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Deus cujos ministros são santos: Levítico 8—

Levítico

Deus cujos ministros são santos: Levítico 8—

Moisés continua voltado às prioridades divinas anunciadas em Êxodo 25— 31, as quais o incidente do bezerro de ouro interrompeu. Êxodo 35—40 redireciona a atenção de Israel para a construção de um local sagrado onde pode-se desfrutar da presença de Deus. Levítico 1—7 explica os sacrifícios que Yahweh aceita em lugar do pecado humano, os quais se contrapõem ao culto ilegítimo do bezerro de ouro. Agora Moisés segue as diretrizes do Senhor para os sacerdotes. Inicialmente mencionadas em Êxodo 29.1-37, essas instruções mostram que os ministros de Deus devem ser separados para servir a um povo separado (Lv 8), devem servir exatamente como o Deus separado determinou (Lv 9) e devem, como o povo, esperar o juízo de Deus quando esses mandamentos são ignorados, usados erradamente ou tratados com pouco caso (Lv 10). Ser sacerdote significa aceitar mais responsabilidade de santidade do que o membro comum da nação santa, mas isso de modo algum dá aos sacerdotes licença especial para pecar nem o direito de oprimir “pecadores comuns” mediante manipulação dos rituais de adoração.

Anteriormente em Êxodo 29 Deus explicou a cerimônia de Levítico 8. Lá o Senhor declara explicitamente que esses rituais existem para “santifi­ car” ou “consagrar”24 Arão e família como sacerdotes escolhidos para o povo escolhido (Êx 29.1). Os detalhes encontrados em Êxodo diferem um tanto quanto da sua implementação aqui. Milgrom explica: “Aqui o texto

trata da seqüência ritual, ao passo que os versículos equivalentes de Êxodo 29 constituem uma lista desordenada de materiais necessários, cuja fun­ ção nem mesmo é descrita”.25 Ele ainda assinala que essa estratégia “é um estilo padrão entre escribas no antigo oriente médio. Entre os hititas, por exemplo, repetidas vezes encontramos itens que num texto de inventário aparecem numa ordem diferente daquela encontrada no texto ritual que prescreve o uso de tais itens”.26 Portanto, não se deve atribuir muita im­ portância a essas divergências.

Levítico 9 e 10 revela o regozijo, a maravilha e a seriedade envolvidos na atividade sacerdotal. Quando os sacerdotes começam a dirigir a adoração que Deus ordenou, no início eles obedecem perfeitamente (9.1-22). A fide­ lidade deles à palavra de Deus leva à aprovação pelo Senhor, o que nesse caso fica demonstrado com o encontro da glória de Deus com o povo. Em Êxodo 40.34,35 o Senhor demonstrou aprovar a conclusão do tabernáculo ao en­ cher o centro de adoração com glória na forma de nuvem, ao passo que aqui fogo “procede da glória”27 e consome os sacrifícios (9.23,24). O povo rego­ zija-se com essa demonstração tanto da aceitação divina desses sacrifícios iniciais quanto da presença pessoal de Deus, em parte talvez porque eles se recordem da ameaça de ausência divina (Êx 32—34).

O regozijo transforma-se em tristeza em Levítico 10.13. Uma vez mais o fogo é o instrumento usado para despertar emoções, e novamente a pre­ sença divina é elemento chave na narrativa. Dois dos filhos de Arão, Nada-

be e Abiú, utilizam fogo “estranho” ou “não-autorizado” (“profano”, n v i)

no altar, sem que Deus tivesse ordenado (10.1). Diante do atrevimento deles, a presença do Senhor produz um segundo fogo (v. 9.23,24), mas essas chamas matam os dois (10.2). Baruch A. Levine comenta: “O texto não especifica qual é a ofensa cometida pelos dois jovens sacerdotes; sim­ plesmente declara que trouxeram uma oferta que não fora especificamente ordenada”.28 Essa é de fato a questão. Os sacerdotes desobedeceram à pa­ lavra de Deus e, desse modo, cometeram o pecado básico da raça humana. No entendimento de Moisés o fato é que os sacerdotes não demonstraram a santidade de Deus com suas ações, de modo que o próprio Yahweh revelou-se santo aos olhos do povo ao atingir os ofensores (10.3). Fica claro que o dever do sacerdote é preservar a percepção que o povo tem da santi-

2iL evítico 1— 16, p. 495.

26Ibid.

27John E. Hartley, Leviticus.

28L eviticus (Jewish Publication Society Torah commentary; Phildadelphia: Jewish

dade de Yahweh. As mortes demonstram a seriedade da tarefa dos levitas quer para eles próprios quer para o povo. No dizer de Walter Kaiser,

A questão é que os chamados a aproximar-se constantemente de Deus por sua função, colocam-se numa posição de perigo e também de privi­ légio. [...] Qualquer ato ou falha que diminui a santidade absoluta de Deus e, desse modo, tende a tratar Deus de um modo superficial, banal ou impensado exporia imediatamente a possível perigo quem se aproxi­ ma de Deus.29

Eventos subseqüentes em Levítico 10 reforçam essa idéia. A aparência (10.4-7) e sobriedade (10.8,9) dos sacerdotes e também a maneira de comer sua porção dos sacrifícios (10.12-15) são todas elas coisas que se devem fazer cuidadosa e apropriadamente.

Por que os sacerdotes têm de ser tão escrupulosos na observância das diretrizes divinas (10.16-20)? Por que Yahweh está tão interessado na apre­ sentação da santidade divina? Oferecem-se aqui duas razões que têm a ver com a importância teológica do sacerdócio. Primeiro, Levítico 10.10,11 realça o papel dos sacerdotes de ensinar a revelação divina ao povo.30 Não são meros funcionários. São, pelo contrário, pontes de revelação. Assim como Deus revelou esses padrões a Moisés, e este por sua vez passou-os adiante aos sacerdotes, de igual forma os sacerdotes devem ensinar os man­ damentos divinos aos israelitas e como obedecê-los. Os próprios rituais ilustram esse princípio de ensino, visto que o trabalho do sacerdote é aju­ dar o adorador no sacrifício e não fazer o sacrifício em lugar do adorador. Ademais, em Levítico 11— 15 ampliar-se-á o trabalho do sacerdote como instrutor. Segundo, os sacerdotes não apenas compartilham a revelação de Yahweh, mas também facilitam a propiciação pelos pecados (10.17), um papel cuja importância é difícil de exagerar. A seriedade com que os sacer­ dotes vêem sua tarefa deve equiparar-se à seriedade com que Yahweh vê o pecado e a propiciação. A gravidade disso mistura-se com o regozijo do perdão, mas permanece vital de qualquer maneira.