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ANÁLISE DO CONTO “NAS ÁGUAS DO TEMPO”: GUERRA, CULTURA E ESTRO

Antonia Samilly Nogueira Soares1; Jeyce Vanderlei Diniz2; Felipe Morais de Melo3

1 Discente do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E-mail: samillysoares28@gmail.com

2 Discente do Curso Técnico de Nível Médio Integrado em Informática do Instituto Federal de Educação, Ciência

e Tecnologia do Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E-mail: jeycevanderlei@gmail.com

3 Professor efetivo de Língua Portuguesa e Literatura do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Rio Grande de Norte (IFRN) – Campus Pau dos Ferros. BR-405, s/n, Pau dos Ferros - RN, CEP 59900-000. E- mail: felipe.morais@ifrn.edu.br.

Autor correspondente: samillysoares28@gmail.com.

RESUMO: Mia Couto é um escritor moçambicano nascido em 1955. As suas obras destacam-

na análise dos elementos que influenciaram o autor na escrita do conto Nas águas do tempo, incluído no livro Estórias abensonhadas. Tal narrativa – que pode ser entendida como uma ficção sobre a tradição, seu ensinamento e aprendizagem, por meio da relação entre um avô e seu neto – desenvolve-se no ambiente de um rio. Em face disso, interpretaremos alguns trechos desse texto, visando relacionar os acontecimentos apresentados aos fatos que contribuíram tanto para formação do autor como indivíduo quanto para o seu desenvolvimento profissional. Dessa forma, são exibidos os principais símbolos que se associam com as guerras vivenciadas, com ênfase para a Guerra Civil Moçambicana ocorrida em 1977, e abordados aspectos vinculados à religião e à criação e utilização de neologismos, os quais constituem alguns costumes da cidade natal, Beira.

Palavras-chave: Cultura; Guerra; Nas águas do tempo; Mia Couto.

INTRODUÇÃO

Dizem: o primeiro homem nasceu de uma dessas canas. O primeiro homem? Para mim não podia haver homem mais antigo que meu avô.

(COUTO, 1994, p.11).

As modificações no meio social exercem influência no senso crítico dos indivíduos e, consequentemente, nas artes produzidas em um dado momento da história de um povo. Na Idade Média, por exemplo, período em que havia uma grande repressão às necessidades do corpo, onde o riso era considerado algo pecaminoso, os textos desenvolvidos abordavam as ideias vigentes.

A arte e a literatura nunca devem representar os homens importantes rindo: isso é degradante e solapa seu prestígio. Por mais forte que seja a razão, não se deve falar do riso dos deuses, que são imperturbáveis. Platão não perdoa a Homero o “riso inextinguível dos deuses”; é uma verdadeira blasfêmia. O riso é estranho ao mundo divino, mundo do imutável e da unidade (MINOIS, 2003, apud PAULO, 2018, p. 6) Em face disso, este artigo objetiva desenvolver uma análise do conto Nas águas do Tempo, do escritor moçambicano Antônio Emílio Leite Couto (Mia Couto), tendo em vista as possíveis influências do contexto histórico em que este estava inserido na sua escrita.

Concentra-se, assim, na interpretação do que seriam “as margens da mágoa e da esperança” (COUTO, 1994, p. 6) que, segundo escreve o ficcionista na obra em que a história em foco foi publicada, o livro Estórias abensonhadas, configuram-se como fonte de inspiração das suas obras.

Ainda conforme o autor,

todo texto sempre tem essa relação de fronteira mal desenhada entre o que é real e o que é ficcional. O escritor brinca com isso, e ele próprio não sabe o que é. Fica confuso, mas, pelo menos, é verdadeiro nessa declaração de que não está dizendo algo inteiramente verdadeiro. Estou convidando as pessoas a brincarem nesse terreiro em que não se sabe o que é real, o que é utópico, o que é sonho (COUTO, 2009, s/p).

Esta afirmação, que põe em foco o caráter diáfano que a ficção encerra entre o que é fato e o que é criação, evoca-nos diretamente a noção de conto que Gotlib (2000), referenciando Raúl Castagnino, traz. De acordo com a professora,

o conto [...] não se refere só ao acontecido. Não tem compromisso com o evento real. Nele, realidade e ficção não têm limites precisos. Um relato, copia-se; um conto, inventa-se, afirma Raúl Castagnino. A esta altura, não importa averiguar se há verdade ou falsidade: o que existe é já a ficção, a arte de inventar um modo de se representar algo (GOTLIB, 2000, p. 12).

É, pois, neste terreno da invenção artístico-literária – e precisamente nesta forma geralmente concisa, que é o conto – que se desenrola este trabalho, sob o signo simbólico da narrativa miacoutina.

METODOLOGIA

Com a finalidade de melhor explorar as características que envolvem os costumes praticados pela sociedade moçambicana, para, assim, adquirir uma maior compreensão acerca das inspirações de Mia Couto, cruzamos duas modalidades de pesquisa científica: a pesquisa bibliográfica e a análise de conteúdo (cf. SEVERINO, 2007). Por meio

da primeira, efetivamos o estudo de alguns artigos que englobam estudos detalhados sobre a temática proposta e sobre o autor em fito. No que diz respeito à segunda, tentamos ver em trechos do conto Nas águas do tempo a problemática social, junto a aspectos culturais, de Moçambique que será exposta brevemente no próximo item. É importante ressaltar que nossa análise do conto está orientada, em certa medida, pela busca das influências do meio social sobre a obra de arte, o que pode, consoante Cândido (2006, p. 28), repercutir por duas vias: “em que medida a arte é expressão da sociedade; a segunda, em que medida é social, isto é, interessada nos problemas sociais”.

Esse direcionamento pautado pelo social conduz a determinadas leituras, que julgamos possíveis, mas que estão longe de serem definitivas, exclusivas ou as mais corretas, sobretudo tendo-se em vista o intrínseco caráter multissignificativo do texto literário. Nele, “as frases, as sequências assumem significado variado e múltiplo. Assim, afastam-se, por exemplo, da monossignificação típica do discurso científico, para só citar um caso” (FILHO, 1995, p. 38). As leituras do conteúdo aqui desenvolvidas, portanto, funcionam como uma faceta que, em conexão com o recorte bibliográfico escolhido, traz à tona um dos significados que a narrativa de Mia Couto analisada possibilita. Feito este esclarecimento nesta seção, reservamo-nos o direito de escassear, ou mesmo excluir, modalizações cada vez que coloquemos nossos pontos de vista interpretativos.

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