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No filme A.I Inteligência Artificial, o diretor Steven Spielberg explora a carência afetiva do ser humano, que necessita relacionar-se com outras pessoas a fim de satisfazer as suas necessidades emocionais, pois não se basta enquanto indivíduo, necessitando da coletividade que caracteriza as sociedades, começando pelo núcleo familiar. Como fala Stella Vasco (2014),

na resenha por ela feita sobre o filme, os robôs “[...] foram criados pelos mais diversos motivos, mas sempre com o intuito de suprir uma necessidade nossa, seja ela operacional, física ou emocional.”. Na obra de Spielberg, uma equipe de cientistas cria um robô em forma de criança, batizando-o por David, o qual é programado para amar os seus pais “eternamente”, tendo como principal incumbência suprir as necessidades emocionais que sua mãe, Monica, tem pela falta do filho biológico, Martin (este sofria de uma rara doença e, por esse motivo, os seus pais tiveram que congelá-lo até encontrar uma cura). Desse modo, o robô foi usado para “substituir” o filho do casal, que após retornar faz com que David seja esquecido e, posteriormente, abandonado por Monica, que deixa de amá-lo, fazendo com que o robô experimente sentimentos peculiares ao ser humano em situações idênticas, a exemplo da rejeição, da carência afetiva, da tristeza.

Figura 2 – David sendo abandonado por Monica.

Fonte: IMDb.

Mesmo tendo sido abandonado, o androide segue uma busca incansável por sua mãe, pois, como fora programado para amar, ele consegue sentir os sentimentos de um humano, como já dito, alimentando, assim, uma esperança de reencontrá-la. Nessa trajetória em busca por ser novamente amado pela mãe, David encontra outros robôs, e com o seu urso e um novo amigo (Joe), vão à procura da fada azul, a mesma que transformara Pinóquio em um menino de verdade. Com esse mesmo desejo, ele arrisca tudo o que tem, até mesmo a própria “vida”, e após inúmeros acontecimentos, vai parar no fundo do mar, onde encontra uma estátua que ele acredita ser a fada azul, diante da qual ele espera durante 2000 anos pela realização do seu desejo. Mais tarde, David é encontrado por seres de inteligência avançada, que dão vida à sua mãe, naturalmente já morte, por mais um único dia: David, então, aproveita-se do tempo que lhe resta para sentir-se, tanto tempo depois, amado, nem que fosse por um único dia.

Figura 3 – David é encontrado por seres de inteligência avançada.

Fonte: IMDb.

David experimenta uma vontade de sentir felicidade que, segundo Pedro Consorte (2016), seria “o que mais move as ações humanas”. A felicidade se torna, pois, uma busca constante e incansável em face da qual o que importa é somente a satisfação do ego – mesmo que, para alcançá-la, os valores éticos sejam deixados de lado.

Esses conflitos entre ética e desenvolvimento tecnológico são justamente os alicerces da trama de Spielberg, uma vez que em seu filme nos deparamos com um robô com inteligência artificial e, por conseguinte, com capacidade de sentir emoções semelhantemente ao ser humano. Em uma cena bem explicativa disso, vários robôs são levados para uma arena, sendo posterior e cruelmente destruídos na frente de uma grande plateia, que comemorava com euforia cada golpe (mostrando, assim, que os humanos não têm apenas amor, mas também sentimentos ruins, como a crueldade). O espetáculo satisfazia o ego das pessoas, que se sentiam superiores aos robôs, embora possamos perceber quão relativa é essa pretensa superioridade humana diante da satisfação sentida pelas pessoas ao longo do desprezível espetáculo. É justamente a partir dessas contradições que entram em cena as divergências entre a ética e a tecnologia, o que é um grande problema no contexto das sociedades contemporâneas. Como disse o Dr. José Liberado Ferreira Caboclo (2018), a ética do desenvolvimento tecnológico, fundamenta-se numa existência mais longa e mais prazerosa: “O prazer, no entanto, jamais é atingido numa atitude passiva. A tecnologia imposta, num sistema de acumulação de riqueza, perde seu significado ético, porque, de modo contraditório, gera um sofrimento infrene”.

CONCLUSÕES

A partir das reflexões expostas, conclui-se que a humanidade nunca está satisfeita com as descobertas já realizadas, o que é algo admirável; porém, na busca por novos conhecimentos,

devemos levar em consideração a empatia pelo próximo e, acima de tudo, respeitar os valores éticos que nos distinguem enquanto pessoas. A tecnologia tem trazido melhorias essenciais para o avanço do conhecimento e do bem-estar do ser humano. No entanto, o mundo virtual está afastando cada vez mais as pessoas, sugerindo que a convivência com robôs, em um próximo futuro, tornar-se-á algo rotineiro no decorrer dos anos, igualmente como no filme A.I. Inteligência Artificial: e assim como no filme, talvez nas próximas sociedades as máquinas não precisem do auxílio humano para realizar tarefas até então próprias do ser humano, como experimentar os sentimentos.

REFERÊNCIAS

CABOCLO, José Liberado Ferreira. Ética e Tecnologia. Disponível em: http://www.portalmedico.org.br/biblioteca_virtual/des_etic/26.htm. Acesso em: 28 novembro 2018.

CONSORTE, Pedro. A humanização das máquinas e a maquinização das pessoas. 2016. Disponível em: https://pedroconsortebr.wordpress.com/2016/10/09/humanizacao-de-robos-x- robotizacao-das-pessoas/. Acesso em: 28 novembro 2018.

SHELLEY, Mary. Frankenstein. Reino Unido: Darkside books, 1818.

STEVENSON, Robert Louis. O médico e o monstro. São Paulo: Hedra, 2011.

VASCO, Stella. Resenha do filme A.I – Inteligência Artificial. 2014. Disponível em: http://cinemascope.com.br/especiais/a-i-inteligencia-artificial/. Acesso em: 28 novembro 2018.

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