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A órbita da Terra não é quase circular? O que diz o Relatório de Reprovação:

No documento Com a palavra, o autor (páginas 180-182)

3. Veiculação de ilustrações e outros recursos (cores, escalas, etc.) inadequados, que induzem à construção de conceitos incorretos

Livro do 5o ano

3.4. Página 123: há uma figura que apresenta um esquema da órbita da Terra em torno do Sol com uma órbita circular, porém na legenda há a seguinte observação: “Repare que a órbita da Terra é quase circular e que o Sol não está exatamente no centro da órbita”. Pela figura, essa

diferença não é perceptível.58

Este é mais um caso flagrante de imperícia e negligência dos avaliadores do PNLD 2010. É um “repeteco” do que eles fizeram ao avaliar a Coleção Caminhos da Ciência (ver Capítulo 3) e, tal como naquele caso, a crítica à figura da página 123 do livro do 5º ano da Coleção Ponto de Partida Ciências merece constar no anedotário dos erros dos avaliadores.

O erro apontado pelos avaliadores do PNLD 2010 não existe. A órbita da Terra está adequadamente representada por uma elipse de excentricidade igual à da órbita terrestre (0,0167) com o Sol posicionado sobre um dos focos da elipse. A página em questão foi reproduzida (Figura 4.11) com o objetivo de dar oportunidade ao nosso leitor para fazer ele mesmo as medidas. Também incluímos uma página em que as medidas são mostradas, apenas para poupar trabalho (Figura 4.12). Nessa última imagem, um círculo perfeito foi sobreposto à órbita para ilustrar graficamente o erro dos avaliadores do PNLD 2010.

O Relatório de Reprovação indica claramente que os avaliadores do PNLD 2010:

‹

‹ desconhecem a forma da órbita terrestre e, portanto, não têm a perícia necessária para

avaliar livros didáticos (ERRO TIPO 2);

‹

‹ não mediram o eixo maior (149,5 mm) nem o eixo menor da elipse (148,0 mm), pois

assim poderiam facilmente verificar que não se trata de um círculo perfeito (negligência);

58   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD

‹

‹ não mediram a posição do Sol para verificar que ele foi representado mais próximo do extremo direito da elipse, representando o periélio, do que do extremo esquerdo da elipse, representando o afélio (negligência, novamente);

‹

‹ desconhecem a importância da representação em escala da órbita terrestre para os alu-

nos perceberem que ela forma uma elipse muito pouco achatada (mais um exemplo de imperícia); e

‹

‹ não leram o Manual do Professor, que traz informações sobre o assunto e o seu enca-

minhamento em sala de aula (negligência, mais uma vez).

Caro leitor, a recomendação de se apresentar a órbita terrestre em escala (isto é, por meio de uma elipse com a mesma excentricidade) é uma recomendação das sociedades de Astronomia, pois evita um erro conceitual comum entre os alunos do Ensino Funda- mental: formar a ideia de que o verão acontece quando a Terra está mais próxima do Sol e o inverno quando a Terra está mais distante da estrela do sistema. Esse erro conceitual é atribuído à representação mais comum da órbita terrestre, isto é, uma representação da órbita em perspectiva, o que lhe confere um aspecto muito elíptico, no qual a distância Terra -Sol parece variar muito ao longo do ano.

Na realidade, o Relatório de Reprovação indica também que os avaliadores do PNLD 2010 não conhecem as estratégias didáticas adequadas para o ensino da Astronomia e, em particular, a importância da representação em escala da órbita terrestre para favorecer a formação de conceitos corretos a respeito das estações do ano. Estes fatos são particular- mente surpreendentes e preocupantes porque existem astrônomos na equipe de avaliação do PNLD 2010, entre eles o Professor Doutor João Batista G. Canalle, Professor da Uni- versidade do Estado do Rio de Janeiro e Coordenador da Olimpíada Brasileira de Física. Segundo o Professor Canalle:

Os dois enganos mais frequentes [encontrados nos livros didáticos] foram o alinha- mento dos planetas no sistema Solar, como se todos ocupassem o mesmo plano e girassem juntos ao redor do Sol, e a idéia de percorrerem uma trajetória oval, embora as órbitas dos planetas sejam quase circulares.59

Os livros da Coleção Ponto de Partida Ciências não apresentam nenhum dos (sic) “dois enganos mais frequentes”. Pior ainda, o livro condenado não comete o erro alegado pelos avaliadores do PNLD 2010 para excluir a nossa obra! Na verdade, a nossa obra foi repro- vada por apresentar informação cientificamente correta e de pleno acordo com as reco- mendações de um especialista que participou da própria avaliação do PNLD 2010! É um absurdo, uma aberração. O mais incrível é que a mesma ilustração estava presente na edi- ção anterior da Coleção e foi aprovada pelos avaliadores do PNLD 2007. Mais uma vez os avaliadores do PNLD 2010 erraram ao discordar da equipe precedente, então sob respon- sabilidade da USP e sequer se dão ao trabalho de justificar a divergência (ERRO TIPO 4).

59   UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA. Erros marcam livros de Astronomia. In: Linear Clipping/Jornal do Brasil, 13 dez.  2008. [grifos nossos].

Disponível  em:  <www.linearclipping.com.br/MEC/m_stca_detalhe_noticia.asp?cd_sistema=55&cd_noticia=580628>  (acesso: jun/2010). 

É muita incompetência e muita negligência para um trabalho que custou quase R$ 40 mil aos cofres públicos!

Agora, caro leitor, nós teremos de enfrentar a seguinte situação. Para reinscrever a obra no PNLD 2013 ou em qualquer outra edição do PNLD, seremos obrigados a comprovar que corrigimos a nossa ilustração da órbita da Terra, sob pena de exclusão sumária na fase de triagem, antes mesmo de uma nova avaliação! O que podemos fazer? A alternativa mais covarde seria a de simplesmente omitir o assunto na próxima edição da Coleção, com claro prejuízo para os alunos e grande risco dos avaliadores do próximo PNLD nos reprovarem por não tratarmos o tema.

Outra opção seria mudar a ilustração para mostrar a órbita mais elíptica para que não se pareça tanto com um (sic) “círculo perfeito”. Essa é a saída imoral, “sem vergonha”.

Significaria colocar no livro uma informação sabidamente errada, apenas para cumprir uma exigência descabida dos avaliadores do PNLD 2010. Além disso, correríamos o risco de os avaliadores do próximo PNLD não serem ignorantes e negligentes como os que ava- liaram a Coleção Ponto de Partida Ciências no PNLD 2010. Nesse caso, a nossa Coleção seria acertadamente reprovada por veicular informação incorreta.

A última alternativa é tão absurda quanto as precedentes. Nós poderíamos tentar mu- dar a órbita terrestre para que ela fique menos parecida com um (sic) “círculo perfeito”.

Devemos, entretanto, confessar para o nosso leitor que não temos meios para conseguir alterar a órbita do nosso planeta. Infelizmente…

Um erro tão primário como esse só encontra guarida em um processo obscuro, que protege os avaliadores, como a famigerada Santa Inquisição protegia os delatores. Um processo que não prevê sequer o direito dos autores defenderem suas obras e apontarem os erros cometidos pelos avaliadores.

Este é o exemplo mais claro da situação kafkiana em que os erros dos avaliadores do PNLD 2010 nos colocaram. Como as afirmações dos avaliadores são finais, definitivas e incontestáveis, estamos como Galileo Galilei diante do tribunal da Inquisição: querem que renunciemos à verdade para não contrariar os cardeais da avaliação. Para nós é triste e incompreensível encontrar erros tão gritantes em um documento oficial do MEC, assi- nado pelo Professor Nelson Studart, doutor em Física, em nome de uma universidade de prestígio e qualidade como a UFSCar.

Desequilíbrio do conteúdo nas várias áreas da ciência

No documento Com a palavra, o autor (páginas 180-182)

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