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suas funções e irá operar sobre dois registros diferentes: um registro adaptativo,

D) AS INSTÂNCIAS IDEAIS

Encontramos, a propósito das instâncias ideais, a mesma necessidade de fazer a distinção, sem ambigüidade, entre a organização limftrofe e os modos de estruturação psicótico ou néurótico.

Do lado das estruturas psicóticas, persiste um fosso bastante grande no

plano das instâncias ideais, achando-se estas reduzidas ao estado de núcleos es- parsos na organização psicótica, tanto no que concerne ao superego quanto ao ideal de ego. Elemento s destas duas instâncias acham-se incontestavelmente presentes na linhagem psicótica, mas de forma muito focalizada e estritamente circunscrita a setores restritos, sem valor organizador geral, ao passo que na or- ganização limítrofe, embora o papel do superego permaneça ainda muito im- perfeito, o ideal de ego, ao contrário, comporta-se como um verdadeiro pólo em torno do qual organiza-se a personal idade.

As diferenças entre estrutura neurótica e organização limítrofe, em contra - partida, exigem uma reflexão mais atenta: é necessário, de infcio, referir-nos

à

distinção estabelecida por Béla GRUNBERGER (1958), e completada aqui, entre os diferentes marcos metapsicológicos especfficos dos funcionamentos neuróti-

cos ou narcisistas. A linhagem neurótica corresponderia, pois,

à

articulação dos

fatores: dipo - superego - conflito genital - culpa - angústia de castraç o - sintomas neuróticos, ao passo que a linhagem narcisista corresponderia à suces- são: narcisismo - ideal de ego - ferida narcisista - vergonha - angústia de per- da de objeto

- depress o.

Enquanto persi te o ordenamento do tronco comum, o movimento de- pressivo permanece muito limitado e discreto; no período que deveria marcar o infcio do Édipo clássico, assiste-se ao congelamento, descrito acima, da evolu- ção libidinal nas posições da parte mais elaborada das fixações pré-genitais, ou seja, aquelas referentes à fase fálica.

Depois o Édipo se acharia de alguma forma "saltado" (enquanto organiza-

dor), para chegar ao período de pseudolatência, do qual falamos anteriormente. O fato de os aspectos organizadores do

Édipo não haverem conseguido entrar em ação na organização estrutural não quer dizer que não se encontre aquisição edipiana alguma na personalidade limltrofe. Existem elementos edipianos e su- peregóicos em tais ordenamentos, bem mais ainda do que na estruturação psi-

. ; ca.

Entretanto,estes eleme·ntos, tanto aqui como acolá, não desempenham o ::épe principal de organizadores.

De outra parte, nem todos os suj eitos que dependem do nosso "tronco comum" atingiram o mesmo grau de aquisições edipianas: a importância de tais aportes genitais depende das condições de impacto do trauma desorganizad o r precoce: da intensidade absoluta do afeto ai ligado, s em qualquer dúvida, mas também da intensidade relativa do modo de recepção deste afeto, ou seja, do grau de imaturidade do ego no momento do dito trauma e dos meios de que então dispunha para enfrentá- lo.

O superego clássico da estrutura neurótica, definido no fundamento mes-

mo da teoria psicanalítica, como herdeiro e sucessor do complexo de Édipo, não conseguirá constituir - se de forma complet a no suj eito limftrofe, na mesma me- dida em que as vivências edipianas se acharão sensivelmente escamoteadas .

G. L. BIBRING (1964) mostrou que a regressão pré-edipiana, realizada

diante do medo de condições edipianas ocorridas demasiado precocemente no seio de um ego ainda mal equipado para enfrentá - las, arrasta junto consigo os primeiros elementos superegóicos já constitufdos para as fixações, muito im- portantes em tais pacientes, ao nfvel de um ideal de ego pueril e gigantesco.

Pode-se afirmar que a função do ideal do ego já se achava fortemente in-

vestida anteriormente, durante o perlodo pré- genital, e que o retraimento dos primeiros elementos superegóicos desenvolverá ainda mais esta inflação do ideal de ego que, a partir deste momento, ocupará a ma ior parte daquilo que normalmente dever ia reverter para o superego na organização da personalida- de. Obviamente, como este ideal de ego, do ponto de vista maturativo, é bem mais arcaico do que o superego, compreende -se que tais personalidades per- manecem incompletas, frágeis e imperfeitas; "organizações" ou "ordenamen- tos", mas ainda não "estruturas".

Segundo nosso ponto de vista, estes suj eitos abordarão sua vida relacio- na! com heróicas e desmesuradas ambições de fazer bem para conservar o

amor e a presença do objeto, muito mais do que com culpas por haverem "feito mal" no modo genita l e edipiano, com punição pela castração.

A constatação do fracasso em suas ambições ideais sem qualquer medida

com suas possibilidades pessoais não levará os sujeitos limltrofes a uma simples modéstia nem, em caso de conflitos demasiado agudos, à culpa (linhagem neu- rótica); todo fracasso demasiado cruelmente registrado agirá de modo a cnar vergonha ou desgosto (linhagem narcisista) de si mesmo, eventualmente proje- tável sobre os outros.

Se estes sentimentos, conscientemente ou não, chegarem a perturbar de- masiado vivamente o ordenamento estabelecido de forma ainda bastante incerta no seio do tronco comum, surgirá o risco de ocorrerem manifestações depressi- vas no sujeito limltrofe que permaneceu a este nlvel.

Os pais dos suj eitos limftrofes encoraj aram as fixações a uma relação es-

treitamente anaclltica. O plano aparente é tranqüilizador: "Se permaneceres em minha órbita, nada de ruim te acontecerá",

geral, mostram-se insaciáveis no plano narcísico: "Faça ainda melhor e, amanhã, receberás tua recompensa, pois te amarei

ainda mais". Infelizmente,os maravilho- sos "amanhãs" nunca ocorrem ...

Diante de tais exigências, muitas vezes contraditóri as e sem contraparte

g ratificante, a criança vê baterem-se em seu interior os dois egos ideais, paterno e materno. Confo rme mostra A . FREUD (1952 ),ela revive o conflito parental in- trojetado e não introjeta, como no caso do estabelecimento do superego,apenas os interditos parentais. Daí resulta, como ocorre sempre qu e o superego não esteja suficientemente bem constituído, uma intolerância às contradiçõ es e às in- certezas.

Outra conseqüência da fraqueza do superego, situa-se ao nível da facilida - de com que a representação mental ou a expressão verbal passam ao ato, de forma inesperada e comumente incompreensível.

É

mais fácil, por vezes,comu- nicar sob o pretexto da necessidade de ação, do que por meio de expressõe s verbalizadas ou, por motivos ainda mais forte s, do que deixar que se elabore m fantasmas ou idéias, reconhecê-los ,manipulá-los e integrá-los.

O super ego, que comumente tem uma reputação temível, reveste-se ape- nas de aspectos negativos. Se um superego rigido demais carrega em si os ger- mes de sérios conflitos, um superego demasiado inexistente obriga um ideal de ego arca ico, cujo estatuto relaciona! foi superado, a retomar a função organiza- dora principal nos processos mentais, o que não poderá acontecer sem um certo anacronismo e uma notável inadaptação.