• Nenhum resultado encontrado

O CARÁTER HISTÉRICO DE CONVERSÃO

O caráter

A) O CARÁTER HISTÉRICO DE CONVERSÃO

O caráter histérico de conversão corresponde à base estrutural mais ela- borada no plano libidinal e a um estado do ego que superou a etapa triangular genital edipiana sem fixações pré- genitais demasiadamente grandes. O recalca- ment o atua ao máximo a este nlvel estrutural; a vida fantasmática e onírica mostra-se rica em representações erotizadas. Existe uma forte possibilidade de expressão imaginária em relação às mentalizações e vivências da infância, em particular do período edipiano.

Fora mesmo de qualquer extensão mórbi€la existe, no seio de toda estru-

tura de base, um conflito de instâncias. Nas condições de "normalidade", onde se apresenta o "caráter", tal conflito limita-se

a

um equilíbrio entre necessidades pulsionais e limitações pelos interditos. Mas este equillbrio, tal como o dos pra- tos de uma balança, corresponde, da mesma forma, a uma tensão

fisiológica

en- tre diferentes sistemas de alavancas que atuam aos pares em sistemas opostos.

Em todo conflito neurótico, trata-se de uma oposição ent re pulsões do ide interdições do superego. Ao nlvel do caráter histérico de conversão, há uma ten - dência a erotizar as relações mais banais, a buscar duplicações de objetos infan- tis em objetos atuais; nisto, a sugestionabilidade permanece sempre muito forte; os impulsos emotivos (aparentemente irracionais) e a dramatização fazem parte do mesmo sistema de reprodução das linhas conflituais edipianas.

Na medida em que o superego e o recalcamento reduzem a expansão libi-

dinal, parte da energia pulsional fica contida e inutilizada; esta energia acha-se, então, complementarmente reinvestida em domínios relacionais paralelos, pois a distância do objeto do histérico de conversão nunca é muito grande; a alterna- tiva entre necessidade e temor da proximidade do outro manifesta-se nos saltos

de humor do caráter histérico de conversão, logo, atuando sobre as inversões de afeto, mas sem agir sobre a realidade e sem afastar-se do objeto, ao passo que no caráter histerofóbico existe a idéia de uma situação fobigênica que pode acarretar a fuga, e no caráter obsessivo, uma "colocação em domínio" e uma certa distância, bem regulada e ordenada com frieza.

As "experiências-ecran" descritas por O. FENICHEL (1953), tão freqüentes na vida relaciona! do caráter histérico de conversão, devem ser consideradas a partir de um duplo ponto de vista: de um lado, elas constituem uma "tela" no sentido protetor, mas no outro sentido do termo, funcionam como tela de proje- ção, facilitando a reprodução das cenas arcaicas erotizadas e significativas.

É

em função destes duplos aspectos que se pode compreender as facilida- des de hipnotização dos caracteres histéricos de conversão, da mesma forma que o sucesso encontrado pelas representações artísticas enquanto tela: cinema, teatro, obras literárias, esculturais ou pictóricas evitam que o sujeito desmascare, ele mesmo, abertamente, seus fantasmas eróticos, permitindo-lhe ao mesmo tempo projetá-los sobre as representações evocadas na obra. E isto não vale apenas para o verdadeiro caráter histérico de conversão, que domina no seio de um estrutura histérica de conversão, mas encontra -se igualmente, em menor grau, embora bastante constante, na maioria das demais estruturas,no estado de "traço de caráter histérico" mais ou menos marcado. As estruturas psicóticas mais cerradas, aquelas cujo índice de histerização caracterial encontra-se muito baixo ou mesmo nulo, não podem realmente cooperar com uma evocação esté- tica correspondente a representações do tipo figurativo: a comunicação não po- de senão passar pelos registros, não de um inconsciente objetai e genital recal- cado, mas de um inconsciente muito mais primitivo, fusional, anacrônico e im- pessoal, situado fora do campo submetido ao reconhecimento do ego, bem an- tes que o recalcamento tenha chegado a entrar em jogo sob o efeito da reprova- ção sexual do superego.

Muitas vezes apresentou-se o caráter histérico de conversão como mentircr so. Trata-se, ainda neste caso, de um efeito da rica fantasmatizaçâo, costumeira neste gênero de caráter. A exuberância das imagos fantasmáticas ou oníricas vem operar, como na criança, uma recusa, uma denegação pura e simples da realidade edipiana pessoal constrangedora.

Ruth MAC - BRUNSW ICK (1943) estima, quanto a isto, que "o motivo princi- pal da denegação infantil e de todas as

mentiras patológicas que dar dependem

é

constitu(do por acontecimentos que gravitam em torno do complexo de castração, que

lesaram o narcisismo da criança".

Esta maneira de ver pareceu-me judiciosa, entretanto considero abusivo o adjetivo "patológico" ligado à mentira. Parece-me, com efeito, uma pena que não se possa considerar uma caracterologia serena, profundamente psicanalfti- ca, sem para tanto, imediatamente, medicalizar os fenômenos. Existe, entretan- to, uma margem muito explorável entre as descriçõés entomológicas e os qua- dros patológicos. Todo o meu esforço dirige-se neste sentido.

O caráter histérico de conversão (como seus "traços de caráter" menores correspondentes) pensa que "se isto não

passa de um sonho", a representação pode ter valor de falta, e bem parece que a Igrej a Católica, essencialmente obses- siva,

logo fundamentalmente anti-hist érica, detectou alergicamente esta trapaça, criando o pecado por pensamento, situado no "Confiteor" em primeira posição, antes mesmo dos pecados "por palavra", "por ação" ... ou "por omissão"... O r e- conhecimento claro e imediato da provocação erótica contida no fantasma histé- rico é vivenciado pelo obsessivo de caráter como absolutamente insuportável, na medida em que ele acha-se assim perseguido pelo caráter histérico, que lhe re- torna pelo exterior, a partir de um recalcado bem enterrado interiormente nele, obsessivo, graças aos eficazes mecani'smos de defesa que emanam de sua es- trutura profunda.

É

até possível descrever traços de caráter histérico de conversão coletivos

no seio de uma família, para mascarar certas vivências edipianas constrangedo- ras mediante "mitos familiares", vantaj osos tanto como suportes quanto como máscaras; da mesma forma, existem "mitos nacionais" de caráter histérico de conversão, conservando o mesmo objetivo: as cerimônias, pulsionais e expiató- rias ao mesmo tempo, de 14 de julho, por exemplo, escondem tanto a vileza agressiva do massacre de uns pobres subordinados suíços que guardavam uma dúzia de prisioneiros de direito co111um, quanto as satisfações pulsionais reativa- das à recordação deslocada (em data) e simbolizada (em "liberdade") do assas- sinato do pai egoísta, seguido pela punição pública da mãe que se abandona se- xualmente ao "belo estrangeiro"; entretanto, por outro lado, um caráter para- nóico, por exemplo, se proclamará "monarquista" e viverá este dia - de come- morações como um evidente "luto nacional".

Resumindo em algumas noções bem simples • os principais elementos que definem o caráter histérico de conversão, somos levados a insistir no modo par- ticular de vida relacionar, com suas crises, alternando momentos de calor afetivo e de

retraimento mais ou menos provocador; a facilidade da linguagem emocional de tradução neurovegetativa é muito intensa.

Quanto . à linguagem em si, ela passa da grande riqueza de expressão ao mutismo rabugento (mas de' forma muito

compreensível e coerente, contrariamente ao que 'se passa no caráter esquizo- frênico). As paixões sofrem os mesmos paroxismos;,_ todas as posições afetivas, mesmo as mais banais em si, tendem a assumir uma forma expressiva dramatiza- da (no sentido etimológico e não trágico 1 do termo). Falou-se, a propósito do caráter histérico, de um modo "neurótico de

expressão".

FREUD (1931 a) apresentou o caráter histérico de conversão como essen- cialmente voltado para a vida amorosa: amar e ser amado. Para ele, este tipo de organização caracterial "representa as reivindicações pulsionais elementares do id, ao qual se dobraram as demais inst ncias psfquicas". Dito de outra forma, este tipo é o que mais perfeitamente corresponde aos processos

Podemos também experimentar uma certa decepção, ou uma relativa amargura, quando se vê, na maioria das descrições caracterológicas, emanando até de psicanalistas, o caráter histérico de conversão apresentado de infcio em seus aspectos exagerados, essencialmente defensivos e rapidamente mórbidos. A imaturidade afetiva, a mitomania, as tendências depressivas, a angústia de de- sagradar, a inconstância da personalidade, etc., com que comumente se cu mula o caráter histérico, na realidade já não mais são do domínio do caráter histérico de conversão, mas entram no quadro da ·neuros e histérica por descompensação mórbida da estrutura; ou então, também, estes comportamentos jamais foram de fato de uma estrutura histérica, pertencendo em realidade a uma organização

narcísico-anaclítica, da linhagem dos estados limítrofes, sobre a qual estende- mo-nos longamente acima. Cabe, com efeito, evitar

a

confusão fácil e clássica

entre caráter histérico de conversão e ordenamento caracterial do tipo histérico, já frisando a "neurose de caráter histérico". Estas duas últimas entidades per- tencem aos avatares do narcisismo na linhagem "limítrofe" e nada têm estrutu- ralmente a ver com o caráter histérico de conversão, emanação funcional e rela- ciona! de uma estrutura neurótica do tipo histérico, não descompensada e bem adaptada de identificações sexuais fáceis.

Outro tipo de confusão poderá irritar os clfnicos atentos: comumente se mistura histeria de conversão e oralidade.

É

um pouco como se se classificasse, na mesma reserva, minerais de ferro e colheres de café. Uma colher contém ferro, mas também uma liga de outros metais, e o mineral de ferro pode dar ori-

gem, da mesma forma, a outros objetos que não colher es.

É

evidente que o lado "anti-obsessivo" da estrutura histérica se afina mal com fixações anais em caso de regressão mórbida, sentindo maior afinidade oral

1

em virtude da proximidade objetai correspondente e do lado mais diretamente

benéfico das operações ternas ou agressivas·a este nfvel. Contudo, encontramos uma conjunção oral histérica apenas nos casos de regressão mórbida e não no plano funcional e relaciona/ "normal" o qual insistimos em manter no registro es-

tritamente caracterial.

A. LAZARE, G.

L.

KLERMAN e D.

J.

ARMOR (1966) procuraram estabelecer uma análise fatorial incidindo sobre os elementos característicos das "personali- dades" obsessiva, oral e histérica: eles constatam uma intricação dos fatores "orais" descobertos por seus cuidados (pessimismo, passividade, agressividade oral, rejeição do outro, dependência, parcimônia) com fatores que descrevem como "histéricos" (egocentrismo, histrionismo, labilidade emocional e afetiva, sugestionabilidade, dependência, erotização das relações sociais, temor da se- xualidade}, reconhecendo que a "personalidade histérica" se individualiza com maior nitidez do que a "personalidade oral". Sobre este último ponto, nosso exemplo. a partir da colher e do mineral de ferro atestará nossa concordância; em contrapartida, como ousar falar de "temor da sexualidade", quando se trata simplesmente de um caráter histérico propriamente dito? Certamente existe, a este nlvél, no sujeito "normal", uma defesa legítima do superego e do ego con-

tra todo desbordamento pulsional não conforme às realidades, mas isto constitui um ordenamento ligado ao princípio de realidade, respeitando ao mesmo tempo o princípio do prazer. A verdadeira angústia genital ligada à ameaça fantasmáti- ca de castração apenas aparece, de fato, com a descompensação mórbida do equillbrio entre superego e pulsões, no interior do campo de um ego que já per - deu pelo menos uma parte de sua capacidade reguladora.

O lugar do caráter histérico de conversão bem no topo da pirâmide das

evoluções mentais deve-se à riqueza de seus investimentos relacionais genitais e podemos concluir, juntamente com G. ROSOLATO, quanto à posição central da estrutura de base histérica em relação às concepções clinicas das diversas possi- bilidades de ordenamento dos processos mentais.

Bl O CARÁTER HISTEROFÓBICO

É

oportuno fazer a distinção formal entre caráter histérico de conversão, "caráter narcisista" de manifestação corporal e "caráter psicossomático". Ora, comumente é difícil não confundir, na prática,estas três variedades de investi- mentos corporais a partir de funcionamentos mentais tipicamente diferentes: no caráter histérico de conversão, predomina o aspecto simbólico erotizado do in- vestimento corporal onde a representação

é

levada a se fixar; no caráter histérico de conversão, fora mesmo de sintomas mórbidos, o corpo fala, os fantasmas en- contram-se ,de certa forma ,"encarnados" . No "caráter

narcisista" de manifesta- ção corporal (habitualmente descrito sob a designação de "hipocondria") trata-se apenas de

manifestações relacionais e funcionais do tronco comum ordenado; o menor investimento das descargas libidinais aumenta a tensão corporal, e o cor- po é tratado como um verdadeiro objeto; fala-se ao corpo como se fala ao objeto anaclltico . No

"caráter psicossomático", enfim, a dificuldade em distinguir o so- mático do psíquico na representação leva o sujeito a

mentalizar menos facil- mente e, por isto mesmo, a verbalizar menos de forma direta; o sujeito fala com seu corpo, sem ligar

ar um valor simbólico.

O reconhecimento destes três modos de linguagem do corpo mostra-se útil ao nível do próprio caráter ,antes e fora de qualquer episódio mórbido, pois o modo de relação interpessoal a considerar, esperar ou temer, em um caso ou outro, se achará profundamente ajudado ou complicado, conforme sej a reco- nhecida ou não a maneira própria do sujeito de utilizar a comunicação corporal.

Cabe inicialmente distinguir muito claramente o "caráter histerofóbico", examinado agora, do "caráter fóbico-narcisista", estudado mais adiante (li, 1 c} .

O caráter histerofóbico corresponde ao funcionamento relaciona! "nor- mal", ou seja, bem adaptado interior e exteriormente, da estrutura histerofóbica, tal como tentei defini-la acima, ao passo que o caráter fóbico-narcisista nada mais é do que um dos aspectos possíveis do comportamento estruturalmente instável apresentado pelo tronco comum dos estados limítrofes, fora de qual-

quer descompensação franca. Este último caráter faz parte de uma defesa anti- depressiva do registro narcisista, necessitando de um certo dispêndio energéti - co, ao passo que o simples caráter histerofóbico acompanha -se de um estado neurótic o economicamente estável, sobre uma estrutura neurótica, ela mesma definitivamente fixada.

Esta precisão não me parece constituir uma busca de detalhes, mas diz respeito a uma distinção estrutural e relaciona!

fundamental entre dois modos de func ionamento mental que parecem muito próximos por homonfmia, mas que são radicalmente divergentes, tanto do ponto de vista tópico quanto dos pontos de vista dinâmico e econômico.

Do ponto de vista tópico, o caráter histerofóbico depende da importância das pressões do superego, e o caráter fóbico- narcisista, da força de atração do ideal de ego.

No plano dinâmico, o caráter histerofóbico é sustentado pelos conflitos edipianos e genitais, temperados pelo recalcamento (ajudado pelo deslocamento e pela evitação) sem regressão pulsional, ao passo que no caráter fóbico-narc i- sista descobre -se um conflito com os aspectos frustrantes da realidade exterior, no seio da qual o sistema de defesas se vê obrigado a operar uma clivagem de imagos objetais. No plano econômico, por fim, o caráter histerofóbico comporta um investimento objetai do tipo essencialmente genital, as passo que o caráter fóbico-narcisista simples nada mais implica do que um jogo de investimentos e contra-investimentos narcisistas, tais como S. FREUD descreveu em seu artigo sobre O narcisismo, em 1914.

Talvez o leitor ache maçante ser lembrado, em todos os níveis deste estu- do, das diferenças estruturais fundamentais entre linhagem genital e linhagem narcisista, diferenças estas cuj os efeitos em nada se limitam a uma classificação mais rigoros a das estruturas, mas cuj as conseqüências correm o risco de levar o clínico da psicologia a confusões caracteriais consideráveis, bem como o da pa- tologia a erros diagnósticos e terapêuticos graves.

É

certo que já não facilitei a tarefa, ao recusar -me sistematicamente a mis- turar, do ponto de vista descr itivo, "estrutura" da personalidade, "caráter" e "doença", em virtude da importância do afastamento dos planos ao nível dos quais articulam-se estas três noções no registro metapsicológico. Por razões mais fortes ainda, parecerá temerário solicitar uma atenção e rigor suplementa- res, buscando diferenciar o que corresponde ao agrupamento estrutural de uma persona lidade neurótica genital e edipiana de tudo aquilo que a ela se acha inde- vidament e ligado.

O carát er histerofóbico rranifesta- se de formé visível por elementos varia- dos, pouco espetaculares, pois trat a-se de sinais caracter iais que não atingirarT• o estatuto ée sintoma: são angústias flutuantes, mal definidas e pouco ruidos as, cuj as causas aparentes referem - se, sobretudo, a motivos exteriores e afetivos (ao passo que as ang ústias flutuantes dos caracteres fóbico-narcisistas são mais re- portadas a motivos racionais do que afetivos). Os distúrbios

neurovegetati vos são

ao mesmo tempo freqüentes e discretos: vertigens, cefall§ias, e atingem com a mesma discrição, mas uma real eficácia, certos setores da vida relaciona/. Uma aparente candura sentimental e afirmações de objetivos ideais mascaram mal o la- do vivament e erotizado dos investimentos obj etais. As necessidades de pureza ou de virtude não dizem respeito a uma exigência ideal (como no caráter narci- sista), mas a uma formação reativa contra desej os sexuais ou agressivos.

O

com- portamento exterior, quer sej a

infeliz e sofredor, quer triunfante, não assina la uma reação contra a perda do obj eto, mas simples vicissitudes do vfnculo erotizado.

O. FENICHEL (1953) distingue os comportamentos destinados a evitar as situações primitivamente desej adas, dos comportamentos "fóbicos" propria- mente ditos de evitação de certos lugares ou obj etos em particular.

O caráter histerofóbico constitui a ilustração da estrutura histerofóbica no

plano funcional e relaciona! "normal"; ora, esta estrutura, embora per maneça no quadro histérico, ou seja, altamente genital, corresponde entretanto a um certo fracasso dos processos de recalcamento; o domínio libidinal, para permanecer em dia com as exigências tanto da realidade quanto do superego, deve ser tem- perado por operações complementares de deslocamento e evitação, onde a an- gústia subjacente chega a atravessar moderadamente, justamente o bastante para desencadear o sinal de acionamento da defesa.

O fracasso do recalcamento em relação

à

estrutura histérica de conversão

parece provir de condições mais difíceis em que teria se desenrolado a repre- sentação mental da cena primária no sujeito. Dito de outra forma, a economia histerofóbica se situaria, de fato, em posição intermediária entre economia his- térica (onde a cena primária conservou um estatuto de elaboração fantasmática simples) e a organização narcísico-fóbico -depressiva- "limítrofe" (onde a cena primária irá revestir-se de um aspecto traumático, provavelmente em conse- qüência de condições de

realidade demasiado intensas ou precoces para o sujei- to).

A economia histerofóbica situar-se-ia próxima da economia histérica dita de conversão, em virtude de seu estatuto comum autenticamente genital, mas permaneceria fácil de ser imitada pelo anaclítico "limítrofe" (não organizado sob o primado do genital) em virtude da comum inquietude narcisista que, da mes - ma forma, as aproxima.

Convém, no presente parágrafo, que nos limitemos estritamente ao caráter histerofóbico, apoiando-nos sobre os elementos estruturais de base, mas evi- tando tudo aquilo que nos aproximaria dos sintomas fóbicos que traduzem um estado mórbido neurótico já declarado.

Fica evidente que o fundo do caráter histerofóbico alia a excitação sexual a

uma representação de perigo, neste caso, um perigo de punição sexual (castra- ção). Para que este perigo não tenha de passar ao nível dos sintomas,

é

sufi- ciente e necessário que o equilíbrio seja mantido mediante um jogo bastante fle- xível de investimentos e desinvestimentos obj etais.

Toda e qualquer ruptura na flexibilidade destas flutuações poderá acarre- tar uma desagradável impressão de "claustrofobia moral", desencadeando pré- sintomas difusos e depois, eventualmente, sintomas verdadeiros, no caso de aumento ou persistência das excitações ansiogênicas.

Um dos meios que o caráter histerofóbico guarda

à

sua disposição (e não o "caráter fóbico-narcisista") é a sexualização da própria angústia, bem como a identificação (sexual) com o obj eto realmente ameaçador: imagem paterna edipiana, para o