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A MÁQUINA E AS RELAÇÕES LÍQUIDAS EM “HER”

Everton Leite Silva1; Francisco Leocassio da Silva2; Geraldo Gomes da Silva Neto3; Maria

Jakeline Freitas da Silva4

1Curso de TADS, IFRN - Campus Pau dos Ferros, BR-405, S/N,Pau dos Ferros - RN E-mail:

everttonleitte@gmail.com

2Curso de TADS, IFRN - Campus Pau dos Ferros, BR-405, S/N,Pau dos Ferros - RN E-mail:

leocassiosilva1234@gmail.com

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contato.gneto@gmail.com

4Curso de TADS, IFRN - Campus Pau dos Ferros, BR-405, S/N,Pau dos Ferros - RN E-mail:

jakefreaitas@gmail.com

E-mail do autor correspondente: everttonleitte@gmail.com

RESUMO: As presentes reflexões resultam do estudo dos gêneros textuais resumo e resenha,

desenvolvido na Disciplina Língua Portuguesa do 2.º Período do Curso de TADS. A partir delas, buscamos compreender melhor acerca dos pontos negativos causados pelos grandes avanços tecnológicos na sociedade contemporânea, nomeadamente na perspectiva de sociedades virtuais. A partir dos conflitos apresentados no filme Ela (Her, 2013), constatamos, inicialmente, que os avanços tecnológicos têm feito a sociedade cada vez mais refém do mundo

virtual; por conseguinte, esses mesmos avanços tecnológicos têm distanciado as pessoas umas das outras ao mesmo tempo em que tenta aproximá-las. No filme, expõem-se um cenário muito semelhante à própria realidade contemporânea, na qual as pessoas se mostram cada vez mais solitárias e submersas no mundo “virtual”, buscando suprir na tecnologia as suas carências e necessidades humanas, quer individuais, quer sociais. Nessa perspectiva, buscamos analisar, por meio do filme me questão, como os impactos causado pela tecnologia cibernética têm questionado perspectivas humanas (como a ética e as próprias relações sociais) que se veem ameaçadas nas sociedades hodiernas.

Palavras–chave: Avanço Tecnológico; Relações Humanas; Sociedade Contemporânea.

INTRODUÇÃO

No filme “Ela” (Her, 2013), Spike Jonze não apenas mostra os pontos positivos da tecnologia: pelo contrário, abeiramo-nos, em sua obra, diante de uma profunda reflexão sobre todos os aspectos que nos ligam ao avanço das máquinas na atualidade. Um desses principais aspectos são as promessas da própria tecnologia na solução dos problemas humanos.

Somos apresentados, ao longo da trama, ao primeiro sistema operacional dotado de inteligência artificial apto a receber comandos – pois fora programado para isso. Theodore, protagonista do filme, passa a enxergá-lo como uma caixa vazia, na qual passará a depositar tudo o que lhe é conveniente.

O homem contemporâneo, cada vez mais exigente e, ao mesmo tempo, inseguro no que diz respeito às relações interpessoais, tem buscado no mundo cibernético o “relacionamento perfeito” prometido nas redes sociais (perfeição obsessiva que faz com que as pessoas descarreguem em cima das outras muitas expectativas que, muitas vezes, têm de si próprias e que, geralmente, não sendo atendidas por outras pessoas, geram relacionamentos mais efêmeros e o agravamento da própria solidão).

Nessa perspectiva, objetivamos mostrar, sobretudo, como o filme de Jonze problematiza o truísmo da solidão humana, “solucionado” nas relações “artificiais” do mundo cibernético.

MATERIAL E MÉTODOS

Nas presentes discussões, recorremos, primeiramente, à leitura do filme analisado por meio de resenhas que apresentam as suas principais características; por conseguinte, valemo- nos de pesquisas bibliográficas que permitissem, por sua vez, aprofundar os temas em questão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O futuro imaginado por Jonze é triste, individualista e melancólico, no qual a tecnologia fornece apenas meios de remediar a solidão por meio de encontros pela Internet, sexo virtual, ou permitir que terceiros escreverem cartas pessoais: isso porque os relacionamentos se tornaram tão vazios, que as pessoas não conseguem expressar-se, necessitando desses serviços a fim de se divertirem sozinhas.

A atmosfera um tanto quanto futurista do filme, mesmo para a nossa época habituada às redes sociais, traz uma crítica à sociedade contemporânea que muito lembra as observações de Bauman sobre a “modernidade líquida”. Nessa perspectiva, Cosentino (2006, p.69), fazendo referência a vários outros autores que refletiram sobre essa alienação da natureza humana pela tecnologia, chega a questionar se, de fato, experimentamos, com isso, uma verdadeira e desejada “evolução”:

As condições modernas não são conducentes à verdadeira evolução. Atualmente, o isolamento reprodutivo é quase inexistente, especialmente pela globalização e mobilização auxiliada pela tecnologia atual (Johanson & Blake, 1996). Sendo assim, talvez o Homo computerensis citado por Johanson e Blake (1996) nunca venha a existir, mas a relação de dependência entre o ser humano e a tecnologia tende a se expandir e aprofundar ainda mais, atravessando cada vez mais aquilo que nos faz humanos.

Em relação à trama do filme, podemos comparar essa “evolução” com o fato de pessoas se “reunirem” em seus mundos virtuais (nos seus smartphones, olhando status, postando fotos, deixando de interagir entre si). O autor Spike Jonze, portanto, apenas traz uma projeção do agravamento dessa alienação cibernética que hoje nos rodeia como um preocupante, e talvez irreversível, fenômeno social.

Ao longo da trama, Jonze apresenta, uma a uma, as personagens desse mundo cibernético, introduzindo, primeiro, Theodore Twombly, o protagonista, separado da esposa Catherine; ele trabalha em uma empresa de cartas, onde escreve epístolas sentimentais destinadas a entes queridos de outras pessoas (igualmente introvertidas, reclusas, com

dificuldades de expressar os próprios sentimentos, assim como o próprio Theodore), que lhe pagam pelo seu trabalho. Então, por interesse, ele compra um Sistema Operacional Inteligente e de consciência própria, chamado “Samantha” que o auxiliará em sua própria solidão.

No filme, enquanto Theodore e Catherine adiam a assinatura dos papéis do divórcio, ele procura subterfúgios para afastar-se da realidade, como jogos de realidade aumentada e o próprio OS por ele desenvolvido: “Samantha” apareceu justamente no momento da carência de Theodore, surgindo entre ambos um laço afetivo como se entre duas pessoas. É cômico, mas o OS, aparentemente, possuía sentimentos mais reais do que um ser humano.

O filme introduz, assim, o contexto de uma sociedade ansiosa e solitária, vivendo em uma megalópole lotada de gente vazia, com indivíduos cada vez mais supérfluos e engradados em um mundo totalmente egoísta (por vezes, escolhendo uma relação artificial, “líquida”). Diante desse encontro entre ficção e realidade, evocamos as considerações de muitos autores, a exemplo de Bauman, segundo o qual os lações humanos estão cada vez mais fragilizados na “modernidade líquida” em que estamos submersos. Ao longo do filme, podemos verificar que a interação de Theodore com Samantha resulta justamente dessa liquidez das relações humanas: na projeção de uma personalidade “artificial”, o sistema é apenas um reflexo e/ou transferência da sua própria.

Assim, buscamos mostrar, primeiro, como o filme nos mostra esse impacto da tecnologia em nossas vidas, de forma que o ser humano pode ser beneficiado e/ou prejudicado por sua dependência aos recursos cibernéticos. Por conseguinte, buscamos refletir sobre a ilusão segundo a qual o ser humano poderia ser trocado por uma “máquina”: essa ilusão mostra, por fim, que, recorrendo cada vez mais aos recursos cibernéticos, as pessoas abdicam da sua própria identidade em prol uma outra incapaz de oferecer-lhes uma plenitude verdadeiramente humana.

CONCLUSÕES

A partir das reflexões apresentadas, concluímos de início que a tecnologia se tornou uma malha social onde as relações interpessoais ao mesmo tempo se costuram e se desmancham. Assim, apesar de se apresentar inicialmente benéfica, a tecnologia terminou por fazer das pessoas dependentes das suas promessas na solução dos problemas humanos.

O homem tornou-se, pois, irremediavelmente dependente da tecnologia. De acordo com Próchno (2016, p.9), “a máquina se ‘humanizou’, e o homem se ‘coisificou’”. Logo, enquanto a tecnologia evidentemente evolui, a humanidade está estancada, preocupada não com o High Touch (quer dizer a alta tecnologia do toque, do afeto, do carinho, ou seja, da humanidade que

não é fria como uma máquina que reage apenas aos nossos estímulos por pura programação), e sim com o High Tech. Perdemos a simplicidade humana justamente pelo excesso de tecnologia, em função dos sistemas quebrados que vivemos (políticos, sociais, econômicos etc.).

REFERÊNCIAS

BRUGGER, M. A tecnologia gera alienação, 2014. Disponível em: <https://istoe.com.br/342666_A+TECNOLOGIA+GERA+ALIENACAO/> Acesso em: 28 de Novembro de 2018.

CARMELO, B. Ela. Amores reais em tempos virtuais, 2014. Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-206799/criticas-adorocinema/> Acesso em: 28 de Novembro de 2018.

COSENTINO et al. Psicologia & informática: Produções do III Psicoinfo e 2ª jornada do

NPPI. 2008. Disponível em:

<http://cedoc.crpsp.org.br/bitstream/handle/1/2101/CRPSP_Psicologia_Informatica.pdf?seque nce=1&isAllowed=y> Acesso em: 28 de Novembro de 2018.

PRÓCHNO, C.C.S.C.; PARAVIDINI, J.L.L.; CUNHA, C.M. Marcas da alienação parental na sociedade contemporânea: um desencontro com a ética parental. Revista Subjetividades, v.

11, n. 4, p. 1461-1490, 2016. Disponível em:

<http://pepsic.bvsalud.org/pdf/malestar/v11n4/07.pdf> Acesso em: 28 de Novembro de 2018. SCHIMELPFENING, N. Projeção Freudiana / Projeção segundo Freud Definição de

projeção na psicologia freudiana (Psicanálise). 2016. Disponível em: <https://psicoativo.com/2016/01/projecao-freudiana-projecao-segundo-freud.html> Acesso em: 28 de Novembro de 2018.

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