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Pr oposta pedagógica

No documento Com a palavra, o autor (páginas 185-190)

O que diz o Relatório de Reprovação:

5. Proposta pedagógica

Ao longo de toda a Coleção, os textos são excessivamente extensos e inadequados à competência leitora dos alunos nesta etapa de es­ colaridade, bem como contém termos pouco familiares à faixa etária

correspondente. Como exemplo, pode ­se citar os termos: substâncias

químicas (p. 50), vírus (p. 89), habitat (p. 98), proteínas e lipídios

(p. 104), etc., sem o cuidado de defini ­los previamente. A utilização

de uma terminologia inadequada ocorre ao longo de toda a Coleção.

Como exemplo, nas páginas 114 e 115 do livro do 3o ano, utilizam ­se

baixo e alto (altura) para relacionar as intensidades sonoras sendo que convencionalmente tais termos se relacionam com a frequência so­ nora. Há um glossário ao final de cada livro, mas muitos dos termos utilizados não constam no mesmo, além do que, as definições de vários termos são incompletas e inadequadas, como, por exemplo, “Substância: Toda espécie de matéria que possui características (ou propriedades

definidas), como o sal, o açúcar refinado, o ferro, etc.”63

Caro leitor, mais uma vez somos obrigados a relembrar que os textos da Coleção Ponto de Partida Ciências são essencialmente os mesmos da edição aprovada no PNLD 2007. Veja alguns trechos em que os avaliadores daquele PNLD aprovam nossa proposta peda- gógica:

Os livros, em seu conjunto, propõem uma rica diversidade de atividades num esforço de envolver os alunos tanto individualmente como em grupos. Essas atividades concentram- -se no trabalho com textos de excelente qualidade. […]

Na escolha, bem como na distribuição dos temas, foram tomados cuidados com a ade- quação do material à faixa etária a que se destinam, principalmente pelo uso de uma linguagem direta e acessível na abordagem dos conteúdos. […]

A coleção propõe uma abordagem dos conteúdos que supera programas extensos e concen- trados na apresentação de fatos isolados, conseguindo apresentar textos de leitura agra- dável e que abordam conceitos corretos numa linguagem adequada ao nível dos alunos. A terminologia científica é apresentada gradualmente, sem excesso de novos termos.64

Ora, a avaliação do PNLD 2007 é o oposto do que disseram os avaliadores do PNLD 2010. Como isso é possível? Demonstraremos a seguir que o Relatório de Reprovação escrito pelos avaliadores do PNLD 2010 não faz uma análise da proposta pedagógica da Coleção Ponto de Partida Ciências. Isso nem seria possível: eles apresentam a crítica à pro- posta pedagógica em uma única página. Isso pode ser conferido na reprodução do texto

63   UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD

2010 – Coleção Ponto de Partida Ciências. Brasília: Ministério da Educação, maio/2009, p. 5.

64   BRASIL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Guia do Livro Didático 2007: ciências. Brasília: Ministério da Educa- ção, Secretaria de Educação Básica, 2006, p. 83. [grifos nossos].

integral do Relatório de Reprovação apresentada na seção Anexos, ao final deste livro. Por sinal, não podemos deixar de destacar que a reprovação das 1.038 páginas que formam a Coleção Ponto de Partida foi feita em apenas seis páginas. Isso mesmo. Mas, se conside- rarmos que a página 1 do Relatório é praticamente toda ela ocupada pelo cabeçalho da avaliação e que a página 6 traz praticamente apenas a assinatura dos professores Nelson Studart e Antônio Carlos Pavão, a reprovação das nossas 1.038 páginas foi feita em apenas quatro páginas! Quanta capacidade de síntese!

O que os avaliadores do PNLD 2010 realmente fazem nessa passagem do Relatório de Reprovação é apresentar uma pequena lista de trechos e termos para, sem qualquer fun- damentação, concluir que são inadequados. Entretanto, quando os trechos são analisados em seus contextos, verifica -se que os exemplos dados pelos avaliadores do PNLD 2010 refutam suas próprias conclusões.

Os avaliadores do PNLD 2010 afirmam que (sic) “ao longo de toda a Coleção, os textos são excessivamente extensos e inadequados à competência leitora dos

alunos nesta etapa de escolaridade”, mas não citam um exemplo sequer (ERRO

TIPO 7). Se existem tantos textos assim tão longos, por que eles não localizaram em nos- sos livros pelo menos um deles? Em seguida, ao invés de discutir a proposta pedagógica, os avaliadores do PNLD 2010 passam a criticar o uso de termos supostamente pouco familiares aos alunos ou de terminologia supostamente inadequada. Vamos analisar uma acusação por vez.

Os avaliadores do PNLD 2010 afirmam que nossos livros apresentam “termos pouco

familiares à faixa etária correspondente” e citaram como exemplos “os termos:

substâncias químicas (p. 50), vírus (p. 89), habitat (p. 98), proteínas e

lipídios (p. 104), etc., sem o cuidado de defini ­los previamente”. Proposi-

talmente ou por descuido, os avaliadores do PNLD 2010 informam apenas as páginas, mas não os livros. Assim, não é possível saber a quais trechos da Coleção Ponto de Partida eles se referem. Considerando que a obra tem quatro volumes, a decifração dessa objeção é praticamente uma brincadeira de “caça -palavras”, não é mesmo? Esse estratagema dos avaliadores pode ser considerado um ERRO TIPO 7 (mais um!).

Num esforço para compreender o que os avaliadores do PNLD 2010 queriam dizer com “termos pouco familiares à faixa etária correspondente”, nós fizemos um

levantamento das páginas citadas nos quatro livros da Coleção Ponto de Partida. Somente assim seria eventualmente possível descobrir o contexto em que os termos foram usados e avaliar se a censura dos avaliadores do PNLD 2010 tinha alguma substância65. Encontra-

mos os termos “proteína” e “lipídio” na página 104 do livro do 2º ano. Faremos a contes- tação deste item do Relatório com base nessas duas palavras porque o livro do 2º ano é o livro da Coleção destinado aos alunos mais jovens, ainda em fase de alfabetização.

Caro leitor, afirmar que termos como “proteína” e “lipídio” (óleos e gorduras) são pou- co familiares para crianças de 7 anos é quase uma piada. A propaganda de alimentos,

inclusive aquelas destinadas ao público infantil, usa os termos com muita frequência. Tem- po e espaço em propaganda custam muito caro. Nada é colocado num anúncio sem um propósito. É evidente, portanto, que a grande maioria dos alunos do 2º ano já ouviu esses termos diversas vezes e que eles lhe são familiares. A alegação dos avaliadores do PNLD 2010 é evidentemente falsa (ERRO TIPO 1).

Mas vamos dar mais uma chance aos nossos algozes. Talvez alguns alunos dos rincões mais isolados do Brasil não tenham acesso às propagandas de televisão, revistas, rádio, outdoors etc. Mesmo assim, a crítica não procede. A legislação brasileira exige que a em- balagem de alimentos, inclusive os destinados ao público infantil, contenha informações nutricionais em que os termos “proteína” e “lipídio” aparecem. Até mesmo os alunos de escolas rurais e de aldeias indígenas muito afastadas de centros urbanos têm acesso a ali- mentos industrializados. Portanto, a hipótese não prospera nem mesmo nesses casos.

Não poderíamos deixar de mencionar que a leitura de rótulos de alimentos é uma parte importante nos trabalhos de Letramento e Alfabetização Linguística, Língua Portuguesa e Ciências, sendo inclusive uma recomendação do documento Ciências Naturais e do documento Saúde dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Nesses documentos, os alunos encontram regularmente os termos “proteína” e “lipídio”. Ignorar esses fatos é uma forte indicação de imperícia para avaliar livros de Ciências destinados aos anos iniciais do Ensi- no Fundamental (ERRO TIPO 2).

Não há problema algum no trabalho com os termos indicados no Relatório de Repro- vação. Neste contexto, é necessário repetir as ponderações de ESHACH e FRIED:

In this we tend to agree with Vygotsky when he writes that ‘[…] to introduce a new concept means just to start the process of appropriation. Deliberate introduction of new concepts dos not preclude spontaneous development, but rather charts the new paths for it’ (Vygotsky, 1934/1986, pp. 194 -195; it is in this context, incidentally, that Vygotsky introduces his famous ‘zone of proximal development’); the tension created is only a sign that this process is underway.66

[Nisto tendemos a concordar com Vygotsky quando ele escreve que ‘[…] introdu- zir um novo conceito significa apenas iniciar o processo de apropriação. A intro- dução deliberada de novos conceitos não impede o desenvolvimento espontâneo, porém, mais precisamente, delineia novos caminhos para isso’; incidentalmente, foi nesse contexto que Vygotsky introduz sua famosa ‘zona de desenvolvimento proxi- mal’; a tensão criada é apenas um sinal de que o processo iniciou.]

Como se não bastassem os erros já discutidos, devemos informar mais um. A acusação de que os termos “proteína” e “lipídio” foram apresentados “sem o cuidado de defini­

­los previamente” é falsa (ERRO TIPO 1). Os termos são explicados aos alunos na

página 41 do livro do 5º ano (Figura 4.13), citando -se, inclusive, exemplos de alimentos que são fontes importantes desses nutrientes! Adicionalmente, na página 46 do livro do 2º ano, também há uma dica de consulta à Internet sobre alimentação saudável, onde

66   ESHACH, H.; FRIED, M. N. Should Science Be Taught in Early Childhood?. Journal of Science Education and Tech-

se pode obter um folheto para alunos do Ensino Fundamental elaborado pela Fundação Oswaldo Cruz. Nesse folheto, os termos “lipídeo” e “proteína” são usados exatamente como no nosso livro reprovado67. Ora bolas, de duas, uma: ou os avaliadores do PNLD

2010 fizeram uma leitura negligente do livro ou mentiram.

Caro e paciente leitor, ainda sob o título “proposta pedagógica”, os avaliadores do PNLD 2010 também acusam o nosso livro de utilizar terminologia inadequada e exem- plificam (sic) “nas páginas 114 e 115 do livro do 3o ano, utilizam ­se baixo e

alto (altura) para relacionar as intensidades sonoras sendo que convencio­

nalmente tais termos se relacionam com a frequência sonora”.

Trata -se de um ardil repetido incansavelmente pelos avaliadores do PNLD 2010 para distorcer a verdade: a descontextualização de pequenos trechos dos nossos livros. A análise do texto no seu contexto revela o oposto do que afirmam os avaliadores do PNLD 2010. As páginas 114 e 115 do livro do 3º ano foram reproduzidas neste capítulo (Figuras 4.14 e 4.15) para que o leitor possa verificar que as palavras condenadas foram impressas entre aspas para dar destaque à descrição cotidiana e coloquial da intensidade do som e, logo em seguida, oferecem a mesma descrição, porém com o uso da terminologia apropriada, como demonstra o trecho destacado a seguir.

Lembre -se do que acontece no seu dia -a -dia. Quando o rádio toca uma música que você gosta, muitas vezes você aumenta o volume para ouvi -la melhor, não é mesmo?

Aumentar o volume deixa a música mais grave ou mais aguda? É claro que não. O que muda é que a música “fica mais alta”, isto é, o som fica mais forte ou intenso.

Os avaliadores do PNLD 2010 também omitem que o texto continua com outros exemplos de uso de termos cotidianos contrastando -os com a terminologia adequada. O Manual do Professor (página 38) também informa ao professor a importância de trabalhar os termos técnicos em contraste com as descrições usuais (cotidianas) das características dos sons.

Na realidade, a leitura contextualizada do trecho em questão, bem como a leitura do capítulo como um todo, revelam que o tema é tratado com propriedade, que a termino- logia sugerida é adequada e que o livro estimula o uso de termos cientificamente adequa- dos no lugar dos termos cotidianos. Exatamente o oposto do que os avaliadores afirmam (ERRO TIPO 1).

67   Fundação Fiocruz. Disponível em <http://www4.ensp.fiocruz.br/biblioteca/dados/txt_465569599.pdf> (acesso:  maio/2010).

Conclusão

Os erros conceituais e as inadequações indutoras a erros apontadas pelos avaliadores do PNLD 2010 na Coleção Ponto de Partida Ciências simplesmente não existem. Neste capítulo, nós não apresentamos todas as acusações do Relatório de Reprovação da Coleção Ponto de Partida Ciências. Isso não significa, porém, que deixamos alguma crítica sem refutação. Nós fizemos questão de responder item por item todas as alegações dos avalia- dores do PNLD 2010 em um documento enviado à SEB. Não colocamos o documento completo neste livro porque acreditamos que os exemplos descritos neste capítulo são mais do que suficientes para dar uma ideia da dimensão dos erros dos avaliadores do PNLD 2010 e a injustiça que representa a exclusão da nossa obra do PNLD 2010.

A nossa indignação e inconformidade com a reprovação da Coleção Ponto de Partida Ciências é fácil de compreender. Os erros conceituais e as inadequações indutoras a erros apontados pelos avaliadores do PNLD 2010 não existem. A nossa Coleção não se enqua- dra em nenhum critério de exclusão definido pelo Edital do PNLD 2010:

‹

‹ a Coleção propõe uma quantidade adequada de experimentos e observações e discute

adequadamente os métodos da ciência;

‹

‹ a proposta pedagógica é apresentada de maneira clara e objetiva no Manual do Profes-

sor e é consolidada coerentemente ao longo dos livros da Coleção;

‹

‹ o Manual do Professor é informativo, traz farta bibliografia e indicações de atividades

adicionais que o professor poderá utilizar, a seu critério68; ‹

‹ os grupos étnico -culturais e a diversidade ambiental brasileiros estão amplamente re-

presentados, de modo equilibrado e adequado;

‹

‹ a Coleção não exprime preconceitos, nem induz a isso, pelo contrário, dá ênfase à

formação do aluno como cidadão participativo, ciente dos seus direitos e dos seus deveres também; e

‹

‹ os conteúdos tratados na Coleção atendem plenamente as exigências do Edital do PNLD 2010 e as sugestões dos Parâmetros Curriculares Nacionais.

Portanto, a situação é insolúvel: ao reinscrever a obra no PNLD 2013, seremos obriga- dos, sob pena de exclusão sumária, a apresentar as “correções” de acordo com o Relatório de Reprovação do PNLD 2010. Mas, como demonstramos neste capítulo, o Relatório de Reprovação aponta erros onde não há erros e, muito pior, exige mudanças de conceitos cientificamente corretos e procedimentos didático -pedagógicos adequados por conceitos comprovadamente errados e procedimentos didático -pedagógicos inadequados.

68   Além disso, o Manual do Professor é muito prático, sendo claramente diagramado, com informações capítulo a  capítulo. 

Considerações finais sobre a avaliação de Ciências

No documento Com a palavra, o autor (páginas 185-190)

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