• Nenhum resultado encontrado

O fato é que, no aspecto socioletal, é inegável a polarização em normas cultas e normas vernáculas no português brasileiro. Tanto as variantes cultas como as populares vêm sendo exaus- tivamente exploradas por numerosos projetos de pesquisa sociolingüísticos sincrônicos, espa- lhados por diversos centros universitários do Brasil, a partir de 1970.

O conhecimento geral da variação geodialetal, embora tardiamente por razões várias e conhecidas, já dispõe de um projeto nacional para um Atlas Lingüístico do Brasil, a partir de 1996, coordenado por Suzana Cardoso, reunindo dialetólogos de vários locais do Brasil, o Projeto ALIB. Desde 1997, um grande grupo de pesquisadores, coordenado por Ataliba de Castilho, com equipes, por enquanto, na Bahia, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Santa Catarina, no Paraná, em Minas Gerais e em Recife, vem se empenhando no Projeto nacional Para a história do português brasileiro (PHPB), que tem como objetivo conhecer o passado do português em geral, mas a partir de diferentes áreas históricas do Brasil, com as suas especificidades.

Continuam as pesquisas de Baxter, Lucchesi e outros em busca de vestígios de descrioulização em comunidades rurais afro-brasileiras isoladas.

Esse quadro geral de pesquisas em curso no Brasil indica que, neste terceiro milênio que apenas se inicia, possivelmente novos fatos, novos dados, novas interpretações surgirão para a questão complexa da formação do português brasileiro, que se apresenta, na realidade sincrônica, certamente heterogêneo, plural e polarizado.

Talvez então possamos responder ao poeta o que quer, o que pode esta língua, no entrecruzar- se da criatividade individual, da alteridade social e das limitações estruturais possíveis próprias a qualquer língua, para retomar, finalizando, o poeta e a lingüista, companhia com que iniciei este texto.

Referências

BAXTER, Alan. (1998). O português vernáculo. Morfossintaxe. In PERL, M. e

SCHWEGLER, A. (eds.). América negra. Panorámica actual de los estudios lingüísticos sobre variedades hispanas, portuguesas y criollas. Berlim: Verwuert/Iberoamericana. p. 97-137.

O português brasileiro

135

BAXTER, Alan e LUCCHESI, Dante. (1997). A relevância dos processos de pidginização e crioulização na formação da língua portuguesa no Brasil. Revista Estudos Lingüísticos e Literários, 19: 65-84.

CONRAD, Robert. (1978[1972]). Os últimos anos da escravatura no Brasil: 1850-1880. 2ª. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

CORREA, Vilma Reche. (1993). O objeto nulo: como se aprende a preencher no português do Brasil. (mimeo).

COUTO, Jorge. (1997). A construção do Brasil: ameríndios, portugueses e africanos do início do povoamento a finais de quinhentos. 2ª. ed. Lisboa: Cosmos.

CUNHA, Celso. (1987). Em torno do conceito de brasileirismo. Arquivos do Centro Cultural Português, XXIII (Homenagem a Paul Teyssier): 3-29.

FAUSTO, Boris. (1994). História do Brasil. São Paulo: EDUSP/FDE.

FRANCHETTO, Bruna. (2000). O que se sabe sobre as línguas indígenas no Brasil. In: I. S. A. (org.). Povos indígenas no Brasil 1996-2000. São Paulo: I. S. A. p. 84-88.

GUY, Gregory. (1981). Linguistic variation in Brazilian Portuguese: aspects os the phonology, syntax and language history. Philadelphia: Ph. D. Dissertation. (mimeo).

HOUAISS, Antônio. (1985). O português no Brasil. Rio de Janeiro: UNIBRADE/UNESCO. INSTITUTO SÓCIO-AMBIENTAL (org.). (2000). Povos indígenas no Brasil 1996/2000. São Paulo: I. S. A.

KARASH, Mary. (1994). Escravidão africana. In NIZZA DA SILVA, B. (org.). Dicionário da história da colonização portuguesa no Brasil. Lisboa: Verbo.

KREUTZ, Lúcio. (2000). A educação de imigrantes no Brasil. In: LOPES, E. et al. (orgs.). 500 anos de educação no Brasil. Belo Horizonte: Autêntica. p. 347-370.

LOBO, Tânia. (1996). A formação histórica do português brasileiro. O estado da questão. Comunicação ao XI Congresso da ALFAL. Gran Canária. (mimeo).

LUCCHESI, Dante. (1994). Variação e norma: elementos para uma caracterização

sociolingüística do português do Brasil. Revista Internacional de Língua Portuguesa, 12: 17-28. LUCCHESI, Dante. (2000). A variação da concordância de gênero numa comunidade de fala afro- brasileira. Novos elementos sobre a formação do português popular do Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ. Tese de Doutoramento. (mimeo).

MONTEIRO, John Manuel. (1995). Negros da terra. Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras.

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. (1998). De fontes sócio-históricas para a história social lingüística no Brasil: em busca de indícios. In: MATTOS E SILVA, R. V. (org.). Para a história do português brasileiro. Primeiros estudos. t. II. São Paulo: Humanitas, p. 275-301.

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. (1999a). A propósito das origens do português brasileiro. Atas do II Congresso Nacional da ABRALIN. Florianópolis. p. 1348-1351.

136

do portugûes arcaico ao português brasileiro

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. (1999b). Uma compreensão histórica do português brasileiro: velhos problemas revisitados. Conferência para Concurso de Titular de Língua Portuguesa. Salvador: IL-UFBa. (mimeo).

MATTOS E SILVA, Rosa Virgínia. (2000). Da sócio-história do português brasileiro para o ensino do português no Brasil hoje. In: AZEREDO, J. C. (org.). Língua portuguesa em debate. Petrópolis: Vozes. p. 19-33.

MATTOSO, Kátia. (1990[1979)]. Ser escravo no Brasil. 3ª. ed. São Paulo: Brasiliense. MUSSA, Alberto Baeta Neves. (1991). O papel das línguas africanas na história do português do Brasil. Rio de Janeiro: UFRJ. Dissertação de Mestrado. (mimeo).

NARO, Anthony e SCHERRE, Martha. (1993). Sobre as origens do português popular do Brasil. D.E.L.T.A. (nº. especial): 437-455.

NARO, Anthony e SCHERRE, Martha. (2000). Variable concord in Portuguese: the situation in Brazil and Portugal. Creole language library, 21: 235-255.

REIS, João José e SANTOS, Flávio (orgs.). (1996). Liberdade por um fio: história dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras.

RODRIGUES, Aryon. (1986). Línguas brasileiras. Para um conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola.

RIBEIRO, Ilza. (1999). A origem do português culto. A escolarização. Comunicação em Encontro da UNIFACS. Salvador. (mimeo).

SCHERRE, Martha e NARO, Anthony. (1997). A concordância de número no português do Brasil: um caso típico de variação inerente. In: HORA, D. (org.). Diversidade lingüística do Brasil. João Pessoa: Idéia. p. 93-114.

SCHLIEBEN-LANGE, Brigitte. (1994). Reflexões sobre a pesquisa em mudança lingüística. D.E.L.T.A. (nº. especial), 10: 223-246.

SILVA NETO, Serafim da Silva. (1986[1950)]. Introdução ao estudo da língua portuguesa no Brasil. 5ª. ed. Rio de Janeiro: Presença.

SILVA NETO, Serafim da Silva. (1960). A língua portuguesa no Brasil. Problemas. Rio de Janeiro: Acadêmica.

SOUZA, Gabriel Soares de. (1989[1587]). Notícias do Brasil. Edição e comentário de Luís de Albuquerque. Lisboa: Publicações Alfa.

TARALLO, Fernando. (1993a). Sobre a alegada origem crioula do português brasileiro. In: ROBERTS, I. e KATO, M. (orgs.). Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: Editora UNICAMP. p. 36-68.

TARALLO, Fernando. (1993b). Diagnosticando uma gramática brasileira: o português d’aquém e d’além mar ao final do século XIX. In: ROBERTS, I. e KATO, M. (orgs.). Português brasileiro: uma viagem diacrônica. Campinas: Editora UNICAMP. p. 69-106.

O português brasileiro

137

TAYLOR, Gerald. (1988). Apontamentos sobre o nheengatu falado no Rio Negro. Ameríndia, 10: 5-24.

TEYSSIER, Paul. (1982[1980]). História da língua portuguesa. Lisboa: Sá da Costa. VELLOSO, Caetano. (1984). Língua. In: Velô. LP Philips nº 8.240.244, f. 5.

E agora, com a escrita,

No documento Do português arcaico ao português brasileiro (páginas 136-141)