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Críticas à classificação tripartite e a proposta de classificação do

LIVRO II – PARTE ESPECIAL – DECADÊNCIA TRIBUTÁRIA E SUA

3 CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO E DECADÊNCIA

3.2 Modalidades de lançamento tributário

3.2.4 Críticas à classificação tripartite e a proposta de classificação do

Diversas críticas são feitas à classificação tripartite de lançamento trazida pelo Código Tributário Nacional. Entre elas pode-se citar a de que o “lançamento por declaração” não passaria de um “lançamento de ofício” que pressupõe a declaração de informações por parte do contribuinte. Outra, ainda, seria no sentido de que se o lançamento compete privativamente à autoridade administrativa, o lançamento por homologação não seria um autêntico lançamento, uma vez que o ato que formaliza o crédito é praticado pelo contribuinte e não pela autoridade administrativa. Além do mais, a homologação do pagamento não implicaria a constituição do crédito, mas apenas o reconhecimento de sua extinção.

Atento a tais observações e fugindo da tradicional classificação de modalidades de lançamento do Código Tributário Nacional, Eurico Marcos Diniz de Santi propõe uma classificação bipartida das modalidades de constituição do crédito tributário, sendo que as duas modalidades se distinguem em razão do sujeito que venha a realizar a constituição do crédito. Nessa proposta, defende como modalidades

individuais e distintas os créditos formalizados pelo contribuinte e os créditos formalizados pela autoridade fiscal. Vejamos:

a) Constituição do crédito realizada pelo contribuinte:

O artigo 150, caput, do Código Tributário Nacional prevê o dever do contribuinte de constituir o crédito sem que haja um prévio ato formal de lançamento. Isso se dá pela realização do “pagamento antecipado”. O próprio contribuinte subsume o evento tributário à regra-matriz de incidência e determina o montante do tributo a ser recolhido. Em seguida, efetua o pagamento, que pressupõe a formalização do crédito.

Assim, “[…] a constituição do crédito tributário não exige necessariamente ato-norma administrativo de lançamento, pois, conforme expressa determinação do § 1º do art. 150 do CTN, o pagamento antecipado extingue o crédito sob condição resolutória da ulterior homologação”132.

Por esse raciocínio, não pode ser outra a conclusão: o direito positivo brasileiro reconhece a possibilidade jurídica de o contribuinte constituir o crédito tributário (relação jurídica tributária). E mais, não há como negar a produção de uma norma individual e concreta pelo próprio particular133.

132 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no direito tributário. 4 ed. São Paulo:

Max Limonad, 2011, p. 87.

133

Entendemos que, além do artigo 150 do Código Tributário Nacional, existem atualmente, no ordenamento jurídico positivo, outros dispositivos legais que corroboram a afirmação de que o crédito tributário é constituído também pelo contribuinte. Como exemplo, podemos citar o artigo 5º, § 1º, do Decreto-Lei nº2.124/84:

“Art. 5º O Ministro da Fazenda poderá eliminar ou instituir obrigações acessórias relativas a tributos federais administrados pela Secretaria da Receita Federal.

§ 1º O documento que formalizar o cumprimento de obrigação acessória, comunicando a existência de crédito tributário, constituirá confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigência do referido crédito.” (BRASIL. Presidência da República. Decreto-Lei nº 2.124, de 13 de

junho de 1984. Altera a legislação do imposto de renda, e dá outras providências. Brasília, 13 jun.

1984. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1965-1988/Del2124.htm>. Acesso em: 13 maio 2013).

b) Constituição do crédito realizada pela autoridade fiscal:

A autoridade fiscal tem o dever legal de empreender a constituição do crédito tributário, conforme previsão do artigo 142 do CTN.

Além disso, é determinado seja por menção expressa da legislação tributária, independentemente de qualquer outro fato (art. 147 e art. 149, I), seja quando se comprove omissão na declaração prevista no art. 147 (incisos II, III e IV do artigo 149) do CTN ou vício no exercício da atividade prevista no art. 150 (incisos V, VI e VII do art. 149)134.

Observe-se que nessa modalidade estaria incluído o “lançamento por declaração”, que exige ato de formalização realizado pela autoridade fiscal.

Acreditamos que a adoção da classificação bipartida facilitaria em muito a compreensão e o estudo da constituição do crédito tributário, sendo certo que critério semelhante já começa a ser utilizado por alguns autores de renome no direito tributário brasileiro135.

Ainda, no mesmo sentido, o artigo 25, § 1º, da Lei Complementar nº 123/2006:

“Art. 25. A microempresa ou empresa de pequeno porte optante pelo Simples Nacional deverá apresentar anualmente à Secretaria da Receita Federal do Brasil declaração única e simplificada de informações socioeconômicas e fiscais, que deverá ser disponibilizada aos órgãos de fiscalização tributária e previdenciária, observados prazo e modelo aprovados pelo CGSN e observado o disposto no § 15-A do art. 18.

§ 1º A declaração de que trata o caput deste artigo constitui confissão de dívida e instrumento hábil e suficiente para a exigência dos tributos e contribuições que não tenham sido recolhidos resultantes das informações nela prestadas.” (BRASIL. Receita Federal. Lei Complementar nº 123,

de 14 de dezembro de 2006. Institui o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de

Pequeno Porte; altera dispositivos das Leis nºs 8.212 e 8.213, ambas de 24 de julho de 1991, da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, da Lei nº 10.189, de 14 de fevereiro de 2001, da Lei Complementar nº 63, de 11 de janeiro de 1990; e revoga as Leis nºs 9.317, de 5 de dezembro de 1996, e 9.841, de 5 de outubro de 1999. Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Legislacao/LeisComplementares/2006/leicp 123.htm>. Acesso em: 13 maio 2013).

134 SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Decadência e prescrição no direito tributário. 4 ed. São Paulo:

Max Limonad, 2011, p. 88.

135 Robson Maia Lins, a título exemplificativo, em sua obra Controle de constitucionalidade da norma

tributária (São Paulo: Quartier Latin, 2005), ao abordar as regras relativas à decadência do direito

do Fisco de lançar, acaba classificando os tributos em aqueles sujeitos a lançamento tributário e aqueles constituídos por ato do sujeito passivo.

Contudo, essa não é a classificação atualmente prevista no ordenamento positivo. Malfadada ou não, é a classificação adotada pelo Código Tributário Nacional que teremos que considerar e adequar para tratar da matéria de decadência como prevista pela legislação. No próximo capítulo, portanto, analisaremos em detalhes a maneira como se dá a decadência dos créditos tributários de acordo com as suas possíveis modalidades de constituição, como previstas no CTN.