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1.2.1. Breve História da ocupação efectiva de Moçambique

1.2.1.1. Organização Administrativa e social de Moçambique

Administrativamente possui dez províncias, com Maputo (Lourenço Marques), a capital, a gozar de um estatuto próprio, com um Governador próprio. A segmentação administrativa sai da província para o distrito que por sua vez vai à localidade ou posto administrativo terminando na aldeia/povoação39. A população concentra-se nas grandes cidades, em parte devido a guerra que, entre 1976-1992, criara instabilidade nas zonas rurais. O país enfrenta problemas que dificultam a aprendizagem como casamentos prematuros e gravidez precoce que obrigam grande parte de rapazes e raparigas em idade escolar a abandonarem os estudos para cuidar das famílias. Estes problemas já tinham sido reportados pelos missionários Jesuítas na década de 1940. Observemos a magnitude do problema no mapa abaixo:

37

Queirós, Eça de, «Notas do mês» in Revista de Portugal, vol. 1, Porto, 1889:259.

38 Lima, Artur de Barros. Moçambique, Documentário Trimestral Nº 31 – Julho a Outubro de 1942, Imprensa

Nacional de Moçambique, Lourenço Marques, 1942:5

Mapa 2: Índice de casamentos e gravidez precoce em Moçambique

Fonte: UNICEF, Moçambique, 2008

Contudo, mais de 60% da população é rural estando dispersa pelo imenso território, vivendo uma vida muitas vezes dependente da natureza, podendo sofrer com as cheias e com as secas. As províncias mais populosas são as da Zambézia e de Nampula. «Nampula é uma das províncias mais populosas do país, com 19,1% de moçambicanos, menos 0,2% em relação a Zambézia. As duas províncias, Zambézia e Nampula concentravam, em 1997, 38,4% da população total e o analfabetismo continuava sendo um dos principais problemas, afectando sobretudo a mulher40. Esta elevada densidade populacional justifica-se pela massiva promoção das culturas obrigatórias que eram responsáveis para a contratação de mão de obra forçada e existência de trabalho assalariado.

Segundo Mangrasse existe uma «incapacidade do governo não só em dar educação a todos, como também em manter os que lá estão. O analfabetismo incide mais nas mulheres do que

40 Mangrasse, Lucas, A Ideologização do Processo de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos na Província de Nampula, Moçambique, no período de 1972 a 2003: tensão entre factores políticos e culturais,

nos homens sobretudo entre os indivíduos dos 30 a 39 anos, uma exclusão tida como uma injustiça social. No passado, houve uma «satisfação incontrolável pela conquista da independência» que «acelerou a aderência ao ensino pelos moçambicanos para substituir o velho com o novo. Mas, apareceram elementos desmotivadores contra a alfabetização o primeiro dos quais foi a não remuneração dos alfabetizadores41».

Na altura, 60% dos habitantes tinha idade inferior a 25 anos; entre estes, as crianças em idade escolar ou pré-escolar eram os mais numerosos. A população activa estava inserida sobretudo na agricultura (74,13%), na indústria (12,67%, transportes com 7,85% e comércio com 5,3%42. A mortalidade infantil era elevada devida à malnutrição, falta de higiene e de assistência médica sanitária adequada. Havia muitas doenças de caracter viral, bactérico e parasitório, não obstante esforços das autoridades para seu controle.

Os actuais habitantes de Moçambique são resultado de várias migrações que cruzaram o espaço enquanto o território que hoje se conhece foi resultado de conquistas e unificações iniciadas nos primeiros anos da era cristã, quando ainda era habitado pelos Khoisan e pelos Otentotes, criadores de gado que, andando de um lado ao outro, a procura de pastos, também contribuíram para preencher o espaço. A migração banta forçou-os a deslocarem-se mais para o sul de tal sorte os bantu meridionais acabaram por dominar todo o território43. Depois dos bantu vieram os comerciantes e navegadores asiáticos com objectivo de prática do comércio de ouro e marfim, madeiras aromáticas e escravos tendo-se fixado na costa oriental. Depois chegaram os portugueses. Mas as mais recentes migrações foram o m´fecane e dos zimba. As pessoas vivem em famílias alargadas quer na cidade quer no campo, isto porque os que vivem na cidade, normalmente tem algum familiar no meio rural que envia seus filhos a fim de terem educação e outras condições de vida.

A população do Sul rege-se numa linhagem patrilinear enquanto no Norte a linhagem é matrilinear, explicadas respectivamente pelo predomínio da criação do gado que deu mais poder ao homem no Sul e pela agricultura que deu mais predomínio da mulher no Norte. Estes sistemas fazem com que no norte encontremos certas mulheres com poder maior em relação ao sul. Se encontrar um homem pobre no sul a primeira impressão é a de que a sua mulher, regra geral, é mais pobre que ele. Em termos estruturais, a sociedade divide-se em clãs, tribos e famílias com tradições e características próprias.

Etnólogos e históricos não chegaram ainda a conclusões definitivas a este respeito; não temos ainda obras exaustivas e de síntese porque muitos sectores não foram ainda estudados e os estudos etnográficos até agora foram só parciais e limitados a alguns argumentos. A independência veio trazer um novo interesse pela cultura moçambicana, e, depois de uma primeira fase de pesquisa e de redescoberta da própria alma certamente se chegará a resultados mais completos e significativos. O país possui uma variedade de línguas conforme as etnias. A primeira etnia a ter um código de leis próprias foi a Khokha-Bitonga. Trata-se da primeira povoação de Moçambique com direito consuetudinário codificado; o célebre «código de Milandos» traz a data de 1852. Sobre quantos grupos étnicos ou tribais constituem o mosaico nacional os autores são divergentes44

. Silva Rego oferece-nos uma

41 Cfr. Mangrasse, 2004:23-24

42 Araújo, Manuel, Noções elementares da Geografia de Moçambique, Maputo, 1979:29

43 Frelimo, História de Moçambique, Porto, 1971:3-4.

44

Cfr. Ubaldo. Madela Maggiorino. La Chiessa Cattolica in Mozambico: Dellévangelizzazione dal 1940 ad oggi, Roma, Giugno 1980:14, Araújo, Manuel, Noções elementares da Geografia de Moçambique, Maputo, 1979, Filesi, Teobaldo, Esordi del Colonialismo e Azione della Chiesa, ASA Review of Books Vol. 3, Naples- Rome, African Studies Association, 1968:38-43, e 101.

classificação em dez grupos principais: Angone, chona e Chope, grupo do Zambeze e Maraves, Macua-Lomwe e Ajaua, Maconde e Suahili. Aos numerosos grupos e subgrupos étnicos corresponde uma pluralidade de línguas. Oliveira Boléo, citando estudos de Peixe e J. Santos e de A. Rita-Ferreira fala de quinze agrupamentos linguísticos, que compreendem uma série de subgrupos e dialectos45. Podemos ilustrar no quadro e no mapa os grupos étnicos de Moçambique.

Quadro 1: Grupos étnicos de Moçambique Povos de Moçambique Segundo

Características Rita Ferreira Rego e Eduardo Boléo

Tsonga Angone Tongas patrilineares organizados em clãs exogâmicos

Chope Chona e Chope praticantes do levirato e o sorolato

Khokha-Bitonga Carangas influência asiática e portuguesa, economia marítima e comercial

Mutapa-rozwi destruídos pelos invasores Nguni

Baixo Zambeze Zambeze e Maraves Nhanjas influência dos senhores prazeiros

Marave descendência matrilinear-exogâmica

Makwa-lomwe Macua-Lomwe e Ajaua

Macua grupo mais numeroso, arabizado,

Makonde Maconde e Suahili sem unidade tribal, caçadores e agricultores, descendência matrilinear e escultores da madeira

Ajaua (Yao), descendência matrilinear, agricultores, artesãos e mercadores ambulantes; islamizados

Vangune oriundos do Natal, como guerreiros organizados e conquistadores com economia caracterizada pela criação de gado e a agricultura

Fonte: Adaptado pelo autor, através de dados encontrados em Atlas Missionário Português, Lisboa, 1964:101.

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