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Um caso de "neurose pseudopsicótica"

B) A ESTRUTURA HISTÉRICA

A estrutura histérica, no esquema ao qual nos vinculamos, constitui o teci- do mais elaborado em dirP.ção à maturidade. O caráter altamente sexual deste modo de economia estrutural não esca-

pou aos autores mais antigos, e não foi sem motivo que a sua representação mental por tâo longo tempo ficou ligada ao simbolismo de um órgão genital fe- minino e

à

somatização uterina.

Assim pensavam os antigos, desde o papiro de KAHUN (século XX a.C.), relembrado por P. PICHOT (1968). HIPÓCRATES fixa a sede da epilepsia no cé- rebro,

e

a da histeria no útero, ponto de vista partilhado por ARETAEUS da CA- PADÓCIA. Cabe notar a curiosa premoniç ão, encontrada em PLATÃO, da pri-

meira concepção freudiana dos danos causados pela repressão sexual; mesmo que os esquemas empregados encontrem-se grosseiramente ligados às imagens corporais da época, não podemos deixar de surpreender-nos com a semelhança latente de pensamento: "O útero, diz PLATÃO, no Timeu,

é

um animal que deseja gerar crianças. Uma vez que permaneça estéril por muito

tempo depois da puberda-

de, toma-se inquieto e, avançando através do corpo e cortando a passagem do ar, di- ficulta a respiração, provoca grandes sofrimentos e toda sorte de doenças." Para GALENO, a histeria é igualmente resultado da abstinência sexual. S. FREUD se- guramente não

ignorava, por ocasião de sua primeira concepção da histeria, possuir predecessores deste porte.

Na Idade Média não se pode deixar de procurar, sob a cobertura teológica, aproximar a histeria e os malefícios diabólicos, apesar dos protestos de PARA- CELSO que, em 1567, já descreve modos de funcionamentos antecipados e ru-

dimentares dos fantasmas e do inconsciente: "A causa da doença... simples- mente uma opinião e uma id ia assumidas pela

imaginação, afetando aqueles que acreditam em tal coisa.•. (nos pacientes) a visão e a audiçáo são táo potentes, que in- conscientemente tém fantasias acerca daquilo que viram e ouviram. Sua razão ar- rastada por tais fantasias e pervertida na forma que toma a sua imaginação."

A primeira localização mental da histeria encontra-se descrita em 1618 por Charles LEPOIS, deão da escola de Medicina de Pont-à-Mousson, mas apenas em 1670 Thomas W ILLIS realmente defendeu esta idéia.

Mais próximo de nós, PINEL foi o primeiro a classificar a histeria entre as

neuroses . O final do século XIX reúne três nomes célebres: CHARCOT, SALPÊ- TRIÊRE e HISTERIA.

É curiosaJ! 1ente após seu estágio em Paris com CHARCOT, defensor da teoria·orgânica da histeria, que S. FREUD reúne- se à opinião de BERNHEIM e LIÉBAUL T, que defendiam em Nancy a origem afetiva e emotiva da doença e sua única forma válida de tratamento, na psicoterapia.

No mesmo ano da morte de CHARCOT, em 1893, FREUD e BREUER es- creviam seus Estudos sobre a histeria, que marcaram uma capital evolução na maneira de conceber as ·neuroses e, em particular, a neurose histérica. Em 1895 FREUD isola a "neurose de angústia" e, no ano seguinte, a "neurose obsessiva". Em 1908, FREUD separa diversos elementos no interior da "neurose de angús- tia", da .qual demonstra a semelhança estrutural com a histeria clássica, dita "de conversão".

O modelo estrutural da histeria foi invocado por G. ROSOLATO (1962), por A. GRE E N, em 1964. Suas conclusões não convergem exatamente.

Do ponto de vista tópico , a estrutura histérica não comporta regressão do ego, mas uma simples regressão tópica da libido, sem regr essão dinâmica nem temporal. O histérico de estrutura apresenta importantes fixações ao estágio fá - lico de ABRAHAM, guardando também fortes componentes orais que, contudo, j amais se tornarão organi;;adores nele.

A principal característica do modo de estruturação histérica, que sobressai de todo o histórico citado acima e justificou o tamanho deste histór ico,é a força do componente erótico, do qual todos os aspectos dominam a vida do histérico e as experiências relacionais diversas.

Os investimentos objetais mostram-se facilmente móveis, variados e rr.úl- tiplos, embora não permaneçam fo rçosament e e·m um plano purémente superfi- cial.

A terceira característ ica da estrutura histérica, comum às suas dt:as formas, refere-se às defesas, ou seja, no caso, o prirnado dos rr.ecanismos de recalca- mento sobre os dema is procedimentos. Estabelecidos os traços comuns, cabe agor a determinar as diferenças nosológicas entre as duas variedades da estru - tura histérica:

a) A estrutura histérica de angústia

A estrutura histerofóbica constitui a mais regressiva dos dois modos de estruturação histérica.

É,

pois, a que se situa, segundo o quadro de R. FLIESS, mais próxima da estrutura obsessiva. De outra parte, o histerofóbico representa o único modo de estruturação fóbica autenticamente neurótico em nossa con- cepção, uma vez que, conforme veremos mais adiante, contestamos neste tra- balho a existência tanto de uma "neurose de angústia" quanto de uma "neurose fóbica". Sem deixar de reconhecer as evidências clínicas de tais "sfndromes" fóbi - cas, lhes recusamos um estatuto estrutural neurótico.

Na histerofobia, conforme a apresentou DIATKINE (1968), a libido perma -

nece essencialmente genital e o mecanismo principal continua sendo o recalca- mento; os movimentos pulsionais amb ivalentes (agressividade em relação a ob- jetos de amor e afeição pelos obj etos agred idos) conservam uma atitude ger al incoerente, oposta à simplicidade da rigidez afetiva obsessiva. As identificações com ambos os pais revelam-se, ao mesmo tempo, difíceis e ambíguas. Esta f lu- tuação identificatória se encontrará na origem dos estados de devaneio, que K. ABRAHAM (1911) ligou aos estados hipnóides descritos por BR E UER (1893).

Entretanto, contrariamente aos deprimidos, nos quais os investimentos obj etais acham-se modificados (cf. cap. quarto, "estados limítrofes"), nos com - portamentos depressivos constatados nos histerofóbicos de estrutura, reconhe - cemos facilmente a busca de um objeto sexual. Mas dizer simplesmente que se trata de busca de um "obj eto" (simplesmente) parece não ser suficiente e pode levar a confusões desastrosas, oncernentes não apenas a uma classificação qualquer, mas envolvendo igualmente decisões terapêuticas: com efeito, o de- pressivo do tipo "estado limítrofe" também conserva um "objeto", mas um "objeto" anaclftico que nada tem a ver com o objeto sexual, sem todavia chegar ao obj eto narcfsico internalizado do melancólico. Estas nuances mostram-seca - pitais na clínica, e são detectadas bem aquém dos episódios mórbidos, no pró - prio estudo da estrutura.

Afirmar que as estruturas do ego não são fixas e rigorosamente classif icá-

veis a não ser na medida em que o observador deseje achá-las imutáveis, parece ser uma atitude intelectualmente confortável no plano do diagnóstico e tranqüi - lizante no plano da terapêutica. Sob um aspect o "realista e liberal", corre-se as- sim o risco de levar os espíritos menos experimentados a um relativismo de bom gosto, até a um ceticismo da moda, permitindo justificar as imaturidades pessoais de julgamento, as tomadas de posição agressivas ou desordenadas que encontramos, aliás, em todas as épocas, tanto nos demasiado pacíficos quanto nos demasiadamente belicosos, a escusa comum que se resume no clássico "tu- do

está em tudo".

Embora meu trabalho se atenha às nuances, às incertezas das fases evolu -

tivas pré-estruturais, às sutilezas diferenciais, minha convicção permanece cen - trada na distinção de dois níveis: um nível latente e profundo, que evolui para uma estruturação do funcionamento mental cada vez mais precisa e imutável e, de outra parte, toda uma sé rie de fenômenos manifestos e superf iciais muito

menos especificas e, com isto,muito mais modificáveis. A terapêutica tocaria es- sencialmente este nível e o faria de modo tanto mais eficaz, sem dúvida, quanto mais tivesse inicialmente em conta fundações estruturais que renunciaria a mo- dificar, conservando assim todas as suas energias e sutilezas para consagrar-se ao manejo dos fatores mais móveis. O objetivo essencial seria o de levar estes fatores a uma melhor adaptação às realidades estruturais profundas internas, tanto quanto às exigências exteriores materiais e históricas, ou seja, fazer o su- jeito atingir ou reencontra a sua própria "normalidade"•••

A estrutura histerofóbica de base igualmente distingue-se por outras ca- racterísticas específicas:

O

recalcamento, apesar de sua importância, não

é

completamente exitoso:

existe um certo grau de fracasso desse mecanismo, devendo-se apelar para me- canismos acessórios e satélites: a pulsão constrangedora que reaparece

é

de iní- cio deslocada sobre um objeto menos evidente, as ruas, por exemplo, ao invés das moças (da rua); depois junta-se a este deslocamento de um objeto interno para um objeto externo uma evitação (pouco fácil) deste objeto exterior: a fobia das ruas, em nosso caso. Precisemos imediatamente que, em nosso entender, esta fobia das ruas, quer tenha ela atingido um nível mórbido ou permaneça como um simples sinal "caracterial" da estrutura, não deve ser confundida com o medo dos grandes espaços, mais comumente de natureza anaclítica, depressi- va, por medo da perda do objeto e não por medo da pulsão sexual.

A

evolução libidinal corresponde, na estrutura histerofóbica, a um simples

retorno de apenas parte da libido sobre fixações anteriores orais e anais preco- ces. A relação de objeto continua sendo proximal, contudo uma tela

é

colocada entre o sujeito e o objeto, sob a forma de evitação fóbica, comumente bastante sutil quando não se trata de um sintoma mórbido perfeitamente evidente; esta tela permite ao mesmo tempo conservar e evitar o contato com o objeto repre- sentativo .

A angústia diz respeito, certamente, à castração; no mecanismo específico

da histerofobia, trata-se de uma angústia de ver o pensamento realizar-se; eis por que este pensamento acha-se deslocado sobre um elemento de defesa fóbi- ca.A representação fantasmática sofre as mesma s transformações, inicialmente por recalcamento, depois por deslocame nto e evitação dos retornos do recalca- do.

A relação inicial do histerofóbico com seus pólos parentais tem em conta a

ambivalência das identi f icações assinaladas acima: ambos os pais ao mesmo tempo operam sobre a criança uma excitação e uma interdição sexuais. Muito solicitada no plano erótico, a criança não sabe bem como conciliar provocações e interditos, quem espera e quem proíbe a aproximação erotizada.

Nas organizações estruturais histerofóbicas trata - se de uma sedução indi- reta e ambivalente na qual toma parte a linguagem. A simbolização

é

muito de- senvolvida, para manter bem escondidos o desejo de proximidade objetai e a mescla de erotização e agressividade que aí encontram-se misturadas, o que dá ao discurso do histerofóbico este aspecto entrecortado, alternante, muitas vezes contraditório. Prisioneiro de um sistema de defesa, o histerofó bico se crê obri -

gado a ter uma linguagem aparentemente muito mais agressiva do que verda- deiramente o é sua personalidade profunda; contudo é necessá rio mascarar bem tudo aquilo que poderia traduzir a erotização subjacente.

b) A estrutura histérica de conversão

Cabe inicialmente reconhecer, juntamente com os psicopatologistas con- temporâneos, que os doentes que correspondem a uma descompensação de estrutura histérica de conversão atualmente são muito mais raros do que no fi- nal do século XIX, por exemplo, no momento em que floresciam os estudos acerca dos soberbos e célebres casos de conversão somática dispostos, atual- mente, entre os arquivos preciosos e as peças de museu; de outra parte, as for- mas mórbidas atuais desta estrutura apenas raramente se apresentam em esta- do puro, sendo muito raro não encontrar algum elemento fóbico parasitário; de- ve-s e saber, por fim, que, em nossos dias, numerosos dados somáticos acham- se dispostos não mais nas categorias estruturais histéricas, mas em um campo econômico em pleno desenvolvimento teórico, o da regressão psicossomática, da mesma form a que teremos de considerar, no capítulo seguin'te. os compor- tamentos corporais ligados aos mecanismos hipocondríacos.

A conversão somática de natureza autenticamente histérica

é

caracterizada

pela focalização, simbolizada a este nível, de um investimento libidinal retirado das representações amorosas concernentes

à

imagem do pai (parent) de sexo oposto, logo mais angustiantes porque mais interditas e culpáveis, podendo acarretar a castração punitiva da parte do pai de mesmo sexo.

Esta focalização somática corresponde, pois, a um deslocamento sobre uma parte do corpo não escolhida ao acaso, mas designada, ao mesmo tempo, por seu valor simbólico e por seu investimento erógeno, por ocasião da passa- gem neste nível no decorrer da evolução da sexualidade infantil, intervindo tam- bém, da mesma forma (porém mais como pano de fundo, do que determinando a escolha direta), a importância revestida por esta região corporal enquanto in- vestimento narcisista, por ocasião da constituição do esquema corporal do indi- víduo.

Na localização corporal de toda e qualquer estrutura histérica de conver-

são, doente ou não, assim como nas expressões corporais da estrutura histero- fóbica, doente ou não (distúrbios neurovegetativos, espasmódicos ou fun cionais diversos), a escolha das zonas ou órgãos investidos não se deve ao acaso, nem

é

simples. A representação simbólica atua, conform e acabamos de ver, em diver- sos níveis; da mesma forma que para interpretar um sonho não podem ex isti r manuais demasiado simplistas, expondo a "chave dos sonhos", nenhuma esco· lha somática em uma estrutura histérica pode ser tomada

e

analisada em um único plano ou nível, mesmo referindo- se ao registro simbólico.

Embora, em 1895, S. FRE UD pudesse permitir-se of erec er a possibilidade de andar a Elisa- beth VON RITTER unicamente mediante a interpretação simbólica do fato de que "ela não andava" com respeito às propostas do seu cunhado, estamos au-

torizados a pensar que esta visão demasiado fragmentária dos diferentes níveis conflituais da paciente não podia ser suficiente para curá-la. A interpretação de FREUD, por sua justeza e brutalidade, agiu como uma chibatada, tal como uma interpretação à moda de

J.

ROSEN (1960). Isto constitui uma espécie de "análise direta" ou "torpedeamento", mas seguramente não se trata da psicanálise em si.

Em 1905, FREUD certamente não teria agido assim com Dora (... e contu- do...), menos a inda em 1926 (d), por ocasião de

Inibição, Sintoma e Angústia. Uma análise não pode agir verdadeiramente, senão modificando profundamente não a estrutura, por

certo, mas o modo de funcionamento do sistema de defesa, mal adaptado, nos casos mórbidos, às realidades internas e externas do sujeito; em qualquer que sej a a estrutura, para obter uma modificação profunda e durável do sistema defensivo, é precis o desentranhar os conflitos mal engaj ados em to- dos os níveis, sucessivamente e em ordem retrógrada, se possível. O mais co- mum, entretanto, é que se opere em ordem mais ou menos dispersa, e sobretu- do como se pode, ao sabor das associações ou das manifestações psíquicas; não se pode confundir o valor sugestivo da interpretação verdadeira de um ponto único dos conflitos com a análise de um sistema conflitual e defensivo global, cuj os resultados são os únicos capazes de se mostrarem radicais e duráveis.

Em 1909, Freud descrevia os mecanismos da conversão histérica da mes- ma maneira que havia descrito os mecanismos do sonho: fantasmas projetados e representados de forma mascarada, representações pulsionais como joguetes das manifestaç ões do processo primário (condensação, deslocamento, simboli- zação), mantidos fora das realidades lógicas do tempo e do espaço.

A realização do desej o é tencionada mediante a colocação de uma parte do co rpo, que teria podido aí contribuir, "fora da situação perturbadora". Seu valor funcional inibido protege contra o desej o culpável, enquanto que seu valor sim - bolizado desperta a satisfação.

A estrutura histérica de conversão, de outra parte, é nitidamente especifi-

cada pelo êxito teoricamente total do recalca·mento que, nos casos "puros", é suficiente por si só para manter a representação incômoda afastada do cons - ciente. A "belle indifférence", tantas vezes descrita a propósito das conversões histéricas, corresponde ao mesmo tempo ao sucesso do recalcamento e do sin- toma. O histérico de conversão olha para seu sintoma com toda a serenidade, não sendo nisto perturbado por qualquer retorno intempestivo do reprimido que o obrigaria a colocar em ação outros dispositivos e imediatamente lhe traria um sofrimento ou inquietude e um certo grau de consciência, pois conforme mostra C. CHILAND (1969), o que o histérico de conversão nega, no fundo, nada mais é que o acometimento somatizado, e não o conflito psicológico.

Entenda-se bem que o recalcamento, na histeria como em outros lugares,

não pode achar-se realizado de uma vez por todas. É preciso alimentá-lo inces- santemente com energia, mediante perpétuos contra-investimentos. As forma- ções de sintomas atuam também a este nível, podendo-se conceber que, graças aos benefícios secundários retirados das manifestações de conversão, estes úl- timos não atuam apenas consumindo energia, mas igualmente a restituem,em um segundo tempo, ao novo sistema assim c riado, contribuindo ao mesmo

tempo para torná-lo cada vez menos frágil no plano econômico puro, mas, por isto mesmo, cada vez menos reversível no plano defensivo. Daí a obrigatorieda- de, em caso de necessidade terapêutica, de intervir do exterior sobre o sistema protetor para aí criar, em um primeiro momento, uma brecha, um déficit ini- cialmente compensado pelos aportes anaclíticos gratificantes da transferência para depois permitir, progressivamente . um arranjo dos investimentos libidinais sobre uma base mais adaptaêla, logo, mais "11nrmal".

As formações reativas, que no histérico contribuem para com os contra-in-

vestimentos, são dirigidas, conforme mostra R. DIATKINE (1968), contra os ob- jetos internos e externos para disfarçar o sentido do apego pulsional. FRE UD (1895 d) define que "na histeria, a formação reativa agarra-se com tenacidade a um

determinado objeto, sem atingir o n(vel de uma disposição geral do ego". isto contri - bui para com o suc ?.sso do r eca lcament o de

toda e qualquer emergência pulsio - nal. Mesmo nos casos de aparência mRis dolorosa, não se nota qualquer mani- festação de angúst ia superegóica; o suj eito reage como se o sintoma não lhe pP.rtencesse, como se se tratasse de um verdadeiro corpo estranho. O sofri- mento pode mesmo assumir, no plano reativo, um SP.ntido jubilatório, ligado ao fantasma cof'l1pensaclor per manente e inconsciente, em relação com o obj eto interno manticlo e assim mnnipulado.

A conversão, nos seus múltiplos planos e sentidos, corresponde tanto ao medo da castração quanto ao ardil para evitá - la, tanto ao obj eto sexual proibido quanto ao obj eto recuperado, ao falo perdido e ao falo recuperado. Tudo coe - xiste no mesmo conjunto no mesmo tempo fantasmático, vivido e simbolizado.

A estrutura histérica de conversão corresponde, contudo, sob a incontestá- vel prioridade do genital, a fixações pré- genitais tanto orais quanto fálicas, e a angústia permanece ligada a uma realização do ato, muito mais do que a um te - mor do pensamento, como na estrutu ra hist erofóbica.

A r elação inicial com os pais está ma rcada por uma separação já mais níti-

da de papéis: a excit ação emana mais do pai (parent) de sexo oposto

e

a interdi- ção mais classicamente do pai do mes mo sexo. A parada eventual do desenvol- vimento libidinal, tão próximo da maturidade afetiva, pode ser compreend ida pelo fato de a criança não haver ainda conseguido "decolar" completamente do Édipo: o medo da castração pelo pai de mesmo sexo leva o ego a uma convicção da ameaça, enquanto a satisfação pelo outro sexo permanece do domínio da provocação, sem qualque r certeza de que a realização seja realmente aceita. A troca de objeto sexual apenas se torna possível de modo incompleto, incerto, in- satisfatório ; a erotização e a resposta do superego são intensas, os fantasmas de realização sempre inquietos e incompletos.

Quando se fala em termos de estrutura, não se pode deixar de colocar a

mesma questão de

S.

FREUD (1910 i), a propósito dos Distúrbios visuais de ori- gem ps(quica: ao abrir incessantemente novos caminhos

à

reflexão profunda, a psicanálise não nos leva a refletir também sobre os fundamentos o r gânicos de tod a constituição? O recalcamento pulsional é suficiente para aca rr etar distúr -

bios funcionais ou somatizados? Não existem também, ao nível de cada estru- tura, sensibilidades corporais particulares, ligadas a predisposições específicas? As hipóteses formuladas quanto a este assunto, do ponto de vista das fixações às diversas zonas erógenas e às pulsões parciais no curso da ontogênese, bas- tam para dar conta de todos os problemas propostos? Certament e ainda não dispomos de meios teóricos nem clínicos para responder a numerosas questões.