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A história da caracterologia fornece-nos uma riqueza e diversidade de propostas de classificação dos indivfduos, sobre as quais não me será possfvel estender-me longamente; estas propostas, desde sua publicação, mostraram-se, muitas dentre elas, tanto célebres quanto imediatamente contestadas .

Podemos dividir, grosso modo e de maneira um pouco arbitrária, os di- ferentes sistemas caracterológicos em caracterologias de critérios ffsicos, psico- lógicos, patológicos e psicanalfticos.

As caracterologias de crit rios ffsicos esforçam-se por atingir o tipo de or- ganização psiquica através do aspecto

corporal do suj eito. Seu procedimento parte do exterior para o interior, do manifesto ao oculto. Os tipos "mistos" são abundantes, oferecendo muitas descrições pouco claras e discutfveis .

Os "morfologistas" são dominados por E. KRETSCHMER (1921: pícnico, leptossômico e atlético), VIOLA (1928: braquitipos,longitipos e normotipos), SI- GAUD (1912: o chato e o redondo), MAC AULIFE (1926: os tipos francos e os ti- pos irregulares), MANOUVRIER (1902: astênicos, mesostênicos, hipostênicos e hiperstênicos), THOORIS (1937: o arctilfnio e o latilfneo), KRYLOF (1939: o grácil e o lipomatoso), VERDUN (1950: relações entre volumes da cabeça e do corpo).• DUBLINEAU (1951: escapular ,trocantérico, ilfaco e harmônico), CORMAN (1950: dilatados e retrafdos). W . H. SHELDON (1950) estabeleceu suas famosas "corre- lações" a partir de clichês fotográficos, determinando três componentes: endo- mórfico, mesomórfico e ectomórfico.

Os "fisiólogos" interessam-se pelos metabolismos, com FOUILLÉE (1895), ALLENDY (1922), JAENSCH (1927) ,PENDE (1934), ou pelos fatores neuro-hu- lmorais, com CANON (a homeostase : 1927), HESS (1926), SEILE (o conceito de estresse: 1950) ou W . LUTHE (1957).

Os "neurologistas" acham-se principalmente representados pela escola reflexológica de PAVLOV e MIASNIKOFF que,entre 1930 e 1950, distribuíram os indivfduos em fortes equilibrados móveis, fortes equilibrados pouco móveis, fortes desequilibrados e fracos; apenas os dois últimos tipos teriam tendênc ia

à

patogenia. KRASNOGORSKI (1949) definiu o sangüineo, o fleumático, o colérico e o fraco;IVANOV-SMOLENSKI, os tipos ex citado, inibido, lábil e inerte.

Todas as caracterologias de critérios ffs icos permanecem infiltradas de op-

ções mais ou menos metatrsicas, pois supõem uma correlação positiva entre particularidades ffsicas e psfquicas.Existe,contudo, uma evidente desproporção entre o pequeno número de diferenças flsicas ou fisiológicas que distinguem, no fundo, os seres humanos e suas tão numerosas diferenças psfquicas. De outra parte, H. REMY e C. KOUPERNIK (1964) mostraram o quanto era preciso des- confiar das idéias demasiado simplistas que supõem uma ação direta das glân- dulas endócrinas sobre o psiquismo; o funcionament o hormonal acha-se, com efeito, ele mesmo notavelmente modifica do sob a dependência dos fatores psf- quicos.

Um sujeito em particular não pode ser considerado como sendo determi- nado passivamente por sua constituiç ão e hereditariedade somatofisiológica ; ele também o é, de forma ativa,no aspecto que seu modo de funcionamento mental e seu tipo de relação obj etai fazem com que ele confira, diante dos outros (e a seus próprios olhos), à sua morfologia geral, seu faci es,

à

sua estática, seu gê - nero de economia fisiológica, à sua voz, etc., e isto independente (em grande parte, pelo menos) das qualidades ou defeitosinatos existentes em seus diversos registros.

Aquele que tiver atingido o nivel edipiano utilizará uma linguagem erótica

em sua apresentação e seu j ogo fisiológico corporal. A semântica desta lingua- gem permanecerá corporal e sua sintaxe afetiva se mostrará triangular e geni- tal. Na estrutura psicótica, ao contrário,o corpo se verá concebido e mediatizado como fragmentado, ameaçado de fragmentação pelos outros, no contato mes- mo com o outro. Quanto às organizações do tipo anaclítico e narcisista, sua re- presentação e apresentação dos aspectos corporais ficam estreitamente depen- dentes, conforme a dist ância do objeto, das permanentes e irregulares oscilaç ões entre movimentos hipomanfac os e depressivos .

Assim, embora as caracterologias de critérios físicos ou fisiológicos mos-

trem-se ultrapassadas e focalizadas demais em suas descrições, buscam, contu- do, em certa medida, prestar contas, com maior ou menor felicidade, dos estilos segundo os quais os indivf duos apresentam-se a eles mesmos e aos dema is. O aspecto ffsico poderia, pois, ao final das contas, traduzir um aspecto relaciona! extremamente interessante, com a condição de não se dar demasiado crédito aos fatores físico s o u fisiológicos ditos "constitucionais" apenas.

As caractero/ ogias de critérios psicológicos remetem aos tempos mais anti- gos. A tradição remonta a DEMÓCRITO,

HIPÓCRATES e GALENO a origem da célebre concepção dos "humores" (bilioso ou colérico, linfático ou fleumático, sangüíneo e nervoso).

Os humanistas, seguindo MONTAI GNE, LA BRUYER E, LA ROCHEFOU- CAULD e VAUV ENARGUES, também autores como SHAKES PEARE, 801- LEAU, LA FONTAINE ou MOLIERE, entraralT' em u...., via cientffica com DES- CURET

(1841), S. PEREZ (1891) Th. RIBO- 892, Fc, PAULHAN (1894), A.

FOUILLÉE (1895: temperamento de parcirrôn"a e disoê-,dio , A. BINET (1895),

W. STERN (1900) FURNEAUX JORDAt\ "896: zt:..os. exivos e inativos), P. E. LÉVY (1902), RIBERY (1902), P. MALAPERT (1906: a'C os. aoáticos, tempera- dos e inativos), OUEYRAT (1911: tipos p... ros. ,..,is:os e ecu 7i!COS.

A escola de GRONI NGUE merece uml...gar

à

Oé! e: -:: • •...,•..

s

e W I ERS-

MA apóiam-se sobre três propriedades fundar:e.,ta "s: e.-o.: cace, atividade, ressonância das representações, cuja combinação dá orige-rr- a o'-..o ·pos de ca- racteres (amorfos - apáticos - sangülneos - fleumáticos - e'"'."OSOS - sen- timentais - coléricos e apaixonados ). Na França, LE SENr'. E ce·o.-.oc e aesen- volveu estes trabalhos a partir de 1930.

Toda uma série de teÓricos interessa-se acessoriam ente

pe

a ca acu;ro

o-

gia: L. KIAGES (1910: reatividade, afetividade e querer ),A. ADLER (1933: ca-ac- teres agressivos e não-agressivos; separação e ligação), C. G. JUNG (9i3: · - trovertidos e extrovertidos; funções fundamentais: pensamento, sentimento, sensação e intuição), OUERAT (1911: sensibilidade, atividade, inteligência, WEBB ·(1913: fechamento e sociabilidade), G. SIGAUD (1914) e seus disclpulos,

L. VINCEN T (1916), A. THOORIS (1937) e MAC .AULIFE (1926); F. MENTRE

(1920), Ach.DEIMAS eM. BOLL (1931: avidez, bondade, sociabilidade, atividade, emotividade), G. EWALD (1924: astênicos, stênicos, impressjonáveis, frios), E. R. JAENSCH (1927: tipos centrais e periféricos, integrados ou desintegrados), Ed. SPRANGER (estético, econômico, teórico e sociável, o homem que quer o po- der, o homem religioso), F. KÜNKEL (1930:

constituição fraca ou forte, segundo os dados da constituição e da educação), W. BOWE N (1931: eusitlmico ou isotl- mico, anisotímico e disentfmico).

LE SENNE descreveu as correspondências entre os tipos descritos por

HEYMANS e WIERSMA e os tipos hipocráticos, em seu Tratado de Caracterologia (1954), que marcou a interrupção, na França, das pesquisas no contexto da ca- racterologia clássica. Citemos, entretanto, os trabalhos de PIÉRON (1957), de WALLON, de Gaston BERGER (1950), de DUBLINEAU (1947), as conseqüências caracterológicas dos trabalhos de H. RORSCHACH, retomadas por H. FOISSIN (1965), e as contribuições de J. TOUTLEMONDE (1961: generosos, pródigos, parcimoniosos, vaidosos, soberbos., delicados e indelicados), de J. RAMIREZ (1924) eU. MARQUET (1967).

A antropologia cultural constitui, finalmente. uma outra corrente capaz de trazer elementos interessantes aos caracterologistas de critérios psicológicos. Os trabalhos de MALINOWSKI, de M. MEA (1934), de Ruth BENEDICT (1935), de M. DUFRENNE (1953) prolongam-se nas investigações de K. HORNEY (1951),

FROMM e SULLIVAN (1953).

Poucas caracterologias de critérios psicológicos avançaram suficiente- mente na investigação relaciona!; mesmo em JUNG ou RORSCHACH, a impor- tância atribuída unicamente aos pontos de vista descritivos reduz em muito o

interesse e a importância do tipo descrito; sem dúvida é este o motivo por que, depois de um certo sucesso a este nfvel, a pesquisa parece esgotada e a clfnica não reconhece ar um terreno muito explorável. Considera-se muito maias as contribuições constitucionais do que as aquisições da elaboração relaciona! e genética; o caráter é considerado como uma soma de traços comportamentais estáticos, fixados de uma vez por todas. Jamais se teve suficientemente em conta a importância do modo de estabelecimento, bem como a evolução da rela- ção objetai, a natureza da angústia profunda e os mecanismos de defesa e adaptação; enfim, o ponto de vista econômico libidinal parece pouco evocado, de um modo geral. Como conceber, de fato,uma psicologia do caráter sem pro- curar definir os limites da evolução, as eventuais fixações e regressões da geni- talidade.

As caracterofogias de crit rios patológicos têm surgimento mais recente. Elas

pertencem por vezes à biotipologia, sob o ângulo da antropologia criminal, com C. LOMBROSO (1875), 8. di TULLIO, depois VIOLA e PENDE.

E. KRETSCHMER (1927) , depois N. KRETSCHMER (1954), assim como VERDUN (1950),DUBLINEAU (1949), HOOTON (1939) e SHELDON (1940-1941)

apegaram-se aos fatores bio-psico-fisiológicos .MORGENTHALER (1921), VIN- CHON (1924) e VOLMAT (1952) detiveram-se em pesquisas acerca das produ- ções artfsticas dos doentes mentais,e H.EY (1948) às dos surrealistas.

J.

L.

LANG e G. RAVAUD (1955) lembram-nos que ARISTÓTELES rela-

cionava os homens polfticos ou os artistas à loucura de AJAX ou à misantropia de BELEROFONTE. MOREAU de TOURS (1859) e GALTON (1892) buscam os

vfnculos entre gênio e neurose.

A psiquiatria moderna,com Th. RIBOT (1893), E. KRAEPELIN (1890), MO- REL (1860), KAHLBAUM (1885), E. BLEULER (1911), E. DUPRÉ (1909) DELMAS

e BOLL (1927), CLAUDE (1926), E. MINKOW SKI (1932), busca estabelecer uma caracterologia coerente tanto com as teorias clássicas do caráter quanto com os progressos realizados no estudo dos distúrbios mentais.

A escola de TUBINGEN dominou esta tendência a partir de 1921. E. K RETSCHMER separa o ciclotrmico do

esquizotrmico, depois do epileptóide. KNIPPEL, em 1921, distingue os fatigados, os sonolentos e os emotivos. F. MINKOW SKI ( 1927) distingue três poderes formais centrados no objeto, no ser humano ou no cosmos, retomando uma parte dos trabalhos de LOMBROSO (1885), PICHON (1888), E. KRETSCHMER (1927). E. Mt'NKOW SKI apóia-se, por

seu turno, em BLE ULER e J UNG para descrever o "elan vital", base relaciona! de cada indivfduo. K. LEWIN (1929) distingue suas "valências" positivas ou ne- gativas, W. 80E (1931) co ncebe uma ciência do caráter baseada em três ti- pos: isotfmico, anisotfmico e disentfmico.

L.

SZONDI, em 1939, distingue as as- sociações fatoriais do homossexual,do assassino, do epilético, do melancólico, do histérico, do catatô nico, do paranóico e do manfaco.

L.

MARCHAND e J. de AJURIAGUERRA (1948 debruçaram-se sobre os problemas caracteriais dos epiléticos. J. DUBLINEAU (1947) destaca os tipos "resistenciais" ou "adaptati- vos". P. ABEL Y (1949) estabelece um certo número de esquemas "endócrino- psiquiátricos" e M. V ERD UN (1950) debruça-se sobre as disfunções neuro- sim-

pático-caracterológicas. Finalmente, em 1966, L. MICHAUX distingue os carac- teres emotivos, instáveis, mitomaniacos, ciclotfmicos, obsedados, paranóicos, epiléticos, esquizóides e perversos.

Conforme mostraram D. W IDLÓCHER e M. BASOUIN (1968). estas classi- ficações comumente misturam os simples estados de humor com alterações de natureza completamente diferente. Entretanto, cabe notar que não é qualquer comportamento caracterial que corresponde (em caso de descompensação) a este ou aquele acidente patológico da mesma forma que toda estrutura patoló- gica conhecida se acompanha sempre de possibilidades caracteriais limitadas. Não podemos, entretanto, limitar-nos a uma simples nomenclatura de entomo- logista sem vinculas precisos entre os diversos elementos apresentados.

Tais estudos igualmente colocam as delicadas questões do "terreno", das predisposições mórbidas, do "normal" e do "patológico", dos fatores de adapta- ção. Caberia, antes de mais nada, determinar condições de estudos dinâmicos, tópicos ou relacionais comparáveis; comumente faltaram meios aos psicopato- logistas pré-freudianos para situarem-se em tais condições.

As caracterologias de critérios psicanalfticos começaram a desenvolverem-se

com o artigo de FREUD, de 1892, Um caso de cura pela hipnose, onde se trata do caráter histérico. Nos Três ensaios (1905), FRE UD termina fixando uma tripla origem ao caráter: as pulsões sexuais, a sublimação e "outras construções desti- nadas a reprimir movimentos perversos reconhecidos como não-utilizáveis". Em 1915, há o artigo sobre Alguns tipos de camter destacados pela

psicanálise (os frustrados que incessantemente esperam por um reparação, os que fracassam diante do sucesso e os criminosos por culpabilidade). O ego e o id (1923) dirige- nos ao ponto de vista tópico e ao aspecto narcisico da formação do caráter, que resultaria dos sucessivos abandonos de objetos sexuais e resumiria a história destas escolhas de objetos. Em 1925, o estudo sobre Algumas

conseqOências psi- cológicas da diferença anattJmica entre os sexos interessa-se pelas distinções, fun- damentais no plano genético, dos

elementos caracteriais masculinos e femini- nos. Em O mal-estar na civilização (1930), FREUD já opõe o tipo erótico ao tipo narcisista. Em 1931, em Os tipos libidinais (1931 a), S. FREUD arrisca-se, pela primeira e única vez, em um ensaio de classificaç ão caracterológica, apoiando-se sobre correlações existentes, em seu entender, entre caráter e libido, recusando -se a qualquer caracterologia psiquiátr ica e procurando tapar "o assim-dito fosso entre normal e patológico". FREUD parte de três tipos libidinais principais: o tipo eróti- co (libido voltada, na maior parte, para a vida amorosa, com angústia de

perda do amor, logo dependência dos objetos externos), o tipo obsessivo (dominado pela preponderância do superego e pela angústia moral, logo dependência in- terna das instâncias interditaras) e o tipo narcisista, "sem tensão entre ego e supe- rego, nem predomin ncia

das necessidades eróticas, orientados para a autoconser- vaçáo, aut6nomo e pouco intimidável; imp6e-se como "personalidades" particular- mente qualificadas para servir de sustento aos outros, assegurar o papel de leader1,

1 Conserva-se o hábito de traduzir assim em inglês o termo original freudiano: "Führer".

dar ao desenvolvimento cultural novas impulsões ou atacar aquilo que está estabele- cido".

Depois, como em todo procedimento caracterológico clássico, pouco sa- tisfeito com seus tipos "puros", S. FREUD a seguir descreve tipos "mistos": o ti- po erótico-obsessivo (vida pulsional forte, mas entravada pelo superego), o tipo erótico-narcisista (este seria o mais freqüente; a agressividade e a atividade aí se encontrariam de par sob o primado do narcisismo), e finalmente, o tipo

narcisis- ta-obsessivo.

No plano cientffico, as hipóteses de FREUD neste artigo parecem um pou-

co insólitas em relação ao estado de suas elaborações conceptuais de 1931. Des- crever o tipo erótico predisposto

à

histeria como repousando sobre uma angús- tia de perda do objeto não é muito lógico; colocar, no mesmo plano erótico, ob- sessivo e narcisista, constitui uma comparação bem heteróclita.

A propósito dos tipos mistos, enfim, podemos lamentar que FREUD não tenha definido como, qualitativa e

quantitativamente, se operava esta mistura, pois é bastante evidente que não pode tratar-se de uma mescla banal ou aci- dental.

Em 1932, enfim, nas Novas conferências, FREUD vo ltará a falar da influên-

cia dos fatores pré-genitais 11a formação do caráter, a propósito dos caracteres anal e uretra!. Ele lembra as dificuldades encontradas para definir um caráter e tira a conclusão de que o "caráter deve ser atribufdo ao ego".

Os pós-freudianos avançaram aos poucos na via caracterial: SADGER, em

1910 (Erotismo e caráter anal), E. JONES em 1913 (Ódio e erotismo anal), S. FE- RENCZI, em 1916 (Ontogtmese do interesse voltado ao dinheiro), H. HELMUTH, em 1921 (Os problemas do caráter na criança), . J. JASTROW , em 1916 (Caráter e temperamento).

Os trabalhos mais importantes continuam sendo os de Karl ABRAHAM, entre 1920 e 1925, acerca dos caracteres oral, anal, uretra! e genital. Depois W . REICH, de 1927 a 1933, lançou os princfpios de sua "análise do caráter". Em 1935, R. de SAUSSURE redige um artigo sobre os traços de caráter reativos. S. NACHT, em 1938, apresenta a sua primeira descrição do caráter masoquista. H. DEUTSC H, em 1965, publica Neuroses e tipos de caráter, retomando, os traba- lhos de ABRAHAM e RADO e suas próprias investigações de 1942 sobre as per- sonalidades "as if'. Além disto, a abordagem caractero lógica de A. FREUD, em 1965,

sobre as grandes linhas de desenvolvimento da criança não deve ser es- quecida nesta lista.

Os analistas contemporâneos consagram numerosos trabalhos aos pro- blemas caracteria is.J. FAVEZ-BOUTONIER nos propõe, em 1945 (Les défail/an- ces de la volonté), um estudo baseado nas relações entre o ego e o superego e, em particular, suas

event uais fraquezas; em Angoisse et Liberté (1945), o mesmo autor se interessa pelos aspectos var iados da angústia, segundo os diferentes aspectos do funcionamento mental. S. ROLAND, em 1948 (Formatíon du caracte- re), retoma uma classificaçâo genética

das etapas do caráter, ao passo que E. GLOVER (1948 e 1951) considera as particularidades do caráter como simples fa- cetas dos diferentes sistemas do ego.

P. FEDERN (1926) refere-se aos modos de funcionamento do ego fora oe conflitos, enquanto que F. ALEXANDER (1935) se interessa pelos caracteriais "frigidos", e M. BALINT (1955) descreve seus célebres "filobatas" e "ocnófilos"; ZILBORG (1933) visa as defesas caracteriais, BERGLER (1933) retoma o caráter oral, E. JONES, fala do caráter ciumento (1930), O. FENICHEL (1937 e 1939), dos aportes narcfsicos, e NUNBERG (1956) opõe bastante radicalmente caráter e sintomas.

E. KESTEMBERG, em 1953, distingue traços de caráter patológico e for- mações reativas. O caráter, para o autor, corresponderia, na vida, à elaboração secundária no sonho.

H. SAUGUET, em 1955, esboça uma síntese dos diferentes caracteres, também em referência às formações reativas.

De 1948 a 1960, M. BOUVET distingue os elementos do caráter genital dos elementos de caráter "pré-genital", cujos componentes principais muitos auto- res a seguir retomaram ou deserwolveram.

R. DIATKINE e J. FAVR EAU, em 1955, abriram caminho para a reflexão sobre uma eventual caracterologia anaclltica. Eles definem o caráter como "o conjunto dos modos relacionais do individuo com aquilo que está a sua volta, na perspectiva que dá a cada personagem sua originalidade". Eles diferenciam ca- ráter e neurose de caráter. A gênese do caráter compreender ia três perlodos: um perlodo de identificação primária, um perlodo de identificação secundária e, en- fim,. o período de surgimento do caráter propriamente dito, correspondendo ao final da latência, à adolescência e à maturidade.

Em 1963, J. LAMPL DE GROOT interessa-se pela formação do caráter em referência à formação dos sintomas, tema igualmente desenvolvido por D.W I- DLÓCHER em 1964, depois em 1970.

D. WIDLÓCHER e M. BASOUIN, além disto, em 1968 estabeleceram uma stntese da patologia do caráter, distinguindo caráter, personalidade e tempera- mento.

S. NACHT e H. SAUGUET, publicaram em 1969 uma Teoria psicanalftica da formação do car ter, colocando o caráter como equivalente de um "sintoma do ego".

M. H. STEIN (1969), enfim, compreende os traços de caráter como uma defesa contra os sintomas e considera o caráter como um princfpio de organiza- ção destinado a reduzir os conflitos com um mfnimo de energia, uma necessida- de de encontrar uma adaptação.

Para fechar esta revisão bem rápida e incompleta dos principais escritos concernentes às caracterologias de critérios psicanaliticos, parece perfeitamente oportuno citar o ponto de vista critico proposto em 1954 por E. GLOVER:

"No

que concerne _, caracterologia psicanalltica, duas observações se imp6em: a pri- meira

é

que, em seu tempo, esta caracterologia analltica revolucionou completamente a psicologia normal; a segunda, que

é

tempo, agora, de submetê-la a uma revisão ra- dical. Como tantas outras descobertas psicanallticas, o que aparece _, primeira vista corno uma série de formulações irredutfveist revelou a seguir não passar de uma aproximação grosseira_. Esta mesma observação aplica-se ao "primado" dos com-

ponentes libidinais, sobre os quais basearam-se até agora todas as caracterologias psicanallticas. 'uma tal revisão imp6e-se (.••) a partir do momento em que o efeito dos primados dos mecanismos mentais sobre as estruturas precisas do ego não puder ser posto em evidência (•••) Cabe ainda acrescentar a isto que os antigos trabalhos sobre a caracterologia achavam-se todos sob a influência de uma avaliação pré- consciente de um processo terminado (end-product). Eles são o reflexo de uma ten- dência, demasiado difundida nos cfrculos psicanallticos, a projetar sobre a pobre criança pequena processos mais elaborados da segunda infância e, por vezes, da vi- da adulta."