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A classifi cação de Haeckel (1834) é a mais atualizada?! O que diz o Relatório de Reprovação:

No documento Com a palavra, o autor (páginas 160-167)

1. Veiculação de informação incorreta, imprecisa, inadequada e desa­ tualizada

Livro do 4o ano

1.5. Páginas 27 até 38: os conceitos enunciados estão desatualizados. A classificação dos seres vivos adotada pela Coleção é a de Lineu, sé­ culo XVIII, que define os seres vivos dentro de dois reinos, o Animal e

o Vegetal. E’ ignorada a proposição de Haeckel (1834) que cria o Reino

Protista para incluir os microrganismos, e classificá ­los dentro de

um reino específico.27

O leitor não está delirando. É verdade! Os avaliadores do PNLD 2010 estabeleceram como padrão de atualidade para a avaliação do PNLD a classificação de Haeckel, formu- lada no século XIX! Mas, calma, discutiremos esse assunto logo mais apesar da sua sin- gularidade. Por ora, é fundamental destacar que as afirmações dos avaliadores do PNLD 2010 são inteiramente falsas e infundadas. Em nenhuma passagem da Coleção Ponto de Partida Ciências a categoria taxonômica “reino” é utilizada, muito menos “Reino Vegetal” e “Reino Animal”! Trata -se de uma aleivosia descarada (mais um clássico ERRO TIPO 1).

O Relatório de Reprovação indica o desconhecimento dos avaliadores do PNLD 2010 a respeito da moderna taxonomia e sistemática e também acerca dos esquemas de classificação atuais (ERRO TIPO 2). A sugestão que fizeram para que se adotasse a clas- sificação de Haeckel, é, no mínimo, ridícula! Essa exigência é forte candidata à condição maior “batatada” do já vasto anedotário da avaliação do PNLD 2010. Isso sem contar a ilegalidade que ela encerra. Afinal, o Edital do PNLD 2010 não exige a adoção dessa classificação como condição para que as obras nele inscritas fossem aprovadas. Por sinal, vale destacar, o edital não faz exigência alguma de referências em termos teóricos. Sequer apresenta uma bibliografia básica a ser seguida… Logo, verifica -se que os avaliadores, além de desatualizados do ponto de vista conceitual, inventam uma norma estranha ao

26   Provavelmente os avaliadores do PNLD 2010 desconhecem que um dos autores da Coleção Ponto de Partida  Ciências, mesmo não sendo físico por formação, foi membro da American Association of Physics Teachers (Associação  Americana de Professores de Física) e recebe (e lê) regularmente suas publicações. Muitos acadêmicos podem se sur- preender com o fato de existirem autores de livros didáticos que pesquisam e estudam com afi nco para produzir suas  obras! Afi nal, a fama que temos entre os “especialistas” das universidades é que não passamos de meros copiadores  uns dos outros. Ora, trata -se de uma questão de lógica: embora até possa existir autor de livro didático que “copie” o  livro dos colegas, nem todos fazem isso. Do mesmo modo, embora existam avaliadores do PNLD que, por imperícia ou  má -fé, não analisam os livros corretamente, nem todos fazem isso… Agradecemos aos acadêmicos que valorizam o  nosso trabalho autoral e sabem que ele é resultado de um intenso esforço intelectual.

27   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD

edital, exacerbando seu poder discricionário. Mais um clássico dos clássicos na categoria ERRO TIPO 5!

O texto e a classificação dos seres vivos nos livros da Coleção Ponto de Partida Ciências são os mesmos presentes na edição anterior da obra, aprovada pelos avaliadores do PNLD 2007. A verdade é que os nossos livros adotam uma classificação atual, na qual os seres vivos foram classificados, na medida do didaticamente possível, em grupos monofiléticos (sensu HENNIG, 1976)28.

O erro dos avaliadores do PNLD 2010 é evidente e eles não poderiam cometer esse engano, pois, mesmo que eles desconhecessem a bibliografia mais recente, nós informamos a opção teórica no Manual do Professor. Bastaria, portanto, ler corretamente a obra em seu conjunto para verificar as referências teóricas dos autores. Além disso, os autores também fornecem infor- mações sobre como trabalhar o assunto, como pode ser verificado, por exemplo, na página 20 do Manual do Professor do livro do 4º ano que apresenta o alerta reproduzido na sequência.

Importante

– Ao longo desta Coleção, o termo “planta” se refere às Chlorobionta (Bremer, 1985), ou seja, às plantas que produzem clorofila “a” e “b”. Particularmente nesta unidade, o ter- mo “planta” também é utilizado para designar as Tracheophyta, ou seja, as samambaias, os pinheiros e as plantas com flores.

– Nesta Coleção, o termo “animal” se restringe aos Metazoa, em concordância com o uso que a maioria dos biólogos dá ao termo na atualidade. Existe, porém, muita controvérsia se os animais (isto é, os Metazoa) formam um grupo natural (grupo formado por todos os descendentes de um ancestral comum), como indicam algumas características bioquími- cas destes organismos. Entretanto, a questão ainda não está resolvida entre os biólogos. As características citadas no texto do livro do aluno, embora sejam usadas por diversos auto- res, não são, necessariamente, exclusivas dos animais e nem sempre extensivas a todos eles. – O grupo de répteis, tal como tratado neste livro, não é um grupo “natural”, isto é, não inclui todos os descendentes do ancestral comum a eles. Na realidade, os crocodilianos são mais próximos (aparentados) das aves do que os outros répteis. Porém, pelo fato de os alunos dessa etapa da escolaridade ainda não terem condições de compreender alguns temas relacionados à evolução e, consequentemente, à classificação biológica dos seres vivos, optamos por apresentar o agrupamento tradicional.

O texto do parecer dos avaliadores do PNLD 2010 é um indício de que eles também não leram (ou não leram com a devida atenção) o Livro do Aluno do 4º ano, pois nas páginas 25 e 26 informa -se que serão estudados quatro grandes grupos de seres vivos (não dois, como afirmam os avaliadores): bactérias (Eubacteria), fungos (Fungi), plantas (Chlorobionta) e animais (Metazoa).

Todos esses grupos são considerados monofiléticos, como se pode verificar no site do projeto Tree of Life29, um esforço de biólogos do mundo inteiro para disponibilizar infor-

28   HENNIG, W. Phylogenetic Systematics. Urbana -EUA: University of Illinois Press, 1966. Um grupo é monofilético 

sensu Hennig quando reúne todos os descendentes de um ancestral comum. Dito de outra maneira, um grupo formado 

por um ancestral e todos os seus descendentes.

mações sobre biodiversidade e relações filogenéticas atualizadas. Vários taxonomistas das principais universidades brasileiras contribuem para esse projeto.

Na realidade, a classificação utilizada na Coleção Ponto de Partida Ciências é ainda mais recente do que a proposta por WHITTAKER (1969)30 e defendida (com modifica-

ções) por MARGULIS e SCHWARTZ (1998)31 nas quais:

(i) o reino das plantas é polifilético (WHITTAKER, 1969) ou parafilético (MARGULIS e SCHWARTZ, 1998);

(ii) o Reino Protoctista reúne eucariontes unicelulares ou pluricelulares com organização simples, um grupo reconhecidamente polifilético;

(iii) o Reino Monera reúne todos os procariontes (Eubacteria e Archaea), portanto tam- bém polifilético;

(iv) o Reino Fungi inclui as Myxobacteria, portanto, também polifilético (WHITTAKER, 1969); e

(v) apenas o Reino Animalia é monofilético.

Tendo em vista essas considerações, constata -se que:

‹

‹ é FALSO e sem qualquer fundamento a afirmação dos avaliadores do PNLD 2010 de que a Coleção Ponto de Partida Ciências adota a classificação de Lineu, que divide os seres vivos em dois reinos (ERRO TIPO 1);

‹

‹ o esquema de classificação adotado na Coleção segue as recomendações mais modernas

sobre o assunto, isto é, sempre que possível, apresentar uma classificação com agrupamen- tos monofiléticos;

‹

‹ os autores tiveram o cuidado explícito de somente apresentar grupos não monofiléticos

quando o agrupamento monofilético pode gerar uma dificuldade didática; e

‹

‹ os avaliadores do PNLD 2010 foram, no mínimo, negligentes e não leram os livros do

aluno e os manuais do professor com a devida atenção.

Quando confrontamos os responsáveis pela avaliação com os fatos que acabamos de apresentar, os avaliadores do PNLD 2010 não tiveram a honestidade de reconhecer seus erros. Pelo contrário, tentaram se defender com mentiras e argumentos sem sentido. Di- versas de suas afirmações encerram erros conceituais e desatualização científica grosseiros, como será demonstrado a seguir. O número de impropriedades é tal que o texto será ana- lisado por partes.

30   WHITTAKER, R. H. New concepts of kingdoms of organisms. Science, v. 163, pp. 150 -160, 1969.

31   MARGULIS, L.; SCHWARTZ, K. V. Five Kingdons – an illustrated guide to the phyla on Earth. 3. ed. Nova York -EUA:  W. H. Freeman, 1998.

Os avaliadores do PNLD 2010 afirmaram -nos, ao repudiar a nossa contestação aos argumentos apresentados no Relatório de Reprovação, que:

A Recorrente se refere à terminologia: ‘Phylogenetic Systematic’ que não pode ser confundida com Classificação dos Seres Vivos. Filogenia é uma coisa e classificação é outra. Existem várias proposições de árvores filogenéticas que sofrem modificações principalmente devido a estudos feitos ao nível da biologia molecular (sequência/homologia

de DNA).32

Caro leitor, não se deixe enganar por termos complicados. Vamos explicar. A sistemá- tica filogenética (ou cladismo, como também é conhecida atualmente) é um método de formulação de hipóteses de relações filogenéticas33 e de classificação biológica baseada em

grupos taxonômicos monofiléticos. As hipóteses filogenéticas são expressas graficamente por meio de árvores filogenéticas ou cladogramas e a classificação deve se basear nessas árvores (WILEY, 1981)34.

Desde a publicação do trabalho de HENNIG em língua inglesa (HENNIG, 1966) houve uma revolução na sistemática e na taxonomia, tanto no que diz respeito aos mé- todos de reconstrução de filogenias como no uso de filogenias para a construção de es- quemas de classificação baseados em grupos monofiléticos. Os princípios formulados por HENNIG (1966) são, na atualidade, amplamente aceitos e predominantes entre sistema- tas e taxonomistas. Nas palavras de BISBY (1995):

One of the tasks of the taxonomist is to convert this graphic representation of relationship into formal hierarchical classification of taxonomic categories such as genus, family, or- der, etc. In converting the tree to a classification, the systematist gives groups that share a common ancestor the formal taxonomic names. Such groups are called monophyletic taxa. 35

[Uma das tarefas do taxonomista é converter esta representação gráfica de relações [isto é, a árvore filogenética ou cladograma] em uma classificação hierárquica for- mal de categorias taxonômicas tais como gênero, família, ordem, etc. Ao converter a árvore em uma classificação, o sistemata dá nomes taxonômicos formais a grupos que compartilham um ancestral comum. Tais grupos são denominados táxons mo- nofiléticos.]

As confusões dos avaliadores do PNLD 2010 são evidentes: primeiro, sistemática filoge- nética não é uma terminologia; segundo, a sistemática filogenética é um método de classifi-

32   BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Ofício nº 1.028/2009. Brasília: Ministé- rio da Educação, 15/jun/2009, p. 17. [grifos nossos].

33   Relações de parentesco evolutivo.

34   WILEY, E. O. Phylogenetics: The theory and practice of phylogenetic systematics. Nova York -EUA: John Wiley, 1981.

35   BISBY,  E.  et  al.  Caracterization  of  Biodiversity.  In:  HEYWOOD,  V.  H.  (ed.).  Global Biodiversity Assessment.  Cambridge -EUA: Cambridge University Press/United Nations Environment Programme, 1995, p. 38. [tradução nossa].

cação dos seres vivos; e terceiro, nós nunca afirmamos que sistemática filogenética e filogenia não são a mesma coisa, logo, não tem sentido afirmar que “filogenia é uma coisa e

classificação é outra”. Pior ainda, os avaliadores do PNLD 2010 parecem desconhecer

que as proposições de árvores filogenéticas baseadas em biologia molecular e DNA, a que se referiram, utilizam algoritmos derivados do método de HENNIG (BISBY et al.,1995, p. 37)! A argumentação dos avaliadores do PNLD 2010 pode ser classificada, com toda justiça, como um ERRO TIPO 2, com louvor e distinção! Uma “pérola”, uma boa piada para ser contada nas “cervejadas” dos centros acadêmicos das faculdades de Biologia.

Mas o festival de horrores não termina por aqui. Os avaliadores do PNLD 2010 tam- bém tentaram justificar o injustificável:

[...] Apontou ­se no Parecer a omissão da criação do Reino Protista

feita por Haeckel em 1834 que dividia os seres vivos em três reinos: 1. Animal (animalia); 2. Planta (plantae) 3. Protista. Algumas déca­ das após a proposição de Haeckel, o reino protista foi subdivido em: a) protistas procarióticos e b) protistas eucarióticos. Atualmente, baseados nos avanços de técnicas bioquímicas e nas de relações gené­ ticas entre as espécies, os seres vivos são classificados em cinco reinos: [sic] Prokaya/Monera (bactérias, algas azul esverdeadas e es­ piroquetas), Animalia (insetos, peixes, répteis, anfíbios, pássaros, mamíferos, etc.), Plantae (plantas clorofiladas), Fungi (fungos, le­ veduras, etc.) e Protoctista (protozoários e alguns tipos de algas). [...] O Parecer [Relatório de Reprovação] não menciona que a Coleção abordaria somente 2 grupos. Na verdade são abordados na Coleção os 4 grupos mencionados [nas páginas 25 e 26 do livro do aluno, como já destacamos]. No entanto isso não invalida uma crítica adicional: No

livro do 4o ano (páginas 27 ­38) são descritos os vários tipos de mi­

crorganismos. No entanto, um grupo importante, os protozoários [...] é

completamente omitido.36

Os avaliadores do PNLD 2010, portanto, insistem que a classificação a ser adotada nos livros aprovados no PNLD só pode ser de Haeckel, do século XIX. Além da evidente desa- tualização, há que se apontar que a classificação de Haeckel é inaceitável nos dias de hoje porque divide os seres vivos em três grupos, sendo dois polifiléticos (Plantae e Protista) e um parafilético37 (Animalia).

Na classificação de Haeckel (Figura  4.6), o Reino Plantae inclui, por exemplo, os fungos, as algas vermelhas, as algas pardas e os liquens. Já há muito tempo se sabe que os fungos, as algas pardas e as algas vermelhas não compartilham ancestral comum mais recente com as plantas verdes (Chlorobionta, BREMMER, 1985). Protista, por sua vez, foi usado por Haeckel para agrupar seres unicelulares variados e organismos multicelulares

36   BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Ofício nº 1.028/2009. Brasília: Ministé- rio da Educação, 15/jun/2009, p. 18. [grifos nossos].

37   Um grupo parafi lético é aquele formado por descendentes de um ancestral comum, mas que não inclui todos os  descendentes desse ancestral.

com organização do corpo muito simples, inclusive as esponjas (Porifera). Já há várias décadas que se sabe que diversos grupos que formavam os Protistas de Haeckel não têm relação evolutiva próxima e a maioria dos especialistas da atualidade inclui as esponjas entre os animais. Nas palavras de BISBY:

The first sort of interpretative mistake that bedevils systematic analysis is the discovery that the defining features of a taxon are convergent rather than homologous. The taxon then is known to be polyphyletic (the taxa do not share a recent common ancestor but instead the group has been defined by a superficial similarity that does not indicate evo- lutionary relatedness). When this happens, the polyphyletic groups are abandoned and several monophyletic taxa are created in its place. […] The second common error found in taxonomic classifications occurs because primitive features of organisms have been mistakenly interpreted as novelties, or derived features, and used to define a group.” […] “Groups defined by primitive features are called paraphyletic because they include only some of the descendents’ most recent common ancestor.38

[O primeiro tipo de erro de interpretação que confunde a análise sistemática é a descoberta que as características que definem um táxon são convergentes ao invés de homólogas. O táxon é, então, sabidamente polifilético (os táxons não compartilham um ancestral comum recente, mas, em vez disso, o grupo foi definido por uma se- melhança superficial que não indica uma relação evolutiva). Quando isso acontece, os grupos polifiléticos são abandonados e vários táxons monofiléticos são criados em seu lugar. […] O segundo tipo de erro encontrado nas classificações taxonômi- cas ocorrem porque características primitivas de organismos foram erroneamente interpretadas como novidades, ou características derivadas, e usadas para definir um grupo. […] Grupos definidos por características primitivas são chamados pa- rafiléticos porque eles incluem somente alguns descendentes do seu ancestral co- mum mais recente.]

Como é possível concluir, a opção feita na Coleção Ponto de Partida Ciências é correta e não tem o menor cabimento a exigência de adoção da quase bicentenária classificação de HAECKEL.

É curioso notar que, na resposta às nossas objeções, os avaliadores do PNLD 2010 fazem referências a classificações mais modernas (ausentes do texto original do Relató- rio de Reprovação) como a defendida por MARGULIS e SCHWARTZ (1998). Mais curiosa ainda é a exigência de que o livro inclua os protozoários como agrupamento taxonômico. Protozoa não é considerado um táxon (agrupamento taxonômico) válido há mais de meio século. Até mesmo os autores que utilizavam esse agrupamento reco- nheciam que se tratava um táxon de “conveniência”, para reunir grupos de eucariontes unicelulares -heterótrofos não relacionados evolutivamente. Até mesmo WHITTAKER (1969), citado extemporaneamente pelos avaliadores do PNLD 2010, já descartara o táxon na sua classificação de 1966. Ou seja, os avaliadores do PNLD citam um autor para corroborar sua tese, só que não seguem as recomendações desse mesmo autor! É mais uma aberração.

38   BISBY et al. Caracterization of Biodiversity. In: HEYWOOD, V. H. (ed.). Global Biodiversity Assessment. Cambridge- -EUA: Cambridge University Press/United Nations Environment Programme, 1995, pp. 39 -40. [tradução nossa].

Correta, portanto, foi a abordagem que adotamos nos nossos livros de apresentar os quatro grupos monofiléticos mais próximos do cotidiano dos alunos. Esta alternativa, inclusive, foi sugestão dos especialistas convidados pelo MEC em palestras sobre o livro didático realizada na UNB, em 1998.

Outra aberração, desculpe -nos, caro leitor, mas não podemos deixar de destacar as sutilezas retóricas dos nossos censores, é a defesa que os avaliadores do PNLD 2010 fazem de si próprios ao alegar, em resposta à nossa contestação à acusação de que a obra trabalha apenas os reinos Animal e Vegetal, que o Relatório de Reprovação “não menciona que a

Coleção abordaria somente 2 grupos”. Como assim? Então o que significa a acusação:

“a classificação dos seres vivos adotada pela Coleção é a de Lineu, sé­

culo XVIII, que define os seres vivos dentro de dois reinos, o Animal e

o Vegetal”? Se, na opinião dos avaliadores, não é uma acusação direta, então vamos (re)

trucar: ora, é o texto do Relatório de Reprovação que (sic) “subtende” a acusação. Ou será

que é a sua formulação que “induz” ao erro? Francamente…

Apesar dos truques e (re)truques, é conveniente tornar público que os avaliadores do PNLD 2010 reconhecem que o livro reprovado não trabalha apenas com o reino Animal e Vegetal, mas sim, com os quatro grupos descritos nas páginas 25 e 26 do livro do 4º ano: bactérias (Eubacteria), fungos (Fungi), plantas (Chlorobionta) e animais (Metazoa). Eles confirmam que “na verdade são abordados na Coleção os quatro grupos mencio­

nados” nas páginas 25 e 26. Logo, o argumento de que a Coleção deveria ser excluída do

PNLD 2010 por trabalhar apenas com os reinos Animal e Vegetal é descartado pelos pró- prios avaliadores. Fica claro que a reprovação da obra nesse quesito não é mais válida. Ou será que ficou subentendido? Ou será que somos nós que estamos deduzindo isso? Pena que é tarde demais. O PNLD 2010 já passou… E como os avaliadores do PNLD 2010 sabem que o documento oficial da avaliação é o Relatório de Reprovação, o reconheci- mento do erro dos avaliadores feito por eles próprios de nada nos serve. Sequer poderemos apresentá -lo na inscrição da obra nos próximos programas.

Mas é realmente espantoso verificar que os avaliadores do PNLD 2010 desconhecem os avanços do conhecimento científico dos últimos 40 anos sobre evolução, taxonomia, classi- ficação e até mesmo sobre nomenclatura básica. Não é possível aceitar, por exemplo, que se refiram às aves como “pássaros”, termo que deve ficar restrito às aves da família Passeridae, ou no máximo, às da ordem Passeriformes. Também absurda é a referência a Plantae como “plantas clorofiladas”; MARGULIS e SCHWARTZ (1998) incluíram diversos grupos de “plantas clorofiladas” entre os Protoctistas. A verdade é que o relato da evolução dos es- quemas de classificação dos seres vivos feito pelos avaliadores do PNLD 2010 é incorreto e mistura indiscriminadamente esquemas distintos, corroborando a impressão de que se trata mesmo de uma piada. Piada de mal gosto, vale destacar. Ou será que os avaliadores imaginaram que não seríamos capazes de perceber o besteirol dos seus argumentos?

A conclusão inevitável é que não há desatualização, erro ou inadequação no esquema de classificação adotado na Coleção Ponto de Partida Ciências. Os avaliadores do PNLD 2010 foram negligentes ou, pior ainda, distorceram propositadamente a verdade. Além

disso, sequer se deram ao trabalho de justificar sua divergência com a equipe de avaliação precedente (ERRO TIPO 4).

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) é uma universidade de excelência. Seus esforços pioneiros para promover a atualização de zoólogos do Brasil são notórios. Um bom exemplo disso foi a realização, há quase 30 anos, do I Curso Especial de Sistemática Zoológica, curso intensivo oferecido a pesquisadores brasileiros e de outros países latino- -americanos. Um dos autores da Coleção Ponto de Partida é beneficiário direto da exce- lência da UFSCar, tendo participado desse curso e também obtido seu grau de Mestre em Ecologia e Recursos Naturais nessa instituição. A verdade é que os avaliadores do PNLD 2010 demonstram que não dominam a teoria e a prática da sistemática e da taxonomia biológicas. O nonsense dos seus argumentos neste assunto em particular é surpreendente e particularmente grave. Como é possível proferir tantas barbaridades em nome da UFSCar? Isso depõe contra a universidade, mas ajuda a entender porque o Brasil fica reiteradamente entre os últimos países nas avaliações internacionais desse componente curricular39.

No documento Com a palavra, o autor (páginas 160-167)

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