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CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ESTRUTURAS NO TOCA'\TE

ROBERT insiste na maneira pela qual um conjunto concreto é visto em sua organização" e LAROUSSE, partindo da

D) CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ESTRUTURAS NO TOCA'\TE

À

INFÂNCIA, LATÊNCIA E ADOLESCÊNCIA

Após haver exposto os princípios gerais de minhas hipóteses de trabalho quanto à noção de estrutura, e antes de entrar nos detalhes das difer entes es- truturas ou dos diversos ordenamentos, pa rece-me necessário expressar ,neste momento, um certo número de considerações que colocam em estatutos bas- tante particulares as elaborações estruturais concernentes à

infância,

à

latência e à adolescência.

A síntese aqui proposta sobre os problemas estruturais da personalidade

refere-se essencialmente à gênese, evolução e avatares dos modos de funcio- namento psíquico, mórbidos ou não, encontrados no adulto, no que os reúne ou separa, caracteriza ou especifica. A infância, a latência e a adolescência serão, pois, vistas acima de tudo como etapas rumo

à

maturidade e estudadas princi- palmente no "aprês coup" da investigação econômica e ontogenétíca.

Seria possível uma atitude completamente diferente: partir da observação dos dados, patológicos ou não, do funcionamento psíquico da infância, da latem - cia ou da adolescência, para chegar progressivamente aos diversos modos de funcionamento do psiquismo do adulto.

Minha escol ha metodológica não me parece haver sido guiada unicamente por motivos fortuitos do modo principal de exercício profissional, nem por ra- zões puramente afetivas. Sempre vivenciei com muito desagrado a angústia de ver a autenticidade da criança maltratada por uma "mã fálica" qualquer (de um ou outro sexo aparente), quando o suposto terap eut a limita-se a uma observa- ção "de cima", na realidade partindo, de modo latente, de suas vivênc ias infantis pessoais, não havendo sofrido uma suficiente metabolização catamnésica. Tal modo de observação parece-me comportar riscos demasiado grandes de proj e- ções pessoais adultas inconscientes, tanto mais difíceis de determinar objetiva· mente, já que a criança abstém -se de protestar por não dar-se conta; ou então, nos casos em que se desse conta, sem dúvida não protestaria mais, feliz por ser

considerada como um "grande" por um "grande" neste terreno. Da mesma forma, quando se fala com abundância e voluptuo s idade pessoal do Édipo a uma cria nç a cuja organização ainda está longe de conflitualizar-se sob o prima- do de imperativos tão genitalizados, o evidente contentamento que dá em troca não constitui suficiente garantia de compreensão científica. Uma certa satisfação pulsional pode ser realizada no plano psicoterápico sem que isto corresponda a uma interpreta ção obrigatoriamente exata. A criança pode simplesmente estar sentindo a felicidade de uma banal masturbação nar cisista pelo adulto, o que, conforme a idade e o contexto referente ao nível atingido pelo estatuto fantas- mático, não

é

f orçosamente vivenciado como uma excitação do desejo libidinal e objetai, o qual ser ia seg uido,depois, por um movimento depressivo consecutivo

à

a usência de uma resposta afetiva durável. Dependendo do seu grau de elabo- ração na criança,. e da ausência de um componente perverso grande demais no adulto,este gênero de contato pode muito bem simplesmente conserva r conse- qüências na rcísicas positivas, mas seu valor demonstrativo cor re sempre o risco de permanecer duvidoso no pla no da investigação propriamente dita .

D. AN ZIEU (1969) mostr ou como a criança com dificuldades para defen-

der-se contra a invasão pela palavra dos grandes pode sentir esta palavra do "grande": os sons escutados tornam- se font e de prazer .

não

por seus aspectos semânticos ou mesmo fonemáticos, mas por sua pura melodia, durante a pri- meira infância. A

voz

cantada da mãe,diz ANZIEU 1.1970}, acaricia a garganta da cr iança como um bom alimento, embala-a e prepara-a para o sono. Pode-se pensar. da mesma forma, que mais tarde a voz erotizada do pai ( ou do terapeu- ta ) oper a uma deliciosa carícia masturbatór ia fálica, na medida em q ue aquilo que diz não será (felizmente) compreendido ao nível em que isto se situa no adulto; senão, haveria aí um trauma afetivo bloqueando

a

evoluçã o libidinal imediatamente {cf. mais adiant e "Estados limítrofes").

Certamente não se trata de qualquer condenação do estudo e, menos ain- da, da abordagem dir eta da cria nça, mas talvez seja necessá rio coloca r a nós mes mos em gua rda c ontra resultados em que nossas vivências af etivas mistu- ram-se, por vezes, às nossas observações objetivas, em razão do parasitismo das nossas percepções por nossos inevitáv eis residuos infantis pessoais, isto

é,

pelos restos íntimos de um se mpr e muito sutil "polimorfismo perverso" {cf.

S.

FREUD, Trt}s Ensaios, 1905).

A ordem na qual se opera parece ter muita importância. Contra riamente a um certo modo de pensar considerado evidente. talvez seja mais seguro ter em conta de saída as conseqüências, no adulto, dos acontecimento s infantis passa- dos, para dirigir- se secunda riamente

à

observação da cria nça,ao invés de partir da observa ção da criança, efetuada por um adulto que não esclareceu de início tudo que t raz em si próprio como restos de dificuldades internas e a rcaicas,con- serva ndo todo o seu potencialproj etivo em tais condições de estudo.

A psicanálise pessoal prévia e bastante aprofundada do observador entra no sentido desta preocupação.

É incontestável que, como mostra Melanie KLEIN, a criança já contém a

certo que o adulto conserva, por seu turno, a verdade incrustada e fragmentada da criança que foi e, diria mesmo, igualmente, a nostalgia da "criança que o conseguiu ser". Esta presença de residuos obscuros, nem sempre bem integra- dos, junta-se assim, para constituir uma soma projetiva e explosiva pouco sus- peitada, às hipóteses criadas pela alucinação negativa de uma felicidade

infantil sempre mais completa do que foi, fantasmas obrigatoriamente remanejados, por certo, posteriormente (apres coup), repotencializados ao mesmo tempo por experiências como as frustrações genitalizadas da puberdade e da maturidade. Conforme mostrou

J.

GUILLAUMIN (1968), a recordação de nossa própria infância constitui o "núcleo de sentido" a partir do qual a infância do outro se

nos torna inteligível. Não conseguiríamos conceber o procedimento epistemoló- gico referente à psicologia infantil ou à psicologia genética sem esta base fun- damental que a psicanálise considera sob seu aspecto "didático" como o postu- lado de toda abordagem clínica serena e fecunda.

Em definitivo, bem parece que os dois métodos, um comportando uma apresentação dos componentes infantis residuais ou elaborados no adulto, e

:>utro, a busca das raizes, na criança, das elaborações ou dos conflitos pós-pu- berais, sejam perfeitamente complementares e que a abordagem ontogenética tenha muito a ganhar utilizando-os combinadamente.

Podemos apenas temer que diversos psiquistas de crianças que sucederam

FREUD e seus discípulos imediatos, ao se reclamarem sucessores dele ou deles (achando que se poderia ir muito mais longe por caminhos diferentes) talvez te- nham esquecido por demais aquilo que conserva de fundamentalmente freudia- no e de rigorosamente psicanalítico o procedimento que parte do adulto para nele reencontrar o universo infantil e, com isto,

de salda,

as dificuldades residuais deste universo que permanecem no plano pessoal, de modo a infletir nossa abordagem objetai tanto dos "pequenos" quanto dos "grandes".••

A identificação projetiva, ou seja, a injeção massiva de uma parte incômo-

da de si mesmo para o interior do outro, para dominá-lo e levá-lo a um estado de vassalização asseguradora, talvez não ocorra apenas a partir dos sujeitos de observação ...

Será,talvez, fortuito, que as duas principais escolas de psicanálise infantil do pós-guerra tenham sido dominadas, cada uma, pela imagem de uma "mu- lher forte", no sentido bíblico do termo?

De outra parte, quando nos reportamos a certos trabalhos kleinianos, co-

mo os estudos de BiON sobre a alucinação (em Second Thoughts, 1955), onde se trata incessantemente de fazer o doente "ejetar" as suas partes "más", que o impedem de amar sua mãe, não conseguimos evitar que nos venha

à

mente a imagem daquelas mães "com o aparelho de clister sempre

à

mão",que afir - mam não poderem "amar" seu filho senão quando este mesmo as tiver "ama- do" suficientemente para ejetar tudo aquilo que elas projetaram nele, daquilo que temem como sendo a parte má delas mesmas3.

3 O rigor da observação clfnica justamente efetuada a posteriori (aprês coup) obriga-nos a reconhecer aqui que a "mãe fálica" não é a "única responsável" pela repetição da "opera-

Da mesma forma, a famosa "inveja do pênis", tão comumente descrita pelos homens na mulher, corre o risco de repousar náo

somente sobre incontes- táveis observações cHnicas, referentes às descobertas daquilo que se passou

"a-

pres coup" entre tal

psicanalista-pai e sua filha ao nível das trocas tanto narcisis-

tas quanto edipianas, mas também sobre o que se revelou constituir o processo indutor de um tal comportamento, isto

é,

uma verdadeira identificação projetiva concernente ao narcisismo fálico da parte do pai e a resposta complementar que a filha ju lgou de seu interesse trazer como eco. E. JONES, em 1928, talvez não estivesse errado quando afirmava, contra o opinião de S. FREUD, que a atitude

fálica na menina (tal como mui comumente a concebemos com maior ou menor reprovação) poderia não corresponder unicamente a um estágio banal do de- senvolvimento libidinal, mas constituir tai'TIMm, em outras circunstâncias mais tardia s, uma reação secundária de proteção ativa.

Será também por este motivo, em virtude da dificuldade encontrada pelo

adulto em situar-se a si próprio (positiva ou negativamente, isto dá no mesmo na classificação) em face ao reconhecimento de seus traços pessoais ou de suas vivências proj etivas, tão largamente disseminadas em uma multidão de crianças diferentes, que os psiquistas de crianças formam um grupo à parte no terreno nosográfico?

Será por isto que parece tão difícil estabelecer o diálogo acerca da noção

de estrutura entre os psicopatologistas centrados na criança e aqueles que ha- bitualmente ocupam-se com o adulto?

Com efeito, se estes últimos reconhecem habitualm nte como "psicótica" uma estrutura comum, baseada na fragmentação do ego (consumada ou não), no conflito com a realidade, no primado dado aos investimentos narcisistas e ao process o primário, como discutir dados equivalentes com os primeiros, que costumam chamar de "psicóticas" um conjunto de entidades patológicas mais ou menos precisas encontradas na criança, conjunto este aos poucos estendido, em certos autores, até englobar a quas e totalidade da psicopatologia infantil.

Como faz er com que um psicopatologista de adultos aceite dispor em pé

de igualdade distúrbios heteróclitos, que vão desde as grandes organizações de- ficitárias tocantes ao equipamento somático, até as verdadeiras organizações psicóticas precoces específicas da criança, passando pelos primeiros distúrbios, na criança, daquilo que virá a ser uma psicose do adulto,passando também pe- las grandes ima uridades afetivas ou pelas organizações ainda indiferenciadas do tipo anaclftico, ou já mais diferenciadas, do tipo psicopâtico, caracteriaf ou

perverso (grupos que parecer iam passíveis de serem ligados

à

nossa categoria de estados limites e suas dependências), ou ainda passando pelas manifestações

ção lavagem": embora a criança sofra fundamentalmente no plano narci sista, não deixa , ao mesmo tempo, de gozar no plano pulsional. tanto no registro sadomasoquista quanto no fibidi nal, segundo modos diversos, ligados ãs particularidades operacionais da lava- gem . Com efeito, uma encenação perversa acompanha sempre o coito anal clisteriano, executado de modo sádico-ativo pela mãe, mas hábil e incessantement e solicitado pela criança, de modo passivo -ag ressivo . (Pobre da mãe fálica, desde que o filho tenha obtido prazer neste diálogo!)

já especificas ou ainda simplesmente prodrômicas, na criança, de estatutos pro- fundos, neurótico ou psicótico?

Os psiquistas diversos que trabalham ao nível do adulto muito aprende- ram, sem dúvida alguma, e muito têm ainda a receber, de seus colegas psiquis- tas de crianças, mas continua certo de que estes últimos agora não podem mais avançar sem aplicar às suas descrições teóricas e clínicas um rigor terminológico semelhante àquele a que os primeiros (finalmente) restringiram- se depois de um certo lapso de tempo, para tornar compatíveis e comunicáveis as suas ob- servações fragmentárias sobre cada categoria de or ganização mental.A gr ande variedade e a importância do campo das descobertas referentes ao funciona- mento mental da criança e sua gênese exigem uma precisão dos termos utiliza- dos e a c! assificação dos dados recentemente adquiridos, que parecem

tão

ricos de interesse para todos os investigadores posteriores.

Caberia aos psiquistas de crianças precisar se o autismo precoce de

L.

KANNER {1943) ou, mais precisamente ainda, a psicose autística preoxe de M. MAHLER (1958), incontestáveis comportamentos "psicótico s", s.rtua m-se real- mente na mesma linhagem estrutural das psicoses do adulto, devendo assim ser definidas pelo mesmo substantivo. Pouco importaria, aliás,que se reservasse a

herança exclusiva do termo

à

série infantil ou à série adulta,se houvesse opor- tunidade de fazer cessar a indivisão desta propriedade comum de denominação.

Certamente seria mais fácil aos psiquistas infantis dif erenciar da linha-gem psicótica "ortodoxa" purificada, a "psicose"

simbiótica de M. MAHLE R ou a osi- copatia" autista de H. ASPERGER; por motivos ainda mais fortes dever-se- ia, certamente,

classificar, de modo particular e independente das psicoses,toda a série das organizações deficitt1rias divididas por J. -J. JUSTI N { 19721 em dis- túrbios das funções psicomotoras, distúrbios da linguagem, distúr bios c:rfticos (epilepsia), debilidades e retardas. Quanto às organizaç6es ditas "psicr:;.çáticas· ou

''perversasn na criança ou no adolescente,

é

evidente que, considerando -se be-n

a sua ontogênese, nada mais constituem do que uma forma de organizar rela- cionalmente, sob o primado do agir e da agressividade, algumas destas 7amosas "desarmonias evolutiva s", "imaturidades" ou "retardes afetivos" ,de que se fala com uma alegria cada vez maior no plano descritivo, mas com crescent e hesita- ção do ponto de vista nosológico ; penso que o estudo constituído pelo último capítulo desta primeira parte, referente ao grupo dos estados limites e suas or- ganizações anexas, poderá representar uma base de reflexões so bre a situação estrutural (ou mais exatamente sobre a situação de não- estruturação ) de tais entidades clínicas.

Cabe igualmente examinar o grupo das reações psicossomáticas precoces, às quais L. KREISLER,

M.

FAIN e M. SOULE (1966) consagraram trabalhos re-

centes, mostrando sua singular especificidade ligada às funções dessexualizadas e ressomatizadas do ego, no sentido do "ego autônomo" de H. HARTMANN e sua escola, nisto nem tão diferente da especificidade dos funcionamentos men- tais psicossomáticos do adulto, que examinaremos posteriormente.

Duas questões, contudo, permanecem em suspenso: como reconhecer, de uma parte, aquilo que já se pode definir como pródromos, na criança e no ado-

Nsc:ente, da organização ainda provisória neste momento, que mais tarde, no adulto, deverá dar uma estrutura psicótica do tipo clássico? De outra parte, o mesmo problema coloca-se em relação aos pródromos que anunciam estruturas neuróticas ulteriores autênticas no adulto.

Estas duas linhas de reflexão mostram-se bem árduas e ainda pouco ex· pioradas pelos autores. O que me ensinaram as minhas próprias investigações clínicas, quando puderam ser suficientemente desenvolvidas, foi que, tanto em um caso como em outro,

é

preciso a maior consideração para com todo e qual- quer sintoma de aspecto dito "neurótico" (fobias, obsessões, manifestações "histéricas"}. Mais comumente estes simples sintomas revestem-se de uma im- portância diagnóstica particular, pois muitas vezes de modo algum assinalam uma evolução estrutural neurótica; também poderâ tratar-se de puras manifesta- ções funcionais pouco graves, ou ainda em certos casos, ao contrário, são estes os primeiros sinais de alerta de uma falência bastante séria das funções adapta- tivas do ego, com o risco de evoluir para bem além da simples estruturação neurótica.

É

muito excepcional que autênticas estruturações ulteriores do tipo neuró-

tico iniciem assim . Apenas o exame atento da progressiva evolução posterior, em todos os casos de sintomas notáveis ditos "neuróticos" (sem dramatizar junto aos sujeitos ou às famílias. mas sem qualquer atitude demasiado "tranqüi- lizadora" antes de haver obtido a prova da benignidade), poderá nos permitir a expectativa de evitar erros de estimativa prognóstica demasiado numerosos e aborrecedores.

As reações "caracteriaís" da criança ou do adolescente devem ser conside-

radas sob o mesmo prisma; ora não assinalam nada mais que uma tensão rela- cional momentânea, fisiológica, entre os movimentos de crescimento afetivo, por vezes ainda mal coordenados, entre o ego hesitante da criança e um meio exterior, familiar ou sócio-educativo, que nem sempre reage tão oportunamente quanto deveria; ora, ao contrário, estas reações marcam o inicio de uma organi- zação anaclítica intolerante às frustrações, evoluindo para o tronco comum dos estados limítrofes, descrito adiante, ou mesmo, mais gravemente ainda, por ve- zes anunciam uma progressão na linha estrutural psicótica: outras vezes, por fim, são justamente tais reações caracteriais que assinalam o início de uma es- truturação ulterior do tipo realmente neurótico.

Contudo parece necessário lembrar que permanece abusivo, em qualquer nível estrutural, falar de "neurótico" antes do Édipo, isto é, antes dos quatro anos (nos menínos mais precoces).

Correndo o risco de desagradar aos meticulosos da observação dos sinais exter iores, direi que nenhuma observação cllnica, por mais atenta que fosse, conseguiria colocar com certeza um diagnóstico estrutural unicamente pela evi- denciação estática dos sintomas mais sutis; não se pode ainda proporcionar qualquer prova evolutiva no plano estrutural por ocasião da infância e da ado-

Unicamente mediante a observação repetida no tempo

é

que a compreensão da evolução dos elementos operacionais e relacionais (efêmeros ou constantes) do ego poderâ levar a uma avaliação tranqüilizadora ou inquietante dos limites da gama de prognósticos e das chances ou riscos do sujeito quanto ao seu fu · turo.

No que diz respeito ao período de latência, alguns talvez cr iticar ão a noção de "silêncio evolutivo",

à qual se fará alusão

posteriormente, bem com o o ter- mo "pseudo latência" ("precoce" ou "tardia"), empregado em relação aos esta-

dos limites.

Meu propósito não é, de modo algum, supor que não se passe nadâ, mes· mo no registro genital, por ocasião da latência. Estamos todos convencidos da importância do período de latência (verdadeira), por suas identificações, subli- mações, arranjos sócio- relacionais e culturais, até suas manifestações sexuais (comumente desordenadas, aliás); entretanto não foi sem razão que FREUD fa- lou de um "perfodo" de latência, e não de um "es gio", como no caso dos mo- mentos realmente evolutivos do ponto de vista estrutural, centrados em aspec· tos pré-genitais (estâgio oral, estágio anal) ou genitais (estágio fálico para a ge- nitalidade infantil e estágio puberal para a organização genital propriamente di- ta). Durante o período de latência, as vivências emocionais do sujeito por certo continuam a ser mui fortemente agitadas, mas sua organização estrutural per- manece inalterada, não galgando um novo degrau da escada evolutiva antes da etapa seguinte, do estágio puberal. Falando por meio de imagens, poderíamos dizer que nosso "silêncio evolutivo" da latência tem por objetivo conotar a au- sência de progresso estrutural, bem como a "ruminação", pelo sujeito, das tão pesadas e diver sas aquisições operadas no decorrer dos estágios precedentes. De outra parte, o termo "pseudolatência", nas hipóteses emitidas sobre os esta· dos limftrofes destina-se a corresponder, em tais organizações, a um estado prolongado e fixo, comportando ao mesmo tempo um silêncio evolutivo e uma intensa ruminação, conforme veremos daqui a pouco.

No que concerne

à

adolescência, finalmente, os clínicos não verão qual-

quer descoberta no ponto de vista aqui desenvolvido , referente

à

dificuldade de definir validamente uma estrutura durável 1neste momento da vida. Esta dificul- dade parece, em nossa hipótese, estar ligada não somente à legítima flutuação dos investimentos libidinais e objetais, muitas vezes descritos pelos autores, mas sobretudo

à

possibilidade do sujeito de mudar, ainda e pela última vez, de estru- tura, neste perfodo em que tudo pa ra ele parece reposto 1em questão, em meio a um furacão pulsional e conflitual. Parece