avaliadores de topo. Os processos principais utilizados foram a gravação áudio das reuniões da Comissão de

173 Avaliação (CCAD), das reuniões entre Diretor e relatores, das conferências de supervisão avaliativa, assim como entrevistas realizadas aos avaliadores de topo (membros da CCAD/Júri de Avaliação), aos relatores/avaliadores no início e final do ciclo avaliativo, aos professores avaliados e a tomada de notas das reuniões do Júri de Avaliação no final do ano letivo. Os processos utilizados e os dados recolhidos aparecem representados nos Quadros 5 e 6 e são objeto de desenvolvimento nas subsecções seguintes. Nos meios de recolha de dados secundários incluem-se as fontes de natureza documental e as notas de campo.

Investigar o primeiro ano de implementação dum novo modelo de avaliação docente, marcado por sucessivas alterações legislativas e conflitos externos e internos à profissão docente, conferiu riqueza e alguma imprevisibilidade na obtenção das fontes de dados. A apropriação diferenciada pelos atores de diretrizes provenientes da legislação, das informações orais e escritas, formais e informais, atempadas ou não face às necessidades do terreno, provenientes da Direção Regional de Educação, permitiu a recolha de notas de campo descritivas de dificuldades sentidas e reformulações exigidas. Assim como a observação não participante e gravação áudio das duas reuniões, não previstas pela investigadora, entre Diretor e avaliadores/relatores e das três entrevistas solicitadas pelos avaliados aos relatores no período previsto para interposição de recurso à classificação final.

A observação não participante e a gravação áudio das duas únicas reuniões, realizadas ao longo do ano letivo entre Diretor e relatores permitiu caraterizar o processo de implementação da política de avaliação, comparar a forma como este foi planeado, nas reuniões da CCAD e operacionalizado junto dos relatores, assim como identificar as suas reações às diretrizes emanadas pelo Diretor.

A gravação áudio das conferências de supervisão permitiu caraterizar as competências de supervisão avaliativa, assim como conflitos vividos na fase final do ciclo avaliativo. Estes incidiram, sobretudo, na discordância relativamente à alteração das propostas de classificação apresentadas pelos relatores em sede de Júri de Avaliação (JA), no seguimento da aplicação do sistema de quotas ao mérito profissional. A indignação manifestada pelos relatores, como responsáveis pelas classificações finais dos professores, surge quando estes se sentiram obrigados a assinar classificações com as quais discordaram, registadas na plataforma informática criada para o efeito pela Direção Regional de Educação. No que respeita ao acesso da investigadora às reuniões do Júri de Avaliação em julho de 2011, a autorização dada pelo Diretor cingiu-se à

174 observação não participante e tomada de notas das reuniões relativas à classificação dos docentes contratados acompanhados ao longo do ano letivo. A decisão foi fundamentada com base no pressuposto que os professores de carreira discordariam da presença da investigadora na fase de maior conflitualidade, a da aplicação dos critérios de desempate às propostas de classificação apresentadas pelos relatores em sede de JA.

Documentos. Análise documental ilustra as duas dimensões do estudo: político-

organizacional-avaliativa e supervisiva-avaliativa como ilustram os Quadros 5 e 6. No primeiro domínio analisaram-se os elementos contextualizadores da política de avaliação da escola, tais como, projeto educativo; regulamento interno; plano anual de atividades; indicadores de medida, estabelecidos pela escola, face ao progresso dos resultados escolares; e os documentos produzidos pela Comissão de Avaliação (CCAD), tais como, instrumentos de recolha de dados, guiões explicativos dos instrumentos e dos procedimentos a efetuar ao longo do processo de implementação da política de avaliação. No acompanhamento do processo de supervisão avaliativa, os professores facultaram à investigadora, os planos das aulas assistidas, materiais didáticos utilizados e relatórios de autoavaliação. Relativamente aos materiais facultados pelos avaliadores, analisaram-se fichas de registo de observação e avaliação da prática letiva, materiais de apoio construídos pelos relatores, documentos explicativos e críticos dos instrumentos de registo produzidos pela CCAD, relatórios efetuados por avaliadores das aulas observadas e atas das conferências de supervisão avaliativa.

Notas de campo. As notas de campo contemplam dados descritivos e reflexivos

(Bodgan & Bicken, 1994). Os primeiros pretendem dar conta das conversas informais, quer entre investigadora e Diretor, membros da CCAD, avaliadores e avaliados, quer entre os diferentes atores entre si. A natureza do tema em estudo, a avaliação docente, potenciou a recolha de confidências na sala de professores, entre um público restrito e em privado, sobretudo, após a realização de reuniões, entrevistas e conferências de supervisão avaliativa. A investigadora recolheu inúmeras confidências de avaliadores de topo, de relatores e avaliados e informações justificativas de silêncios, sobretudo, no decorrer das conferências de supervisão. O segundo tipo de dados, de natureza mais reflexiva, contempla não só o que a investigadora viu e experienciou, mas também o que pensou no decurso da recolha de dados. Nomeadamente, sobre o ambiente em que se realizaram as entrevistas aos participantes, as reuniões: a) CCAD/Júri de Avaliação, b) Diretor e relatores; e c) avaliadores e avaliados e a natureza das informações recolhidas em situações informais de interação com os participantes. A reflexão da

175 investigadora sobre as suas próprias impressões, sentimentos, ideias e intuições acerca do fenómeno em estudo, teve por objetivo obter uma melhoria das notas de campo, o conhecimento e controlo do efeito do observador sobre a realidade em estudo. Os processos utilizados e os dados recolhidos em cada escola ao longo do processo de implementação/suspensão/manutenção da política de avaliação são objeto de desenvolvimento nas subsecções seguintes.

A Figura 9 ilustra o total dos dados recolhidos ao longo do processo de implementação do modelo de avaliação, consagrado pelo DR nº2/2010 e nos meses subsequentes ao encerramento do ciclo avaliativo na escola. A verticalidade significa a sequencialização nas diferentes fases de recolha de dados e a interseção dos círculos ilustra os momentos em que se evidencia maior ou menor cruzamento de dados, com particular destaque para a parte final do ciclo avaliativo. As quatorze entrevistas iniciais realizadas aos avaliadores/relatores, identificadas como fase um, na Figura 9, inscrevem-se no planeamento do modelo de avaliação, uma vez que os relatores estão envolvidos na construção conjunta dos instrumentos de avaliação da profissionalidade docente, a aplicar posteriormente no processo de supervisão avaliativa. Trabalho que se repercute nas decisões seguintes tomadas em sede de CCAD, designada de fase dois, que reformula e aprova os instrumentos elaborados pelos relatores. A fase três corresponde à recolha de dados representativos da operacionalização da política oficial de avaliação, quer pela forma como é descentralizada e veiculada em reuniões presididas pelo Diretor com relatores, quer pela forma como estes se apropriam da normatividade e a aplicam no processo de supervisão avaliativa. Os dados obtidos referentes à ação de avaliar, correspondentes à fase quatro, proveem de entrevistas efetuadas aos professores, que são simultaneamente objeto de avaliação nas reuniões do Júri de Avaliação e de entrevistas finais realizadas aos relatores, no seguimento da conclusão do ciclo avaliativo. Por último, a fase cinco ilustra o culminar do ciclo de avaliação e do processo de recolha de dados, com a realização de entrevistas a avaliadores de topo, na qualidade de membros da CCAD e do Júri de Avaliação.

176 Figura 9. Sequencialização e interseção no processo de recolha de dados.

Dimensão político-organizacional-avaliativa

Na dimensão político-organizacional-avaliativa, os processos metodológicos incluíram observação não participante e gravação áudio das reuniões da Comissão de Avaliação (CCAD), das reuniões efetuadas pelo Diretor com relatores, tomada de notas de reuniões do Júri de Avaliação e entrevistas focadas a avaliadores de topo (membros da CCAD/JA) após o final do ciclo avaliativo.

O trabalho de campo iniciou-se em setembro de 2010, tendo o Diretor aprovado e assinado o protocolo de investigação em maio. O conhecimento dos relatores ocorreu por intermédio do Diretor e de uma relatora durante o trabalho colaborativo de

Entrevi sta: Fase V 4 entrevistas: avaliadores de topo Fase II 9 reuniões: Comissão de Avaliação Fase I 14 entrevistas iniciais: Avaliadores/relatores Fase IV 6 reuniões: Júri de Avaliação Fase III

2 reuniões: Diretor e relatores

Fase III 26 conferências de supervisão Fase IV 4 entrevistas finais: relatores 9 / 2 0 1 1 a 2 / 2 0 1 2 Fase IV 7 entrevistas: professores avaliados

177 construção dos instrumentos de avaliação no início do ano letivo 2010-2011. O estabelecimento duma relação de confiança entre a investigadora e avaliadores durante várias semanas permitiu, gradualmente, a sua apresentação aos professores em avaliação e a sua aceitação em participar no estudo. O envolvimento de vários atores avaliativos, pertencentes a diferentes estruturas organizacionais não foi isenta de momentos de desconforto para a investigadora. As tensões decorrentes do tema em estudo, avaliação de professores, exigiram vários esclarecimentos de forma a evitar que a presença da investigadora na escola fosse associada à política veiculada pelo Ministério da Educação e consignada no DR nº 2/2010.

Numa primeira fase, as reuniões informais com o Diretor foram fundamentais para o conhecimento da instituição escolar e procedimentos previstos para a avaliação de professores (Quadro 5). A investigadora reuniu com o Diretor em julho de 2010 para apresentação do protocolo de investigação e no dia sete de outubro do mesmo ano para tomar conhecimento da calendarização da avaliação docente. Nesta reunião teve conhecimento da decisão tomada pela direção de proporcionar aos professores avaliadores da escola, relatores e membros da CCAD, formação em avaliação de professores. A ação foi dinamizada por uma professora da escola, creditada como formadora e com formação em avaliação de professores. A terceira reunião da investigadora com o Diretor teve lugar a vinte e três de novembro de 2010, com o objetivo de tomar conhecimento do processo em curso relativo à avaliação intercalar dos professores a realizar até dezembro. Os contactos estabelecidos, via correio eletrónico, com o Diretor, ao longo do ano, permitiram a recolha de informação complementar para a consecução do estudo.

O acompanhamento do trabalho desenvolvido pela CCAD no exercício de funções organizacionais e avaliativas foi efetuado ao longo do ano letivo 2010-2011. Pretendeu- se compreender os modos de apropriação pelos diferentes atores da política oficial de avaliação e, nesta medida, perceber que aspetos foram valorizados nas fases da contextualização/planeamento, programação, implementação, reformulação do processo de avaliação e ação de avaliar o desempenho docente. As entrevistas aos membros da Comissão de Avaliação/Júri de Avaliação, no final do ciclo avaliativo, permitiram complementar os dados recolhidos nas reuniões da CCAD e do JA e caraterizar perspetivas, decisões e fundamentos apresentados ao longo do processo e do produto da avaliação docente.

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Observação não participante e gravação áudio de reuniões de