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QUATRO VERSÕES D’A BELA ADORMECIDA E UMA RELEITURA POTIGUAR

Duarte3; Felipe Morais de Melo4

1 Discente do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Apicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E-mail: lauraraulino.95@hotmail.com.

2 Discente do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Apicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E-mail: natqueiroz112000@gmail.com.

3 Discente do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Apicultura do Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E-mail: sammya.sophya@gmail.com.

4 Professor efetivo de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E- mail: felipe.morais@ifrn.edu.br.

Autor correspondente: sammya.sophya@gmail.com.

RESUMO: Este trabalho tem o objetivo de, partindo de algumas considerações sobre o gênero

textual conto, fazer uma análise de quatro versões do que se conhece tradicionalmente como o conto maravilhoso A Bela Adormecida. As versões analisadas serão a de Giambattista Basile, intitulada Sol, Lua e Talia, originalmente escrita em napolitano em 1634 (BASILE, s/d); a de Charles Perrault, escrita em francês em 1697, A Bela Adormecida (PERRAULT, 2015); a dos Irmãos Grimm, registrada em alemão em 1810 também sob o título de A Bela Adormecida (GRIMM & GRIMM, 2012); e, por fim, a versão em cordel do paraibano João Martins de Athayde, A Bela Adormecida do bosque (ATHAYDE, 2006). Após analisarmos as quatro versões, fizemos um comparativo entre elas, destacando sempre suas semelhanças e diferenças. Ao final do estudo contrastivo, criamos uma releitura do clássico ambientada no Alto Oeste Potiguar, O cabra macho e a formosura adormecida, versão na qual recuperamos alguns elementos da cultura e das variantes linguísticas típicas da região.

Palavras–chave: Conto maravilhoso; A Bela Adormecida; Estudo comparativo; Releitura.

INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais remotos, os contos de fadas (usamos, neste trabalho, indiscrimidamente as expressões “conto de fadas” e “conto maravilhoso”) afetam o imaginário das pessoas, levando-as a uma viagem encantadora por meio das palavras que, juntas, formam estórias capazes de instigar, despertar a curiosidade e encantar leitores de todo o mundo.

Atualmente, existem milhares de contos de fadas, uns mais antigos, outros mais atuais, uns mais famosos, outros que nem se quer chegaram a ser publicados, todos com diversas formas de escrita. Antes de adentrarmos nos exemplares deste gênero que serão analisados neste artigo, é necessário trazer uns breves pontos sobre o que é um conto.

O conto é um gênero que narra acontecimentos e faz com que seu leitor se envolva com o que está sendo lido, desfrutando, assim, os mínimos detalhes. De acordo com Fiorussi (2003), um conto “é uma narrativa curta. Não faz rodeios: vai direto ao assunto. No conto tudo importa: cada palavra é uma pista. Em uma descrição, informações valiosas; cada adjetivo é insubstituível; cada vírgula, cada ponto, cada espaço – tudo está cheio de significado” (FIORUSSI, 2003. p. 103).

Gotlib (2000), em obra já obrigatória para qualquer interessado em conhecer essa forma literária, problematiza de modo bastante interessante o gênero e aduz várias acepções do que seria um conto. Dentre as visões que são abordadas em sua obra, podemos destacar duas. A primeira está calcada em Edgar Allan Poe. Segundo a professora, o escritor estadounidense entendia um conto como uma ficção que pudesse provocar um efeito de sentido único (uma unidade de efeito) no leitor. A segunda é a questão da brevidade, que é ilustra pela teórica por meio de figuras como Machado de Assis e o crítico literário Alceu Amoroso Lima apontada, por exemplo. No caso deste último, ela escreve: “Para Alceu Amoroso Lima, numa conferência que fez sobre o conto na Academia Brasileira de Letras, em 1956, o conto é: uma obra de ficcção; uma obra de ficção em prosa; uma obra curta de ficção em prosa” (GOTLIB, 2000, p. 63, grifo nosso).

O argumento da brevidade não é isolado e perpassa outros itens, como a própria perspectiva de Poe. Afinal, seria complicado imaginarmos um texto que fosse longo (consideravelmente longo) produzindo uma unidade de efeito. É por isso que, introduzindo o prisma do ficcionista d’O corvo, Gotlib (2000, p. 32) coloca: “A teoria de Poe sobre o conto recai no princípio de uma relação: entre a extensão do conto e a reação que ele consegue provocar no leitor ou efeito que a leitura lhe causa”.

Frente a tantas compreensões, gostamos sobremaneira da visão que Moisés traz sobre o tema. Para o crítico, o distintivo do conto seria a unicidade da célula dramática ao redor da qual se desenvolvem as ações da narrativa em um conto: “uma narrativa unívoca, univalente. Constitui uma unidade dramática, uma célula dramática. Portanto, gravita em torno de um só conflito, um só drama, uma só ação: unidade de ação” (MOISÉS, s/d, p. 20). Essa célula una, consequentemente, ainda consoante a súmula do autor, acarretaria um limite também espacial, temporal e de personagens.

O conto de fadas ou conto maravilhoso pode ser entendido como um subgênero do conto. Referindo-se a André Jolles, teórico holandês, Gotlib (2000, p. 18) levanta alguns pontos que nos situam, ainda que sem maiores detalhamentos, no que seria esse tipo de história curta: Este conto, segundo Jolles, não pode ser concebido sem o elemento “maravilhoso” que lhe é imprescindível. As personagens, lugares, tempos são indeterminados historicamente: não têm precisão histórica. Lembre-se do “Era uma vez” que costuma iniciar contos deste tipo. E o conto obedece a uma “moral ingênua”, que se opõe ao trágico real. De início, os contos de fadas apresentam um equilíbrio de situações, geralmente seus personagens estão vivendo de maneira muito normal e equilibrada, até que com o desenvolver da narrativa, instala-se um verdadeiro caos e um suspense, marcados por situações de suspense, drama, sofrimento e até mesmo de tristeza. É o típico estado de complicação que caracteriza a sequência narrativa em suas fases prototícas – situação inicial, complicação, clímax e situação final/desfecho – (cf. CEREJA & MAGALHÃES, 2009, p. 295), do qual esses contos são um expoente

Sendo muitos séculos, milênios, de existência dos contos maravilhos, temos um acervo que beira o infinito. Diante dessa vastidão de opções, elegemos quatro versões do que poderíamos chamar de A Bela Adormecida para serem objeto de estudo neste trabalho. As versões analisadas serão a de Giambattista Basile, intitulada Sol, Lua e Talia, originalmente escrita em napolitano em 1634 (BASILE, s/d); a de Charles Perrault, escrita em francês em 1697, A Bela Adormecida (PERRAULT, 2015); a dos Irmãos Grimm, registrada em alemão em 1810 também sob o título de A Bela Adormecida (GRIMM & GRIMM, 2012); e, por fim, a versão em cordel do paraibano João Martins de Athayde, A Bela Adormecida do bosque (ATHAYDE, 2006). Após analisarmos as quatro versões, fizemos um comparativo entre elas, destacando sempre suas semelhanças e diferenças. Ao final do estudo contrastivo, criamos uma releitura do clássico ambientada no Alto Oeste Potiguar, O cabra macho e a formosura adormecida, versão na qual recuperamos alguns elementos da cultura e das variantes linguísticas típicas da região

Para realizar esta pesquisa, contamos com a leitura de alguns textos que tratam do gênero conto, como um todo, e do conto maravilhoso, de maneira específica (esse levantameno foi feito de modo demasiado breve na introdução acima) e, na sequência, com a leitura comparada (fazendo, ainda que de maneira introdutória, um estudo comparado) das quatros versões supracitadas. Ao final, este artigo dedica uma sessão para uma produção autoral dos autores deste artigo de uma nova versão de A Bela Adormecida (estamos tomando este termo de forma genérica, tendo em vista que nem todas as versões assim se intitulam), orientada por elementos que conformam o conflito da trama, mas adaptando-a a elementos do Alto Oeste Potiguar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após realizarmos a leitura de todos os contos que eram objeto de análise e comparação, analisamos cada um deles individualmente, ressaltando sua fábula (o que era contado na narrativa) e os elementos utilizados em sua estrutura que distinguiam a versão dos autores em mira.

Análise do conto Sol, Lua e Talia¸ de Giambatista Basile

Ao tornar-se pai, um senhor que vive em um reino coloca em sua filha o nome de Talia. Ele convida alguns sábios e adivinhas do reino em que vive para bendizê-la e adivinharem como será seu futuro, mas os convidados percebem que a menina está sujeita a um momento de grande perigo que será causado por um fuso, o que mostra uma falta de sorte da personagem.

Com o passar dos anos, o que fora dito quando Talia ainda era bebe se cumpre e ela, furando seu dedo em um fuso, morre. O pai, triste pela perda da filha, abandona o palácio, deixando seu corpo aí velado. Um dia, um rei, tentando resgatar um falcão que voou para o antigo edifício real, entra no paço e depara-se com o corpo da moça. Excitado ao ver aquela beleza, não resiste a seus instintos:

O rei, acreditando que ela dormia, chamou-a. Mas, como ela não voltava a si por mais que fizesse e gritasse, e, ao mesmo tempo, tendo ficado excitado por aquela beleza, carregou-a para um leito e colheu dela os frutos do amor, e, deixando-a estendida, voltou ao seu reino, onde por um longo tempo não se recordou mais daquele assunto. Depois de nove meses, Tália deu à luz a um par de crianças, um menino e uma

menina, duas jóias resplandecentes que, guiadas por duas fadas que apareceram no palácio, foram por elas colocados nos seios da mãe (BASILE, s/d, p. 1).

Os filhos, Sol e Lua, conseguem acordar a mãe quando, procurando os seios para se alimentarem, começam a mamar justamente o dedo que Talia havia espetado no fuso, extraindo dele a razão de seu sono. O rei, ao lembrar-se daquela bela moça que encontrou em uma casa abandonada, retorna até o local, encontra-a com os filhos e, apaixonando-se por ela, inicia uma relação com todos.

A esposa do rei descobre essa relação extraconjugal que ele tinha com Talia e seus filhos e manda um serviçal matar os meninos e servi-los em uma refeição. Em seguida, ordena que Talia seja levada até o castelo e, vil e impiesosa, decreta que a protagonista seja queimada. Talia, em um momento de desespero, pede para tirar suas vestes e, ao gritar, é ouvida pelo rei que, vendo toda aquela situação, impede que sua amada seja morta e pergunta pelos filhos. Neste momento, sua esposa informa que eles foram mortos e dados a ele como alimentos em sua refeição, o que o deixa apavorado. Porém, o cozinheiro responsável por executar tal sordidez informa ao rei que tinha desobedecido ao mando da rainha e que Sol e Lua estão vivos. No momento em que o rei vê os filhos, uma alegria imensa toma lhe invade o peito e, percebendo a maldade que dominava o caráter de sua esposa, toma a Talia como sua nova companheira e com ela e seus filhos vive feliz por muitos anos.

O conto Sol, Lua e Talia é marcado por ter uma exposição de fatos que surpreendem o leitor atual, como é o caso de o rei encontrar Talia dormindo, excitar-se por sua beleza e engravidá-la (é necessário investigar, em um segundo momento de aprofundamento desta pesquisa, como essas ações eram possivelmente recebidas pelo leitor do napolitano no início do século XVII). Basile utiliza de elementos que “prendem” o leitor do conto e, em vários momentos da leitura, talvez devido ao estranhamento causado no leitor hodierno, podemos perceber um clímax evidente, e não apenas em um, como na maioria dos contos.

Análise do conto A Bela Adormecida, de Charles Perrault

Este conto fala de um rei e uma rainha que eram muito tristes por não terem filhos, até que a rainha engravida e dá à luz uma linda menina. São convidadas como madrinhas da princesa sete fadas e no dia do batizado todos se reúnem no palácio para comemorar a nova vida. As fadas são acomodadas em mesas com luxuosos talheres e tudo caminha muito bem,

até que uma velha fada, que não fora convidada por estar desaparecida há muitos anos, aparece, sendo prontamente acomodada à mesa junto com todas as outros. Por sua vinda não ter sido planejada, já não havia talheres e pratos luxuosos para ela, o que foi tomado como desprezo.

Chegado o momento em que as fadas deveriam abençoar a princesa com os melhores dons existentes, a velha fada, diferente das outras sete primeiras que haviam manifestado suas bênçãos, dá-lhe uma maldição: a princesa espetaria o dedo em um fuso e morreria. Todos ficaram muito abalados, até que a oitava fada, que ainda não tinha presenteado a princesa, tenta de alguma maneira reverter o que foi dito pela outra: estabelece que a princesa não morrerá, apenas dormirá um sono profundo de cem anos e que, ao final dessa centúria, um príncipe a acordaria.

O rei, preocupado com o que poderia acontecer à sua filha, ordena que todos os fusos sejam retirados do reino. Um dia, no entanto, a princesa depara-se com uma velha que estava a fiar com um fuso e, ao pedir-lhe para fazer o mesmo, espeta o dedo e dorme um sono profundo. O rei ordenou que a princesa ficasse em um quarto sozinha durante seu sono, e assim foi feito. Após o acontecido, a fada que havia dito que a princesa dormiria por cem anos vai até o palácio e faz com que todos que estão lá durmam também. Diante disso, o rei e a rainha decidem ir embora deixando a filha e todos os outros do castelo dormindo.

Certo dia, um jovem príncipe de outro reino, ao passar pelo castelo em que a princesa dorme, fica sabendo de tudo o que aconteceu e decide ir em busca da princesa. Ao chegar lá e dar-lhe um beijo, ela desperta e eles se casam. Após o casamento, a princesa dá à luz dois filhos, e os quatro vivem muito feliz. Porém, sua sogra, com inveja, manda matar seus netos. O empregado responsável por tamanha crueldade, contudo, se compadece das crianças e as esconde, fazendo que a velha sogra acredite que as crianças morreram e queira matar a princesa.

Para matar a princesa, a velha ordena que seja construído um buraco e que nele sejam jogadas muitas cobras. Quando chega ao local, a velha, ao tentar jogar a princesa, é surpreendida por seu filho que estava viajando. Assustada com a visita inesperada, cai ela mesma no buraco com cobras e morre. Após tudo isso, todos vivem felizes para sempre.

Neste conto, podemos montar um claro paralelo entre a figura da esposa do rei em Sol, Lua e Talia e a sogra deste conto perraultiano. Por outro lado, ele traz um caráter moralizante explícito – o que já tinha sido mencionado na introdução deste texto, quando, em citação de Gotlib (2000, p. 18) acerca do conto maravilhoso, ela alude à “moral ingênua” – que, por meio das palavras que se seguem, nos faz refletir sobre as possíveis recompensas, ainda que frente a agruras da vida, que da Fortuna parece merecer uma mulher que espera pelo homem ideal, que tem a fé conjugal:

Esperar algum tempo para ter um esposo Rico, belo, gentil, bondoso,

É coisa muito natural.

Mas para esperar cem anos, sempre dormindo, Não se acha mais mulher igual,

Tão tranquilamente insistindo. A fábula parece também querer mostrar Que às vezes os agradáveis nós do casório, Mesmo que tardem, podem dar em caso sério.

Nada se perde por esperar; Mas a mulher com tanto ardor Aspira à fé conjugal,

Que eu não tenho força nem destemor De lhe pregar esta moral

(PERRAULT, 2015, p. 16). Análise do cordel A Bela Adormecida do Bosque, de João Martins de Athayde

De início este conto nos traz informações que até então eram desconhecidas. Ele diz o nome dos pais da princesa que virá a nascer. O rei chamava-se Justino e a Rainha Rosália. Viviam na capital da Turquia e desejam muito um filho, até a rainha dar à luz uma menina. O rei ficou tão feliz com a chegada da filha que resolveu fazer-lhe uma festa de batizado. Nessa ocasião, várias fadas desconhecidas a abençoavam, porém, dentre elas, surge uma feiticeira que, zangada por não ter sido convidada, amaldiçoou a menina marcando-lhe para, completados seus 15 anos, ser mordida por uma serpente e morrer. Assim enuncia:

Essa linda princesinha Os seus pais fiquem cientes Com 15 anos de idade É mordida de serpente Depois da dita dentada

Falecera derrepente (ATHAYDE, 2006, p. 4).

Vendo o sofrimento de todos, intervém outra fada, a qual, por meio de sua magia, acerta que a princesa não morreria, mas dormiria um sono profundo de cem anos, ao cabo dos quais viria a ser despertada por um príncipe com quem se casaria. A princesa foi crescendo, até que, ao andar pelo castelo, sofre as penas do proferimento maligno: picada pelo ofídio, cai em sono profundo. Para que todos pudessem gozar da felicidade ao lado da jovem menina, a fada que reverte, conquanto através do ínterim de um século, o mal enfeitiça todos do reino para que, até o reavivamento da princesa, ficassem como pedras.

O castelo perdeu-se em silêncio e muitos anos se passaram até que um lindo príncipe, que por aquelas zonas estava caçando, encontrou o castelo e a princesa. Frente à bela adormecida, pede-lhe em casamento. Ela, despertando do secular sono, aceita o pedido. Após esse feito miraculoso, todos que estavam como pedra retornaram à cinética vida, e o rei, encantado com tudo o que havia acontecido, faz uma grande festa de casamento para a princesa e o príncipe.

Sem dúvida alguma, a forma com que essa versão do conto foi escrita é seu maior diferencial: um cordel que, com suas estrofes e versos, fascina seu leitor de uma maneira impressionante. Ademais, fere o caráter de generalidade e indeterminação que, segundo exposto na seção 1 deste artigo pelas palavras de Gotlib (2000, p. 18) aludindo a Jolles, marcam o conto maravilhoso prototípico: em Athayde (2006), é localizada a cena da estória; ela se passa na Turquia.

Sendo esta, dentre as quatro versões, a única que utiliza uma forma de escrita típica do nordeste brasileiro, norte da releitura que empreendemos ao final deste trabalho, decidimos recorrer, em nossa criação, a esta quebra da indefinição e generalidade espacial, conforme será no tópico 3.6 adiante.

Análise do Conto A Bela Adormecida¸ dos Irmãos Grimm

Essa versão conta que um rei e uma rainha sempre quiseram ter um filho, mas não conseguiam. Certo dia, no momento em que a rainha tomava banho, um caranguejo lhe diz que ficará gravida de uma linda menina: “Certa vez, a rainha estava tomando banho na banheira

quando um caranguejo saltou de dentro da água para o chão e disse: ‘Seu desejo em breve será realizado e você dará à luz uma menina” (GRIMM & GRIMM, 2012, p. 236).

Assim sucede. Ao dar à luz uma criança, uma grande festa é organizada, e 12 fadas são convidadas. Elas desejaram as melhores coisas possíveis à princesinha, até que uma fada que não havia sido convidada interrompe a festa e diz que aos 15 anos a menina espetaria o dedo em uma roca e morreria.

Não contava a intrusa que faltava uma fada se anunciar. Deseja, então, a benfeitora, que a menina não morresse, e sim dormisse um sono profundo de cem anos. Mesmo assim, o rei, na tentativa de impedir que o infortúnio tivesse lugar, manda queimar todos os fusos do reino. A palavra, porém, mítica, costuma vencer a pragmática ação. E, assim, o mal, um dia dito, vira carne: no dia em que completa 15 anos, a menina vê no palácio uma velha fiando com um fuso e nessa máquina espeta seu dedo, caindo em sono profundo. Junto a ela desfalecem, dormidos, todos do castelo.

O medonho fato se espalhou pelo país e vários príncipes tentaram alcançar o lugar da misteriosa façanha. O castelo, não obstante, estava cercado de espinhos, impedindo os briosos viajantes de chegar à bela moça profundamente adormecida. Passados os cem anos, esmorecem os espinhos, dando vez a um animado príncipe que buscava, como tantos, encontrar a princesa

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