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único Deus libertador e instrutor

Êxodo

C

anônica e teologicamente falando, Êxodo continua os relatos e ênfases de Gênesis, mas ao mesmo tempo cria um arcabouço to­ talmente novo para o que vem em seguida. Questões como a sin­ gularidade do Deus Criador e mantenedor de tudo o que existe, o cumpri­ mento das promessas a Abraão, a habilidade de Deus em livrar do perigo o povo escolhido, o pecado de um contra o outro dentro da raça humana, e a necessidade da raça humana de orientação e limites dados por Deus continuam a ser objeto de ênfase. Empregam-se Abraão, Isaque, Jacó e José como lembretes do que já aconteceu e ainda ocorrerá. Ao mesmo tempo, Deus usa novas pessoas, como Moisés, Arão, Miriã, o faraó e ou­ tros, para fazer a história e a revelação avançar. Novas questões teológicas também surgem, como o papel da instrução divina, ou lei, na vida de Israel e de outras nações, a natureza da escolha divina de Israel como povo especial e o meio de conseguir perdão para o pecado.

Alguns desses conceitos ainda provocam debates sérios, pois quem é verda­ deiramente o povo de Deus, quem deve possuir a Palestina (Canaã) e quem possui uma religião dada por Deus são questões que até hoje fazem bastante diferença no Oriente Médio. O papel das leis divinas do Êxodo no cristianis­ mo pode provocar discussões acaloradas mesmo hoje, dois mil anos depois da morte de Jesus. Fica claro que esse livro merece uma séria reflexão teológica e canônica e fica igualmente claro que reflexão faz bastante diferença caso os teólogos queiram vincular a teologia bíblica com a missão atual da igreja.

Embora Êxodo ofereça diversos temas e subtemas de importância, uma idéia prevalece e torna as demais possíveis ou mesmo necessárias: existe apenas um único Deus. Este Deus único é o mesmo Deus que levou para o Egito José, Jacó e o restante da família escolhida. Assim, é o mesmo Deus Criador da terra e da raça humana. Lá pela metade de Êxodo este Deus único revela a dedicação total e constante a promessas feitas centenas de anos antes, a capaci­ dade de livrar das mãos de um governante poderoso e opressivo um povo numeroso, mas fraco e escravizado, a disposição de trabalhar com um líder temível e ao mesmo tempo temeroso (Moisés), a tolice de adorar deuses fabri­ cados pelos homens e o desejo de comunicar padrões benéficos à nação recém- libertada. Nesse ponto intermediário de Êxodo, Deus declara inválidas a de­ mais divindades e exige adoração exclusiva (Êx 20.1-11). Talvez n e n h u m ^ outra declaração tenha sido tão revolucionária no mundo antigo ou r

seja no mundo pluralista e pós-moderno. Essa afirmação da singí^ explica como é que Deus pode escolher Israel, livrá-los, fazer m \ Kktjc^om ele e chamar Israel a ensinar os caminhos de Deus para^ecútraç-Hações. Em simples palavras, não existe qualquer outra divindadéime (po^sà. brecar Deus, repreendê-lo ou opor-se a ele, e é essa “simples”< ^c$$^tò)Jóg^ que Moisés procura ensinar a seu público na antigüidade e q v ipnstiiui a base para a mensagem duradoura da Bíblia para hojer

O esboço de Êxodo aqui sugçriâ<^rragra)personagens, eventos, lugares e temas importantes. Dessa feita (^m fltinuidade às ênfases iniciadas em Gênesis, especialmente as que acoiripknh n a continuação das promessas abraâmicas,1 e tan >ém,d raoiMra a contribuição singular de Êxodo para as teologias do AT ^ íH ic^ T am b ém ressalta a contínua importância do monoteísmofipxA/EOCigço divisões básicas revelam o propósito básico do

livro de expjüttar $ • • ridade de Deus e sua presença no meio do povo.2

Primeirr, Çx^do 1— 18 concentra-se no livramento de Israel do Egito, qitn/d&s^preocupação geral com a salvação, o texto ressalta que Deus alt 'a (Êx 1 e 2), revela, chama e promete (Êx 3 e 4), põe o povo Jiberdade (Êx 5.1— 15.21) e provê à subsistência do povo escolhido 15.22— 18.27). Essas idéias desenvolvem-se naturalmente a partir do ______ ______ d o ___ _ _________ p____ ______________ Segundo, Êxodo 19—24 explica como Deus estabelece a aliança com Israel. Nenhum outro evento afeta tanto o arcabouço histórico ou teológico do AT quanto este.3 Inseridas nesta declaração inicial da lei de Deus acham-

'Cf. David J. A. Clines, The them e o ft h e Pentateuch.

2John Durham conclui que a presença de Deus é o tema principal do livro. Cf. John Durham, Exodus, p. xxx.

’Walther Eichrodt interpreta a aliança como o tema centralizador. Cf. Walther Ei­ chrodt, T heology o ft h e O ld Testament, vol. 1.

se noções como a da transcendência divina (Êx 19), sua autoridade total (Êx 20) e a sabedoria para a vida diária (Êx 21—23). Terceiro, Êxodo 25—31 concentra-se no tabernáculo e no papel do sacerdócio na adora­ ção. Aqui o Senhor é quem habita no meio do povo (Êx 25—27), emprega mediadores (Êx 28 e 29) e encontra-se com eles (Êx 30 e 31). Cada uma dessas verdades é necessária para a teologia da adoração.

Quarto, Êxodo 32—34 relata o incidente do bezerro de ouro, aconte­ cimento revelador e quão rapidamente Israel é capaz de afastar-se dos pa­ drões divinos. Nessa seção Deus é descrito como justificadamente ciu­ mento (Êx 32) e ao mesmo tempo presente (Êx 33) e pronto a perdoar e renovar (Êx 34). Quinto, no segundo segmento sobre o tabernáculo e sacerdócio, Êxodo 35— 40 é o resultado nacional do perdão divino imere­ cido. Deus dá a indivíduos capacidade e talentos para construir o taberná­ culo (Êx 35-39) e vive com o povo da aliança e orienta-o (Êx 40). Somente Deus é capaz de todas essas realizações e somente ele continua presente com o povo, não importando o que faça ou o que aconteça ao redor dele. Por esse motivo somente um Deus merece adoração, honra e louvor.

Primeira parte: o Êxodo (Êxodo 1— 18)

Provavelmente nenhum outro evento na história de Israel rivaliza com o Êxodo em sua importância teológica. Esse livramento histórico do povo escolhido de Deus atua como paradigma maior da salvação, sendo tanto a evidência do amor divino por Israel quanto, no restante das Escrituras, estímulo à obediência amorosa por parte do povo de Deus. A magnitude do evento é acentuada pela luta precedente e pelos desafios seguintes. Desse modo o valor maior desse acontecimento vem à tona mediante a análise teológica cuidadosa que vincula Gênesis e Êxodo e comenta so­ bre como Êxodo faz a histórica bíblica avançar.