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crescimento da diversidade: 196-

Os anos da década de 1960 representaram uma calmaria entre as tempes­ tades de erudição dos anos do pós-guerra e os anos de 1970-80. Algumas teologias do AT foram escritas, monografias continuaram a aparecer, e ar­ tigos foram publicados, mas isso tudo aconteceu em pequena quantidade. A erudição conservadora, que por anos não tinha sido uma parceira séria no diálogo da disciplina, uma vez mais entrou em cena. De modo geral a teologia do AT parecia um tanto quanto exausta, com metodologias gas-

tas, com seus maiores defensores envelhecendo. Como acontece muitas vezes em situações assim, novas idéias e novos autores vieram à frente para propor maneiras de fazer a disciplina avançar. Tal mudança de propósito conduziu a uma diversidade de opiniões e metodologias nunca antes vista na teologia do AT. A mesma espécie de fermentação também estava acon­ tecendo em estudos do AT como um todo.

A erudição conservadora juntou-se novamente aos debates em 1958, quando Edward J. Young publicou The study o f O ld Testament theology

today [O estudo da teologia do Antigo Testamento hoje\,u5 um breve apanha­ do de tendências na disciplina. Essa análise ressaltou a falta de obras base­ adas em idéias conservadoras sobre as Escrituras, história bíblica e a uni­ dade da doutrina bíblica. E certo que J. Barton Payne trata dessas questões em The theology o fth e O lder Testament [A teologia do Antigo Testamento]. No prefácio de seu livro, Payne assinala a falta de livros de texto que corres­ pondam “à seqüência histórica e ao caráter redentivo da Teologia Bíbli­ ca”.116 Esse vácuo levou-o a escrever uma obra cuja tese é que

Deus dirige ativamente a história humana com o propósito de redimir homens para si mesmo. Objetivamente ele alcançou nossa redenção de uma vez por todas ao enviar seu Filho Jesus Cristo para morrer na cruz pelo pecado do homem. Subjetivamente, no entanto, ele media essa salva­ ção oferecida à humanidade por meio do instrumento de sua aliança, ou, para usar um termo mais exato, seu Testamento.117

Até aqui essa abordagem soa muito parecida com outros esforços de história da salvação. Payne, contudo, rapidamente se coloca lado a lado com Hengstenberg e Hofmann no campo da história da salvação, ao de­ clarar que

ao abordar o AT, este escritor fez duas suposições: 1) este livro é o equi­ valente das palavras de Deus; e 2) os ensinos deste livro impõem uma obrigação para com a fé e prática cristãs. As únicas exceções a esta última suposição talvez digam respeito a certas cerimônias do AT e a umas poucas aplicações específicas de seus princípios morais que dizem res­ peito à sociedade do antigo Oriente Médio (p.ex., leis de herança). A primeira suposição caracteriza esta obra como evangélica e distingue-a do legalismo teológico; a segunda caracteriza-a como tradicionalmente ortodoxa e distingue-a do dispensacionalismo contemporâneo.118

ll5(London: James Clark, 1958). U6P. 3

U7Ibid.

ll8Ibid., p. 3-4. Observe-se também a aprovação dada por Payne a Hofmann e Hen­ gstenberg, ibid., p. 27, 31.

Essas citações indicam a crença de Payne de que uma teologia conserva­ dora do AT deve oferecer clara alternativa à erudição crítica. Teólogos con­ servadores devem ressaltar a unidade da Palavra de Deus e da revelação divina. Também devem procurar as conexões redentivas entre os Testa­ mentos e identificar esses elementos salvíficos ao longo da história. Seus comentários também revelam a divisão entre conservadores que são teólo­ gos da aliança, como é o caso do próprio Payne, e teólogos dispensaciona- listas, que, no entender de Payne, estabelecem demasiadas distinções en­ tre os Testamentos. É certo que a erudição conservadora assumiu muitas formas depois de Payne, mas pelo menos as ênfases na revelação infalível e na história redentiva permaneceram. Estabeleceu-se um ponto de referên­ cia para estudos futuros.

O formato usado por Payne na apresentação de suas conclusões possui sete partes, cada uma conduzindo os leitores progressivamente através dos estágios da redenção. Esse estudo sistemático não reproduz a seqüência canônica da história do AT nem segue uma ordem estabelecida de livros bíblicos. Dessa maneira a obra é um tratamento excepcionalmente minu­ cioso da redenção. Entretanto não é estruturada de modo a permitir uma análise cuidadosa de muitas doutrinas secundárias.

Três obras de outros autores refletiram a diversidade que emergia na teologia do AT. Em T hefaith o fth e O ld Testament. a history [A f é do Antigo

Testamento: uma história] (1968; trad. em inglês de 1983) Werner H.

Schmidt tentou posicionar-se entre as abordagens da história da religião e da teologia do AT.119 Schmidt analisa tanto a fé de Israel à medida que se desenvolve na história quanto os pontos de contato e as diferenças entre essa fé e outras religiões antigas. Ele consegue fazê-lo concisamente. Esse livro demonstra o problema percebido constantemente por estudiosos crí­ ticos ao tentar juntar história e fé.

Como em suas monografias anteriores, em The O ld Testament a n d the­

ology [O Antigo Testamento e teologia] George Ernest Wright procurou tirar

conclusões sobre teologia bíblica sem oferecer o estudo completo da teolo­ gia do AT. No início do livro Wright afirma que quer dizer

quais são as conseqüências para a teologia quando alguém leva o AT a sério: não somente como um documento histórico importante que ser­ ve apenas de pano de fundo para movimentos posteriores, mas vital­ mente como texto canônico de tremenda importância para a vida e fé contemporâneas.120

II9P. 1-4.

Ele repete essa preocupação, encontrada nos livros que escreveu anteri­ ormente, por acreditar que “ela se choca com muito do que está sendo feito hoje em dia como teologia por teólogos ‘mais jovens”’.121 Ao mesmo tempo em que reafirma suas palavras nas obras anteriores, Wright esperava que esse novo livro abrisse novos caminhos em áreas, como revelação e teologia, a natureza de Deus como Criador, Senhor e guerreiro, e herme­ nêutica. É certo que Wright oferece longas explicações para os conceitos introduzidos anteriormente. De qualquer forma, a questão da autoridade continua sem solução, a unidade das Escrituras ainda é um alvo e não uma realidade, e as partes das Escrituras que não são história narrativa perma­ necem majoritariamente fora dos esquemas propostos por ele.

Devido a esses e a outros impasses metodológicos no movimento da teologia bíblica, em B iblical theology in crisis [Teologia bíblica em crise], Brevard S. Childs afirmou que chegara o tempo de caminhar rumo a novas direções.122 Childs continuou comprometido com a unificação das Escri­ turas numa teologia verdadeiramente bíblica. Semelhantemente, ele man­ teve a ênfase do movimento de teologia bíblica na revelação histórica, no caráter único da religião de Israel e no valor do AT para a igreja.123 Contu­ do, ele não mais acreditava ser possível alcançar esses objetivos sem uma nova abordagem. Desse modo ele propôs tornar o cânon, a ordem hebrai­ ca dos livros, o contexto para a teologia do AT. A partir dessas Escrituras estabelecidas, autoritativas e reveladas é possível achar os dados necessários para a teologia bíblica. As idéias de Childs serão analisadas amplamente mais tarde, de maneira que não são tratadas em detalhe aqui. A esta altura é suficiente assinalar sua crença de que o movimento de teologia bíblica estava exaurido e de que o cânon, e não a história, nem a pregação, nem um tema singular, deve tornar-se o centro da atenção da teologia do AT.

Embora não sendo um estudo específico de teologia do AT, Introducti­

on to the O ld Testament [ Introdução ao Antigo Testamento] (1969), de R. K.

Harrison, ofereceu a teólogos conservadores do AT uma imensa oportuni­ dade.124 Provavelmente a obra mais volumosa e importante do gênero a aparecer até hoje em círculos conservadores, esse livro critica detalhada­ mente as suposições e conclusões da erudição crítica. Depois de inúmeras referências a fontes antigas, filósofos da história e achados arqueológicos, Harrison rejeita todas as idéias evolucionárias da história de Israel e as

121V ibid., p. 97-122.

'“ (Philadelphia: Westminster Press, 1970). 12Tbid„ p. 139-47.

teorias propostas por De Wette, Vatke e Wellhausen sobre a autoria do Pentateuco. Ele alega especificamente que textos de autoria sacerdotal não foram os últimos a aparecer em culturas antigas, algo que Dillmann havia assinalado anteriormente. Harrison apresenta a plausibilidade da história bíblica e da autoria mosaica do Pentateuco. Ele também divide seu estudo dos próprios livros do AT nas categorias hebraicas tradicionais de Lei, Pro­ fetas e Escritos.

O que a obra magistral de Harrison oferece é a oportunidade de uma base histórica sólida para escrever a teologia do AT. Caso suas conclusões estejam corretas, então os conservadores podem abordar o texto sem ter que escolher categorias anistóricas para seu trabalho. Uma vez mais a teologia conservadora tanto bíblica quanto do AT pode estar fundamentada num contexto histórico legítimo. A obra de Harrison também mostra o valor de seguir a ordem hebraica dos livros ao descrever a mensagem do AT.

A década de 1970 viu a publicação de várias teologias do AT que refle­ tiram metodologias mais antigas ou propuseram novas. A diversidade con­ tinuou a florescer. O ld Testament theology in ou tline [Teologia do Antigo

Testamento em esboços] (trad. em inglês de 1978), de autoria de Walther

Zimmerli, e Theologische Grundstrukturen des Alten Testaments [Estruturas

básicas teológicas do Antigo Testamento], de Georg Fohrer, ambas publicadas

em 1972, procuraram pontos centrais para seus estudos, pontos a partir dos quais poderiam desenvolver suas análises. Desse modo repetiram os esforços de Schultz, Eichrodt e outros. Zimmerli explica que a necessida­ de de um princípio unificador surge da obrigação que a teologia do AT tem de “levar os leitores a reunir na sua mente as várias afirmações feitas pelo Antigo Testamento acerca de Deus, o qual deseja ser conhecido não como um Deus variado, mas como o Yahweh uno”.125 Para realizar tal tarefa, Zimmerli escolhe o primeiro dos Dez Mandamentos como princí­ pio fundamental. Ele diz: “A obediência a Yahweh, o Deus único, que livrou Israel da escravidão e tem ciúmes de sua unicidade, define a nature­ za fundamental do Antigo Testamento”.126 A conclusão de Zimmerli é basicamente correta, conforme sustentar-se-á mais adiante. Em sua totali­ dade a fé e ações de Israel erguem-se ou caem por terra com base nessa convicção de que existe apenas um único Deus, com o nome Yahweh.

O livro de Georg Fohrer gira em torno dos temas gêmeos da soberania e comunhão divinas com os seres humanos.127 Essas duas idéias ajudam a

125P. 10. I26Ibid., p. 116.

manter em equilíbrio adequado a natureza divina, a história humana, e a comunidade individual e humana. Elmer A. Martens observa que a obra de Fohrer também rompe com as muitas teologias puramente descritivas do passado. Ao contrário de Eichrodt, para citar apenas um exemplo, Fohrer não sente qualquer dificuldade em afirmar a natureza normativa da teologia do AT e em oferecer longas aplicações para o mundo de hoje.128 Desse modo ele enfatiza a importância do AT para a igreja, algo bem parecido com o que o movimento de teologia bíblica havia feito por vinte anos.

A maioria das teologias escritas desde que Gabler deu sua palestra de­ clarava pelo menos de passagem o valor do AT para a compreensão do NT. John McKenzie rompeu com essa tradição em A theology o fth e O ld Testa­

m ent [A teologia do Antigo Testamento] (1974). Ele chega a afirmar que

quer escrever como se o NT não existisse,129 visto que “o Antigo Testamen­ to não é um livro cristão”.1'0 Ao contrário, McKenzie estuda primeira­ mente a vida cúltica de Israel e então examina tópicos como revelação, história, natureza, sabedoria e instituições. Revelando seu sentimento de estar próximo de Adolf von Harnack e Rudolf Bultmann, McKenzie valo­ riza as raízes existenciais do AT, contudo sem extender tais raízes até o cristianismo.131 Esse retorno à opinião que se tinha do AT entre 1878 e 1920 não traz benefícios à teologia bíblica, como McKenzie provavelmen­ te admitiria. Se o AT é Escritura cristã, se é parte da Bíblia, então deve-se levar em conta a relação dele com o todo, a menos que se queira tirar o AT do cânon, como parece ter sido o desejo de Harnack.

Quatro teologias significativas do AT foram publicadas em 1978. Duas delas, Towardan O ld Testament theology [ Teologia do Antigo Testamento], de Walter Kaiser, e The elusive presen ce [A presença indefmível\, de Samuel Terrien, empregaram metodologias antigas para apresentar idéias criati­ vas. As outras duas, O ld Testament theology. a fresh approach [ Teologia do

Antigo Testamento-, uma abordagem recente], de Ronald Clements, e The­ ologie des Alten Testaments in G rundzügen [Teologia elem entar do Antigo Tes­ tam ento] (trad. em inglês de 1982), de Claus Westermann, abriram novos

caminhos tanto em metodologia quanto em comentários.

A obra de Walter C. Kaiser Jr. é totalmente conservadora em suas opi­ niões sobre revelação, história e unidade das Escrituras. Depois de uma rápida análise da crise que a teologia bíblica atravessava na época, Kaiser

128The multicolored landscape of Old Testament theology, em The flo w e r in g o f O ld

Testament theology. a reader in twentieth-century old testament theology, 1930-1990, p. 47.

125P. 319. 130Ibid., p. 320. 13'Ibid., p. 319.

declara que a “teologia bíblica não tem conseguido reafirmar e reaplicar a autoridade da Bíblia. Na verdade, a autoridade da Bíblia, em vez de au­ mentar, tem diminuído neste período”.132 Por que Kaiser pensa assim? Porque a teologia bíblica

não tem evitado completamente, de um lado, a esterilidade da crítica das fontes nem, de outro, o historicismo da história das religiões. Nem a força da teologia filosófica foi trocada em todos os casos por uma metodologia que se recusa a aceitar qualquer tipo de imposição a priori sobre o texto.133

Para romper esse impasse, Kaiser sugere que se ouça “o cânon como um testemunho canônico de si mesmo”.134 Segundo Kaiser, quando alguém assim procede, fica claro que o “centro teológico canônico” do AT encon­ tra-se em seu sistema contínuo de promessas e de cumprimento dessas promessas.135 Ele escolhe esse tema central apesar da relutância de muitos estudiosos em aceitar essa metodologia136 e sustenta que ao longo das Escrituras a própria história carrega promessa e cumprimento no seu bojo.137 Kaiser identifica e acompanha as promessas divinas ao longo do AT, começando pela era abraâmica (v. Gn 12.1-3) e concentrando-se na promessa messiânica. Quase como um apêndice, ele oferece algumas su­ gestões sobre como estabelecer vínculos entre os Testamentos, mas muitos vínculos já haviam sido esclarecidos.138

Não há dúvida de que Kaiser escreveu dentro da tradição conservadora de Hofmann e Hengstenberg sobre a história da salvação. Ele também utilizou a abordagem do tema único, como fizeram Schultz e Eichrodt. Sua identificação e acompanhamento do tema messiânico nas Escrituras é convincente tanto quanto a obra do igualmente conservador J . Barton Pay­ ne, que identificou e acompanhou o tema de redenção nas Escrituras. No entanto, ambos partilham da mesma dificuldade, pois nenhuma das duas obras têm o fôlego necessário para cobrir a teologia do AT como um todo. Sem dúvida essa dificuldade é em parte o motivo da palavra “rumo” no título do livro de Kaiser.* A ênfase dada por Kaiser ao cânon também é

xi2Toward an O ld Testamejit theology, p. 4.

133Ibid. 134Ibid„ p. 7. 135Ibid., p. 35-40. 136Ibid., p. 22-5. I37Ibid„ p. 25-32. 138Ibid., p. 263-9.

*N. do T. — O título em inglês é T owardan O ld Testament theology, cuja trad. é Rumo

significativa, visto que ele une-se a Childs e outros num interesse cada vez maior no papel do cânon na teologia do AT.

Samuel L. Terrien também usou um tema único para dar foco e unida­ de a seu livro. Ele diz: “A realidade da presença de Deus está no centro da fé bíblica. Essa presença é, contudo, sempre elusiva”.139 A ênfase que Ter­ rien dá à presença é parecida com a que Vriezen e Fohrer dão à comunhão com Deus, mas Terrien dá mais peso à elusividade da presença divina do que os outros dois escritores. Da mesma forma que Kaiser, Terrien opina “a crise da teologia contemporânea está relacionada com o problema da auto­ ridade em todas as suas esferas, e que a autoridade perene das Escrituras exige novas ferramentas de interpretação semântica”.140 Terrien acredita que focalizar na presença de Deus ajuda a reconstruir essa autoridade porque a “teologia [veterotestamentária] da presença conduz à teologia cristã da presença eucarística", o que indica uma unidade de culto e fé, de

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crença e açao.

Terrien observa e registra cuidadosamente esse esquema, sendo que boa parte desse trabalho segue a seqüência geral do cânon do AT. Seja analisando patriarcas, profetas ou reis, Terrien sempre realça a percepção que essas pessoas tinham de seu relacionamento com Deus. Provavelmente seu maior feito é o capítulo escrito sobre a Sabedoria, onde ele estabelece conexões entre o relaci­ onamento de alguém com o ensino da Sabedoria e o relacionamento de al­ guém com Deus.142 Terrien também merece ser elogiado por seu desejo de criar possíveis maneiras de unir o AT e o NT. Talvez a maior falha do livro seja sua ênfase exagerada na elusividade da presença de Deus sem explicar que o pecado humano e as circunstâncias da vida, e não a natureza divina, fazem Deus parecer elusivo.143 A teologia verdadeiramente bíblica deve levar muito mais em conta o problema do pecado humano.

Clements prometeu uma abordagem nova em seu pequeno livro e, na sua maior parte, cumpriu a palavra. Como a maioria dos escritores recen­ tes de teologias do AT, Ronald E. Clements procura uma maneira de rom­ per o impasse que ele enxerga na disciplina. Ele dá boas-vindas à insistên­ cia de Childs e de James A. Sanders144 no valor do cânon para a reflexão teológica e então conclui que

139The elusive p resen ce: toward a new biblical theology, p. xviii.

140Ibid„ p. 43. I4,Ibid.

142Ibid., p. 50-389.

143V. a crítica que Smith faz de Terrien por este omitir uma análise mais demorada sobre o pecado (Smith, O ld Testament theology, p. 57).

num nível bem básico podemos ver que, pelo fato de o Antigo Testa­ mento formar um cânon, e não apenas uma coleção de documentos do antigo Oriente Médio, podemos esperar encontrar uma “teologia” nele e não somente o relato de idéias religiosas antigas. Existe uma conexão real entre as idéias de “cânon” e “teologia”, pois é o fato de esses escritos desfrutarem a condição de cânon de Escrituras sagradas que os singulari­ za por conter uma palavra de Deus que ainda detém autoridade.145 Clements escolhe então o cânon hebraico como objeto de seus estudos porque, em sua avaliação: “essa forma palestina do cânon representa a for­ ma mais antiga e mais básica do Antigo Testamento”.146 Dessa maneira ele considera apropriado analisar as três seções hebraicas tradicionais (Lei, Profetas e Escritos) na teologia do AT, embora não examine os Escritos nesse volume.147 Ele espera que usar o cânon como documento teológico ajude a explicar a autoridade do AT.148

Em seu tratamento do material bíblico, Clements sustenta que a Lei, ou Torá, “apresenta as exigências que Deus colocou diante de Israel como conseqüência de tê-los eleito e como condição da aliança, mediante a qual essa eleição se realiza. O Pentateuco é, portanto, literatura da aliança”.149 Todos os conteúdos do Pentateuco, sejam narrativa, poesia ou sermão, ajudam a constituir essa unificada “literatura da aliança”. Enquanto o Pen­ tateuco apresenta a instrução sobre a vida na aliança, os Profetas ressaltam a promessa, tanto de esperança quanto de dor.150 Pelo fato de os profetas extraírem da Torá, especialmente das declarações de Deuteronômio, suas idéias sobre juízo e bênção, existe uma unidade real entre a Lei e os Profe­ tas.151 Pelo fato de a seção do cânon denominada Profetas olhar para trás e para a frente na história humana e de Israel, esses livros servem de ponte

para os Escritos e para o N T.152

À semelhança dos esforços de Terrien e Kaiser, o livro de Clements dá a impressão de apenas apontar o rumo para uma teologia do AT. O autor não procura apresentar uma análise do AT, mas apenas uma metodologia. Às vezes Clements oferece idéias excelentes, sem explicá-las plenamente, e

145O/í/ Testament theology. a fresh approach, p. 15.

146Ibid., p. 16. Uma defesa mais demorada desta posição encontra-se em The Old

Testament canon o fth e N ew Testament church a n d its back ground in early Judaism , de Roger

T. Beckwith.

l47Ele em parte completa essa tarefa em Wisdom in theology.

iASO ld Testament theology, p. 24-5.

149Ibid., p. 118. 150Ibid„ p. 120-44. l5IIbid., p. 121-2.