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LIVRO II – PARTE ESPECIAL – DECADÊNCIA TRIBUTÁRIA E SUA

4 A DISCIPLINA DA DECADÊNCIA NO CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL

4.2 O prazo do artigo 150, parágrafo 4º, do Código Tributário Nacional e a

4.2.1 A homologação

Já analisamos as regras de decadência aplicáveis aos tributos sujeitos ao lançamento por homologação. Cabe agora indagar qual o alcance do vocábulo homologação.

A doutrina, majoritariamente, entende que a homologação é o ato administrativo de controle e de confirmação de outro ato jurídico. Vejamos, a esse respeito, a lição de José Souto Maior Borges:

A homologação é genericamente estudada pela doutrina do Direito Administrativo como sendo o ato administrativo unilateral, vinculado, de controle de outro ato jurídico, pelo qual se lhe dá eficácia ou se afirma sua validade. Por essa forma, a homologação examina a manifestação de vontade do ato controlado. […] A homologação insere-se, pois, na categoria dos atos administrativos de controle.165

164 Curso de decadência e de prescrição no direito tributário: regras do direito e segurança jurídica.

São Paulo: Noeses, 2013, p. 240.

Etimologicamente, a palavra homologação resulta de duas palavras gregas, homo e logos, que significam, respectivamente, mesmo e palavras. Segundo as lições de Gabriel Lacerda Troianelli:

Homologar, portanto, é dizer a mesma palavra, fenômeno que ocorre, no mundo jurídico, sempre que autoridade competente para a prática de determinado ato confirma o ato praticado por quem, mesmo não tendo competência, o pratica materialmente, seja por livre vontade, como na homologação de um acordo judicial entre as partes, seja por expressa determinação legal, como no lançamento por homologação.166

Partindo dessas definições, Renata Elaine Silva ensina que o termo homologação atribuído para qualificar uma das modalidades de lançamento é aquele ato de conferência, pela autoridade administrativa, dos procedimentos legais de constituição do crédito e pagamento realizados pelo contribuinte, outorgando a natureza jurídica de lançamento por homologação. Nas palavras da autora:

O particular, desde modo, precisa constituir o crédito tributário nos termos do art. 142 do CTN e efetuar o pagamento do valor correspondente a título de tributo para que a autoridade administrativa o homologue. Após a homologação é possível dizer que houve

lançamento por meio da homologação.167

Assim, estamos utilizando o vocábulo homologação para nos referirmos à confirmação do ato praticado pelo contribuinte, de constituição do crédito tributário, outorgando a ele a natureza de “lançamento”.

De acordo com as premissas que adotamos, o sujeito passivo recebeu a competência originariamente atribuída à autoridade administrativa para constituir o crédito tributário, o que faz inserindo no ordenamento jurídico uma norma individual e

166 Lançamento por homologação e decadência do direito de constituir o crédito. Revista Dialética de

Direito Tributário, n. 151, abr. 2008, p. 31.

167 Curso de decadência e de prescrição no direito tributário: regras do direito e segurança jurídica.

concreta que relata o fato e constitui o crédito. Melhor explicando, essa norma individual e concreta verifica a ocorrência do fato gerador da obrigação tributária e, como consequência, determina a matéria tributável, calcula o montante do tributo devido e identifica o sujeito passivo.

Na atividade de conferência dessa norma individual e concreta, a autoridade administrativa emitirá um juízo jurídico formal sobre ela, verificando se coincide com a norma que o próprio fisco construiria.

Uma vez que a norma individual e concreta produzida pelo contribuinte tenha sido conferida e aceita pela administração tributária, atendendo plenamente o disposto no art. 142 do CTN, pode-se dizer que foi homologada.

O efeito típico, portanto, do ato homologatório é a outorga de natureza jurídica de lançamento ao ato do particular que constituiu o crédito tributário. A lei, contudo, lhe reserva ainda um efeito atípico, que é o efeito extintivo do crédito, nos termos do artigo 156, VII, do Código Tributário Nacional:

Art. 156. Extinguem o crédito tributário: […]

VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; […]168

Pouco importa se a homologação é expressa ou tácita. Ocorrendo a homologação rompem automaticamente os dois efeitos do ato homologatório.

Outra questão polêmica acerca da homologação diz respeito ao seu objeto. Embora já tenhamos adiantado nossa posição sobre do tema em capítulo anterior do

168 BRASIL. Receita Federal. Código Tributário Nacional – Lei nº 5.172, de 25 de outubro de 1966.

Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e Institui Normas Gerais de Direito Tributário Aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/legislacao/codtributnaci/ctn.htm>. Acesso em: 13 maio 2013.

presente trabalho, trataremos agora, eis que oportuno, acerca da divergência doutrinária envolvida.

A primeira corrente, encabeçada por Eurico Marcos Diniz de Santi169, entende que o objeto da homologação é o crédito formalizado. Em suas palavras: “Não há que se falar em homologação do pagamento, pois, basta estar o crédito regularmente declarado para que se dê a homologação. O que a autoridade administrativa homologa é o crédito instrumental formalizado”: homologa a “[…] relação jurídica intranormativa, produto do cumprimento dos deveres instrumentais que disciplinam o modo de produção dessa norma individual e concreta celebrada pelo particular”170.

De outro lado, vozes como a de Luciano Amaro e Sacha Calmon Navarro Coelho sustentam que o objeto da homologação seria somente o pagamento, uma vez que o artigo 150 do CTN enuncia que “[…] a legislação atribua ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento”.

Adotamos no presente trabalho, todavia, o posicionamento de Renata Elaine Silva, para quem são objeto da homologação as duas atividades realizadas pelo contribuinte: a constituição do crédito e o pagamento, e não apenas uma delas.

Em seus escritos171, a autora explica que se entendermos que apenas a constituição do crédito é homologada, nos casos de constituição e não pagamento, a homologação vai romper os seus dois efeitos de outorga de natureza jurídica de lançamento e extinção. Mas como extinguir algo que não foi pago? Por essa razão,

169 Com quem concordam Marcelo Marques Roncaglia e Eduardo Carvalho Caiuby. 170 Lançamento tributário. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 156.

171 Curso de decadência e de prescrição no direito tributário: regras do direito e segurança jurídica.

esse entendimento não seria o mais correto. Entender, todavia, que a homologação é somente do pagamento levaria a distorções na aplicação das regras do artigo 150, § 4º, do CTN, pois, nas palavras da autora,

[…] o pagamento parcial permitiria a aplicação da contagem estabelecida no art. 150, § 4º do CTN, e no caso de ausência de pagamento entende-se que deve ser aplicado o art. 173, I do CTN. Essa regra não encontra suporte construtivo nos comandos legais e contradiz nossa proposta hermenêutica.

4.3 Os casos de dolo, fraude ou simulação – parte final do artigo 150, § 4º, do