4. Características de experimentos e atividades de pesquisa
Há observações, experimentações, coleta de dados em todos os capítu los. E isso é feito tanto de forma individual como em grupos. Porém
fica se nas evidências, não são trabalhadas hipóteses e interpretação
dos dados. São comprovações experimentais do que se deseja ensinar. Não são práticas experimentais abertas, em que se pode ter uma va riedade de respostas que darão margem à interpretação. São situações
fechadas. Além disso apresenta alguns erros conceituais. Por exem
plo, no livro do 3o ano, p. 89, a proposta do experimento reforça a
concepção incorreta de que calor e temperatura são a mesma coisa. Isso ocorre, por exemplo, quando se pede, em “Como fazer” ao aluno que sinta o calor dos objetos e responda se todos estão com a mesma temperatura, ou ainda, quando pede que o aluno indique o calor que
sentiu ao tocar os objetos no caso, se frio, morno, quente ou muito
quente. Ademais, a proposta não incentiva a construção de habilidades de investigação científica, pois não solicita qualquer manipulação
ou análise dos dados. Ainda, no Manual do Professor, indica se que
qualquer resposta do aluno pode ser aceita pelo professor, e não se
propõe discussões complementares.61
O Relatório de Reprovação reconhece que na Coleção Caminhos da Ciência “há ob servações, experimentações, coleta de dados em todos os capítulos. E isso é
feito tanto de forma individual como em grupos”. Em seguida, os avaliadores do
PNLD 2010 condenam essas mesmas atividades com base em críticas vagas e sem a carac- terização dos supostos erros ou inadequações.
Os avaliadores não indicaram sequer uma experiência para fundamentar suas conclu- sões. A única crítica específica refere -se a um suposto reforço de que “a concepção in
correta de que calor e temperatura são a mesma coisa”. Mas esta censura não diz
respeito às características da experiência, mas sim ao uso do termo “calor”, crítica esta que será respondida mais adiante.
Reprovar uma coleção com base em afirmações genéricas, sem indicação de exemplos específicos e sem caracterizar os erros presentes em cada exemplo, é uma omissão que com- promete a credibilidade do próprio PNLD. Isto porque, ao não indicar erros específicos e não tipificá -los claramente, os avaliadores do PNLD 2010 valem -se apenas de argumentos de poder, do seu “poder discricionário”. Esse estratagema é um recurso reprovável em qual- quer debate, porque serve apenas para impor uma opinião sem a necessária comprovação. No âmbito da avaliação de livros didáticos que participam de um edital de compras públi- cas, o ardil é inaceitável visto que não explicita os motivos que fundamentam a exclusão de uma obra, nega aos autores a possibilidade de contrapor argumentos na defesa do seu trabalho e inviabiliza uma eventual reformulação dos livros – uma exigência do Decreto nº 7.084/2010. É por isso que classificamos essa característica do Relatório de Reprovação de nossas obras como ERRO TIPO 7.
Assim como no caso das acusações de inadequação de linguagem da nossa coleção, a única maneira de evitar um duelo entre as nossas opiniões e a dos avaliadores do PNLD 2010 é procurar socorro na opinião de especialistas de notório saber. Como os experimen- tos, as atividades de pesquisa e o Manual do Professor são os mesmos desde a primeira edição da obra (salvo atualizações, algumas complementações e correções pontuais), os
61 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA. Relatório de Reprovação PNLD
pareceres das equipes de avaliação dos PNLD 2001, 2004 e 2007 são pertinentes e escla- recedores. Reproduzimos, a seguir, alguns trechos das resenhas da Coleção Caminhos da Ciência, aprovada e elogiada pelas equipes de avaliação precedentes.
Guia de Livros Didáticos PNLD 2001. Classificação do livro da 1ª série (atual
2º ano): (Recomendado). “Nas atividades, evita -se a simples repetição de conteúdo. Im- portantes e pertinentes são os experimentos propostos para a compreensão dos fenômenos tratados no livro. São viáveis, mas alguns exigem que o professor antecipe as advertências, como no caso de risco de acidentes com animais venenosos em moitas, buracos e pedras, entre outros que estão citados no livro posteriormente.”
Guia de Livros Didáticos PNLD 2001. Classificação do livro da 2ª série (atual
3º ano): (Recomendado com Distinção). “Esta obra possui muitas qualidades tanto no que diz respeito à seleção de conteúdos relevantes como à opção metodológica. Valoriza -se o papel ativo do aluno no aprendizado, de modo que ele tenha acesso ao conhecimento historica- mente acumulado e amplie a compreensão do mundo que o cerca.”
Guia de Livros Didáticos PNLD 2001. Classificação do livro da 3ª série (atual
4º ano): (Recomendado com Distinção). “Este livro destaca -se por sua significati- va contribuição ao ensino de Ciências, distinguindo -se dos demais materiais à disposição do professor. A metodologia de ensino sugerida, a acuidade conceitual e a apresentação do livro fazem dele um excelente instrumento para o aprendizado dos alunos e, ao mesmo tempo, para o desenvolvimento do professor.”
Guia de Livros Didáticos PNLD 2001. Classificação do livro da 4ª série (atual
5º ano): (Recomendado com Distinção). “Os experimentos propostos são importantes e pertinentes para compreender os fenômenos que estão sendo discutidos. Atividades que exigem trabalho cooperativo também são frequentes ao longo do livro.”
Guia de Livros Didáticos PNLD 2004. Classificação da Coleção: Recomendado com
Distinção. “Os experimentos e as atividades práticas são propostos com relativa frequência ao longo da Coleção. Esses experimentos são de execução simples e bastante ilustrativos dos conceitos abordados, além de valerem -se de materiais baratos e seguros.”
Guia de Livros Didáticos PNLD 2007. Avaliação da Coleção (a classificação foi abo-
lida). “A Coleção apresenta várias atividades experimentais de observação nos seus quatro volu- mes. A maioria é factível e permite interpretação coerente. Em todos os experimentos, a Coleção sempre apresenta recomendações quanto aos cuidados necessários de segurança […] O Manual do Professor acrescenta experimentos adicionais como sugestão para atividades complementares, a juízo do professor.”
Em vista da divergência entre o seu parecer e os três pareceres das equipes preceden- tes, os avaliadores do PNLD 2010 deveriam não só apontar exemplos específicos e sua tipificação, como também deveriam fundamentar os motivos dessa divergência com da- dos, bibliografia e exigências específicas do Edital do PNLD 2010. Isto eles não fizeram (ERRO TIPO 4).
Quando confrontados com a refutação dos autores ao Relatório de Reprovação, os responsáveis pela avaliação do PNLD 2010 alegaram, mais uma vez, que as divergências
nos pareceres são explicadas pela adoção de “critérios mais rigorosos” decorrentes
do “aprimoramento” do processo da avaliação. Isso não é suficiente. Como já destacamos
anteriormente, os editais do PNLD devem obedecer ao “princípio da publicidade”, isto é, as obras só podem ser avaliadas segundo critérios estabelecidos no edital e/ou em docu- mentos oficiais amplamente divulgados – inclusive citados no edital. Todavia, sempre que indagados a respeito dos “critérios mais rigorosos”, os avaliadores do PNLD 2010
nada dizem. Eles se calam por que os critérios estabelecidos no Edital do PNLD são os mesmos dos critérios dos PNLD anteriores. A alegação de critérios mais rigorosos é falsa. Se a nossa obra foi julgada por critérios não divulgados, então configura -se uma ilegalida- de que denominamos ERRO TIPO 5.
Além de lançar mão dos misteriosos “critérios mais rigorosos”, os avaliadores do
PNLD 2010 também responderam à nossa refutação destacando alguns trechos da rese- nha da Coleção Caminhos no Guia do Livro Didático PNLD 2007 com algumas críticas à nossa obra. Todavia, essa estratégia é, na realidade, “um tiro no próprio pé” dos próprios avaliadores do PNLD 2010 por dois motivos óbvios que se evidência quando os conteú- dos da resenha de 2007 e do Relatório de Reprovação são confrontados:
os avaliadores do PNLD 2007, apesar de identificarem algumas imperfeições, conclu- íram que a Coleção Caminhos da Ciência atendia às exigências do edital, tanto é que ela foi aprovada naquele programa; e
nenhuma das críticas dos avaliadores do PNLD 2007 se repete no Relatório de Repro-
vação no PNLD 2010, comprovando que os autores atualizaram, corrigiram e aperfeiçoa- ram a obra.
A conclusão inevitável é que a nossa obra foi reprovada injustamente. O leitor não concorda?